Reflexões

                 O meu amigo Zé

Coisas que aconteceram ou talvez não!!

Depois de ter conhecido o agora meu amigo Zé e de ouvir algumas das suas estórias decidi começar a publicá-las. Sei que pouca curiosidade despertarão, o narrador também não ajudará, mas a curiosidade que me despertou tal personagem espicaçou-me a não perder esta oportunidade de registar e partilhar uma Vida cheia de vidas contadas por quem as viveu. 

É minha intensão fazê-lo com a periodicidade mensal tanto no Facebook como no meu Blog.

Como primeira publicação vou-vos apresentar o Zé.

Quis um destes acasos do destino, o destino tem destas coisas, que numa bela tarde de inverno, estes coisas acontecem sempre nas tardes de inverno, chovia, o que normalmente também acontece nas tardes de inverno, que me tenha cruzado com uma daquelas pessoas que só o simples facto de olhar para elas nos leva a concluir que a sua vida daria um romance e, não é o próprio pensa o mesmo? 

Dizia ele, no meu tempo é que era inverno, chovia semanas seguidas, fazia frio.. uma desgraceira. Nada como agora, nunca se sabe em que estação do ano estamos, o mundo anda todo mudado, tanto o tempo como as pessoas, modernices, coisas da Internet.

Não me contive a perguntar-lhe de onde era, do Alentejo, respondeu, terceiro filho de uma família pobre, nasci já lá vão alguns anos, mais de sessenta, numa "perdida" Cidade dos confins da Alentejo, a mais de 170 Km de Lisboa e, olhe que nessa época 170 Km era muito longe. Não pense que era como agora, em menos de 2 horas estamos em Lisboa, temos várias alternativas, até uma autoestrada construíram. Naquele tempo, estamos a falar na década de 1950, para se chegar á Capital eram precisas pelo menos umas cinco horas. E durante o dia só havia a Camioneta da carreira duas vezes, às oito da manhã e às cinco da tarde.

Interessado na história, perguntei-lhe. Mas nasceu mesmo na Cidade? Não, respondeu, os pobres nessa altura nasciam e viviam no campo, sem condições, sem conforto, sem água canalizada, sem eletricidade, sem estradas, sem escolas e sem trabalho.

Então não frequentou a escola? Perguntei. Frequentei, mas para isso tinha de percorrer diariamente 6 Km, isto com seis ou sete anos, quer chovesse quer fizesse sol. Mas o amigo conhece o Alentejo? Respondi que sim, já por lá tinha passado algumas vezes, mas não conhecia com rigor o seu passado e o passado do seu Povo. Prometeu-me que se eu quisesse me contaria a sua história, uma história feita de tristezas, alegrias, desilusões, a história de alguém que a partir de pouco ou nada construi-o a pulso uma nova vida.

Ainda me disse que agora o podia encontrar na “sua” Universidade Sénior onde estudava. Onde tinha criado novas amizades, novas raízes e novos interesses. E lá se foi sem antes não deixar de dizer, isto está tudo mudado, já nem no inverno chove…. ainda lhe perguntei, mas.. como se chama? Já de costas voltadas, com certeza pensando nas aulas que iria assistir ainda atirou, podes tratar-me por Zé…

Fiquei a meditar, será que valia a pena contar a estória da vida daquele homem? Quem é que hoje estará interessado em ler coisas de há pelo menos sessenta anos? Ou, pelo contrário, não seria interessante trazer á luz do dia os problemas, as amarguras, as dificuldades que era viver na província, naquele tempo, criar os filhos sem saber bem como nem para quê, provavelmente para seguirem as pisadas dos pais, eles trabalharem no campo ou nas pedreiras, elas como criadas de servir em cassa de gente rica.. isto os que escapassem da morte na guerra que agora surgia, até que nem era grave, era só mais um problema a juntar a tantos outros de que era feita a existência destas pessoas. Mas, com toda esta lenga lenga quase que me esquecia de vos apresentar o tal Zé. Homem baixo, moreno, bigode, com ligeiro bombear de ombros quando anda, jeito que lhe ficou de tantas horas, dias e anos passados no mar, pois, que o Zé acabou por mais tarde vir para a Marinha de Guerra onde, segundo ele, passou grande parte da sua vida, mais de 44 anos.

Com o decorrer dos tempos fomo-nos cruzando com alguma frequência o que levou a desenvolver um enorme fascine-o ouvir tal figura. Numa dessas conversas o Zé confidenciou-me que até nos Submarinos tinha andado. Não resisti a “espicaça-lo” a que me contasse quando e como lá foi parar, como era viver no reino de Neptuno, as pessoas as relações. - Isso é uma longa história, acrescentou ele, mas prometo que lhe lha contarei, mas comecemos pelo início, disse ele.

Acabado de chegar da guerra de África, Moçambique, onde permaneci duram-te dois anos, embarcado numa Corveta, e de onde assisti ao eclodir da Revolução de Abril, quis o destino que reinicia-se a minha vida na Esquadrilha de Submarinos.  
Sabia que Portugal é das Nações do mundo com submarinos á mais anos? Desde 1913 veja lá. E continuou…..




E foi assim que tudo começou


Nos fins do século XIX inícios do Século XX começaram a surgir um pouco por toda a parte, leia-se, por todos os países ocidentais, os primeiros projectos de submarinos com utilização militar. Em Portugal não se ficou para trás e, nos finais do século XIX o Primeiro-tenente João Fontes Pereira de Melo desenvolve os primeiros planos de um submarino com características e potencial para uso militar. Projecto esse que apresentou aos poderes de então.
Após vários avanços e recuos, o Primeiro-tenente Fontes viu, finalmente, aprovada a possibilidade da construção de um modelo à escala que permitisse avaliar as capacidades do seu projecto principalmente no que dizia respeito às condições de estabilidade e do sistema de visão com que seria  equipaado e que seria o mesmo a utilizar nos submarinos a construir. 
O modelo foi então construído no Arsenal da Marinha, antigas instalações de manutenção e reparação naval da Marinha Portuguesa localizadas em Lisboa. Estavam implantadas a Poente do Terreiro do Paço, sensivelmente no mesmo local da antiga Ribeira das Naus e da Ópera do Tejo, destruída pelo Terramoto de 1755. Até à implantação da República eram designados por Arsenal Real da Marinha, constituído em ferro tinha um comprimento total de aproximadamente 12 metros.
As várias experiências de avaliação decorreram durante o mês de Outubro de 1893, junto ao dique do Arsenal da Marinha, tendo embarcado o Primeiro-tenente Fontes mais dois operários.

Apesar das experiências terem decorrido como planeado o mesmo não conseguiu convencer as autoridades do interesse  para a aquisição e construção do seu submarino.

É claro que a nossa conversa vai continuar brevemente até lá um abraço




Ainda o rescaldo do 10 de Junho



Após alguns anos de afastamento das fileiras das Forças Armadas, Marinha, onde servi no activo, por mais de 44 anos, decidi pela primeira vez, após aposentação, comparecer na cerimónia das comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreram, após um interregno de 43, no Terreiro do Paço.
Foi com grande satisfação que pude verificar que após vários anos de trevas, com a permanente assombração da aproximação do dia do juízo final, a que parece que estávamos condenados, um novo “Sol” sorri para os Portugueses. A demonstração do que acabo de dizer está na enorme afluência de “povo” que compareceu ao chamamento de SEXA o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas para assistir às comemorações do dia 10 de junho.

Com a resposta de “presente” manifestada pelo povo e, as palavras de apresso manifestadas por SEXA o Presidente da República, ficou bem demonstrado da necessidade, provavelmente já iniciada, da “reconciliação” entre o Povo, o Poder Politico, que em seu nome governa, e as suas Forças Armadas que, disciplinadas, treinadas e bem comandadas, deram, mais uma vez, uma demostração da sua capacidade no Mar, em Terra ou no Ar. Na realidade outra coisa não seria de esperar de alguém que iniciou a sua carreira ao serviço e em defesa do seu povo e do seu País, jurando que o faria mesmo com o sacrifício da própria vida.
É ainda de realçar que até na escolha dos agraciados o PR ennovou. Em vez dos “Babas” e outros que tais que nada de novo acrescentaram ao engrandecimento do País SEXA escolheu cinco militares, dois na reforma e três no activo. Tenho a certeza que existirão, e muitos, cidadãos não militares com merecimento para terem reconhecimento público, deixemos isso para outra ocasião, coisa que tenho a certeza, não faltará.  
Deixei o Terreiro do Passo com a convicção de que a esperança está de volta e, que o Apocalipse, que os profetas da desgraça nos tentam impingir, não será para já. 








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