sexta-feira, 27 de março de 2020

Efeméride de 22 de Março de 1312 - Extinção da Ordem dos Templários

Em 1099 Jerusalém é tomada pelos exércitos da primeira Cruzada[i] à Palestina. Cerca de vinte anos depois, nove cavaleiros oriundos da França e da Borgonha constituem-se em irmandade com o propósito de protegerem os peregrinos nos perigosos caminhos entre o porto de Acre e Jerusalém.
O seu mestre e fundador, foi Hugo de Payens, da Borgonha, que com os demais cavaleiros assumem os votos monásticos de pobreza, castidade e a obediência. Em 1128 a sua irmandade, entretanto numerosa, foi reconhecida pelo concílio de Troyes, Papa Honório II, como ordem monástico-militar com o nome de Milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo.
É então que os cavaleiros abandonam as instalações na igreja do Santo Sepulcro, que os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho lhes tinham cedido, para irem ocupar o seu palácio e outras construções que o rei franco Balduíno II lhes proporciona, no terraço de Heródes, no antigo templo de Jerusalém. Entre estas construções receberam, para sua igreja conventual, a Mesquita do Rochedo que o califa Omar começara a construir em 642.
Com o tempo, na cultura das cruzadas, a imagem da mesquita transformou-se num imaginário Templo de Salomão e os cavaleiros passaram a ser conhecidos por Cavaleiros do Templo de Salomão ou simplesmente Templários. Também com o tempo, a sua missão mudou e, de defensores de peregrinos, passaram a defensores dos estados cristãos da Terra Santa. A Ordem será mantida graças aos numerosos donativos que lhes faziam na Europa, agrupados e administrados de forma metódica em Comendas.

A sua missão durou cerca de 200 anos, período durante o qual a Palestina esteve sob o domínio dos cruzados e o poder dos Templários cresceu graças à sua disciplina militar e organização logística. A queda de Jerusalém em 1291[ii], marca o início da trágica história dos Templários que, perseguidos por Filipe IV de França, num processo iniciado em 13 de Outubro de 1307, culmina com a extinção da Ordem a 22 de Março de 1312 pelo Papa Clemente V e a morte na fogueira do último mestre templário, Jacques de Molay em Outubro de 1314.
A Ordem do Templo chegou ao Condado Portucalense ainda à época de Teresa de Leão, condessa de Portugal, que lhe fez a doação da "villa" de Fonte Arcada, atual concelho de Penafiel, anteriormente a 1126. Em 1127, a condessa fez-lhe a doação do Castelo de Soure, na linha do rio Mondego, sob o compromisso de colaborar na conquista de terras aos Muçulmanos.
No reinado de Afonso I de Portugal (1143-1185) a Ordem recebeu a doação do Castelo de Longroiva (1145), na linha do rio Côa. Pouco depois os cavaleiros da Ordem apoiaram o soberano na conquista de Santarém (1147) ficando sob responsabilidade da Ordem a defesa do território entre o rio Mondego e o rio Tejo, a montante de Santarém. A partir de 1160 a Ordem estabeleceu a sua sede no país em Tomar. O processo de extinção da Ordem no país iniciou-se com a recepção da bula "Regnans in coelis", datada de 12 de Agosto de 1308, através da qual o Papa Clemente V deu conhecimento aos monarcas cristãos do processo movido contra os seus membros. Posteriormente, pela bula "Callidi serpentis vigil", datada de Dezembro de 1310, o pontífice decretou a detenção dos mesmos. Dom Dinis (1279-1325), a partir de 1310 procurou evitar a transferência do património da Ordem no país para a Ordem de São João do Hospital (Ordem dos Hospitalários), vindo a obter, do Papa João XXII a bula "Ad ae exquibus", expedida em 15 de Março de 1319, pela qual era aprovada a constituição da "Ordo Militiae Jesu Christi" (Ordem da Milícia de Jesus Cristo), à qual foram atribuídos os bens da extinta Ordem no país. A nova Ordem, após uma curta passagem por Castro Marim, veio a sediar-se também em Tomar.

Mais tarde, pela mão do seu Grão-Mestre, Infante Dom Henrique, Portugal e a Ordem de Cristo iniciam as viagens Marítimas dos descobrimentos.
A lenda do Priorado do Sião e os Templários
Segundo Plantard, os Cavaleiros Templários e o Priorado de Sião seriam duas facetas de uma mesma organização: a primeira pública e a última secreta. Plantard afirmava que a Igreja Católica tinha traído os Merovíngios ao legitimar a dinastia carolíngia. Segundo Plantard, o Priorado teria como missão proteger os descendentes da dinastia merovíngia, organizando-se contra a Igreja Católica:
"… os descendentes merovíngios estiveram sempre na base de todas as heresias, desde o arianismo, passando pelos cátaros e pelos templários até à franco-maçonaria. Com o nascimento do protestantismo, Mazarin em Julho de 1659 fez destruir o seu [dos descendentes merovíngios] castelo de Barberie que datava do século XII (Nièvre, França). Esta casa não tem gerado através dos séculos senão agitadores secretos contra a Igreja…"
Segundo Plantard, em 1188 o Priorado do Sião ter-se-ia separado dos Templários, passando a operar às escondidas (Plantard chamou a esta separação "corte do olmo"), tornando-se uma "sociedade secreta" da elite, enquanto os Templários foram violentamente atacados pelo rei francês Filipe IV, o Belo e pelo Papa Clemente V. Em 13 de Outubro de 1307, Filipe IV ordenou a prisão de todos os Cavaleiros Templários. Este evento deu origem à superstição do azar nas sextas-feiras 13. Uma lenda diz que na noite anterior à detenção, um número desconhecido de Cavaleiros teria partido de França com dezoito navios carregados com o lendário tesouro da Ordem. Uma parte desses navios teria aportado na Escócia e os Templários ter-se-iam fundido noutros movimentos, fazendo sobreviver os seus ideais ao longo dos séculos seguintes.



[i] Entre os anos de 1096 e 1270, foram organizadas muitas Cruzadas, mas a História registra oito delas como sendo as principais. Na verdade, houve um fluxo ininterrupto de peregrinações a Jerusalém, armadas ou não, que desembarcavam ali todos os anos durante a primavera. O termo “Cruzada” adveio do período em que o Papa Urbano II, durante o Concílio de Clermont, ordenou aos cavaleiros que estavam de partida para a Terra Santa que assinalassem com uma cruz os seus trajes guerreiros, com a promessa de receberem a indulgência pelos pecados cometidos, a suspensão de suas dívidas e a proteção dos seus bens. Inclusive, muitos daqueles que partiram para a conquista de Jerusalém, fizeram-no justamente na expectativa de morrer na luta e ganhar a salvação eterna. Os cavaleiros passaram, então, a utilizar o símbolo da cruz sobre as suas armaduras.

[ii] O Reino de Jerusalém foi um Estado cruzado criado no Levante em 1099 pela Primeira Cruzada. Teve a sua capital em Jerusalém e mais tarde em Acre. Foi extinto em 1291, com a queda desta última cidade.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Efeméride de 26 de Março 1211 – Morreu Dom Sancho I

Dom Sancho I Nasceu em Coimbra a 11 de Novembro de 1154 – morrendo na mesma cidade a 26 de Março de 1211, apelidado de Sancho, o Povoador, foi o 2º Rei de Portugal de 1185 até à sua morte. Era filho do rei Afonso I (Afonso Henriques) de Portugal e sua esposa Mafalda de Saboia. Promoveu e apadrinhou o povoamento dos territórios do país — destacando-se a fundação da cidade da Guarda, em 1199, e a atribuição de cartas de foral na Beira e em Trás-os-Montes: Gouveia (1186), Covilhã (1186), Viseu (1187), Bragança (1187), São Vicente da Beira (1195) ou Belmonte (1199). Almada (1190). Povoando assim áreas remotas do reino, em particular com imigrantes da Flandres e da Borgonha.

Quinto filho do monarca Afonso Henriques (1109 – 1185), foi batizado com o nome de Martinho, por ter nascido no dia do santo Martinho de Tours[i], e não estaria preparado para reinar, estaria destinado a seguir a vida eclesiástica? No entanto, a morte do seu irmão mais velho, Dom Henrique Afonso (1147-1155), quando Martinho contava apenas três anos de idade, levou à alteração da sua onomástica para um nome mais hispânico, ficando desde então a chamar-se Sancho Afonso.

Em 15 de Agosto de 1170 Dom Sancho foi armado cavaleiro pelo seu pai logo após o acidente de Dom Afonso Henriques em Badajoz[ii] e tornou-se seu braço direito, quer do ponto de vista militar, quer do ponto de vista administrativo. Nestes primeiros tempos de Portugal enquanto país independente, muitos eram os inimigos da coroa, a começar pelo Reino de Leão que havia controlado Portugal até então. Para além do mais, a Santa Sé demorava em consagrar a independência de Portugal com a sua bênção. Para compensar estas falhas, Portugal procurou aliados dentro da Península Ibérica, em particular o reino de Aragão, um inimigo tradicional de Castela, que se tornou no primeiro país a reconhecer Portugal. O acordo foi firmado 1174 pelo casamento de Sancho, então príncipe herdeiro, com a infanta Dulce, irmã mais nova do rei Afonso II de Aragão, tendo como descendentes legítimos: Teresa, Sancho, Afonso (Dom Afonso II),Pedro, Fernando, Henrique, Raimundo, Mafalda, Branca, Berengária.

No ano de 1178, Dom Sancho faz uma importante expedição contra mouros, confrontando-os perto de Sevilha e do rio Guadalquivir, e ganha-lhes a batalha. Com essa ação, expulsa assim a possibilidade deles entrarem em território português.

Com a morte de Dom Afonso Henriques, em 1185, Dom Sancho I torna-se no segundo rei de Portugal. Tendo sido coroado na Sé de Coimbra a 6 de Dezembro de 1185, manteve essa cidade como o centro do seu reino. Dom Sancho rapidamente deu por terminadas as guerras fronteiriças pela posse da Galiza e dedicou todos os seus esforços a combater os Mouros localizados a Sul. Após aproveitar a passagem de alguns cruzados a caminho da Terra Santa conquistou a praça do Alvor, para mais tarde com nova passagem pela costa portuguesa de novos cruzados, terceira cruzada, na primavera de 1189, se seguir a conquista de Silves, um importante centro administrativo e económico do Sul, com população estimada em 20.000 pessoas.

Dom Sancho ordenou então a fortificação da cidade e a construção do castelo que ainda hoje pode ser visitado. A posse de Silves foi efémera já que em 1190 Abu YusufYa'qub al-Mansur cercou a cidade com um exército e com outro atacou Torres Novas, que apenas conseguiu resistir durante dez dias, devido ao rei de Leão e Castela ameaçar de novo o Norte.

Dom Sancho I dedicou muito do seu esforço governativo à organização política, administrativa e económica do seu reino. Acumulou um razoável tesouro real e incentivou e fomentou a criação de indústrias, bem como a classe média de comerciantes e mercadores.

Com as zonas de fronteira pouco povoadas ficando à mercê de possíveis invasores, Dom Sancho I procurou atrair famílias para lá. Com essa intenção concedeu regalias a quem aí se quisesse instalar.

Essas regalias podiam ser, por exemplo, terras para cultivo, pastagens, dispensa de pagamento de alguns impostos, perdão de crimes, etc. Tudo isto era escrito numa Carta de Foral, que também incluía os deveres da população para com o rei. Ao todo Dom Sancho I assinou cinquenta e oito cartas de foral, o que lhe valeu o cognome de “O Povoador”.

O rei é também lembrado pelo seu gosto pelas artes e literatura, tendo deixado ele próprio vários volumes com poemas. Neste reinado sabe-se que alguns portugueses frequentaram universidades estrangeiras e que um grupo de juristas conhecia o Direito que se ministrava na escola de Bolonha. Em 1192 concedeu ao mosteiro de Santa Cruz 400 morabitinos, primeira moeda de ouro a ser cunhada em Portugal já durante o reinado de Dom Sancho I, para que se mantivessem em França os monges que lá quisessem estudar.

Outorgou o seu primeiro testamento em 1188/89 no qual doou a sua esposa os rendimentos de Alenquer, terras do Vouga, Santa Maria da Feira e do Porto. O seu último testamento foi lavrado em Outubro de 1209 quase dois anos antes de sua morte. O seu túmulo encontra-se no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, ao lado do túmulo do pai.



[i] São Martinho, ou Martinho de Tours, nasceu em cerca de 316 na antiga cidade de Savaria na Panónia, uma antiga província na fronteira do Império Romano, na atual Hungria. Filho de um comandante romano, cresceu na região de Pavia, em Itália, no seio de uma família pagã. Criado para seguir a carreira militar, foi convocado para o exército romano quando tinha quinze anos, viajando por todo o Império Romano do Ocidente.
Apesar de ter recebido uma educação pagã, foi em adolescente que Martinho descobriu o Cristianismo. Mas foi só mais tarde, em 356, depois de ter abandonado o exército que foi batizado. Tornou-se discípulo de Santo Hilário, bispo de Poitiers (na zona oeste da atual França), que o ordenou diácono e presbítero, regressando de seguida a Panónia, onde converteu a mãe. Mudou-se depois para Milão, de onde terá sido expulso juntamente com Santo Hilário. Isolado, terá passado algum tempo na ilha da Galinária, ao largo da costa italiana.
[ii]Após um acidente que incapacitou o rei Dom Afonso Henriques, durante a Batalha de Badajoz, por volta de 1170, o segundo filho do monarca D. Afonso Henriques, começou a participar mais activamente nas reuniões da cúria e na administração pública. Com a morte do seu pai em 1185 foi solenemente aclamado rei em Coimbra.


segunda-feira, 9 de março de 2020

Efeméride de 9 de Março de 1500 - A armada de Pedro Álvares Cabral larga de Lisboa rumo a Calecute


A 9 de Março de 1500, faz hoje precisamente 520 anos que a armada de Pedro Álvares Cabral larga de Lisboa rumo a Calecute, 


Depois de uma missa celebrada na ermida do Restelo, a que assistiram o rei Dom Manuel e toda a Corte, a armada de Pedro Álvares Cabral[i] zarpou da barra do Tejo nesse dia 9 de Março de 1500.

Álvares Cabral, que então teria pouco mais de trinta anos, tinha sob o seu comando uma poderosa armada de 13 naus e, como objectivo, a cidade de Calecute, na Índia, onde era preciso reafirmar a dominação portuguesa depois da viagem de exploração que Vasco da Gama tinha realizado dois anos antes. Outros objectivos eram então perseguidos, retornar com especiarias valiosas e estabelecer relações comerciais na Índia — contornando o monopólio sobre o comércio de especiarias, então nas mãos de comerciantes árabes, turcos e italianos.

Foi o próprio descobridor do caminho marítimo para a Índia, Vasco da Gama, quem organizou o roteiro da viagem de Cabral, no qual incluiu a indicação de que era conveniente que a frota fizesse uma bordada em direcção ao Atlântico sul mais aberta para ocidente, a fim de evitar os maus ventos.

Desse modo a frota acaba por se afastar bastante da costa africana, talvez intencionalmente, cumprindo uma indicação de Vasco da Gama? Acaba por desembarcar no que ele inicialmente achou tratar-se de uma grande ilha à qual deu o nome de Vera Cruz (Verdadeira Cruz) e que Pêro Vaz de Caminha faz referência.

Explorou o litoral e percebeu que a grande massa de terra era provavelmente um continente, decide ordenar o regresso de uma das naus com o intuito de informar o rei Dom Manuel I da descoberta dessas terras. Como o novo território se encontrava dentro do hemisfério português de acordo com o Tratado de Tordesilhas[ii], reivindicou-o para a Coroa Portuguesa. Havia desembarcado na América do Sul, e as terras que havia reivindicado para o Reino de Portugal mais tarde constituiriam o Brasil. A frota reabasteceu-se e continuou rumo ao leste, com a finalidade de retomar a viagem a caminho da Índia.

Muitos historiadores veem aqui a explicação para o facto de Pedro Álvares Cabral ter, pelo caminho, acabado por descobrir o Brasil, cuja terra avistou a 22 de Abril, e onde permaneceu até 2 de Maio.

A provar a importância atribuída à descoberta está o facto de Cabral ter decidido fazer regressar uma das naus a Lisboa, para dela dar notícia, através da famosa carta de Pêro Vaz de Caminha.

A armada continuou depois, a dura viagem para sul e leste, contornando o cabo da Boa Esperança e os seus "Adamastores".

A atestar essa dificuldade e dureza está o facto de Cabral ter perdido, numa tempestade no Atlântico Sul, seis ou sete naus, dispersando-se as restantes, que segundo relatos da época se terão reagrupado no Canal de Moçambique antes de prosseguirem para Calecute, na Índia, onde chegaram a 13 de Setembro.

Aí teve de enfrentar uma revolta liderada por árabes, que resultou no massacre de vários portugueses.

Cabral inicialmente obteve sucesso na negociação dos direitos de comercialização das especiarias, mas os comerciantes árabes consideraram o negócio português como uma ameaça ao monopólio deles e provocaram um ataque de muçulmanos e hindus ao entreposto português.

Os portugueses sofreram várias baixas e as suas instalações foram destruídas. Cabral vingou-se do ataque saqueando e queimando a frota árabe e, em seguida, bombardeou a cidade em represália à incapacidade do seu governante em explicar o ocorrido.

De Calecute a expedição rumou para Cochim, outra cidade-estado indiana, onde Cabral fez amizade com o seu governante e carregou os seus navios com especiarias cobiçadas antes de retornar ao reino, chegando a Lisboa apenas a 31 de Julho de 1501, agora já apenas com três embarcações. Apesar da perda de vidas humanas e de navios, a viagem de Cabral foi considerada um sucesso após o seu regresso a Portugal. Os lucros extraordinários resultantes da venda das especiarias reforçaram as finanças da Coroa Portuguesa e ajudaram a lançar as bases de um Império Português, que se estenderia das Américas ao Extremo Oriente.

Cabral foi mais tarde preterido quando uma nova frota foi reunida para estabelecer uma presença mais robusta na Índia, possivelmente como resultado de uma suposta discordância Dom Manuel I. Tendo perdido a preferência do rei, aposentou-se da vida pública, havendo poucos registros sobre a parte final de sua vida.

As suas realizações caíram no esquecimento por mais de 300 anos. Algumas décadas depois da independência do Brasil de Portugal, no século XIX, a reputação de Cabral começou a ser reabilitada pelo Imperador Dom Pedro II do Brasil. Desde então, os historiadores têm discutido se Cabral foi o descobridor do Brasil e se a descoberta foi acidental ou intencional. A primeira dúvida foi resolvida pela observação de que os poucos encontros superficiais feitos por exploradores antes dele mal foram notados e em nada contribuíram para o desenvolvimento e a história futuros da terra que se tornaria o Brasil, única nação das Américas onde a língua oficial é o português. Quanto à segunda questão, nenhum consenso definitivo foi formado e a hipótese de descoberta intencional carece de provas sólidas. Não obstante, embora o seu prestígio tenha sido ofuscado pela fama de outros exploradores da época, Cabral é hoje considerado uma das personalidades mais importantes da Era dos Descobrimentos.



[i] Pedro Álvares Cabral (Belmonte, 1467 ou 1468 – Santarém 1520) foi um fidalgo, navegador e explorador português, creditado como o descobridor do Brasil. Realizou a primeira exploração significativa da costa nordeste da América do Sul, reivindicando-a para Portugal. Embora os detalhes da vida de Cabral sejam poucos, sabe-se que veio de uma família nobre colocada na província e recebeu uma boa educação formal.

[ii] O Tratado de Tordesilhas, assinado na povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de Junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir as terras "descobertas e por descobrir" por ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na sequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa de Castela, resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que um ano e meio antes chegara ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel, a Católica (1474-1504).
Pelo tratado o mundo de então era dividido em dois hemisférios, demarcados pela linha de pólo a pólo que passasse 370 léguas a ocidente de Cabo Verde. A ocidente desse hemisfério, as terras novas pertenciam à Espanha e as descobertas para oriente pertenciam a Portugal.





sexta-feira, 6 de março de 2020

Efeméride de 6 de Março de 1480 – Rectificação do Tratado de Alcáçovas

A 4 de Setembro de 1479, é assinado, em Alcáçovas, entre Dom Afonso V (1438-1481) de Portugal e os Reis Católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, um tratado que põe fim à Guerra de sucessão de Castela (1479-1480). O Tratado continha, também, cláusulas sobre o domínio do Oceano Atlântico por ambos os países.

Celebrado a 4 de Setembro de 1479, na vila Alentejana de Alcáçovas, e ratificado em 6 de Março de 1480 na antiga capital Visigótica de Toledo, o Tratado de Alcáçovas-Toledo pôs fim ao conflito ibérico, que se desenrolara entre 1475 e 1479, devido à disputa da sucessão do Reino de Castela.

Este tratado distinguiu-se, entre os múltiplos assinados entre Portugal e os seus vizinhos Castelhanos ao longo dos séculos, devido ao seu papel marcante na História dos Descobrimentos e da Expansão portuguesa.

Ao longo de décadas, Portugal procurou o reconhecimento internacional das descobertas efectuadas pelas viagens de exploração. Esta necessidade acentuou-se no reinado de Dom Afonso V, com os lucros cada vez maiores do comércio da Guiné, procurando-se eliminar a possibilidade de concorrência externa, nomeadamente castelhana, e criar uma exclusividade, marítimo-comercial portuguesa. Os esforços diplomáticos, junto do Papado, levaram à promulgação de diversas bulas, entre as quais se destaca a Romanus Pontifex, de 1455. A Santa Sé reconhecia, desta forma, à Coroa Portuguesa, direitos de exclusividade na navegação, comércio e domínio das regiões não cristãs recentemente descobertas.

Ficava consequentemente confirmado o monopólio português no comércio da Costa da Mina e do Golfo da Guiné. A hegemonia portuguesa foi deste modo salvaguardada através do reconhecimento da Santa Sé, que confirmou o tratado em 1481 através da bula Aeterni regis, e do acordo bilateral com o principal rival em potência, o reino de Castela.

O Tratado de Alcáçovas-Toledo representou assim, não só uma primeira divisão do espaço ultramarino em esferas de influência, antevendo o Tratado de Tordesilhas de 1494, mas também uma formalização do programa expansionista português, criando condições para o seu desenvolvimento durante o reinado de Dom João II.

Na sequência das lutas peninsulares (em particular desde 1475), com as pretensões de Dom Afonso V ao trono de Castela (após a morte de Henrique IV de Castela, em 1474), viriam a ser firmados a 4 de Setembro de 1479, na localidade portuguesa de Alcáçovas (no Alentejo), o Tratado das Terçarias de Moura, relativo à sucessão dinástica (prevendo o casamento do príncipe Dom Afonso, primogénito de Dom João II, com a infanta castelhana Dona Isabel, filha dos Reis Católicos – o qual se esperava viesse a unificar as duas coroas peninsulares), e o Tratado das Alcáçovas, estabelecendo a paz e definindo as áreas de influência de cada reino, procurando também limitar a rivalidade associada à conquista de novos territórios, em particular com as tentativas portuguesas de ocupar as Canárias.

O Tratado de Alcáçovas – o primeiro na história mundial a definir uma partilha do mundo entre duas potências –, cujo principal mentor foi o futuro Rei Dom João II, viria a ser ratificado em 6 de Março de 1480, na localidade espanhola de Toledo.

Os monarcas castelhanos (“Reis Católicos”) reconheciam a Portugal a soberania sobre as ilhas da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde, assim como a pertença portuguesa da Guiné e das ilhas descobertas e a descobrir para além das Canárias, assim como a conquista do reino de Fez, renunciando a navegar a sul do Cabo Bojador (a 27º graus de Latitude Norte).

Em contrapartida, Dom Afonso V (e sua sobrinha e prometida esposa, Joana, a “Beltraneja”) declarava renunciar às pretensões portuguesas sobre as ilhas Canárias, deixando também aos castelhanos a reconquista de Granada, ao mesmo tempo que reconhecia Isabel (irmã de Henrique IV, e que casara entretanto com o príncipe Fernando de Aragão) como rainha de Castela.

Fontes consultadas

– “História de Portugal” (coordenação de José Hermano Saraiva), Vol. III – “A Epopeia dos Descobrimentos – A Dinastia de Avis e a Expansão Ultramarina”, por Newton de Macedo, edição QuidNovi, 2004 


quarta-feira, 4 de março de 2020

Efeméride de 4 de Março de 1394 - Nasce na cidade do Porto o Infante Dom Henrique

Infante de Portugal, 5.º filho do rei Dom João I, e da rainha sua mulher, Dona Filipa de Lencastre; grão-mestre da Ordem de Cristo, duque de Viseu, fronteiro-mor de Leiria, cavaleiro da Ordem da Jarreteira, de Inglaterra, senhor da Covilhã, de Lagos e de Sagres, do Algarve, de cujo reino foi governador perpetuo. Nasceu no Porto a 4 de Março de 1394, faleceu em Sagres a 13 de Novembro de 1460. Com os irmãos, formou uma das mais esclarecidas proles da história portuguesa, celebrada na literatura romântica como de Ínclita Geração.

Ficando conhecido por o Navegador, foi-o, principalmente, de terra firme. O seu cognome advém da forma como protegeu e instigou as primeiras viagens expansionistas, ficando para sempre ligado a este glorioso período da História de Portugal, os descobrimentos, sendo decisiva a sua ação no Norte de África e no Atlântico.

Dom Henrique era um homem muito poderoso, como o atesta o título de Infante, que usava em detrimento de duque. Seguindo a tradição da época, recebeu uma educação exemplar, mas profundamente religiosa. A sua moral enquadra-se dentro do moralismo puritano inglês, que se revela também nos escritos de seu pai e de seus irmãos, preocupados em emitir juízos morais e em dar conselhos. Também ele deixou conselhos escritos e um breve tratado de teologia.

Tendo-se dedicado ao estudo das Matemáticas, e em especial ao da Cosmografia, quando estas ciências apenas começavam a ser conhecidas na Europa, e que ele fez cultivar em Portugal. Foi devido a esses estudos, às meditadas informações que alcançou de seu irmão Dom Pedro, que viajara na Europa e na Ásia, e à leitura dos escritores antigos, que no seu espírito se formou a certeza de que ao norte do Senegal, então considerado braço do Nilo, existiam povos hereges, que comerciavam entre si. Levar a luz cristã ao espírito desses povos e colher fruto do seu comércio, foi o grandioso plano do infante.

Contava apenas vinte e um anos de idade quando Dom João I determinou armá-lo cavaleiro e aos seus dois irmãos Dom Duarte e Dom Pedro, com as festas públicas de grande solenidade, segundo o costume daqueles tempos. Mas o infante Dom Henrique desejava antes receber as armas em verdadeiro cenário de guerra, para onde o arrastava a sua inclinação e valor.

O monarca louvou-o muito, e quando se pensou na tomada de Ceuta, a maior e a mais fortalecida praça de toda a Mauritânia, os três infantes tomaram parte, distinguindo-se na renhida batalha realizada em 21 de Agosto de 1415, sendo e infante Dom Henrique quem ainda mais se distinguiu. Como comandante da frota do Porto foi o primeiro que saltou em terra.

No dia 25 do referido mês de Agosto seu pai armou-o cavaleiro da ordem de Cristo. Dom João I saiu de Ceuta com a armada em 2 de Setembro seguinte, e pouco dias depois ancorou em Tavira, no meio das jubilosas aclamações do povo. Reunindo ali os seus filhos, declarou querer recompensa-los pelo grande serviço que tinham prestado. Ao príncipe Dom Duarte, como herdeiro da Coroa, nada podia oferecer que fosse de maior valor; mas a Dom Pedro conferiu-lhe o título de duque de Coimbra, e o senhorio de Montemor-o-Velho, Aveiro e outras terras que daí em diante, por constituírem o apanágio da sua categoria, passaram a denominar-se do Infantado; o infante D. Henrique foi feito duque de Viseu e senhor da Covilhã. O título de duque era então desconhecido em Portugal. Foi a conquista de Ceuta que vem ainda mais fixar os vagos desejos do infante Dom Henrique de desvendar os mistérios do oceano.

Portugal, efectivamente, formava nessa época, para o ocidente o extremo do mundo conhecido. O mar para o ocidente e para o sul era a região dos profundos mistérios, povoado de terrores e de visões fantásticas. Foi na expedição de Ceuta, em que ele apenas viu primeiro como seus irmãos o ensejo de praticar brilhantes feitos de armas, e de conquistar dignamente as suas esporas de cavaleiro, que não tardou a achar também estímulo para empresa de maior alcance.

Ceuta era um dos grandes interpostos do comércio entre a Ásia, a África e a Europa. Além de todas as razões que já tinha para tentar estas novas aventuras, não deixou também de actuar no seu espírito a razão comercial. Como de costume foi o infante Dom Pedro o confidente das intenções de seu irmão, e não se esqueceu de auxiliá-las. Em 1416 saiu do reino para viajar, e quando regressou em 1428, trouxe-lhe um tesouro precioso, o livro manuscrito das viagens de Marco Pólo com que o presenteara a senhoria de Veneza. O infante Dom Henrique, em 1416 ou 1419, fundou uma vila no promontório de Sagres, para onde foi viver; começou a encarar as ondas do Oceano Atlântico, e a pensar na forma de intentar por elas as suas expedições descobridoras. Chamou do estrangeiro um cosmógrafo célebre, Jaime de Maiorga, e auxiliado por ele, entregou-se com fervor ao estudo. A vila ficou conhecida por Vila do Infante, e actualmente tem o nome de Sagres.

Dom Henrique estabeleceu ali uma escola de cosmografia e de navegação que foi frequentada pelos cavaleiros da sua casa, e por outros homens que se entusiasmavam pelas suas empresas.

Ainda que não tivessem a forma regular dum curso aqueles estudos, contudo a conversação do infante, de Jaime de Maiorga, e de outros homens célebres que se agrupavam em redor do filho de Dom João I, seria altamente instrutiva para os cavaleiros que os escutavam, e foram os mesmos que depois guiaram as caravelas de Dom Henrique nos seus empreendimentos.

Na vila, também o infante estabeleceu estaleiros e oficinas de construção naval, e ergueu o primeiro observatório astronómico que existiu em Portugal. Dentro da povoação havia uma capela dedicada a N. Sr.ª da Conceição, e fora a igreja de Santa Catarina, acima do porto onde desembarcavam os que vinham nos navios, e para que os mareantes que ali morressem, fossem enterrados no cemitério ali existente.

Estavam pois reunidos todos os elementos precisos para se levar a efeito a empresa intentada pelo infante. Recursos não lhe faltavam; como grão-mestre da ordem de Cristo, podia aplicar os imensos rendimentos dessa cavalaria religiosa a expedições em que tanto lucrava a propagação da fé cristã. Armado com as informações que obtivera em Ceuta, decidiu-se a mandar todos os anos alguns navios tentar explorações para o sul.

Começou então a série de descobrimentos, que deviam levar o padrão das quinas aos confins da terra, e imortalizar a memória do infante Dom Henrique. Em 1418 Bartolomeu Perestrelo descobriu a ilha do Porto Santo, cuja capitania lhe foi confiada com permissão de el-rei; e João Gonçalves Zarco acompanhado de Tristão Vaz Teixeira encontrou a Madeira; estas ilhas, contudo, e a dos Açores, está provada já serem conhecidas, tendo sido descobertas no tempo de D. Afonso IV.

Quando os navegadores voltaram ao reino trazendo notícias maravilhosas do que tinham visto. Dom João I e o infante rejubilaram; este por ter conseguido o fim a que aspirava, aquele pela glória e proveito que destes descobrimentos provinham para o país, ilustrando o seu reinado.

Dom Henrique, porém, não se limitou a dirigir as navegações, procurou colonizar as ilhas que se iam descobrindo. A Madeira, principalmente, mereceu-lhe os maiores desvelos. Anos depois, em 1432, Gonçalo Velho Cabral, comendador de Almourol, encontrou as ilhas dos Açores. No entretanto, não eram as ilhas do Atlântico que cativavam os cuidados do infante; o que mais o preocupava era esse mar tenebroso, que os mareantes da Idade Média julgavam impossível de transpor. Passar além do cabo Bojador, julgava-se impossível. Vinte tentativas se haviam feito para dobrar esse cabo, mas os navegantes sempre recuavam por terror supersticioso. Finalmente, Dom Henrique armou uma barca, cuja capitania confiou a Gil Eanes, seu escudeiro, que partiu em 1433 cheio de terror, e voltou sem nada ter adiantado. Aportando às Canárias, retrocedeu com uns cativos, convencido de que ir além, era empresa que Deus puniria com severidade.

Instado pelo infante, tornou a embarcar em 1434, e vencendo o terror, teve a fortuna de dobrar o cabo fatídico. Este facto ficou registado como a data mais memorável da história das nossas descobertas. As navegações continuaram, recomendando sempre o infante aos navegantes nas suas instruções, que estudassem minuciosamente as costas que percorriam, colhessem o maior número possível de informações, e sobretudo não deixassem de procurar saber onde vivia o famoso Prestes João das Índias.

Em 1436 Afonso Gonçalves Baldaia, percorrendo a costa ao sul do Bojador, descobriu o Rio do Ouro, e desembocando na Angra dos Cavalos, continuou navegando para o sul, e chegou à Pedra da Galé.

Como ponto negativo temos de referir a infeliz empresa de Tânger, em que ele foi com seu irmão, o infante Dom Fernando, que por ser ainda criança não pudera acompanhar el-rei seu pai e seus irmãos na tomada de Ceuta. Obtida a licença de el-rei Dom Duarte, partiram ambos os irmãos a 22 de Agosto de 1437 para Tânger, com uma esquadra e um exército bem pouco proporcionado à grandeza da empresa que iam tentar. Foi uma fatalidade, de que resultou o cativeiro e morte do infante Dom Fernando, que ficou conhecido pelo cognome de infante santo. Regressando a Portugal, por ordem do monarca seu irmão, Dom Henrique continuou com os descobrimentos.

Em 1441 Nuno Tristão descobriu o Cabo Branco, em 1443 a ilha de Arguim, onde se estabeleceu uma feitoria, e em 1445 visitou a costa da Senegâmbia, chegando até Palmar. A seguir, Diniz Dias dobra o Cabo Verde; João Fernandes, em 1445, que sendo cativo em Mauritânia, aprendera o árabe, penetra no interior do Sudão e chega ao país dos Tuaregues, sendo o primeiro europeu que explorou o interior do continente negro até Taguor; no ano seguinte, 1446, Álvaro Fernandes descobre a Serra Leoa, e reconhece a ilha de Gorea; em 1457 o veneziano Luís de Cadamosto e o genovês António Nola, ambos ao serviço do infante, descobriram a Gambia; em 1460 Diogo Gomes descobriu o arquipélago de Cabo Verde.

A fama de D. Henrique chegara às nações estrangeiras e muitos homens ávidos de aventuras, vinham pedir-lhe emprego nas suas caravelas. Devotado apaixonadamente às ciências cosmográficas, Dom Henrique foi um dos maiores matemáticos do seu tempo; aplicou utilmente o astrolábio à navegação, e inventou as cartas planas. Quando se reformou a Universidade, em 1431, estando em Lisboa, fez-lhe doação por escritura de 12 de Outubro, dumas casas que comprara na freguesia de S. Tomé.

Em 25 de Março de 1448 fez oferta à mesma Universidade de 12 marcos de prata, anuais, e consignados nos dízimos da ilha da Madeira, para salário da cadeira de teologia. 

O infante D. Henrique deixou um nome glorioso, e à, sua pátria uma herança sublime. Foi um dos vultos mais brilhantes da história da Idade Média, o homem que deve simbolizar para a história a glória dos descobrimentos.

Faleceu em Sagres, conforme já foi dito, no estado de solteiro. O seu corpo foi primeiramente depositado na igreja de Lagos, sendo dali trasladado para o convento da Batalha em 1461, pelo infante Dom Fernando, seu sobrinho, filho de el-rei Dom Duarte, a quem pouco tempo antes havia constituído herdeiro e adoptara como filho.

Sobre o túmulo vê-se a sua estátua de pedra, que em relevo o representa ao natural, vestido de armas brancas e coroado de coroa real entretecida de folhas de carvalho, e uma rosa no meio; tem nela três escudos: o primeiro com as armas do reino de Portugal e as suas, e nos outros dois as insígnias das duas ordens que professara, de Cristo e da Jarreteira.

Foram sua divisa uns ramos pequenos, e curtos como de carrasco com seus frutos pendentes, e por mote em língua francesa as palavras: Talent de bien faire. Esta divisa também se vê no túmulo, tendo por baixo numa só linha, em todo o comprimento do túmulo, um epitáfio em letra alemã. El-rei Dom Manuel lhe mandou colocar também seu retrato na estátua de mármore sobre a coluna, que divide a porta travessa da igreja de Belém, como fundador da antiga ermida de Nossa Senhora do Restelo, que existiu primeiro naquele local.

Para perpetuar a memória do infante Dom Henrique, erigiu-se em Sagres um monumento modesto. A portaria tem a data de 8 de Abril de 1836, reinando Dona Maria II, e é referendada pelo então ministro do reino, marquês de Sá da Bandeira.

Outro facto que contribuiu para a sua notabilidade foi a divulgação, por Joaquim de Vasconcelos, dos painéis de S. Vicente de Fora, atribuídos a Nuno Gonçalves, onde o artista português Columbano identificara uma das personagens como sendo o Infante. O homem do chapeirão aparece também no manuscrito da Crónica da Guiné, de Zurara, conservado na Biblioteca de Paris, o que reforça esta ideia. Assim, o Infante Dom Henrique passa a ser uma das personagens de eleição do nacionalismo português, que dominou durante o Estado Novo, representando a coragem, o dinamismo e o espírito empreendedor do povo português.

De facto, muito daquilo que sabemos desta personagem enigmática foi-nos deixado por Gomes Eanes de Zurara, na Crónica da Guiné, onde o Infante é exaltado de forma quase sobrenatural ("príncipe pouco menos que divinal"). O cronista traça o seu retrato psicológico dando grande ênfase às suas qualidades virtuosas e pias, como a castidade e o facto de não beber vinho. Segundo o seu relato, Dom Henrique não era avarento, era um trabalhador aplicado, que para dedicar o tempo necessário aos seus projetos suprimia as horas de repouso noturno. O seu feitio obstinado revela-se na teimosia em manter Ceuta, ainda que o preço a pagar tenha sido a liberdade do seu irmão, Dom Fernando, depois cognominado popularmente de "Infante Santo".