terça-feira, 12 de março de 2019

Efeméride de 12 de Março – Criação da W3C

Resultado de imagem para w3cEm março de 1989, Tim Berners-Lee, físico britânico, cientista da computação e professor do MIT,  que trabalhava então para o CERN - Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear - estabeleceu os princípios fundamentais da World Wide Web “W3C”. A Internet como ainda hoje a conhecemos.

Faz 30 anos que Tim Berners-Lee enviou um documento ao seu chefe na altura no CERN, Mike Sendall, sobre um sistema de gestão de informação. Na prática, essa proposta criava a World Wide Web.



A resposta, ao tempo, do chefe de Tim Berners-Lee à proposta que tinha recebido é, no mínimo, curiosa. Escreveu Mike Sendall: "Vago mas excitante...".



E realmente assim tem sido, esta aventura com início nos anos 60, ainda antes da Web. 30 anos da World Wide Web... não da Internet.



É comum a confusão entre uma e outra coisa. Aliás, nos dias de hoje, não é fácil explicar que apesar de intimamente ligadas, a Web aparece uns anos depois, cerca de 30, da Internet. Para quem está habituado a navegar pelo mundo digital... é tudo a mesma coisa.



A verdade é que a Internet nasce de uma necessidade militar norte-americana - em plena Guerra Fria - de trocar documentos entre computadores de maneira que se de um lado fossem apagados, continuassem a existir noutro local.



Por exemplo, se o Pentágono fosse atacado, os militares não queriam que os documentos que estavam lá armazenados ficassem para sempre perdidos. Era por isso necessário arranjar forma de os transferir para outros espaços, outros computadores.



Nesta altura, a organização militar norte-americana ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada) era pioneira na inovação computacional. A ARPA colocou em prática a teoria de um estudante do MIT - Leonard Kleinrock - que desenvolveu a ideia de que os computadores poderiam comunicar entre si se conseguissem colocar informação em "pacotes" pequenos e transferíveis.



Foi então criada a ARPANET, na prática a primeira rede de computadores, a base daquilo que é hoje a Internet.



Algum tempo depois, Bob Kahn and Vint Cerf criaram os protocolos de internet para partilha de informação que ainda hoje são utilizados.

Então e a WEB?



Primeiro é preciso tentar explicar a diferença. Simplificando, a Internet é uma rede gigante de computadores que conseguem comunicar entre si. Quando estamos "online", na prática estamos a fazer com que o nosso computador entre nessa rede, entre na Internet.



A World Wide Web foi uma ideia criada por Tim Berners-Lee para permitir o acesso universal à Internet.



Está a ficar Confuso? Então vamos ver as coisas doutra forma. A Internet é a auto-estrada que permite a ligação entre vários locais. Cidades, vilas, etc. A World Wide Web é o meio de transporte, automóvel, que hoje em dia mais se assemelha a um estonteante tapete voador, que nos permite a navegação por todas essas auto-estradas ao mesmo tempo que temos acesso a tudo por onde passamos.



"Vago mas deveras estimulante...". A ideia de Tim Berners-Lee, quando enviou o documento ao seu chefe, era criar um sistema que permitisse a partilha e troca de pesquisas e documentos entre os investigadores do CERN. Um modelo descentralizado e de acesso rápido e fácil.



Não nos podemos esquecer que os computadores nesta altura já comunicavam entre si há já algum tempo. O e-mail, por exemplo, já existia.



O que ainda não existia , e o que Berners-Lee criou, era um sistema integrado para que, de forma simples, fosse possível escrever, transmitir, partilhar, arquivar informação através de vários computadores e de forma organizada. Não existia na altura um sistema que permitisse colocar a informação num local, servidor, para que outros computadores pudessem lá ir e aceder.



Foi isso que Tim Berners-Lee fez ao escrever o tal documento "vago mas excitante" que enviou no dia 12 de Março de 1989 ao seu chefe do CERN.



Verdade é que 30 anos depois, 2019 ficará para a história como o ano em que metade da população mundial estará online, ligada á Internet. Mas também o ano em que metade da população ainda não terá acesso a essa tecnologia.



O alerta foi dado pelo próprio Tim Berners-Lee, que esteve na última edição da Web Summit em Portugal.



O sonho era criar uma plataforma aberta e gratuita para servir a Humanidade. Ligar o mundo através de uma extraordinária rede. Até certo ponto, esse objetivo, esse sonho de Tim Berners-Lee, concretizou-se, sendo que, em particular nos últimos tempos, parece também ter ido muito além do que ele imaginava. Pelos piores motivos.

Tim Berners-Lee tem estado por isso por estes dias a defender a sua ideia de um “Contrato para a web”.


“Princípios e valores que sentimos que são importantes”, afirmou na Web Sumiit. A ideia é tornar todos, indivíduos, empresas, governos, “responsáveis por tornar a web” um espaço melhor.



"Considerando o quanto a 'web' mudou nos últimos 30 anos, seria derrotista e pouco imaginativo supor que a web como a conhecemos não pode ser modificada para melhor nos próximos 30 anos", disse.

Identificando problemas como o uso indevido, ataques por estados hostis ou criminosos, o assédio online e o sistema de financiamento baseado em publicidade, Tim Berners-Lee defende na carta aberta uma maior regulamentação e a mudança do sistema de remuneração pelo tráfego para retirar incentivos ao uso de informação sensacionalista ou falsa.

"Não é possível culpar apenas um governo, uma rede social ou a natureza humana. Narrativas simplistas correm o risco de esgotar a nossa energia à medida que perseguimos os sintomas desses problemas, em vez de nos concentrarmos nas suas causas. Para fazemos isto bem, precisamos nos unir como uma comunidade global da web", vincou.

Como será daqui a 30 anos?


quarta-feira, 6 de março de 2019

Efeméride de Março – Inicio da Quaresma

A Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas, dando inicio às festividades da Páscoa, e termina no Domingo de Ramos. Quaresma é a designação do período de quarenta dias que antecedem a principal celebração do cristianismo: a Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo, que é comemorada no domingo e praticada desde o século IV.

Para os menos versados nestes assuntos do cristianismo aqui deixo um “pequeno” texto sobre a época Pascal que estamos a atravessar. Quero deixar claro que não foi minha intenção apresentar esta quadra com grande rigor “Cristão” mas somente deixar uma breve explicação das festividades. 

A Páscoa Cristã é uma das festividades mais importantes para o cristianismo, pois representa a ressurreição de Jesus Cristo. Esta quadra começa com a “Quaresma” seguindo-se a “Semana Santa” iniciada com o “Domingo de Ramos”, ultimo domingo da Quarema, “Sexta-feira Santa”, “Domingo de Páscoa”, “Ascensão” e “Pentecostes”.

A data é comemorada anualmente no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre no início da primavera (no Hemisfério Norte) e do outono (no Hemisfério Sul). Desse modo a data ocorre sempre entre os dias 22 de Março e 25 de Abril.

Quaresma é a designação do período de quarenta dias que antecedem a principal celebração do cristianismo: a Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo, que é comemorada no domingo e praticada desde o século IV.
A Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos, anterior ao Domingo de Páscoa. Durante os quarenta dias que precedem a Semana Santa e a Páscoa, os cristãos dedicam-se à reflexão, à conversão espiritual e se recolhem em oração e penitência para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos que ele suportou na cruz.

Durante a Quaresma a Igreja veste os seus ministros com vestimentas de cor roxa, que simboliza tristeza e dor. A quarta-feira de cinzas é um dia usado para lembrar o fim da própria mortalidade. É costume serem realizadas missas onde os fiéis são marcados na testa com cinzas. Essa marca normalmente permanece na testa até o pôr-do-sol. Esse simbolismo faz parte da tradição demonstrada na Bíblia, onde vários personagens jogavam cinzas nas suas cabeças como prova de arrependimento.

Na Bíblia, o número quarenta é bastante frequente, para representar períodos de 40 dias ou quarenta anos, que antecedem ou marcaram fatos importantes: 40 dias de dilúvio, quarenta dias de Moisés no Monte Sinai, 40 dias de Jesus no deserto antes de começar o seu ministério, 40 anos de peregrinação do povo de Israel no deserto.

Cerca de duzentos anos após o nascimento de Jesus, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias e foi assim que surgiu a Quaresma.

A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, ocasião em que as pessoas cobriam a estrada com folhas da palmeira, para comemorar a sua chegada.

Domingo de Ramos é uma festa móvel cristã celebrada no domingo antes da Páscoa. A festa comemora a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, um evento da vida de Jesus mencionado nos quatro evangelhos canônicos (Marcos 11:1, Mateus 21:1-11, Lucas 19:28-44 e João 12:12-19). Na liturgia romana, este dia é denominado de "Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor".

Em muitas denominações cristãs, o Domingo de Ramos é conhecido pela distribuição de folhas de palmeiras para os fiéis reunidos na igreja. Em lugares onde é difícil consegui-las por causa do clima, ramos de diversas árvores, tais como ramos de oliveira, são utilizados.

A Sexta-feira Santa é o dia em que os cristãos celebram a morte de Jesus na cruz. E por fim, com a chegada do Domingo de Páscoa, os cristãos celebram a Ressurreição de Cristo e a sua primeira aparição entre os seus discípulos.

Sexta-feira Santa ou Sexta-Feira da Paixão é uma data religiosa cristã que relembra a crucificação de Jesus Cristo e sua morte no Calvário. O feriado é observado sempre na sexta-feira que antecede o Domingo de Páscoa, o sexto dia da Semana Santa no cristianismo ocidental e o sétimo no cristianismo oriental (que conta também o Sábado de Lázaro, anterior ao Domingo de Ramos). É o primeiro dia (que começa na noite da celebração da Missa da Ceia do Senhor) do Tríduo Pascal e pode coincidir com a data da Páscoa judaica.

De acordo com os relatos nos evangelhos, os guardas do templo, guiados pelo apóstolo Judas Iscariotes, prenderam Jesus no Getsêmani. Depois de beijar Jesus, o sinal combinado com os guardas para demonstrar que era o líder do grupo, Judas recebeu trinta moedas de prata (Mateus 26:14-16) como recompensa. Depois da prisão, Jesus foi levado à casa de Anás, o sogro do sumo-sacerdote dos judeus, Caifás. Sem revelar nada durante seu interrogatório, Jesus foi enviado para Caifás, que tinha consigo o Sinédrio reunido (João 18:1-24).

Este dia é considerado um feriado nacional em muitos países pelo mundo todo e em grande parte do ocidente, especialmente as nações de maioria cristã.

A Páscoa já era comemorada antes do surgimento do Cristianismo. Tratava-se da comemoração do povo judeu por terem sido libertados da escravidão no Egipto, por volta do ano de 1400 AC, tendo durado aproximadamente 400 anos.

Domingo de Páscoa ou Domingo da Ressurreição é uma festividade religiosa e um feriado que celebra a ressurreição de Jesus ocorrida três dias depois da sua crucificação no Calvário, conforme o relato do Novo Testamento. É a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante festa cristã. A data da Páscoa determina todas as demais datas das festas móveis cristãs, exceto as relacionadas ao Advento. O domingo de Páscoa marca o ápice da Paixão de Cristo e é precedido pela Quaresma, um período de quarenta dias de jejum, orações e penitências.

A Ascensão de Jesus foi um evento na vida de Jesus relatado no Novo Testamento de que Jesus ressuscitado foi elevado ao céu com seu corpo físico, na presença de onze de seus apóstolos, ocorrendo no quadragésimo dia da ressurreição (sempre uma quinta-feira) no monte das Oliveiras. Na narrativa bíblica, um anjo informa os discípulos que a segunda vinda de Jesus irá ocorrer da mesma forma que a sua ascensão.

Os evangelhos canônicos incluem duas breves descrições da ascensão de Jesus, em Lucas 24:50-53 e Marcos 16:19. Uma descrição mais detalhada da ascensão corporal de Jesus às nuvens aparece em Atos 1:9-11.

Pentecostes é uma das celebrações mais importantes do calendário cristão e, comemora, segundo esta crença, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo e sobre Maria, sua mãe. O Pentecostes é celebrado 50 dias depois do domingo de Páscoa. O dia de Pentecostes ocorre no sétimo dia depois do dia da Ascensão de Jesus. Isto porque ele ficou quarenta dias após a ressurreição dando os últimos ensinamentos a seus discípulos, somando aos três dias em que ficou na sepultura somam quarenta e três dias, para os cinquenta dias que se completam da páscoa até o último dia da grande festa de Pentecostes, sobram sete dias; e foram estes os dias em que os discípulos permaneceram no cenáculo até a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes.

O Pentecostes é histórica e simbolicamente ligado ao festival judaico da colheita, que comemora a entrega dos Dez Mandamentos no Monte Sinai cinquenta dias depois do Êxodo. Para os católicos, o Pentecostes celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e seguidores de Jesus, através do dom de línguas, como descrito no Novo Testamento, durante aquela celebração judaica do quinquagésimo dia em Jerusalém. Por esta razão o dia de Pentecostes é, às vezes, considerado o dia do nascimento da igreja. O movimento pentecostal tem o seu nome derivado desse evento.

Segundo a Bíblia, supostamente Jesus teria participado de várias celebrações pascais. Quando tinha doze anos de idade foi levado pela primeira vez pelos seus pais, José e Maria, para comemorar a Páscoa, conforme narram algumas das histórias do Novo Testamento da Bíblia.

A mais famosa participação relatada na bíblia foi a "Última Ceia", onde Jesus e os seus discípulos fizeram a "comunhão do corpo e do sangue", simbolizados pelo pão e pelo vinho.

Não podia deixar de me referir às comemorações da Páscoa judaica

A Páscoa instituída entre os judeus - Pessach - é comemorada pela conquista da liberdade dos hebreus, que viviam como escravos no Egito. 

Essa libertação coincidiu com a Primavera, que ocorria no mês hebraico (nissan) que corresponde mais ou menos aos últimos dias de março e meados de abril.

As comemorações fundiram-se com as tradições religiosas de seu povo. A Páscoa foi ampliada pelo cristianismo com um novo sentido.

Os judeus seguem a tradição descrita no livro do Êxodo: “E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo” (Êxodo 12.14).

Durante as festividades da Pessach / Pesach, é feito um jantar especial de comemoração chamado "Sêder de Pessach", que tem o objetivo de reunir toda a família. O Pessach judeu é comemorado durante sete dias.

Durante a Semana Santa, vários símbolos fazem parte do ritual das comemorações, entre eles:

Os ramos de palmeira

A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, ocasião em que as pessoas cobriam a estrada com folhas de palmeira, para comemorar sua chegada.

Atualmente, as folhas de palmeiras são usadas na decoração das Igrejas durante as comemorações da Semana Santa, como um sinal de “boas-vindas a Cristo”.

Cordeiro

Este é um dos símbolos mais antigos da Páscoa, lembrando a aliança que Deus teria feito com o povo judeu no Antigo Testamento.

Naquela época, a Páscoa era celebrada com o sacrifício de um cordeiro.

Para os cristãos, Jesus Cristo é o “cordeiro de Deus que tirou os pecados do mundo”.

Círio Pascal

O Círio Pascal é uma grande vela, decorada com as letras gregas alfa e ômega, que significam “início” e “fim”, respectivamente, e usada durante as missas da Semana Santa.

Durante a Vigília Pascal é inserido na vela os cinco pontos das chagas de Cristo na cruz.

É acesa no Sábado de Aleluia e sua Luz representa a Ressurreição de Cristo.

O Peixe

O peixe é um símbolo trazido dos apóstolos que eram pescadores.

É um símbolo de vida, usado pelos primeiros cristãos, no acróstico IXTUS - peixe em grego. 

As letras são as iniciais de "Iesus Xristos Theos Huios, Sopter", que significa "Jesus Cristo, Filho de Deus, o Salvador".

Faz parte do ritual da Semana Santa comer peixe na Sexta Feira Santa, para lembrar o ritual dos 40 dias de jejum de carne, seguidos pelos cristãos durante a Quaresma.

Ovo de Páscoa

Por representar o nascimento e a vida, presentear com ovos era um costume antigo entre os povos do Mediterrâneo.

Durante as festividades para comemorar o início da primavera e a época de plantio, os ovos eram cozidos, pintados e presenteados, para representar a fertilidade e a vida.

O costume passou a ser seguido durante as festividades dos cristãos, onde eram pintados com imagens de Jesus e Maria, representando simbolicamente o nascimento do Messias.

Muitas culturas mantêm até hoje esse costume. No mundo moderno, o ovo fabricado com chocolate virou uma tradição de presente no Domingo de Páscoa.

Coelho de Páscoa

O coelho de Páscoa tornou-se o símbolo da fertilidade e da vida, devido a particularidade deste animal de se reproduzir em grandes ninhadas.

Está relacionado com a Páscoa por representar a esperança de vida na Ressurreição de Jesus Cristo.

Vários povos da antiguidade já consideravam o coelho como símbolo da fertilidade, pois com a chegada da primavera, eram os primeiros animais a saírem de suas tocas.

Com o passar dos tempos, os coelhinhos de chocolate entraram para os costumes das festividades da Semana da Páscoa.

Assim como os ovos de chocolate, os coelhinhos viraram tradição de presente no Domingo de Páscoa.

terça-feira, 5 de março de 2019

Efeméride 5 de Março - Carnaval

O Carnaval é, exclusivamente, um período de festas profanas e de divertimentos entre os Reis e a Quaresma, com o seu auge nos três dias anteriores à quarta-feira de Cinzas[i]. Não se conhece verdadeiramente a origem da palavra Carnaval. Para uns, compreendia a terça-feira gorda, dia em que começava a proibição de ingestão de carne pela Igreja, como preparação para a Páscoa. Outros, procuram no latim a explicação para o vocábulo: carnelevamen, depois carne, vale ("adeus, carne"). Carnelevamen pode significar igualmente carnis levamen, "prazer da carne", antes das abstinências e prescrições que marcam a Quaresma.

História
A origem da festa em si é também desconhecida. Uns advogam o culto de Ísis, outros as festas em honra de Dionísio, na Grécia clássica, outros ainda as bacanais, lupercais e saturnais, festejos romanos de grande licenciosidade e uso de máscaras, como aliás nas anteriores. Alguns não recuam tanto no tempo e apontam as suas origens para as festas dos doidos e dos inocentes da Idade Média. Cada uma em particular ou todas assimiladas na tradição acabaram por criar a tradição do Carnaval e as suas matizes ou formas regionais.

Depois, na Idade Média ainda, outras festas anunciavam já o Carnaval, apesar da Igreja não apreciar muito, ainda que tolerasse e não criasse barreiras institucionais ou morais incontornáveis. O papa Paulo II, no século XV, por exemplo, permitiu, em Roma, a Via Lata, um desfile alegórico de carros, com batalhas de confetis e lançamento de ovos, para além de corridas de cavalos ou de corcundas, entre outros folguedos.

Mas todas estas festas populares grotescas foram "polidas" pelo Renascimento e pela Reforma Católica, acabando-se com a violência e ousadias públicas. O tétrico e o macabro, por outro lado, substituem o carácter de festa de "bobos" daqueles folguedos medievais. Surgem as danças da Morte e suas representações cénicas, os bailes de máscaras, promovidos pelo papado, decadente, do século XVI, que rapidamente se difundiram por Itália e França.

Aqui se manteve até ao século XIX, quando ganha um novo vigor. Em Inglaterra ganha também popularidade este tipo de baile (como o de 1884 promovido pelo Real Instituto de Pintores e Aguarelistas, em que os pintores ingleses se mascararam de mestres do Renascimento ou de figuras da realeza europeia). Perdia em festa "bufa" e de rua, ganhava em elegância, alegoria, ordem e requinte artístico, para além de tocar agora as classes mais abastadas, antes arredadas dos festejos populares. Bailes e desfiles organizados tomavam, na Europa Ocidental, o lugar das turbas de gente etilizada e aos gritos. Este "novo" Carnaval europeu surgiu em fins do século XIX e meados do XX, sobrevivendo ainda hoje, como por exemplo em Nice ou Munique.

O Carnaval em Portugal

No calendário cerimonial anual português, o Carnaval é um dos mais importantes "ciclos" festivos. Assume particular destaque atualmente nos meios urbanos, mas possui, ao mesmo tempo, ainda características muito próprias nos meios rurais tradicionais. Aqui é anunciado, por exemplo, ainda antes dos três dias que decorrem entre o Domingo Gordo[ii] e a Terça-Feira Gorda, por celebrações preparatórias, dir-se-ia, como, por exemplo, as dos "dias dos compadres e das comadres".

Os antropólogos conotam a estas celebrações rituais de glorificação do próprio grupo sexual no respetivo dia - homens na quinta-feira dos compadres e mulheres na quinta-feira das comadres (esta tradição é muito forte em Lazarim, Lamego). As troças (com uso de chocalhos, como no Alto Alentejo), perseguições e solidariedade dentro de cada grupo (no dia das comadres, até as mães são "contra" os filhos varões e os pais, no dos compadres, "contra" as filhas", por exemplo) são as marcas visíveis destes festejos, para além da exibição de bonecos jocosamente alusivos ao "outro sexo" nos dias de cada grupo (compadres ou comadres). Cotejos próprios de cada grupo ou casamentos fictícios, por sorteio, ocorrem em certas regiões, como no Alentejo. Outras regiões há em que as mulheres dão aos homens uma refeição melhorada, no dia das comadres, retribuindo os compadres, no seu dia, aquele favor culinário.

Quanto ao Carnaval propriamente dito, os seus rituais são mais ou menos comuns a todo o País, à exceção dos "cardadores" de Ílhavo ou das danças de Carnaval na ilha Terceira, Açores.

As características comuns do Carnaval em Portugal são essencialmente quatro:

- ausência completa de restrições alimentares quantitativas e qualitativas, com a ingestão de carnes de toda a espécie, desde a orelheira no Norte ao galo em outras regiões, para além das sobremesas da quadra como o arroz doce e as filhoses. Os bodos são um exemplo festivo desta componente alimentar. Os excessos alimentares carnavalescos são entendidos, por outro lado, como contraponto aos jejuns e abstinências quaresmais.

- uso de máscaras, essenciais nos festejos mas sem relação alguma com rituais específicos, como noutras regiões da Europa (Veneza, Colónia...)

- exibição e destruição de manequins/bonecos de tipo burlesco, com carácter jocoso, visível nas paródias aos enterros (como o do "João").

- As "pulhas" carnavalescas, ou sátiras de acusação e provocação, direta e humorística, por vezes com tom ofensivo.

Estas três últimas constantes revelam outra oposição - a da transversão ou subversão momentâneas da ordem normal (sem desacatos organizados), licenciosidade, certa rutura, excessos - à Quaresma, tempo de rigor e disciplina, contenção e discrição.

Estas características podem ser vistas também numa perspetiva de comemoração da transição entre dois ciclos, o do inverno e o da primavera, com o Carnaval a antecipar os rituais ligados a ideias de regeneração da fertilidade ou de retorno à abundância, as quais marcam as cerimónias do ciclo primaveril.

Os mais importantes carnavais portugueses são o de Ovar, da Madeira, Estarreja, Loures, Nazaré, Podence, Loulé, Sesimbra], Sines, Elvas (chamado de Carnaval Internacional de Elvas) e Carnaval de Torres Vedras, que juntamente com o Carnaval de Canas de Senhorim é um dos mais antigos de Portugal.



[i] A quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário Cristão ocidental. As cinzas que os Cristãos Católicos recebem neste dia são um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a transitória e frágil vida humana

[ii] Domingo Gordo é uma data móvel que celebra-se no domingo que antecede o Carnaval, que também é conhecido como terça-feira gorda. Ambos são dias de mesa farta.Origem do Domingo Gordo
Na sua origem, a palavra Carnaval significa “adeus, carne”. No dia seguinte, a Quarta-Feira de Cinzas marca o início da Quaresma e da abstinência que é sua característica.
Assim, a terça-feira de Carnaval e o domingo que antecede a Quaresma são dias gordos, de excessos, onde se comem diversas iguarias de carne, em contraste com os dias magros ou dias de peixe típicos da Quaresma.
Por isso, o antigo dito "No entrudo, come-se tudo".

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Efeméride de 9 de Fevereiro - A 9 de Fevereiro de 1917, Durante a Primeira Guerra Mundial, A Alemanha dá início à guerra submarina total.


A 9 de Fevereiro de 1917, Durante a Primeira Guerra Mundial, A Alemanha dá início à guerra submarina total.

Ao longo deste conflito, o submarino (submersível)[i] não se apresentou argumentos para enfrentar com êxito unidades navais militares, ao contrário do que sucedeu contra os navios mercantes; simplesmente porque à superfície não dispunha em geral mais do que uma peça de artilharia de calibre reduzido e em imersão tanto a sua velocidade como o raio de acção eram diminutos.

 Mesmo assim, um pouco por acaso, o submarino alemão U-9 de 493/611 toneladas de deslocamento, comandado por Weddingen, torpedeou três cruzadores-couraçados da classe Aboukir, quando estes patrulhavam o canal da Mancha na estreita zona entre a costa holandesa e os campos de minas. Pelas 6.30 do dia 22 de Setembro de 1914, o Aboukir foi atingido por um torpedo, julgando o comandante que o navio embatera numa mina.

No Cressy e no Hogue ninguém viu o submarino, pelo que ambos foram ajudar o Aboukir, não tomando precauções, permitiram assim que o U-9 pudesse disparar um torpedo contra cada um dos navios que se afundaram imediatamente com perda de 1.500 vidas. Tanto o Aboukir como o Cressy e o Hawk eram navios fortemente armados de 11.700 toneladas construídos no início do Século. Possuíam duas peças de 233,7 mm e 12 de 152,4 mm.

 Foi o maior desastre sofrido pela Royal Navy em trezentos anos de existência, escreveu o historiador norte-americano Robert O. Connell na sua brilhante História da Guerra. Os britânicos recusaram-se a aceitar que tão portentoso desastre tinha sido provocado pelo pequeníssimo submarino U-9 de 493t de deslocamento à superfície e 611t imerso, equipado com 4 tubos lança torpedos e accionados por dois motores Körting a querosene e dois motores eléctricos. Fazia 14 nós à superfície e 8 nós mergulhado, sendo tripulado por 29 homens. Contudo, e ao contrário do que pareceu na altura, não foi a vitória do submarino contra o navio de guerra de superfície. Mesmo antes de existir qualquer defesa contra o submarino, este revelou-se sempre pouco eficaz contra navios rápidos em formação ou mesmo individualmente.

No início do conflito, o submarino era visto com desprezo pelos britânicos, mais como uma mina móvel para a defesa de portos e zonas limitadas da costa, não necessitava de possuir uma grande raio de acção.

Mesmo assim, quando a guerra começa, a marinha inglesa contava com 80 unidades, enquanto os submarinos alemães não passavam de 38. Ao longo do conflito, os britânicos construíram mais 250 unidades e os alemães mais 300 e foram estes que fizeram efectivamente a guerra submarina.

Uma das primeiras ações registadas envolveu o U-15 e o cruzador ligeiro Birmingham que ao avistar este submarino avançou rapidamente contra ele cortando-o em duas metades, a falta de velocidade do U-15 não permitiu qualquer evasiva.

O almirantado britânico não queria acreditar no sucesso, mas foram muitas as testemunhas e as marcas na quilha do Birmingham mostraram em doca seca que o U-15 foi cortado e afundado sem que qualquer dos seus 29 tripulantes fosse salvo. Foram as primeiras vítimas de uma longa lista de 13 mil mortos registados pela arma submarina alemã durante a I Guerra Mundial.

Novos ataques foram sendo efectuados. Num dado dia com o tempo enevoado como de costume naquelas águas também agitadas do Mar do Norte, quando de repente Hersing, comandante do U-21, vislumbra quase na frente dos seus tubos lança-torpedos o cruzador Pathfinder. O U-21 mergulhou e lançou um torpedo que acertou em cheio, fazendo explodir o paiol de munições. Em segundos, o Pathfinder de 2.940t desfez-se arrastando para o fundo os seus 259 infelizes tripulantes.

 Foram as primeiras vítimas da guerra submarina. Mas, os britânicos aprenderam rapidamente a lição e dez dias depois, o E-9 da armada inglesa sob o comando de Max Horn consegue entrar na baía alemã e afunda o cruzador ligeiro Hela de 2.049t a seis milhas da ilha fortificada de Helgoland. Depois veio o sucesso do U-9 de Otto Wedinger contra os três cruzadores couraçados britânicos, totalizando 36 mil toneladas de deslocamento afundados em poucos minutos.

O submarino tinha conquistado um lugar importante na estratégia naval; talvez bem mais do que valia efectivamente, já que a arma foi capaz de travar uma guerra importante contra a navegação mercante, mas nunca conseguiu complementar com êxito a acção das grandes esquadras de superfície. Os submarinos alemães nem conseguiram infligir perdas apreciáveis aos muitos cruzadores ligeiros e auxiliares que bloqueavam o acesso da navegação mercante alemã aos seus portos de origem.

Se o couraçado foi a arma dissuasora por excelência, o submarino significou a capacidade ofensiva a qualquer momento, mas apesar disso limitado, dada a sua inoperância contra forças protegidas por numerosas unidades ligeiras e rápidas do tipo torpedeiros ou contra-torpedeiros. Só depois de os alemães verificarem a natureza da verdadeira inoperância do submarino como força de atrito contra as grandes esquadras é que lançaram os seus submarinos contra os navios mercantes.

Em Novembro de 1914, a Grã-Bretanha declara oficialmente o Mar do Norte como zona de guerra, não permitindo a passagem de qualquer navio para países neutros como a Noruega e outros sem vistoria prévia e só através do Canal da Mancha se transportassem uma variedade e quantidade limitada de abastecimentos tidos como destinados exclusivamente a esses países.

Nessa altura, a Home Fleet deixou de ter portos de abrigo, excepto enseadas escondidas ao longo das costas escocesas e irlandesas do norte. Quase 500 navios estavam como que derrotados por uns minúsculos submarinos que, afinal, não tinha tanto poder assim. Para grande azar dos britânicos, no dia 29 de Outubro, o U-27 comandado por Wegener depara a poucas milhas da costa alemã com o submarino britânico E-3 de 655t. Wegener ordena a imersão imediata e guiado pelo periscópio consegue colocar-se em posição de torpedear o E-3, mostrando que os submarinos até podiam afundar os seus congéneres. Dois dias depois, enquanto o alto-comando alemão discutia se devia ou não atacar navios mercantes em retaliação pela destruição sistemática da marinha civil germânica em todos os mares do Mundo e do bloqueio a que a Alemanha estava submetida, o U-17 resolve afundar o navio mercante britânico Glitra segundo as regras da Lei Internacional em vigor, ordenando a saída de toda a tripulação para as embarcações salva-vidas e depois de examinar a carga, tida como destinada a fins militares, já que era constituída por chapas de aço, carvão e óleos. O afundamento foi feito por abertura das válvulas de fundo do navio. O comandante do U-17, Feldenkircher, ainda rebocou os escaleres do Glitra até às proximidades da costa norueguesa.

A legalidade desse ataque baseou-se na declaração unilateral por parte da Inglaterra de considerar o Mar do Norte como zona de guerra. Mas, pouco depois, os submarinos alemães passaram a atacar a navegação no Canal da Mancha sem aviso prévio, dado não terem tempo para em espaço tão limitado e tão cheio de torpedeiros e destrutores actuarem no âmbito dos pruridos da lei, além de que a totalidade dos navios ingleses que atravessavam a Mancha transportavam tropas, armas e munições. Foi até bastante tarde que se decidiram a fazer guerra aos transportes militares porque julgaram primeiro que podiam afundar grandes unidades de combate britânicas.

 Mesmo assim, a preferência continuava a ir para navios de guerra propriamente ditos, como o transporte de aviões Hermes afundado a 31 de Outubro, a canhoneira Niger torpedeada a 11 de Novembro.

Apesar dos perigos a que se expunham, os submarinos alemães na Mancha, ainda tentaram atacar a navegação mercante dentro do espírito da lei. Sucedeu isso com U-21 de Otto Hersing que ordenou a paragem do cargueiro francês Malachite, sem que fosse obedecido; o navio francês fugiu ziguezagueando de modo a não ser atingido pelo canhão de 37 mm do submarino alemão.

A partir desse falhanço, na Mancha, a arma submarina alemão preferiu o ataque imediato de preferência a torpedo, sem ter, contudo, conseguido evitar a navegação aliada na zona, dados os muitos campos de minas aí espalhados. Mas, nestes primeiros meses do grande conflito mundial, a guerra no mar foi mais intensa nos mares longínquos em que as poucas forças alemãs foram obrigada a bater-se até à sua destruição final e completa.

A 9 de Fevereiro de 1917, o governo alemão anunciou que iria iniciar uma campanha submarina “sem restrições”; ou seja, os seus submarinos torpedeariam quaisquer navios que tentassem alcançar portos franceses ou britânicos. Essa decisão complicou a situação dos Aliados, pois a Grã-Bretanha dependia de fornecimentos marítimos para sua própria sobrevivência.



[i] Submersível é um veículo projetado para operar debaixo d'água. O termo submersível é frequentemente usado para se diferenciar de outros veículos conhecidos como submarinos, isso porque o submarino é um navio totalmente autónomo da superfície.

Efeméride de 10 de Fevereiro - Chegam ao Tejo os restantes três Submersíveis da classe “Espadarte”


Submarinos em Portugal – A 10 de Fevereiro de 1918 chegam ao Tejo os restantes três Submersíveis da classe “Espadarte” constituindo desse modo a 1ª Esquadrilha de Submarinos (1913 – 1934)

Nos fins do século XIX inícios do Século XX começaram a surgir um pouco por toda a parte, leia-se, por todos os países ocidentais, os primeiros projectos de submarinos com utilização militar. Em Portugal não se ficou para trás e, nos finais do século XIX o Primeiro-tenente João Fontes Pereira de Melo desenvolve os primeiros planos de um submarino com características e potencial para uso militar. Projecto esse que apresentou aos poderes de então.

Após vários avanços e recuos, o Primeiro-tenente Fontes viu, finalmente, aprovada a possibilidade da construção de um modelo à escala que permitisse avaliar as capacidades do seu projecto principalmente no que dizia respeito às condições de estabilidade e do sistema de visão com que seria equipado e que seria o mesmo a utilizar nos submarinos a construir. 

O modelo foi então construído no Arsenal da Marinha, antigas instalações de manutenção e reparação naval da Marinha Portuguesa localizadas em Lisboa. Estavam implantadas a Poente do Terreiro do Paço, sensivelmente no mesmo local da antiga Ribeira das Naus e da Ópera do Tejo, destruída pelo Terramoto de 1755. Até à implantação da República eram designados por Arsenal Real da Marinha, constituído em ferro tinha um comprimento total de aproximadamente 12 metros.

As várias experiências de avaliação decorreram durante o mês de Outubro de 1893, junto ao dique do Arsenal da Marinha, tendo embarcado o Primeiro-tenente Fontes mais dois operários.

Apesar das experiências terem decorrido como planeado o mesmo não conseguiu convencer as autoridades do interesse para a aquisição e construção do seu submarino.

Só em Junho de 1910, então o Ministro da Marinha, João de Azevedo Coutinho, encomendou aos estaleiros Italianos da Fiat San Giorgio, o primeiro submersível português, o "ESPADARTE". Comandado por Joaquim de Almeida Henriques[i], partiu a 22 de Maio de 1913 de Spezia e chegou a Lisboa a 5 de Agosto do mesmo ano.

Assim, em 1913, Portugal recebeu o seu primeiro submersível, passando a ser um dos poucos países do mundo a potenciar as vantagens desta arma. Esta aposta do então Ministro da Marinha, é de realçar numa época onde os submersíveis eram vistos como uma arma pouco nobre e onde o seu estágio de desenvolvimento era rudimentar.



Com o decorrer da primeira Grande Guerra ressaltou o valor militar desta nova arma e em 1915 o Governo Português encomendava ao mesmo estaleiro mais três submersíveis: os "FOCA", "GOLFINHO" e "HIDRA", que tal como o "ESPADARTE" seriam concebidos pelo famoso engenheiro Laurenti.


Estes quatro submersíveis viriam a constituir a primeira Esquadrilha que teve prolongada vida operacional da qual se destacam as patrulhas de proteção das barras do porto de Lisboa durante o primeiro conflito Mundial, garantindo uma componente dissuasora.



Em princípios de 1927, o envelhecimento do "ESPADARTE" começou a causar preocupações que viriam a culminar com o seu desarmamento em 31 de Maio de 1928, seguindo-se os restantes submersíveis, tendo o Hidra sido abatido ao efetivo da Armada em 1935.


Características dos Navios da 1ª Esquadrilha (1913 a 1934) 

Produzidos nos estaleiro da Fiat – Em San Giorgio, Spezia, Itália, derivaram directamente do Modelo Laurenti, sendo conhecidos como Classe F.  Foi o modelo base de submersível utilizado pela marinha italiana na I Grande Guerra, tendo ganho prestígio e reconhecimento de fiabilidade, tendo sido vendido não só para Portugal, mas também para o Brasil, Espanha, Suécia e Rússia.

Face aos excelentes resultados obtidos com o NRP Espadarte, no final de 1915 o Governo Português encomendou em Itália mais três submersíveis da Classe F: o “Foca”, o “Golfinho” e o “Hidra”, os quais largaram do porto de La Spezia em Dezembro 1917 em direcção a Lisboa.

Com estes quatro Submersíveis dá-se início à arma submarina em Portugal e forma-se a 1ª Esquadrilha (1913 a 1934) 

 Em pleno conflito mundial os três submersíveis cruzaram o Mediterrâneo, em formação com o NRP Patrão Lopes e outras unidades aliadas (primeiro italiana e posteriormente francesas). Num percurso onde encontraram fortes intempéries  e zonas assoladas por submarinos inimigos, chegaram a presenciar o torpedeamento de navios mercantes nas suas proximidades. Após a longa viagem de oito etapas chegaram a Lisboa a 10 de Fevereiro de 1918.

A Base operacional da Esquadrilha ficou instalada na Doca de Belém até ao final da guerra. 

A principal missão táctica dos submersíveis da 1ª Esquadrilha foi a de vigilância costeira e guerra anti-submarina, o que levou à definição de uma zona de operações compreendida entre as Berlengas e Sines.  

A presença dos submersíveis nacionais à entrada do Tejo e o conhecimento deste facto por parte do inimigo, reforçava o poder dissuasor destas unidades navais, obrigando o inimigo a restrições tácticas, como a necessidade de navegarem nas zonas patrulhadas preferencialmente em imersão, diminuindo-lhes o campo de visão e por conseguinte a capacidade de detecção de alvos.

Na época a identificação de um submarino à superfície não era fácil e era impossível em imersão, o que implicava a necessidade de os atacar de imediato após a localização para que estes não tivessem tempo de imergir e fugir. Por isso a regra era ”antes destruir um submarino aliado do que poupar um submarino inimigo”. Aos submarinos cabia-lhes imergir rapidamente em todas as situações, se bem que existiam alguns procedimentos de identificação, como o lançamento de foguetes de cores convencionadas ou a pintura do casco com desenhos pré-convencionados, neste caso para identificação aérea.

A Vida a Bordo

O momento da imersão em muito era parecido com um naufrágio controlado. A capacidade de controlar de forma rigorosa a reserva de flutuabilidade, anular a gravidade e vencer a força de impulsão era parte da arte de navegar. Pela falta de instrumentos e precisão dos existentes havia que acautelar a profundidade, por causa da resistência máxima do casco ou para não chocar com o fundo. Outro factor era a alteração da propulsão que variava da superfície para a imersão, de combustão interna para eléctrica. Por último, e de grande relevância, era a variação da densidade da água podia apresentar grandes variações, principalmente junto à barra do rio com o sentido das marés, por causa da água doce.

Os submersíveis da 1ª Esquadrilha eram máquinas de 45m e totalmente manuais. A navegabilidade em imersão, com toda a necessária gestão de peso entre os tanques de compensação e os tanques externos, tinha ainda por vezes de aproveitar a deslocação da guarnição no sentido longitudinal do navio para aproveitamento do peso humano.

Em imersão era garantido à guarnição uma respiração do ar à pressão atmosférica normal, através de acumuladores de ar comprimido. No entanto o inquinamento do ar tornava-se o maior problema, sendo que uma imersão prolongada poderia provocar uma percentagem anormal de oxigénio, anidrido carbónico, humidade, etc. , no ar respirado e não renovado. Para além do inquinamento do ar, existia o problema da humidade e consequentemente o de temperatura. Depois de algumas horas de imersão a humidade tendia a aproximar-se do estado de saturação e a inevitável subida de temperatura no interior do navio em imersão, provocava a existência de abundante condensação nas paredes frias do casco. A respiração tornava-se difícil o que se reflectia na capacidade física dos homens. A condensação provocava ainda a deterioração do material e interferia com os sistemas eléctricos do submersível. Outro problema grave que poderia surgir, resultaria de uma eventual falta de estanquicidade, que ao juntar água salgada às baterias do submersível provocava a libertação de gases de cloro altamente tóxicos.

Em Missão de Vigilância

Em tempo de guerra os submersíveis eram escoltados por uma unidade de superfície até à zona de patrulha. No regresso eram igualmente escoltados para entrarem na barra. Durante o tempo de patrulha, quando detectados eram tratados como submarinos inimigos e nesse sentido eram lançados alertas por TSF sobre a sua presença a toda a navegação.

Relata-nos uma destas situações o comandante Joaquim de Almeida Henriques, quando foi detectado numa dessas situações de alerta lançado por TSF, em 6 de Setembro de 1918, frente ao Cabo da Roca. O NRP Golfinho encontrava-se em imersão parcial à tona de água, para poupar energia eléctrica e para  ter um campo de observação mais amplo sobre o horizonte, quando foi avistado pelo posto de observação colocado no Farol do Cabo da Roca. A partir deste foi transmitido um alerta de presença de submarino inimigo, tendo os navios que faziam rocega de minas e os patrulhas que se encontravam de prevenção se dirigido para a zona suspeita.

Um dos navios ao aproximar-se abriu fogo sobre o NRP Golfinho, mas este manobrou de imediato e submergiu, aflorando à tona de água momentaneamente para observar através dos seus dois periscópios a posição dos navios que o perseguiam. O NRP Golfinho controlou bem a situação porque tinha a vantagem tecnológica do seu lado, uma vez que os navios não possuíam equipamento de escuta submarina.

Estes seguiram para na direcção de pressuposta progressão do submersível, mas este submerso dirigiu-se na direcção oposta.  Durante as manobras evasivas o NRP Golfinho passou a uma curta distância de um paquete e da sua escolta que regressavam de França sem o detectar. O submersível  regressou mais tarde à base normalmente, escoltado e sem mais imprevistos.





[i] Contra-Almirante Joaquim de Almeida Henriques, Nascido a 28 de maio de 1875, em Leiria, ingressou na Escola Naval em novembro de 1893, como aspirante de marinheiro de 2ª classe, e foi promovido a guarda-marinha em Outubro de 1895. Ficou conhecido como o "Pai dos submarinos da Marinha Portuguesa".


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Efeméride de 7 de Fevereiro - Tratado de Maastricht

A 7 de Fevereiro de 1992 era assinado entre os então 12 Estados-membros da Comunidade Europeia, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Espanha e Reino Unido, o Tratado de Maastricht dando origem ao que hoje é a União Europeia.

Com a queda do Muro de Berlim, a 9 de Novembro de 1989, e o fim da Guerra Fria o embate de décadas entre o comunismo e o capitalismo praticamente chegou ao fim, resultando na vitória do capitalismo. O fim do período de confronto ideológico que sucedeu á Segunda Guerra Mundial permitiu uma maior aproximação dos países integrantes do continente europeu como um todo, uma vez que durante a Guerra Fria o leste europeu agregava os países que faziam parte do bloco comunista e por isso encontravam grandes dificuldades de afirmação e aceitação no ocidente

Desde a década de 1950 que os países da europa ocidental iniciaram uma política de união visando o crescimento e a defesa integrados. Os primeiros blocos então criados uniam poucos países, ligando-se em torno de interesses muito específicos e resultou de factores externos e internos. No plano externo, o colapso do comunismo na Europa de Leste e a perspectiva da reunificação alemã conduziram a um compromisso no sentido de reforçar a posição internacional da Comunidade. No plano interno, os Estados-Membros desejavam aprofundar, através de outras reformas, os progressos alcançados com o Acto Único Europeu[i].

O enfraquecimento do bloco comunista proporcionou a adesão de novos países ao capitalismo e fez diversificar a riqueza económica europeia, uma vez que os recursos naturais e as produções tecnológicas se encontram espalhadas pelo continente, houve a abertura necessária para dar início á integração da Europa num único bloco possibilitando dessa forma o crescimento económico de todos.

Em 7 de Fevereiro de 1992, foi então assinado, na cidade holandesa de Maastricht, um tratado que recebeu o mesmo nome da cidade, o Tratado de Maastricht, com entrada em vigor em 1 de Novembro de 1993.

Este tratado representou um marco na união da Europa fixando a integração económica e consequente unificação política. O novo bloco que se formou no continente substituiu a anterior Comunidade Europeia por um grupo chamado União Europeia.

O tratado estabeleceu metas para facilitar a circulação das pessoas, dos produtos, dos serviços e do capital pelos países aderentes com a finalidade de garantir a estabilidade política na Europa após tantos períodos de conturbação.

Para alcançar tais objetivos, o tratado foi elaborado com vistas a englobar três pontos fundamentais. O primeiro deles seria a abordagem de assuntos sociais e económicos que permitissem o crescimento e desenvolvimento da Europa, tratando da agricultura, do ambiente, da saúde, da educação, da energia, da investigação e de desenvolvimento.

O segundo tópico encarregar-se-ia da resolução dos problemas relacionados com o bem comum, como política externa e segurança. E, por fim, a cooperação policial e judiciária em matéria penal.

Já no século XXI a União Europeia conseguiu alcançar uma das metas previstas no tratado, a união monetária com a introdução do Euro, 1 de Janeiro de 2002, como moeda única, abrangendo 19 dos 28 países da União, Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos e Portugal, permitindo a adoção de critérios económicos homogéneos para o crescimento integrado.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Maastricht
http://www.historiasiglo20.org/europortug/maastricht.htm





[i] O Ato Único Europeu foi assinado a 17 de Fevereiro de 1986 e estabeleceu entre os Estados-Membros as fases e o calendário das medidas necessárias para a realização do Mercado Interno em 1992