sábado, 18 de janeiro de 2020

Efeméride de 18 Janeiro1934 – Revolta da Marinha Grande


"A revolta do 18 de Janeiro de 1934 surgiu como movimento nacional de contestação à ofensiva corporativa contra os sindicatos livres, por força do recém-publicado “Estatuto do Trabalho Nacional e Organização dos Sindicatos Nacionais”, Decreto nº 23 050, de Setembro de 1933, pelo Estado Novo.

O movimento, composto por sindicatos comunistas (CIS), anarquistas (CGT), socialistas (FAO), autónomos e trabalhadores do Estado, saiu para a rua e desenrolou-se, embora desarticulado. Contudo, a falta de apoio militar e a fraca adesão e repercussão nacional condenou-o ao fracasso.

Registaram-se greves gerais de caráter pacífico em Almada, Barreiro, Sines, Silves, e manifestações operárias, mais ou menos violentas na Marinha Grande, Seixal, Alfeite, Cacilhas e Setúbal.

Foram sabotadas estruturas de transportes, comunicações e de energia entre Coimbra e o Algarve, com destaque para Leiria, Martingança e Póvoa de Santa Iria. Registaram-se confrontos armados com forças policiais em Lisboa e Marinha Grande, onde o movimento atingiu grandes repercussões.

Quando, em finais de 1933, se iniciaram os preparativos da insurreição e Greve Geral nacional do dia 18 de Janeiro de 1934, o centro industrial vidreiro da Marinha Grande não ficou de fora.

Em articulação com as organizações sindicais nacionais, o movimento foi liderado por José Gregório, Teotónio Martins, Manuel Baridó, António Guerra, Pedro Amarante Mendes, Miguel Henrique e Manuel Esteves de Carvalho.

Entre a meia-noite e as duas da manhã do dia 18 de Janeiro de 1934, vários trabalhadores da Marinha Grande, na sua maioria vidreiros, reuniram-se em Casal Galego.

Estavam munidos de ferramentas para corte de árvores e vias de comunicação, de espingardas, revólveres, pistolas e bombas. Organizaram-se em brigadas e receberam instruções por parte dos dirigentes do movimento. Cortaram as estradas de acesso à Marinha Grande e a via-férrea.

Ocuparam a Estação dos Correios e Telégrafos e o Posto da GNR, com a consequente rendição e desarmamento dos soldados da Guarda Republicana e distribuição de armas pelos revoltosos.

Foram assim criadas condições para que se pudesse realizar a paralisação geral do trabalho na manhã do dia 18 de Janeiro. Porém, o movimento foi contido logo ao início da manhã. Os insurrectos foram surpreendidos com a chegada à Marinha Grande das forças policiais vindas de Leiria. Seguiram-se o Regimento de Artilharia Ligeira 4 e do Regimento de Infantaria 7.

Os revoltosos ainda resistiram, mas, pela manhã, as autoridades tomaram a cidade, onde declararam o estado de sítio.

Mandaram encerrar as fábricas, iniciando as buscas e detenções daqueles que participaram no movimento, gorando o objectivo da paralisação geral do trabalho.

O número de detidos terá ascendido, a 131 pessoas. 45 Revoltosos foram processados e condenados ao desterro pelo Tribunal Militar Especial, com penas entre 3 e 14 anos de prisão e ao pagamento de pesadas multas.

Nesta conjuntura iniciou-se um longo processo de luta contra o Estado Novo, contra a ditadura, a censura e o estado corporativo.

Reclamou-se o direito elementar à liberdade, do qual resultaram milhares de presos políticos, considerados de “especial perigosidade”. Alguns foram deportados para a ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, nomeadamente para a Colónia Penal do Tarrafal, conhecida como o “campo da morte lenta”.

Os revolucionários do 18 de Janeiro foram derrotados num combate em que a heroicidade não bastava para vencer a enorme desigualdade de forças".

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Efeméride de 13 Janeiro 1759 – Execução dos Távora

No dia 13 de Janeiro de 1759, foram executados, em Belém, o Duque de Aveiro e os Marqueses de Távora, acusados de conspiração contra Dom José.

Decorria o ano de 1758 e Portugal era palco de um vasto conjunto de reformas com o objetivo de sair da miséria na qual mergulhou devido à diminuição das remessas de ouro recebidas do Brasil.

Debaixo deste cenário, e face às novas políticas mercantilistas que surgiram do pensamento iluminista que ignoram a estrutura nobiliárquica privilegiando uma lógica de poder economicista, a nobreza portuguesa ficou bastante descontente com o governo do rei Dom José.

Uma das grandes famílias da alta nobreza que estava contra estas mudanças era a família Távora.

Esta família era possuidora de uma enorme fortuna e da sua história constavam vários serviços prestados aos diversos reis de Portugal ao longo dos séculos.

Em Setembro de 1758, Dom Francisco de Távora tinha acabado de regressar da Índia, onde tinha sido vice-rei, e assumiu-se como o porta-voz da discórdia dos nobres e da oposição política às reformas do primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo[i], hoje conhecido como Marquês do Pombal.

Por isso, Sebastião José odiava a família dos Távora.

O problema é que, com este ambiente conflituoso, tornava-se complicado para Dom José visitar a sua amante, Mariana Teresa de Távora, nora dos marqueses velhos, até que um dia quando Dom José regressava a casa, foi vítima de um atentado que provocou graves ferimentos, tanto a si próprio como ao cocheiro.

O primeiro-ministro faz então questão de tomar as rédeas da investigação, colocando-a nas mãos de um juiz da sua confiança. Depois, ele consegue que o rei assine um decreto em que promete subir o grau de nobreza de quem der informações confiáveis de quem foi o autor do atentado. Após isso, surgem informações que dizem que o atentado teve a autoria dos Távora com a ajuda dos Aveiro e dos Atouguia.

Depois disso, debaixo de tortura, Sebastião José consegue retirar da boca de duas supostas testemunhas a versão da história que ele queria ouvir, de modo que, daí até à condenação à morte tudo ocorreu num ápice.

No total foram condenadas à morte, por corte de cabeça, 18 pessoas. Aos restantes familiares e criados foi dada como pena a sua mutilação até à morte.

A 13 de Janeiro de 1759, teve lugar num descampado perto da torre de Belém, a execução pública de vários elementos da alta nobreza portuguesa, nomeadamente o duque de Aveiro e o marquês de Távora, entre outros elementos desta família.

Foram sujeitos a tortura, suplício e humilhação pública antes de serem decapitados e os seus corpos reduzidos a cinzas. O rei Dom José e a corte assistiram às execuções, que causaram viva impressão na época. Foi o desfecho de um processo atribulado que envolveu a poderosa família dos Távora, alegadamente envolvida numa conspiração e tentativa de assassinato do monarca.

O Processo dos Távora é, talvez, o caso judicial mais famoso da História de Portugal e continua a suscitar polémica e debate entre os historiadores. Sabe-se que o rei sofreu efetivamente um atentado, 3 de Setembro de 1758, do qual saiu ferido, numa noite em que regressava aos seus aposentos numa carruagem, depois de um encontro amoroso.

A questão é saber se se tratou de um simples assalto ou se houve intenção de o matar, uma vez que viajava incógnito. Os autores foram presos e confessaram sob tortura estar a mando da família Távora.

Não houve contraditório e foram imediatamente executados, no decorrer das investigações secretas levadas a cabo pelo marquês de Pombal. Os alegados mandantes da conspiração foram presos e considerados culpados, apesar de alegarem inocência.

Subsistem muitas dúvidas sobre o processo e boa parte dos historiadores concorda na tese de que tudo não passou de uma manobra do marquês de Pombal.

 O Processo dos Távora impôs a submissão da nobreza aos projetos de centralização do poder do marquês de Pombal e é considerada como um passo essencial na sua trajetória de consolidação do poder absoluto, conjuntamente com a expulsão da Companhia de Jesus.

Na prática, os seus efeitos perduraram enquanto reinou Dom José. Assim que morreu, em 1777, todo o ressentimento acumulado contra Pombal emergiu e o ministro caiu em desgraça.

A rainha Dona Maria I, que se tinha manifestado contra o processo antes de subir ao trono, reabilitou o nome da família dos Távora e libertou outros elementos da família que estavam em cativeiro.

O processo nunca foi, contudo, reaberto e reavaliado de forma integral, persistindo assim como um dos temas que continua a suscitar grande interesse e controvérsia entre os historiadores.



[i] SEBASTIÃO JOSÉ de Car­valho e Melo (1699-1782) nasceu em Lisboa na pequena nobreza. As medidas enér­gicas que tomou depois do terramoto de 1755 fizeram dele o mais importante minis­tro de D. José I. No ano em que foram executados os Távora recebeu o título de conde de Oeiras.
Ainda em 1759 expulsou os jesuítas e, em 1761, conseguiu fazer condenar o padre Malagrida, a última vítima mortal da Inqui­sição em Portugal. Foi responsável por reformas que desenvolveram a economia e o ensino. Em 1770 foi elevado a marquês de Pombal. A morte do rei, em 1777, ditou a sua queda. Morreu no desterro.

domingo, 12 de janeiro de 2020

Efeméride de 11 de Janeiro 1890 – Ultimato Britânico – Mapa Cor-de-rosa

Ultimato britânico de 1890: a 11 de Janeiro de 1890 os ingleses intimam Portugal a retirar as suas tropas do território compreendido entre Moçambique e Angola incluídos no conhecido Mapa cor-de-rosa.

O Ultimatum de 11 de Janeiro de 1890 constituiu um dos pontos-chave para a compreensão do processo de desagregação da monarquia e de afirmação do ideal republicano. Este marcou ainda o choque do projecto colonial de Portugal com os intrincados jogos de interesse colonial entre as três potências europeias da época: Grã-Bretanha, Alemanha e França.

O panorama internacional estava a mudar rapidamente na era que antecedeu o Ultimatum. Verificava-se uma mudança crescente no balanço dos equilíbrios de forças no continente Europeu, com a Alemanha a surgir bem delineada, após a guerra franco-prussiana, face às restantes potências europeias. Tal situação veio a provar-se ser um facto extremamente importante para Portugal, pois pela primeira vez teve uma alternativa à aliança tradicional inglesa. Apesar disso, a Inglaterra manteve um papel dominante, simplesmente já não era a “única” potência europeia no panorama internacional. Ainda assim, com os desenvolvimentos marítimos e económicos surge uma corrida das potências europeias pelo avanço colonial de África, o que cria um jogo sobre o seu equilíbrio neste continente.

O Tratado de Berlim[i] marcou influência na política externa portuguesa, uma vez que a partilha de África impôs a Portugal a demarcação de esferas de influência no interior do continente africano. Também a rejeição do princípio dos direitos históricos e a consagração internacional do novo princípio da ocupação efectiva como Direito Internacional para regulação das questões coloniais, obrigou Portugal a ocupar, efectivamente, os territórios que reclamava por direito histórico. Com estas mudanças Portugal viu os seus planos em perigo, pois o projecto inglês de ligação do Cairo à cidade do Cabo colidia com o projecto português denominado “África Meridional Portuguesa”, tendo este consistido, assim, no motivo da problemática em torno do Ultimatum.

O Ultimato britânico de 1890 foi um ultimato do governo britânico, entregue a 11 de Janeiro de 1890 por um “Memorando” a Portugal, para a retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, no actual Zimbabwe, a pretexto de um incidente ocorrido entre portugueses e Macololos. A zona era reclamada por Portugal, que a havia incluído no famoso Mapa cor-de-rosa, reclamando, assim, a partir da Conferência de Berlim, uma faixa de território que ia de Angola à contra-costa, ou seja, a Moçambique.

 Portugal, perante a pressão diplomática por parte de Inglaterra no sentido de abandonar o projecto, tenta conseguir algum tempo, ao invocar o art.º12[ii] da acta final do Tratado de Berlim levando assim a questão para o fórum internacional e procurando algum apoio da potência emergente europeia, a Alemanha, para mediar o problema. Infelizmente para Portugal a Alemanha estava condicionada pelo acordo que tinha com a Inglaterra, no intuito de não competirem no continente africano.

 A concessão de Portugal às exigências britânicas foi vista como uma humilhação nacional pelos republicanos portugueses, que acusaram o governo e o rei Dom Carlos I de serem os seus responsáveis. Com isto, assistiu-se a uma mudança na política interna portuguesa marcada pela insatisfação social. Com o surgir de um movimento de descontentamento social, os republicanos capitalizam tal descontentamento, iniciando, assim, um crescimento e alargamento da sua base social de apoio que levará à implantação da república a 5 de Outubro de 1910.

Alimentando esse ambiente de quase insurreição, a 23 de Março, António José de Almeida, futuro presidente da república, publica um artigo que foi considerado calunioso para o rei e o levou à prisão. No entanto, a cedência portuguesa foi formalizada a 20 de Agosto com o Tratado de Londres entre Portugal e a Grã-Bretanha, definindo os limites territoriais de Angola e Moçambique.

Em consequência da cedência aos interesses britânicos, apareceu em Lisboa a Liga Liberal, movimento de protesto presidido por Augusto Fuschini com a participação de João Crisóstomo contra o Tratado de Londres. A Liga promoveu uma reunião, no Teatro de São Luís, onde participaram cerca de 400 oficiais fardados.

Após 28 dias de crise política é nomeado, a 14 de Outubro, um governo extra-partidário, presidido por João Crisóstomo. O governo é apoiado pela Liga Liberal, retomando-se progressivamente a calma. Estes acontecimentos desencadeados pelo ultimato britânico, de 11 de Janeiro de 1890, marcaram de forma permanente a evolução política portuguesa, desencadeando uma cadeia de acontecimentos que termina com o fim da monarquia constitucional e com o reforço na consciência colectiva portuguesa do apego ao império colonial, que depois teve constantes consequências ao longo do século XX tanto na política interna como externa de Portugal. 



[i] Conferência de Berlim foi realizada entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885 e teve como objetivo organizar, por meio de regras, a ocupação da África pelas potências coloniais, resultando numa divisão territorial que não respeitou, nem a história, nem as relações étnicas e mesmo familiares dos povos desse continente. O seu organizador e acompanhante foi o Chanceler Otto von Bismarck da Alemanha e participaram a Grã-Bretanha, França, Espanha, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia, Áustria-Hungria e Império Otomano.

[ii] Artigo 12. Caso um desentendimento sério, nascido do assunto ou dos limites dos territórios mencionados no artigo 1 e colocados sob o regime da liberdade comercial, vier a surgir entre as
Potências signatárias da presente Ata ou Potências que, a seguir, a ela aderirem, essas Potencias se comprometem, antes do apelo às armas, a recorrer à mediação de uma ou de várias Potências amigas. No mesmo caso, as mesmas Potências se reservam o recurso facultativo ao procedimento da arbitragem.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A “quase” verdadeira história do Natal - celebrar o solstício de inverno


No dia 24 de Dezembro, há mais de 2000 anos, José e Maria iam a caminho de Belém para o censo, tal como havia ordenado César Augusto. José ia caminhando, e Maria, a ponto de dar à luz o seu filho, ia sentada num burrinho. Meses antes, o arcanjo Miguel, ou Gabriel, havia visitado Maria para lhe dar a notícia que do seu ventre nasceria o filho de Deus, um menino que se chamaria Jesus.

Quando chegaram a Belém, Maria e José buscaram um lugar para se acomodarem, mas por terem chegado tarde todas as instalações estavam cheias. Finalmente, um bom senhor emprestou seu estábulo para passarem a noite ali.

José juntou um pouco de palha e fez uma cama para a sua esposa. O que ninguém poderia imaginar era que antes do dia terminar, Jesus nasceria ali mesmo.

Ao cair da noite, no céu nasceu uma estrela que iluminava mais que todas as outra e ficou justamente em cima onde estava o menino que acabara de nascer.

Muito longe dali, no Oriente, três sábios astrólogos chamados Melchior, Gaspar e Baltasar, sabiam que essa estrela significava que um novo rei estava para nascer.

Os três sábios, que hoje conhecemos como os três reis magos, foram seguindo a estrela brilhante até a manjedoura de Belém para visitar Jesus.

Quando chegaram ao seu destino, Melchior, Gaspar e Baltasar, procuraram a manjedoura e presentearam a criança com ouro, incenso e mirra.

É assim a narração feita pela Bíblia. Mas terá sido assim mesmo que tudo aconteceu? Terá Jesus “nascido” no dia 25 de Dezembro?

É verdade que o natal se tornou numa festa cristã que se comemora a 25 de dezembro e é considerada uma das maiores e mais importantes festas de todo o mundo. Comemora o nascimento do menino Jesus Cristo.

Mas qual a origem da palavra natal? A palavra natal vem do latim nãtãlis que é uma palavra derivada do verbo nãscor que significa nascer.

É preciso realçar que a humanidade comemora essa data desde bem antes do nascimento de Jesus - o Natal é tão antigo quanto a civilização.

Roma, século 2, dia 25 de Dezembro. A população está em festa, em homenagem ao nascimento daquele que veio para trazer benevolência, sabedoria e solidariedade aos homens. Cultos religiosos celebram o ícone, nessa que é a data mais sagrada do ano. Enquanto isso, as famílias apreciam os presentes trocados dias antes e se recuperam de uma longa comilança.

Mas não. Essa comemoração não é o Natal. Trata-se de uma homenagem à data de “nascimento” do deus persa Mitra, que representa a luz e, ao longo do século 2, tornou-se uma das divindades mais respeitadas entre os romanos. Qualquer semelhança com o feriado cristão, no entanto, não é mera coincidência.

A história do Natal começa, na verdade, pelo menos 7 mil anos antes do nascimento de Jesus. É tão antiga quanto a civilização e tem um motivo bem prático: celebrar o solstício de inverno, a noite mais longa do ano no hemisfério norte, que acontece no final de Dezembro. Dessa madrugada em diante, o sol fica cada vez mais tempo no céu, até o auge do verão. É o ponto de viragem das trevas para luz: o “renascimento” do Sol. Num tempo em que o homem deixava de ser um caçador errante e começava a dominar a agricultura, a volta dos dias mais longos significava a certeza de colheitas no ano seguinte. E então era só festa. Na Mesopotâmia, a celebração durava 12 dias. Já os gregos aproveitavam o solstício para homenagear Dionísio, o deus do vinho e da vida mansa, enquanto os egípcios relembravam a passagem do deus Osíris para o mundo dos mortos. Na China, as homenagens eram (e ainda são) para o símbolo do yin-yang, que representa a harmonia da natureza. Até povos antigos da Grã-Bretanha, mais primitivos que os seus contemporâneos do Oriente, comemoravam: o forrobodó era em volta de Stonehenge, monumento que começou a ser erguido em 3100 a.C. para marcar a trajetória do Sol ao longo do ano.

A comemoração em Roma, então, era só mais um reflexo de tudo isso. Cultuar Mitra, o deus da luz, no 25 de Dezembro era nada mais do que festejar o velho solstício de inverno – pelo calendário atual, diferente daquele dos romanos, o fenômeno na verdade acontece no dia 20 ou 21, dependendo do ano. Seja como for, o culto a Mitra chegou à Europa lá pelo século 4 a.C., quando Alexandre, o Grande, conquistou o Médio Oriente. Centenas de anos depois, soldados romanos tornaram-se devotos da divindade. E ela foi parar no centro do Império.

Mitra, então, ganhou uma celebração exclusiva: o Festival do Sol Invicto. Esse evento passou a dar origem a outra festa dedicada ao solstício. Era a Saturnália, que durava uma semana e servia para homenagear Saturno, senhor da agricultura. “O ponto inicial dessa comemoração eram os sacrifícios ao deus. Enquanto isso, dentro das casas, todos se felicitavam, comiam e trocavam presentes”, dizem os historiadores Mary Beard e John North no livro Religions of Rome (“Religiões de Roma”, sem tradução para o português). Os mais animados entregavam-se a orgias – mas isso faziam os romanos o tempo todo.

Enquanto isso, uma religião monoteísta que não ligava a estas comemorações crescia em Roma: o cristianismo.

Solstício cristão

As datas religiosas mais importantes para os primeiros seguidores de Jesus só tinham a ver com o seu martírio: a Sexta-Feira Santa (crucificação) e a Páscoa (ressurreição). O costume, afinal, era lembrar apenas a morte de personagens importantes. Líderes da Igreja achavam que não fazia sentido comemorar o nascimento de um santo ou de um mártir – já que ele só se torna uma coisa ou outra depois de morrer. Isto para não reconhecer que ninguém fazia ideia da data exacta em que Jesus teria vindo ao mundo – o Novo Testamento não diz nada a esse respeito. Só que existia um problema: os fiéis de Roma queriam encontrar algo que fizesse frente às comemorações pelo solstício.

E encontrar uma celebração cristã nessa época viria a calhar – principalmente para os chefes da Igreja, que teriam mais facilidade em amealhar novos fiéis. Assim, em 221 d.C., o historiador cristão Sextus Julius Africanus teve a ideia: fazer coincidir o aniversário de Jesus no dia 25 de Dezembro, com o nascimento de Mitra. A Igreja aceitou a proposta e, a partir do século 4, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império, o Festival do Sol Invicto começou a mudar de homenageado. “Associado ao deus-sol, Jesus assumiu a forma da luz que traria a salvação para a humanidade”, diz o historiador Pedro Paulo Funari. Assim, a invenção católica herdava tradições anteriores. “Ao contrário do que se pensa, os cristãos nem sempre destruíam as outras percepções de mundo como rolos compressores. Nesse caso, o que ocorreu foi uma troca cultural”, afirma outro historiador especialista em Antiguidade, André Chevitarese, da UFRJ.

Não existem evidências que nos permitam dizer como eram os primeiros Natais cristãos, mas é facto que hábitos como a troca de presentes e as refeições suntuosas permaneceram. E a coisa não parou por aí. Ao longo da Idade Média, enquanto missionários espalhavam o cristianismo pela Europa, costumes de outros povos foram entrando para a tradição natalina. A que deixou um legado mais forte foi o Yule, a festa que os nórdicos faziam em homenagem ao solstício. O presunto da ceia, a decoração colorida das casas e a árvore de Natal vêm de lá. Só isso.

Outra contribuição do norte foi a ideia de um ser sobrenatural que dá presentes para as criancinhas durante o Yule. Em algumas tradições escandinavas, era (e ainda é) um gnomo quem cumpre esse papel. Mas essa figura logo ganharia traços mais humanos.

E assim nasce o Papai Noel

Ásia Menor, século 4. Três raparigas da cidade de Myra (onde hoje fica a Turquia) viviam muito mal. Seu pai não possuía quaisquer bens, e as raparigas só viam uma maneira de sair da miséria: entrar para o ramo da prostituição. Foi então que, numa noite de inverno, um homem misterioso jogou um saquinho cheio de ouro pela janela (alguns dizem que foi pela chaminé) e desapareceu. Na noite seguinte, atirou outro; depois, mais outro. Um para cada rapariga. Aí as raparigas usaram o ouro como dotes de casamento – não era possível nessa época arranjar um bom marido sem pagar por isso. E viveram felizes para sempre, sem o fantasma de entrar para a vida, digamos, “profissional”. Tudo graças ao sujeito dos saquinhos. O seu nome? Papai Noel.

Bom, mais ou menos. O tal benfeitor era um homem de carne e osso conhecido como Nicolau de Myra, o bispo da cidade. Não existem registros históricos sobre a sua vida, mas lenda é o que não falta. Nicolau seria um ricaço que passou a vida dando presentes para os pobres. Histórias sobre a generosidade do bispo, como essa das raparigas que escaparam do bordel, ganharam estatuto de mito. Rapidamente lhe foram atribuídos toda sorte de milagres. E um século após a sua morte, o bispo foi canonizado pela Igreja Católica. Tornou-se são Nicolau.

Um santo multiuso: padroeiro das crianças, dos mercadores e dos marinheiros, que levaram a sua fama de bonzinho para todos os cantos do Velho Continente. Na Rússia e na Grécia Nicolau tornou-se o santo mais importante, a sua Nossa Senhora de Fátima. No resto da Europa, a imagem benevolente do bispo de Myra fundiu-se com as tradições do Natal. Tornou-se o santo presenteiro oficial da data. Na Grã-Bretanha, passaram a chamá-lo de Father Christmas (Papai Natal). Os franceses cunharam Pére Nöel. Na Holanda, o santo Nicolau teve o nome encurtado para Sinterklaas. E o povo dos Países Baixos levou essa versão para a colônia holandesa de Nova Amsterdã (atual Nova York) no século 17. Assim o Natal que nós conhecemos ia ganhando o mundo, mas nem todos gostaram da ideia.

Natal fora-da-lei

Inglaterra, década de 1640. No meio de uma sangrenta guerra civil, o rei Charles I digladiava os cristãos puritanos – os filhos mais radicais da Reforma Protestante, que dividiu o cristianismo em várias facções no século XVI.

Os puritanos queriam quebrar todos os laços que outras igrejas protestantes, como a anglicana, dos nobres ingleses, ainda mantinham com o catolicismo. A ideia de comemorar o Natal era um desses laços. Então era preciso terminar com ela.

Primeiro, eles tentaram mudar o nome da data de “Christmas” (Christ’s mass, ou Missa de Cristo) para Christide (Tempo de Cristo) – já que “missa” é um termo católico. Não satisfeitos, decidiram extinguir o Natal: em 1645, o Parlamento, de maioria puritana, proibiu as comemorações pelo nascimento de Cristo. A justificação seria que, além de não estar mencionada na Bíblia, a festa ainda dava início a 12 dias de gula, preguiça e mais um monte de outros pecados.

A população não aderiu e continuou a comemorar às escondidas. Em 1649, Charles I foi executado e o líder do exército puritano Oliver Cromwell assumiu o poder. As intrigas sobre a comemoração continuaram, e chegaram a pancadaria e repressões violentas. A situação, no entanto, durou pouco. Em 1658 Cromwell morreu e a restauração da monarquia trouxe a festa de volta. Mas o Natal não estava completamente a salvo. Alguns puritanos do outro lado do oceano logo proibiriam a comemoração nas suas terras. Foi na então colônia inglesa de Boston, onde festejar o 25 de Dezembro se tornou prática ilegal entre 1659 e 1681. O lugar que se tornaria os EUA, afinal, tinha sido colonizado por puritanos ainda mais linha-dura que os seguidores de Cromwell. Tanto que o Natal só se tornou feriado nacional em 1870, quando uma nova realidade já falava mais alto que cismas religiosas.

Com o desenvolvimento da Revolução Industrial torna-se óbvia a produção em massa. Com ela surge a indústria dos presentes, faz nascer a publicidade natalícia e acaba por transformar o bispo Nicolau no agente de propaganda mais requisitado do planeta. Até meados do século XIX, a sua imagem mais comum era a de um bispo mesmo, com manto vermelho e mitra – aquele chapéu comprido que as autoridades católicas usam.

Para se enquadrar nos novos tempos, então, foi necessário alterar a sua imagem. O cirurgião foi o publicitário americano chamado Thomas Nast, que em 1862, tirou as referências religiosas, adicionou uns quilinhos a mais, remodelou o figurino vermelho e estabeleceu a residência dele no Pólo Norte – para que o “velhinho” não pertencesse a país nenhum. Nascia o Pai Natal de hoje. Mas a figura do bom velhinho só espalharia por todo o mundo depois de 1931, quando se tornou estrela de uma série de anúncios da Coca-Cola. A campanha foi sucesso imediato. Tão grande que, nas décadas seguintes, o gorducho se tornou a coisa mais associada ao Natal. Mais até que o verdadeiro homenageado da comemoração. Ele mesmo: o Sol.

Após esta tentativa de narrar a história do Natal, tenho a certeza que cada um continuará a acreditar no seu próprio “Natal”. Façam isso. O mais importante é que o Natal seja quando um homem quiser, onde se quiser e que traga a todos os povos do mundo, Paz, prosperidade, Solidariedade, Igualdade e Fraternidade.




sábado, 21 de dezembro de 2019

Efeméride de 21 de Dezembro de 1470 – Descoberta de São Tomé e Príncipe

São Tomé e Príncipe, oficialmente República Democrática de São Tomé e Príncipe, é um estado insular localizado no Golfo da Guiné, junto à linha do Equador (atravessa o Ilhéu das Rolas) e a cerca de 300 km da costa Ocidental de África. Todo o arquipélago está inserido no rifte da linha vulcânica dos Camarões. Composto por duas ilhas principais (Ilha de São Tomé e Ilha do Prín 
cipe) e várias ilhotas, num total de 1001 km², com cerca de 192 mil habitantes. Situa-se relativamente próximo das costas do Gabão, Guiné Equatorial, Camarões e Nigéria.

Crê-se que a ilha de S. Tomé foi descoberta (ou achada - alguns autores consideram que existiria uma população nativa: os Angolares) a 21 de Dezembro (dia de S. Tomé) de 1470 pelos navegadores João de Santarém e Pêro Escobar que, a mando do Rei Dom Afonso V de Portugal, exploravam a costa ocidental africana. Situa-se a descoberta da ilha do Príncipe a 17 de Janeiro de 1471. O povoamento do arquipélago por colonos portugueses iniciou-se em 1485 por João de Paiva, a quem Dom João II havia doado a ilha. Os primeiros colonos desembarcaram em Ana Ambó e estabeleceram-se na costa norte da ilha, fundando uma povoação na Baía de Ana Chaves.

Contudo esta data, a do achamento continua polémica. A versão tradicional, como já vimos, é a de que teria sido descoberta no dia de S. Tomé (21 de Dezembro) de 1471, pelos navegadores João de Santarém e Pêro Escobar, o que não é suportado por nenhuma base documental. Alguns autores, como Luís de Albuquerque, baseando-se em informações de Martin Behaim (Martinho da Boémia) no chamado “globo de Nuremberga” (que aponta para 1484) e de Duarte Pacheco Pereira (que situa a chegada no reinado de Dom João II), têm vindo a fazer avançar a data da descoberta para depois de 1480, embora anterior a 1485, ano do início da colonização oficial.


Nesse ano, por carta régia de 24 de Setembro, foi estabelecida a donataria de São Tomé e nomeado capitão-donatário o escudeiro João de Paiva, com a obrigação de promover o povoamento da ilha. Pela chamada “carta de foral” de 16 de Dezembro de 1485, foi, por sua vez, concedido um vasto conjunto de privilégios aos respectivos moradores, que, nessa data, eram ainda muito poucos. Só em 1493, ano em que é nomeado Álvaro de Caminha para capitão-donatário e se dá a sua fixação na ilha, se inicia o efectivo processo de colonização, com a instalação de um número significativo de povoadores, incluindo os chamados “moços judeus”, crianças e jovens tirados pela força às famílias acolhidas em Portugal, depois da expulsão dos judeus de Castela.

Desde cedo (por volta do ano de 1500) os portugueses dedicaram-se ao cultivo da cana-de-açúcar, que encontrava condições favoráveis no clima de S. Tomé. Rapidamente surgiram mais de 60 engenhos produtores de açúcar, que era exportado para a Europa. Outras fontes de rendimento eram a produção de pimenta e a exportação de madeiras. Ao mesmo tempo, devido à sua localização, S. Tomé funcionava como entreposto comercial entre África, Europa e, mais tarde, o Brasil. A população era constituída por várias camadas sociais: os grandes senhores portugueses, o clero, outros colonos portugueses, os escravos (necessários em grande quantidade para a produção de açúcar e que foram sendo importados do continente africano) e os forros (escravos dos primeiros colonos e os seus descendentes, assim chamados por lhes ter sido concedida por Dom Manuel I a libertação através de uma carta de alforria).

O principal centro urbano da ilha de São Tomé, a povoação com o mesmo nome, foi elevado à categoria de cidade em 1525 e foi sempre capital do arquipélago e residência dos governadores, com excepção do período entre 1753 e 1852, em que a capital foi transferida para Santo António, na ilha do Príncipe.



Os escravos que fizeram movimentar a economia são-tomense durante o final do século XV e primeiros anos do século XVI vinham, acima de tudo, da bacia do Níger, com particular destaque para o reino do Benim. No entanto, a falta de mão-de-obra para a produção de açúcar e a intensificação do tráfico de escravos com destino às Índias Ocidentais, vão exigir o recurso ao Congo e a Angola, de onde provém a grande massa de escravos que chega a São Tomé desde aquela última data até às primeiras décadas do século XVII. Na 2ª metade do século XVII e durante o século XVIII, o abastecimento da ilha em trabalhadores cativos volta a fazer-se no golfo da Guiné, mas agora em zonas mais próximas do arquipélago e menos batidas pelo grande comércio europeu, como o Gabão, sendo só raramente que as embarcações de São Tomé demandam a região do Níger, nomeadamente o Calabar e o reino de Ardra. O número de escravos que fugiam, do porto e das plantações, para o interior da ilha foi muito grande desde o século XV, provocando uma interminável “guerra do mato” e levando à formação de núcleos estáveis de fugitivos nos “picos” mais inacessíveis, núcleos que estiveram na origem da comunidade dos Angolares. Foram também frequentes as insurreições dos escravos das roças, sendo as principais rebeliões de que há notícia as de 1585, 1595 (a famosa revolta comandada por Amador, um escravo crioulo), 1617 e 1709.

O número de europeus residentes em São Tomé atingiu o seu máximo em meados do século XVI, apogeu da produção de açúcar, mas tem, depois, tendência a declinar. A mortalidade era muito elevada, devido às doenças tropicais (particularmente a malária) e esse facto travava também a afluência de novos povoadores, que passaram a ser maioritariamente degredados. Simultaneamente, foi-se formando uma elite mestiça que dominou a vida económica, política e religiosa de São Tomé nos séculos XVII e XVIII.

Até ao século XIX assiste-se ao declínio da produção de açúcar em S. Tomé devido ao grande fluxo migratório de colonos portugueses para o Brasil, que oferecia melhores condições, e ao abandono das culturas por parte dos forros, que se dedicavam a uma agricultura de subsistência.

Já no século XIX, com a independência do Brasil e a plantação de culturas de cacau e café, ressurge o interesse dos portugueses na ilha. A administração do arquipélago é reorganizada, são introduzidos novos escravos a partir do continente (já que os forros se recusam a trabalhar para os colonos), são combatidas as revoltas Angolares e a terra é redistribuída, conquistada ou usurpada pelos grandes senhores (que normalmente vivem na metrópole e delegam a administração em funcionários portugueses). São assim criadas as Roças, grandes latifúndios que se dedicam à produção principalmente de café e cacau e que gozam de grande autonomia dentro das suas fronteiras, onde a vontade do patrão é lei. Com a abolição da escravatura em 1876, inicia-se um novo fluxo imigratório de trabalhadores contratados (na prática, pouco mais que escravos), principalmente a partir de Cabo Verde, Angola e Moçambique para assegurar o trabalho nas roças. No período imediatamente após a Primeira Guerra Mundial, S. Tomé torna-se o principal exportador mundial de cacau. A partir de então assiste-se a um declínio progressivo da produção.

Nos anos 60 forma-se o Comité de Libertação de S. Tomé e Príncipe, que luta pela independência e contra o regime português, apesar de nunca ter existido luta armada no arquipélago. Com o 25 de Abril em Portugal abre-se a porta à independência de S. Tomé e Príncipe, o que acontece a 12 de Julho de 1975.

Após a independência, foi implantado um regime socialista de partido único e as plantações são nacionalizadas sob a alçada do MLSTP. Dez anos após a independência (1985), inicia-se a abertura económica do país. Em 1990, adota-se uma nova constituição, que institui o pluripartidarismo.

No ano seguinte, as eleições legislativas apresentam o Partido de Convergência Democrática - Grupo de Reflexão (PCD-GR) como grande vencedor, ao conquistar a maioria das cadeiras. A eleição para presidente contou com a participação de Miguel Trovoada, ex-primeiro-ministro do país que estava exilado desde 1978. Sem adversários, Trovoada foi eleito para o cargo. Em 1995 foi instituído um governo local na ilha do Príncipe, com a participação de cinco membros. Nas eleições parlamentares de 1998, o MLSTP incorpora no seu nome PSD (Partido Social Democrata) e conquista a maioria no Parlamento, o que tornou possível ao partido indicar o primeiro-ministro.

São Tomé e Príncipe tem um clima do tipo equatorial, quente e húmido, com temperaturas médias anuais que variam entre os 22 °C e os 30 °C. É um país com uma multiplicidade de microclimas, definidos, principalmente, em função da pluviosidade, da temperatura e da localização. A temperatura varia em função da altitude e do relevo.

O português é a língua oficial sendo falada por cerca de 98,4% da população do país.

De acordo com o CIA- The World Factbook a população de São Tomé e Príncipe dividia-se, aquando dos censos de 2001, de acordo com as suas filiações religiosas da seguinte forma: 77,5% de Cristãos, (na sua maioria católicos - 70,3%), 3,1% seguem outras religiões e 19,4% são não religiosos.

A diocese de São Tomé foi criada em 3 de Novembro de 1534, pela bula Aequum reputamus, do papa Paulo III, ficando na dependência da do Funchal, da qual tinha sido desanexada. A área da diocese abrangia, além das ilhas de São Tomé e do Príncipe, as de Ano Bom, Fernando Pó e Santa Helena, assim como a costa do continente africano desde o cabo das Palmas até ao cabo das Agulhas. O cabido era constituído por cinco dignitários e doze cónegos mas raramente esteve completo, sendo, no entanto, uma excelente oportunidade de promoção para o clero de origem local, primeiro mestiço e, depois de 1671, também negro.

São Tomé e Príncipe tem apostado no turismo para o seu desenvolvimento, mas a recente descoberta de jazidas de petróleo nas suas águas abriu novas, embora ainda mal definidas perspectivas para o futuro. A actividade pesqueira continua a ser uma das principais actividades económicas do país. O país continua também a manter estreitas

Numa das várias revoltas internas nas ilhas (1585), um escravo chamado Amador, considerado herói nacional, controlou cerca de dois terços da ilha de São Tomé.












quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Efeméride de 18 de Dezembro de 1961 – Morre Oliveira e Carmo

Foi a 18 de Dezembro de 1961, que o então segundo-tenente Oliveira e Carmo ao comando da lancha Vega, entrou em combate com a força aérea indiana. Conseguiu atingir um avião, mas foi atingido mortalmente por uma rajada de tiros de outro avião. 

Não podemos esquecer que esta história começou a ser escrita em 1947, quando os britânicos deram a independência à Índia e Portugal se recusou a devolver os territórios que tinha sob seu domínio. Teve um segundo capítulo em 1954, com a perda dos territórios ultramarinos de Dadrá e Nagar-Haveli.

Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo foi um oficial da Marinha Portuguesa que se distinguiu pela sua morte em combate depois de uma acção heróica contras as forças da União Indiana que invadiam a Índia Portuguesa[i].

Oliveira e Carmo nasceu em Santo Estêvão, concelho de Alenquer, no dia 26 de Setembro de 1936.

Concluindo o ensino secundário no Liceu Pedro Nunes, ingressou na Escola do Exército em Outubro de 1954, para depois entrar no curso "D. Duarte de Almeida" da Escola Naval. Em Maio de 1958 foi promovido a guarda-marinha e em Dezembro do mesmo ano a segundo-tenente.

Prestou serviços na superintendência dos Serviços da Armada e no Comando da flotilha de patrulhas, e foi chefe dos Serviços de Informação de Combate, Navegação e Artilharia em vários navios. Serviu a bordo dos navios patrulha "Boa Vista" e "Porto Santo" e na fragata "Pêro Escobar".

Em 1961 foi nomeado comandante da lancha de fiscalização "Vega"  um "micro-navio de guerra" composto por uma metralhadora de 20mm e 8 homens de guarnição que devia assegurar a defesa marítima de Diu. Tal como aconteceu com o aviso "Afonso de Albuquerque", a 17 de Dezembro de 1961 a "Vega" vê-se envolvida em confrontos com a União Indiana, ao ser sobrevoada por 8 aviões de combate das forças indianas e atacada pelo cruzador "Delhi". Embora seguindo as ordens do Estado-Maior da Armada, tratou-se de um combate desigual pois Portugal, na Índia, dispunha de poucos e fracos meios, tendo sido surpreendido pelo imenso arsenal (e sua efectiva utilização) dos meios bélicos da União Indiana:

Navegando em zig-zag, Oliveira e Carmo conseguiu evitar por diversas vezes que o seu navio fosse atingido. Por fim sucedeu o inevitável. Uma rajada de projécteis incendiários e explosivos atingiu em cheio a lancha, ferindo-o gravemente, matando o marinheiro Ferreira e incendiando as munições que estavam no convés. Pouco depois uma segunda rajada, disparada contra o navio imobilizado, acabou-lhe com a vida e feriu gravemente mais três marinheiros.

Com a lancha a arder e as munições a explodirem, os seis marinheiros que restavam, três deles gravemente feridos, atiraram-se à água. O marinheiro Cardoso da Silva, que era bom nadador, conseguiu alcançar a balsa e trazê-la para junto dos companheiros, enquanto a Vega era engolida pelas águas. Depois de ter ajudado a subir para ela dois dos feridos graves, o Jardino e o Bagoim, bem como o Freitas que era fraco nadador, amarrou as fitas do seu colete de salvação à balsa e, com o corpo e os olhos cobertos de óleo, começou a rebocá-la, nadando em direcção a terra, que conseguiu alcançar ao fim de sete horas! Durante o trajecto o Jardino morreu.

O marinheiro Nobre, pensando que era o último sobrevivente nadou em direcção à costa da União Indiana que conseguiu alcançar. O grumete Ramos, gravemente ferido nas pernas, conseguiu chegar a terra junto da fortaleza que, naquele momento, estava a ser intensamente bombardeada pelo cruzador Delhi.

Fardado de branco para, segundo afirmou, "morrer com mais honra"[ii], Oliveira e Carmo morreu heroicamente no dia 18 de Dezembro, vítima de tiros no peito, após as pernas lhe terem sido cortadas por prévias rajadas de metralhadora. O seu navio afundou-se, tendo morrido ainda dois dos marinheiros da guarnição e sobrevivendo cinco outros, três dos quais gravemente feridos.

O Comandante tornou-se patrono do curso Oliveira e Carmo, 1962 - 1967. Postumamente foi condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada (O. D. A. Nº172 de 3-2-1962) e com a Medalha de Valor Militar com Palma, e promovido a capitão-tenente (Decreto-Lei nº 44972, de 11 de Abril O/A. Nº 9, de 17-4-1963).

Em sua homenagem, a Marinha Portuguesa baptizou uma das corvetas da Classe Baptista de Andrade com o seu nome.

Alertado periodicamente da difícil situação, pelo Governador-Geral, General Vassalo e Silva, e pelo Arcebispo de Goa, Dom José Vieira Alvernaz  o Governo Português continuava insensível e convencido de que os nossos aliados iriam actuar em nosso favor, alterando as intenções de Nehru e da Carta das Nações Unidas.  

No dia 14 de Dezembro, Salazar determinava, numa longa mensagem ao Governador-Geral, que a missão das forças portuguesas era a de manter os “terroristas” em luta até que chegassem os auxílios externos já solicitados aos nossos aliados. E, textualmente, escrevia o seguinte excerto: “Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”. A falta de realismo de Salazar era inadmissível, dados os condicionalismos da situação e reflectia a falta de sensibilidade pela vida dos portugueses lá existentes.

No dia 18 de Dezembro, cerca das 00:00 horas, as forças da União Indiana avançaram por todo o lado e, no porto de Mormugão, iniciaram a luta. No navio “Afonso de Albuquerque”, que procurou resistir durante cerca de quatro horas de combate, o seu comandante, António da Cunha Aragão, foi gravemente ferido. Outros redutos militares isolados também terão tentado resistir. Registaram-se, sobretudo aí, alguns mortos e feridos. 

No dia 19 de Dezembro, com a tomada da cidade de Nova Goa, terminava praticamente a ocupação do Estado Português da Índia. O General Vassalo e Silva – que estava com o seu Estado-Maior num barracão próximo do porto, juntamente com D. José Vieira Alvernaz – rendeu-se cerca do meio-dia, depois de ter a percepção que a ocupação havia terminado. Hasteada a bandeira da União Indiana no Palácio do Hidalcão, foram feitas as prisões dos jornalistas portugueses. Todavia, noutras localidades, nomeadamente em Damão e Diu, como as comunicações eram muito precárias, às 16 horas as tropas portuguesas ainda estavam debaixo de fogo. Todos os prisioneiros, constituídos por militares, marinheiros, agentes fiscais e policiais e jornalistas, foram concentrados em Goa até à sua libertação. O último prisioneiro a sair de Goa, em Maio de 1962, foi o General Vassalo e Silva, fazendo-o de avião para Karachi, Paquistão na companhia de um ajudante e de um enfermeiro, com todas as honras e respeito por parte dos militares e autoridades indianas.

Salazar recusou-se sempre a aceitar a perda dos territórios na Índia, mantendo-os representados na Assembleia Nacional. Só após o 25 de Abril de 1974 é que a soberania indiana foi reconhecida por Portugal.



[i] Forças Portuguesas: Exército - 3300 Solados. Marinha – Um aviso (NRP Afonso de Albuquerque) Três lanchas Rápidas (NRP ) Vitimas - 31 mortos em combate, 57 feridos em combate, 3306 prisioneiros de guerra.
Forças Indianas: Exército - 45000 Solados. Marinha – um porta-aviões, um cruzador, três contra-torpedeiro e quatro fragatas. Vitimas - 34 mortos em combate, 51 feridos em combate

[ii] Diz o relatório elaborado pelos sobreviventes que «foi atingido mortalmente no peito» por disparos de um avião; antes, já uma rajada lhe havia cortado «as pernas totalmente pelas coxas». O segundo-tenente, de 25 anos, correu para a morte. Começou por se fardar «de branco», explicando aos marinheiros «que assim morreria com mais honra». Exortou-os a lutar até ao fim: «Fazemos parte da defesa de Diu e da Pátria e vamos cumprir até ao último homem e última bala se possível». Já ferido, despediu-se da mulher e do filho, beijando as fotografias que trazia no bolso.

sábado, 14 de dezembro de 2019

Efeméride de 14 de Dezembro de 1758 – Processo dos Távoras

Na madrugada de 13 de Dezembro de 1758 o mistério que cobria as investigações sobre os Távoras é rompido quando as autoridades prendem o Duque de Aveiro, os marqueses de Távora e de Alorna, os condes de Atouguia, de Óbidos e da Ribeira Grande, e vários criados dos titulares.

O Processo dos Távora refere-se a um escândalo político português do século XVIII. Os acontecimentos foram desencadeados pela tentativa, pensa-se sem se ter a certeza, de assassinato do Rei Dom José I na noite de 3 de Setembro de 1758, e culminaram numa execução pública em Belém no dia 13 de Janeiro de 1759. Foram espancados e depois queimados Dom Francisco de Távora e os seus dois filhos, José Maria e Luís Bernardo. Brás Romeiro, grande amigo de Luís Bernardo também não escapou. Foram também presos o Duque de Aveiro, um dos seus criados e um irmão desse criado, e a Marquesa de Távora, Dona Leonor, que foi decapitada.

O resto das famílias Távora, Aveiro, Alorna e Atouguia, entre eles o bispo de Coimbra Dom Miguel da Anunciação, foram presos sendo mais tarde mandados libertar por Dona Maria I, que nunca viu este processo com bons olhos, acreditando na inocência dos Távora e restantes acusados, em prol de benefícios obscuros.

Na verdade nunca ficou provado que se tratasse de um atentado contra o Rei, falou-se e pensa-se que os tiros eram para um tal de Pedro Teixeira com o qual o Duque de Aveiro tinha um diferendo, mas também aqui não há certezas.

No seguimento do terramoto de Lisboa ocorrido a 1 de Novembro de 1755, que destruiu o palácio real, o rei Dom José I vivia num grande complexo de tendas e barracas de luxo instaladas na Ajuda. Era aqui que decorria na altura o centro da vida política e social portuguesa.

Apesar de constituírem acomodações pouco espectaculares, as tendas da Ajuda eram o centro de uma corte tão glamorosa e rica como a de Versalhes de Luís XV de França. O rei vivia rodeado pela sua equipa administrativa, liderada pelo primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, e pelos seus nobres. O primeiro-ministro era um homem severo, filho de um fidalgo de província, com algum rancor para com a velha nobreza, que o desprezava. Desavenças entre ele e os nobres eram frequentes e toleradas pelo rei, que confiava em Sebastião de Melo pela sua liderança competente após o terramoto.

Dom José I era casado com Mariana Vitoria de Borbón, princesa espanhola, e tinha 4 filhas. Apesar de ter uma vida familiar alegre (o rei adorava as filhas e apreciava brincar com elas e levá-las em passeio), Dom José I tinha uma amante: Teresa Leonor, mulher de Luís Bernardo, herdeiro da família de Távora.

A Marquesa Leonor de Távora e o seu marido Francisco de Assis, conde de Alvor (e antigo vice-rei da Índia), eram as cabeças de uma das famílias mais poderosas do reino, ligadas às casas de Aveiro, Cadaval, São Vicente e de Alorna. Eram também inimigos fidagáis de Sebastião de Melo. Leonor de Távora era uma mulher política, preocupada com os negócios do Reino, entregue a seu ver a um novo-rico sem educação. Ela era também uma devota católica, com forte afiliação aos jesuítas, tendo como confessor um deles, Gabriel Malagrida.

Na noite de 3 de Setembro de 1758, Dom José I seguia incógnito numa carruagem que percorria uma rua secundária nos arredores de Lisboa. O rei regressava para as tendas da Ajuda depois de ter passado a noite com a amante. Pelo caminho, a carruagem foi interceptada por três homens, que dispararam sobre os ocupantes. Dom José I foi ferido num braço, o seu condutor também ficou ferido gravemente, mas ambos sobreviveram e regressaram à Ajuda.

Sebastião de Melo tomou o controlo imediato da situação. Mantendo em segredo o ataque e os ferimentos do rei, actuando rapidamente. Poucos dias depois, dois homens foram presos e torturados. Os homens confessaram a sua participação no atentado a ordens da família dos Távora, que estavam a conspirar pôr o duque de Aveiro, José Mascarenhas, no trono. Ambos foram enforcados no dia seguinte, mesmo antes da tentativa de regicídio ter sido tornada pública. Nas semanas que se seguem, a marquesa Leonor de Távora, o seu marido, o conde de Alvor, todos os seus filhos, filhas e netos foram encarcerados. Os conspiradores, o duque de Aveiro e os genros dos Távora, o marquês de Alorna e o conde de Atouguia foram presos com as suas famílias. Gabriel Malagrida, o jesuíta confessor de Leonor de Távora foi igualmente preso.

Foram todos acusados de alta traição e de regicídio. As provas apresentadas em tribunal eram simples:

a) As confissões dos assassinos executados.

b) A arma do crime pertencia ao duque de Aveiro.

c) E o facto de apenas os Távora poderem ter sabido dos afazeres do rei nessa noite, uma vez que ele regressava de uma ligação com Teresa de Távora, presa com os outros. Os Távora negaram todas as acusações mas foram condenados à morte. Os seus bens foram confiscados pela coroa, o seu nome apagado da nobreza e os brasões familiares foram proibidos. A varonia Távora e morgadio foram então transferidos para a casa dos condes de São Vicente.

A sentença ordenou a execução de todos, incluindo mulheres e crianças. Apenas as intervenções da Rainha Mariana e de Maria Francisca, a herdeira do trono, salvaram a maioria deles. A marquesa, porém, não seria poupada. Ela e outros acusados que tinham sido sentenciados à morte foram torturados e executados publicamente a 13 de Janeiro de 1759 num descampado, perto de Lisboa, junto à Torre de Belém.

A execução foi violenta mesmo para a época, as canas das mãos e dos pés dos condenados foram partidas com paus e as suas cabeças decapitadas sendo depois os restos dos corpos queimados e as cinzas deitadas ao rio Tejo. O rei esteve presente, juntamente com a sua corte, absolutamente desnorteada. Os Távora eram seus semelhantes, mas o rei quis que a lição fosse aprendida e para que nunca mais a nobreza se rebelasse contra a autoridade régia.

O palácio do Duque de Aveiro, em Belém, foi demolido e o terreno salgado, simbolicamente, para que nunca mais nada ali crescesse. No local, hoje chamado Beco do Chão Salgado, existe um marco alusivo ao acontecimento mandado erigir por Dom José com uma lápide que ainda hoje pode ser lida. As armas da família Távora foram picadas e o nome Távora foi mesmo proibido de ser citado.

Gabriel Malagrida foi enforcado e queimado a 21 de Setembro de 1761 e a Companhia de Jesus declarada ilegal. Todas as suas propriedades foram confiscadas e os jesuítas expulsos do território português, na Europa e no Ultramar. A família Alorna e as filhas do Duque de Aveiro foram condenadas a prisão perpétua em mosteiros e conventos.

Sebastião de Melo foi feito Conde de Oeiras pelo seu tratamento competente do caso, e posteriormente, em 1770, obteve o título de Marquês de Pombal, o nome pelo qual é conhecido hoje.

A culpa ou inocência dos Távoras ainda hoje é debatida por historiadores portugueses. Por um lado, as más relações entre a alta nobreza e o rei estão bem documentadas. A falta de um herdeiro masculino ao trono era motivo de desagrado para muitos, e o Duque de Aveiro era de facto uma opção.

Por outro lado, alguns referem uma coincidência: com a condenação dos Távoras e dos Jesuítas, desapareceram os inimigos de Sebastião de Melo e a nobreza foi domada. Adicionalmente, os acusados Távoras argumentaram que a tentativa de assassínio de Dom José I teria sido um assalto comum, uma vez que o rei viajava sem guarda nem sinais de distinção numa perigosa rua de Lisboa.

Outra pista de suposta inocência é o facto de nenhum dos Távoras ou familiares terem tentado escapar de Portugal nos dias que se seguiram ao atentado.

Culpados ou não, as execuções dos Távoras fora um acontecimento devastador para Portugal. A execução de uma família da primeira nobreza constituiu um choque. A futura rainha Dona Maria I ficou muito afetada pelos eventos.

O desprezo da rainha pelo primeiro-ministro de seu pai foi total. Retirou-lhe todos os poderes e expulsou-o de Lisboa. Foi emitido um decreto proibindo a sua presença a uma distância inferior a 20 milhas (cerca de 35 Km) da capital.

Do total de mais de 400 pessoas citadas, muitas escaparam e fugiram para o Brasil, sendo o caso mais conhecido o misterioso Frei Lourenço, fundador do Convento do Caraça em Minas Gerais.

Mais tarde, depois da governação de "Pombal" o desembargador frei dr. José Ricalde Pereira de Castro, tendo sido o relator do Tribunal revisionista deste processo ("dos Távoras"), por sentença de 23 de Maio de 1781, pronunciou a inocência dos Marqueses de Távora, de seus filhos, do Conde de Atouguia, embora confirmando a culpabilidade do Duque de Aveiro. Mas tal nunca foi confirmado pela rainha D. Maria I.