terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Revolta republicana no Porto, primeira tentativa de derrubar a monarquia (Revolta dos Sargentos).

Revolta republicana no Porto, primeira tentativa de derrubar a monarquia (Revolta dos Sargentos).

A revolta do 31 de Janeiro de 1891, também denominada revolta dos sargentos, foi a primeira tentativa feita em Portugal, para a implantação de um estado de direito e democrático, baseado na soberania popular.
Na revolta, quem se mostrou em primeiro plano, conjuntamente com poucos notáveis e paisanos desconhecidos, foram os sargentos e soldados anónimos, que viriam depois a sofrer consequências brutais pela sua participação no movimento. Mortos uns, exilados, presos, julgados e deportados outros, eles representam a iniciativa, a atitude consciente e interessada para com o futuro.
A 31 de Janeiro de 1891, na cidade do Porto, registou-se um levantamento militar contra as cedências do Governo (e da Coroa) ao ultimato britânico de 1890 por causa do Mapa Cor-de-Rosa, que pretendia ligar, por terra, Angola a Moçambique.

A 1 de Janeiro de 1891 reuniu-se em congresso o Partido Republicano, tendo sido eleito um directório constituído por: Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, Homem Cristo, Jacinto Nunes, Azevedo e Silva, Bernardino Pinheiro e Magalhães Lima.
A partir deste directório foi apresentado um plano de acção política a longo prazo, que não incluía a revolta que veio a acontecer, no entanto, a sua supremacia não era reconhecida por todos os republicanos, principalmente por aqueles que defendiam uma acção imediata. Estes, além de revoltados pelo desfecho do episódio do Ultimato, entusiasmaram-se com a recente proclamação da República no Brasil, a 15 de Novembro de 1889.

As principais figuras da "Revolta do Porto", que sendo um movimento de descontentes iniciado sobretudo entre sargentos e praças não consegui-o contar com o apoio de qualquer oficial de alta patente, foram o capitão António Amaral Leitão, o alferes Rodolfo Malheiro, o tenente Coelho, além dos civis, o dr. Alves da Veiga, o actor Miguel Verdial e Santos Cardoso, além de vultos eminentes da cultura como João Chagas, Aurélio da Paz dos Reis, Sampaio Bruno, Basílio Teles, entre outros.
A revolta tem início na madrugada do dia 31 de Janeiro, quando o Batalhão de Caçadores n.º 9, liderados por sargentos, se dirigem para o Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da República, onde se encontra o Regimento de Infantaria 18 (R.I.18).

Ainda antes de chegarem, junta-se ao grupo, o alferes Malheiro, perto da Cadeia da Relação; o Regimento de Infantaria 10, liderado pelo tenente Coelho; e uma companhia da Guarda Fiscal. Embora revoltado, o R.I.18, fica retido pelo coronel Meneses de Lencastre, que assim, quis demonstrar a sua neutralidade no movimento revolucionário.
Os revoltosos descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, (hoje Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouviram Alves da Veiga proclamar da varanda a Implantação da República.

Acompanhavam-no Felizardo Lima, o advogado António Claro, o Dr. Pais Pinto, Abade de São Nicolau, o Actor Verdial, o chapeleiro Santos Silva, e outras figuras. Verdial leu a lista de nomes que comporiam o governo provisório da República e que incluíam: Rodrigues de Freitas, Joaquim Bernardo Soares, general José Maria Correia da Silva, Joaquim d'Azevedo e Albuquerque, Morais e Caldas, Pinto Leite, e José Ventura Santos Reis.
Foi hasteada uma bandeira vermelha e verde, pertencente a um Centro Democrático Federal. Com fanfarra, foguetes e vivas à República, a multidão decide subir a Rua de Santo António, em direcção à Praça da Batalha, com o objectivo de tomar a estação de Correios e Telégrafos.

No entanto, o festivo cortejo foi barrado por um forte destacamento da Guarda Municipal, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua. O capitão Leitão, que acompanhava os revoltosos e esperava convencer a guarda a juntar-se-lhes, viu-se ultrapassado pelos acontecimentos. Em resposta a dois tiros que se crê terem partido da multidão, a Guarda solta uma cerrada descarga de fuzilaria vitimando indistintamente militares revoltosos e simpatizantes civis. A multidão civil entrou em debandada, e com ela alguns soldados.
Muitos tentaram ainda resistir. Cerca de trezentos barricaram-se na Câmara Municipal, mas por fim, a Guarda, ajudada por artilharia da serra do Pilar, por Cavalaria e pelo Regimento de Infantaria 18, sob as ordens do chefe do Estado Maior do Porto, General Fernando de Magalhães e Menezes força-os à rendição, às dez da manhã. Na refrega terão sido mortos 12 revoltosos e feridos 40.

Alguns dos implicados conseguiram fugir para o estrangeiro: Alves da Veiga iludiu a vigilância e foi viver para Paris: o jornalista Sampaio Bruno e o Advogado António Claro alcançaram a Espanha, assim como o Alferes Augusto Malheiro, que daí emigrou para o Brasil.
Alguns dos nomeados para o "Governo Provisório" trataram de esclarecer de imediato não terem dado autorização para o uso dos seus nomes. Dizia o prestigiado professor Rodrigues de Freitas, enquanto admitia ser democrata-republicano: "mas não autorizei ninguém a incluir o meu nome na lista do governo provisório, lida nos Paços do Concelho, no dia 31 de Janeiro, e deploro que um errado modo de encarar os negócios da nossa infeliz pátria levasse tantas pessoas a tal movimento revolucionário."

A reacção oficial aos acontecimentos foi como de esperar, implacável, tendo os revoltosos sido julgados por Conselhos de Guerra, a bordo de navios, ao largo de Leixões: o paquete Moçambique, o transporte Índia e a corveta Bartolomeu Dias . Para além de civis, foram julgados 505 militares. Seriam condenados a penas entre 18 meses e 15 anos de degredo em África cerca de duzentas e cinquenta pessoas. Em 1893 alguns seriam libertados em virtude da amnistia decretada para os então criminosos políticos da classe civil.
Em memória desta revolta, logo que a República foi implantada em Portugal, a então designada Rua de Santo António foi rebaptizada para Rua de 31 de Janeiro, passando a data a ser celebrada dado que se tratava da primeira de três revoltas de cariz republicano efectuadas contra a monarquia constitucional (as outras seriam o Golpe do Elevador da Biblioteca, e o 5 de Outubro de 1910).


NE Sagres foi aumentada ao efectivo da Armada Portuguesa

Fez ontem, 30 de Janeiro, 55 anos, que o NE Sagres foi formalmente aumentado ao efectivo dos navios da Armada Portuguesa pela Portaria n.º 189 97 de 30 de Janeiro de 1962.

O NRP Sagres ou NE Sagres é o principal navio-escola da Marinha Portuguesa.
O atual Sagres é o terceiro navio com esse nome a desempenhar funções de apoio á formação na área da náutica na Marinha Portuguesa. Tendo como missão principal permitir o treino e o contacto com a vida no mar aos cadetes da Escola Naval, futuros oficiais da Marinha Portuguesa. Complementarmente, é utilizado na representação nacional e internacional da Marinha e de Portugal
Na sua proa encontra-se representada a figura do Infante D. Henrique, o grande impulsionador dos descobrimentos portugueses, o seu casco, construído em chapas de aço de 10mm de espessura, é dotado de 23 velas, 10 de pano redondo e 13 de pano latino, sendo 11 triangulares e 2 quadrangulares. Um dos veleiros mais famosos no Mundo, conhecido pelas cruzes de Cristo vermelhas desenhadas nas velas redondas.

Construído nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, em 1937, para desempenhar funções como navio-escola da Marinha Alemã — onde era chamado Albert Leo Schlageter — juntamente com os seus semelhantes da classe Gorch Fock: o primeiro, que deu o nome à classe, o segundo, ex-Horst Wessel (atual USCGC Eagle), e o quarto, Mircea; houve ainda um quinto, o Herbert Norkus, destruído antes de ter sido terminado.
No final da II Guerra Mundial, foi apressado pelos Estados Unidos, sendo vendido à Marinha do Brasil em 1948 por um valor simbólico de $5.000 dólares. No Brasil recebeu então o nome de Guanabara, servindo como navio-escola até 1961, data em que foi adquirido por Portugal por 150.000 dólares para ser usado em substituição do Sagres II (ex-Rickmer Rickmers).

Parece que terá sido pela acção e empenho do Dr. Pedro Teotónio Pereira, na altura Ministro da Presidência e um grande amante da vela, que este negócio se terá concretizado. O navio recebeu o mesmo nome do seu antecessor, entrando ao serviço da Marinha Portuguesa em 8 de Fevereiro de 1962.
Por vezes o Sagres III é erradamente referido como "Sagres II", em virtude do desconhecimento da existência do primeiro navio com este nome. Na realidade, o primeiro Sagres foi uma corveta de madeira, construída em 1858 em Inglaterra. Fundeada no rio Douro serviu como navio-escola para alunos marinheiros, entre 1882 e 1898.

A 4 de Julho de 1984 foi feito Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique e, a 12 de Março de 2012 Membro-Honorário da Ordem Militar de Cristo.
Em 19 de Janeiro de 2010 partiu para a terceira volta ao mundo. No total, a viagem teve a duração de mais de 300 dias, dos quais 71 por cento a navegar e 29 por cento nos portos. O navio visitou 27 cidades costeiras, de 19 países diferentes, antes de regressar a Lisboa, em Dezembro de 2010. Durante esta terceira viagem, percorreu 40.000 milhas e navegou durante 5.500 horas. Foi também visitado por cerca de 300.000 pessoas.

Além das circum-navegações a Sagres participou na Regata Colombo (1992), nas comemorações dos 450 anos da chegada dos Portugueses ao Japão (1993) e ainda nas celebrações por ocasião dos 500 anos da Descoberta do Brasil (2000).

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

A 30 Janeiro de 1917 sai do Tejo a 1.ª Brigada do CEP

A 30 Janeiro de 1917 A 1.ª Brigada do CEP, sob o comando do general Gomes da Costa sai do Tejo a bordo de três navios britânicos.

O Corpo Expedicionário Português (CEP) foi a principal força militar que Portugal enviou para França, durante a 1ª Guerra Mundial, com a finalidade de, através da sua participação activa no esforço de guerra contra a Alemanha que também ameaçava os seus territórios ultramarinos, conseguir apoios dos seus aliados e evitar a perda daqueles territórios.
De notar que Portugal também enviou para França uma outra força, mais reduzida e menos famosa: o Corpo de Artilharia Pesada Independente (CAPI). O CAPI destinou-se a responder a um pedido de ajuda francesa, ficando sob comando do Exército Francês, sendo aí conhecido por Corps de Artillerie Lourde Portugaise (CALP) e tendo operado artilharia super-pesada de caminho-de-ferro, com obuses de 320 mm, 240 mm e 190 mm. A partida de milhares de homens para a Flandres gerou, no entanto, descontentamentos nacionais, avolumados pelos enormes gastos a suportar pelo governo.

Após hesitações e polémicas, os portugueses resolveram entrar na Primeira Guerra Mundial, justificando tal atitude com a defesa das colónias, cobiçadas pelos alemães, e a afirmação do prestígio internacional de Portugal, para além da afirmação da jovem República, legitimando assim a pretensão de entrar em conversações de paz donde pudesse retirar dividendos para a nação.

O apelo da Inglaterra, velha aliada de séculos, acelerou a entrada no conflito: a pedido dos ingleses, Portugal aprisionou, em 1916, cerca de setenta navios alemães fundeados nos portos nacionais e ultramarinos, o que precipitou a declaração de guerra da Alemanha a Portugal a 9 de Março. Já adversários em África havia alguns anos (ataques germânicos no Sul de Angola e Norte de Moçambique), as hostilidades luso-alemãs passaram assim também para a Europa, ainda que aqui os portugueses estivessem inseridos em contingentes aliados. O governo da República decidiu criar, por isso, o Corpo Expedicionário Português.
Designado tradicionalmente por CEP, os seus dois primeiros contingentes rumaram a França a 26 de Janeiro de 1917, depois de terem sido preparados sob a direção do general e ministro de Guerra Norton de Matos de forma rapidíssima (durante nove meses) nos quartéis de Tancos, facto que na altura se apelidou de milagre de Tancos, tão depressa e bem (de acordo com relatórios oficiais) se transformaram em soldados aptos e capazes para um conflito duro homens que, até pouco tempo antes, tinham uma vida civil, pacata e tranquila. Este Corpo era comandado pelos generais Tamagnini e Garcia Rosado.

O primeiro grupo de militares instalou-se em Thérouane, na Flandres, constituindo aí, com os que viriam posteriormente, uma divisão com quartel-general na mesma localidade. Posteriormente, com os reforços e outros contingentes enviados, a divisão é transformada em duas, ficando a segunda com quartel-general em Fanquenbergues.
A 3 de Janeiro de 1917 acordou-se com a Grã-Bretanha que o CEP ficaria dependente da British Expedicionary Force, embora tenha colocado um pequeno contingente de artilharia numa área militar francesa. A partir de Maio, o CEP dispôs-se de forma definitiva no terreno, reforçando posições defensivas basicamente com unidades de infantaria. A 1.a Brigada instalou-se no setor de Neuve-Chapelle; a 2.a ocupou posição, já em Junho, em Ferme-du-Bois, instalando-se mais tarde, em Julho, uma 3.a, em Fauquissart. Estas três brigadas - a 1.a Divisão do CEP - estavam taticamente adstritas  ao XI Corpo de Exército Britânico.

No fim do verão, chegaria uma nova brigada, chamada brigada "do Minho", que se colocou na frente de batalha. Com este reforço, o CEP tornou-se, do ponto de vista de estratégia militar e operacional, um corpo de exército, centrado em St. Venant, seu quartel-general.
Integrados nos setores britânicos, os soldados portugueses tinham como função guarnecer as posições da frente designadas para as suas brigadas, o que fizeram durante dois anos consecutivos em condições de combate extremamente duras, participando por vezes em raids contra posições alemãs. Ao fim daqueles dois anos permanentemente em trincheiras, foram substituídos por unidades britânicas. O cansaço e o stress de guerra acumulados durante aquele tempo eram enormes e a operacionalidade e o moral baixos, apesar da bravura e entrega no combate.

Durante aquela rendição, deu-se a ofensiva de Abril dos alemães, um esforço para abrir brechas na frente aliada e "empurrar" os exércitos britânicos - onde pontificava o CEP - para o mar, tentando assim abrir caminho para França. Esta ofensiva foi antecedida, a 9 daquele mês de 1918, de uma feroz e mortífera barragem da artilharia alemã sobre as posições do CEP, ponto nevrálgico para onde confluiria a coluna principal da ofensiva, aproveitando o estado de exaustão e falta de reservas humanas e materiais dos portugueses, desapoiados que estavam depois da derrota dos flancos britânicos - surpreendidos com o ataque - da frente em que se incorporavam. A resistência foi tenaz e adiou a passagem alemã, ficando célebre a Batalha de La Lys (a que os ingleses chamam Batalha de Armentières).
O CEP sofreu pesadas baixas e divisão em pequenos grupos sem ligação, ficando o que dele restava, depois da batalha, integrado no exército britânico. Esta batalha celebrizou um soldado, Aníbal Augusto Milhais (o chamado soldado Milhões)[i], pelo desempenho heroico ao proteger a retirada dos camaradas a tiros de metralhadora.

A quase extinção da 2.ª Divisão deste Corpo foi um golpe de azar, uma vez que estava a na altura de ser substituída por forças inglesas após ter cumprido um período de seis meses na frente. Mas a dita substituição apenas foi pensada porque o general Tamagnini comunicou a 4 de Abril a notícia dos motins causados pela falta de mantimentos e substitutos. Esta situação de enfraquecimento traduz o estado de abandono a que tinham sido votados os soldados portugueses pelo governo nacional saído da ditadura militar imposta em Dezembro de 1917 (até Dezembro de 1918).
Em Julho de 1918, o CEP viu o seu comandante ser substituído pelo general Tomás António Garcia Rosado. A 4 desse mês, a 1.ª divisão do Corpo subordinou-se ao 5.º Exército Britânico. A 9 de Dezembro rumaram a Cherburg as primeiras tropas do CEP para daí embarcarem para Portugal. O último comandante do Corpo Expedicionário Português antes da assinatura do Tratado de Versalhes, que terminou com a I Grande Guerra, foi o general Alves Roçadas.

Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens. As perdas terão atingido cerca de 10 mil mortos e milhares de feridos, além de custos económicos e sociais gravemente superiores à capacidade nacional. Os objectivos que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram gorados na sua totalidade. A unidade nacional não seria conseguida por este meio e a instabilidade política acentuar-se-ia até à queda do regime democrático em 1926.




[i] Aníbal Augusto Milhais (Murça, Valongo, 9 de Julho de 1895 — 3 de Junho de 1970), mais conhecido por Soldado Milhões, foi o soldado mais condecorado Português da I Guerra Mundial e o único soldado português premiado com a mais alta honraria nacional, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.




sábado, 28 de janeiro de 2017

A 28 de Janeiro de 1898 morre Roberto Ivens

A 28 de Janeiro de 1898 morre Roberto Ivens, ilustre Oficial da Marinha Portuguesa e um dos maiores exploradores do continente africano.

Roberto Ivens nasceu a 12 de Junho de 1850, na freguesia de São Pedro, Ponta Delgada, filho de Margarida Júlia de Medeiros Castelo Branco, de apenas 18 anos de idade, oriunda de uma família de modestos recursos, e de Robert Breakspeare Ivens, de 30 anos, filho do abastado comerciante inglês William Ivens, residente em Ponta Delgada desde 1800. Robert Breakspeare Ivens era bisneto materno do famoso Thomas Hickling, vice-cônsul americano em Ponta Delgada.
Com apenas três anos de idade perde a mãe vítima da tuberculose.

Permanecendo em Ponta Delgada, beneficiando do estatuto social que o reconhecimento por parte da família Ivens lhe conferiu, frequenta a Escola Primária do Convento da Graça, onde desde logo foi apelidado de "Roberto do Diabo" dadas as travessuras em que se envolvia.
O pai, que entretanto casara, fixou-se em Faro, no Algarve, para onde leva os filhos em Agosto de 1858.

Em 1861 Roberto Ivens é inscrito na Escola da Marinha, em Lisboa, ali fazendo os estudos que o conduziram a uma carreira como oficial da marinha. Foi sempre um estudante inteligente e aplicado, mas igualmente brincalhão. Um dos camaradas de curso confirmaria mais tarde este aspecto do carácter de Roberto Ivens: "Onde havia uma guitarra era chamado o Ivens e onde estava o Ivens era procurada uma guitarra".
Concluiu o curso de Marinha em 1870, com apenas 20 anos, com as mais elevadas classificações. Frequentou em 1871 a Escola Prática de Artilharia Naval, partindo em Setembro desse ano para a Índia, pelo Canal do Suez, integrado na guarnição da corveta Estefânia, onde é promovido a Guarda-marinha.

A partir de 1872 inicia contactos regulares com Angola. A 10 de Outubro de 1874, completa os três anos de embarque nas colónias: Regressando a Portugal, em Janeiro de 1875 foi promovido a Segundo-tenente. Em Abril de 1875, segue na corveta Duque da Terceira para São Tomé e Príncipe e daqui para os portos da América do Sul. Regressando em Abril de 1876, parte no mesmo mês, no Índia, para Filadélfia, com produtos portugueses para a Exposição Universal daquela cidade.
Após o regresso da grande viagem de exploração, Roberto Ivens, por motivos de saúde, abandona o mar, passando a prestar colaboração cartográfica na Sociedade de Geografia de Lisboa e na execução de trabalhos relacionados com África, sobretudo Angola, no Ministério da Marinha e Ultramar.

O topo da sua carreira na Marinha foi alcançado a 7 de Dezembro de 1895, com a promoção a Capitão-de-fragata.
Ao regressar a Lisboa, soube do plano governamental de exploração científica no interior africano, destinado a explorar os territórios entre as províncias de Angola e Moçambique e, especialmente, a efectuar um reconhecimento geográfico das bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Foi, de imediato, oferecer-se para nela tomar parte. Como, porém, a decisão demorasse, pediu para ir servir na estação naval de Angola. Aproveitou esta estadia para fazer vários reconhecimentos, principalmente no rio Zaire, levantando uma planta do rio entre Borud e Nóqui.

Finalmente a 11 de Maio de 1877 é nomeado para dirigir a expedição aos territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique e estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Na mesma data foi promovido a Primeiro-tenente.
De 1877 a 1880, ocupou-se com Hermenegildo Capelo e, em parte, com Serpa Pinto, na exploração científica de Benguela às Terras de Iaca.

No regresso, é feito Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e é nomeado a 19 de Agosto de 1880 vogal da Comissão Central de Geografia.
Em 19 de Abril de 1883, é nomeado vogal da comissão encarregada de elaborar e publicar uma colecção de cartas das possessões ultramarinas portuguesas. Por portaria de 28 de Novembro do mesmo ano foi encarregado de proceder a reconhecimentos e explorações necessários para se reunirem os elementos e informações indispensáveis a fim de se reconstruir a carta geográfica de Angola.

Face às mais que previsíveis decisões da Conferência de Berlim era preciso demonstrar a presença portuguesa no interior da África austral, como forma de sustentar as reivindicações constantes do mapa cor-de-rosa entretanto produzido. Para realizar tão grande façanha, são nomeados Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens.
Feitos os preparativos, a grande viagem inicia-se em Porto Pinda, no sul de Angola, em Março de 1884. Após uma incursão de Roberto Ivens pelo rio Curoca, a comitiva reúne-se, de novo, desta vez em Moçâmedes para a partida definitiva a 29 de Abril daquele ano.

Foram 14 meses de inferno no interior africano, durante os quais, a fome, o frio, a natureza agreste, os animais selvagens, a mosca tsé-tsé, puseram em permanente risco a vida dos exploradores e comitiva. As constantes deserções e a doença e morte de carregadores aumentavam o perigo e a incerteza. Só de uma vez, andaram perdidos 42 dias, por terrenos pantanosos, sob condições meteorológicas difíceis, sem caminhos e sem gente por perto. Foram dados como mortos ou perdidos, pois durante quase um ano não houve notícias deles.
Ao longo de toda a viagem, Roberto Ivens escreve, desenha, faz croquis, levanta cartas; Hermenegildo Capelo recolhe espécimes de plantas, rochas e animais.

A 21 de Junho 1885, a expedição chega finalmente a Quelimane, em Moçambique, cumpridos todos os objectivos definidos pelo governo.
Na viagem foram percorridas 4500 milhas geográficas (mais de 8300 km), 1.500 das quais por regiões completamente desconhecidas, tendo-se feito numerosas determinações geográficas e observações magnéticas e meteorológicas.

Estas expedições, para além de terem permitido fazer várias determinações geográficas, colheitas de fósseis, minerais e de várias colecções de história natural, tinham como objectivo essencial afirmar a presença portuguesa nos territórios explorados e reivindicar os respectivos direitos de soberania, já que os mesmos se incluíam no famoso mapa cor-de-rosa que delimitava as pretensões portuguesas na África meridional.
Finda a viagem de exploração, Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo foram recebidos como heróis em Lisboa, a 16 de Setembro de 1885.

Cansado e doente, de uma vida dedicada à exploração geográfica e às longas viagens, Roberto Ivens faleceu, no Dafundo, Oeiras, a 28 de Janeiro de 1898 com apenas 48 anos , deixando viúva e três filhos.
Por todo Portugal existem dezenas de ruas com o seu nome. Ponta Delgada prestou-lhe também a devida homenagem, erguendo um busto inicialmente colocado no Relvão e transferido, por decisão camarária de 1950, para a "Avenida Roberto Ivens", que começou a ser aberta com a demolição do muro da cerca do Convento da Esperança em 7 de Abril de 1886.

Em sua honra a Marinha atribui o seu nome a 2 navios da sua esquadra, sendo o primeiro o caça-minas Roberto Ivens do qual se reproduz um pequeno resumo da sua “vida”.
No dia 26 de julho de 1917, pelas 15h15, o caça-minas Roberto Ivens (antigo arrastão Lordelo), requisitado em 1916, embateu contra uma mina e afundou-se a cerca de 12 milhas a Sul de Cascais, desaparecendo rapidamente. Este acidente causou a morte do seu comandante, 1º Tenente Raul Alexandre Cascais, de três sargentos e de 11 praças, ficando ainda ferido o Capitão da marinha mercante Francisco António Biaia.

Mais tarde, em 1968 foi atribuído o seu nome a uma nova fragata, da classe “João Belo”
A classe João Belo foi um modelo de fragatas ao serviço da Marinha Portuguesa entre 1967 e 2008. O seu nome, retirado do nome da primeira unidade da classe, é uma homenagem ao oficial de marinha e político colonial português, o comandante João Belo.

A Escola Naval também lhe prestou homenagem atribuindo o seu nome como Patrono do Curso 1981


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O Exército Soviético ocupa o campo de extermínio de Auschwitz


1945 O Exército Soviético ocupa o campo de extermínio de Auschwitz[i].
Em 27 de Janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertou Auschwitz, o maior campo de extermínio dos nazis onde foram exterminadas pelo menos um milhão de pessoas ou mais, dependendo das fontes.
Auschwitz foi o maior e mais terrível campo de extermínio do regime de Hitler. Nas suas câmaras de gás e crematórios foram mortas pelo menos um milhão de pessoas. No auge do Holocausto, em 1944, eram assassinadas seis mil pessoas por dia. Auschwitz tornou-se sinônimo do genocídio de judeus e, tantos outros grupos perseguidos pelos nazis.
As tropas soviéticas chegaram a Auschwitz, Polónia, na tarde de 27 de Janeiro de 1945, um sábado. A forte resistência das tropas alemães terão causado mais de 230 mortos entre os soviéticos. Oito mil prisioneiros foram libertados, a maioria em situação deplorável devido ao martírio que enfrentaram.
Esta data é hoje comemorada mundialmente como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, assim designado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, resolução 60/7, em 1 de Novembro de 2005, durante a 42º sessão plenária da Organização.
Em 27 de abril de 1940, Heinrich Himmler, o Reichsführer da SS, deu ordens para que a área dos antigos alojamentos da artilharia do exército, no local agora oficialmente nominado Auschwitz, ex-Oświęcim, fosse transformada em campos de concentração. No complexo construído, Auschwitz II–Birkenau foi designado por ele como campo de extermínio e o lugar para a Solução Final dos judeus. Entre o começo de 1942 e o fim de 1944, comboios transportaram judeus de toda a Europa ocupada para as câmaras de gás do campo. O primeiro comandante, Rudolf Höss, testemunhou depois da guerra, no Julgamento de Nuremberga, que mais de três milhões de pessoas haviam morrido ali, 2.500.000 gaseificadas e 500.000 de fome e doenças. Hoje em dia os números mais aceitos são em torno de 1,3 milhão, sendo 90% deles de judeus. Outros deportados para Auschwitz e executados terão sido 150 mil polacos, 23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de 400 Testemunhas de Jeová e dezenas de milhares de pessoas de diversas nacionalidades. Aqueles que não eram executados nas câmaras de gás morriam de fome, doenças infecciosas, trabalhos forçados, execuções individuais ou experiências médicas.
Em 1947, a Polónia criou um museu no local de Auschwitz I e II, que desde então recebeu a visita de mais de 30 milhões de pessoas de todo mundo, que já passaram sob o portão de ferro que tem escrito em seu cimo o infame motto "Arbeit macht frei" (o trabalho liberta). Em 2002, a UNESCO declarou oficialmente as ruínas de Auschwitz-Birkenau como Patrimônio da Humanidade.
Os que sobrevivessem eram obrigados a trabalhos forçados.
Com o objectivo de apagar os vestígios do Holocausto antes da chegada do Exército Vermelho, a SS implodiu as câmaras de gás em 1944 e evacuou a maioria dos prisioneiros. Charlotte Grunow e Anita Lasker foram levadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, onde os britânicos as libertaram em Abril de 1945. Outros 65 mil que haviam ficado em Auschwitz já podiam ouvir os tiros dos soldados soviéticos quando, a 18 de Janeiro, receberam da SS a ordem para a retirada.



[i] Auschwitz é o nome de uma rede de campos de concentração localizados no sul da Polónia operados pelo Terceiro Reich nas áreas anexadas pela Alemanha Nazi. A partir de 1940, o governo de Adolf Hitler construiu vários campos de concentração e um campo de extermínio nesta área. A razão direta para a sua construção foi o facto de que as prisões em massa de judeus, especialmente polacos, por toda a Europa que ia sendo conquistada pelas tropas nazistas, excediam em grande número a capacidade das prisões convencionais até então existentes. Foi o maior dos campos de concentração nazi, consistindo de Auschwitz I (Stammlager, campo principal e centro administrativo do complexo); Auschwitz II–Birkenau (campo de extermínio), Auschwitz III–Monowitz, e mais 45 campos satélites.




quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Concílio de Trento


O Concílio de Trento é concluído em 26 de Janeiro de 1564, estabelecendo a distinção entre o Catolicismo Romano e o Protestantismo.

O Concílio de Trento, realizado entre 1545 e 1563, foi o 19º concílio ecuménico da Igreja Católica. Este concílio foi convocado pelo Papa Paulo III, nascido Alessandro Farnese (Canino, 29 de Fevereiro de 1468 - Roma, 10 de Novembro de 1549), foi Papa de 13 de Outubro de 1534 até à data da sua morte, para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e da reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da Contrarreforma. O Concílio foi realizado na cidade de Trento, no antigo Principado Episcopal de Trento, região do Tirol italiano.
O Concílio, atrasado e interrompido várias vezes por divergências políticas ou religiosas, foi um conselho de uma grande reforma, uma personificação dos ideais da Contrarreforma. Tendo-se passado mais de 300 anos até ao Conselho Ecumênico seguinte.

Ao anunciar o Concílio Vaticano II, Concílio Vaticano II foi convocado no dia 25 de Dezembro de 1961, através da bula papal "Humanae salutis", pelo Papa João XXIII. Este mesmo Papa inaugurou-o, a ritmo extraordinário, no dia 11 de Outubro de 1962. O Concílio, realizado em 4 sessões, só terminou no dia 8 de Dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI. João XXIII ou São João XXIII, nascido Angelo Giuseppe Roncalli (Sotto Il Monte, 25 de Novembro de 1881 — Vaticano, 3 de Junho de 1963) foi Papa de 28 de Outubro de 1958 até à data da sua morte. Pertencia à Ordem Franciscana Secular e escolheu como lema papal: Obediência e Paz, afirmou que os preceitos do Concílio de Trento continuam nos dias modernos, uma posição que foi reafirmada pelo Papa Paulo VI.

O Concílio de Trento foi o concílio ecuménico mais longo da História da Igreja Católica. Foi também o concílio que "emitiu o maior número de decretos dogmáticos e reformas, e produziu os resultados mais benéficos", duradouros e profundos "sobre a fé e a disciplina da Igreja".
Para se opor ao protestantismo, o concílio emitiu numerosos decretos disciplinares e especificou claramente as doutrinas católico‐romanas quanto à salvação, os sete sacramentos (como por exemplo, confirmou a presença de Cristo na Eucaristia), o Cânone de Trento (reafirmou como autêntica a Vulgata) e a Tradição, a doutrina da graça e do pecado original, a justificação, a liturgia e o valor e importância da Missa (unificou o ritual da missa de rito romano, abolindo as variações locais, instituindo a chamada "Missa Tridentina"), o celibato clerical, a hierarquia católica, o culto dos santos, das relíquias e das imagens, as indulgências e a natureza da Igreja. Regulou ainda as obrigações dos bispos.

Foram criados seminários nas dioceses como centros de formação sacerdotal e confirmou-se a superioridade do Papa sobre qualquer concílio ecuménico. Foi instituído o "Index Librorum Prohibitorum", um novo Breviário (o Breviário Romano) e um novo Catecismo (o Catecismo Romano). Tendo sido também reorganizada a Inquisição.
O Concílio decorreu em três períodos:
1º Período (1545-1548) — Celebraram-se 10 sessões, promulgando-se os decretos sobre a Sagrada Escritura e Tradição, o pecado original, a justificação e os sete sacramentos em geral e vários decretos de reforma disciplinar;

2º Período (1551-1552) — Celebraram-se 6 sessões, continuando a promulgar-se, simultaneamente, decretos de reforma e doutrinais ainda sobre sacramentos, particularmente sobre a eucaristia (nomeadamente sobre a questão da transubstanciação), a penitência, e a extrema-unção.
3º Período (1562-1563) — Neste período realizaram-se 9 sessões, em que se promulgaram importantes decretos doutrinais, mas sobretudo decretos eficazes para a reforma da Igreja. Assinaram as suas actas 217 padres oriundos de 15 nações.

Os decretos tridentinos e os diplomas emanados do concílio foram as principais fontes do direito eclesiástico durante os 4 séculos seguintes, até à promulgação do Código de Direito Canónico em 1917.
"No Concílio, nenhum consenso foi possível, este acabou apenas por reafirmar os princípios católicos, condenando o protestantismo. Entretanto, algumas medidas moralizadoras começaram a ser tomadas, como a proibição da venda de indulgências e a criação de escolas para a formação de eclesiásticos.

Na história de Portugal, o concílio teve grande influência, quer pela participação e apoio dos reis, quer pela influência que os seus decretos tiveram na vida eclesiástica e social do país.
A Reforma Católico‐romana foi reforçada pela criação, em 1540, da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada pelo espanhol Inácio de Loyola. A Companhia de Jesus transformou-se num verdadeiro "exército" em defesa da manutenção dos princípios católicos e da evangelização na Europa, na Ásia e nas Américas.


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Morte de Winston Churchill


A 24 de Janeiro de 1965 - Morre Winston Churchill, estadista britânico, por duas vezes primeiro-ministro, 1940 a 1945 e de 1951 a 1955, Nobel da Literatura em 1953.

Inglês, Nasceu no Palácio de Blenheim, em Woodstock, no Oxfordshire, a 30 de Novembro de 1874, batizado com o nome de Winston Leonard Spencer-Churchill seguindo a tradição originada com seu tetravô, morreu em Londres a 24 de Janeiro de 1965.

Filho de Lord Randolph Churchill, seu pai foi um político proeminente, e da sua mulher americana Jennie Jerome.

Após ter acabado o curso na Academia Militar de Sandhurst e ter servido como oficial subalterno, de 1895 a 1899, no regimento de Hussardos n.º 4, foi correspondente de guerra em Cuba, na Índia e na África do Sul.


Durante a guerra dos Boers[i] foi feito prisioneiro e enviado para um campo de prisioneiros de guerra em Pretoria, de onde fugiu, percorrendo a pé 500 km. Após a fuga insistiu em permanecer na África do Sul, participando de diversas batalhas. Essa história transforma-o em um herói nacional tornando-o mundialmente conhecido, e de que relatou as peripécias no seu livro De Londres a Ladysmith. Churchill entrou para a política como Conservador, tendo sido eleito deputado em 1900, mas em 1904 rompeu com o Partido devido à política social dos Conservadores.

Aderiu ao Partido Liberal e em 1906, tendo sido eleito deputado, foi convidado para o Governo,  ocupando primeiro o cargo de Sub-Secretário de Estado para as Colónias, mais tarde, em 1908, a pasta de Presidente da Junta de Comércio (Board of Trade).Após as eleições de 1910 foi transferido para o Ministério do Interior, e finalmente foi nomeado, em Outubro de 1911, Primeiro Lorde do Almirantado, onde impôs uma política de reforço e modernização da Marinha de Guerra britânica.

Pediu a demissão em plena Primeira Guerra Mundial, devido ao falhanço da expedição britânica aos Dardanelos, na Turquia, de que tinha sido o principal promotor, resultando na morte de 50 mil britânicos e franceses. Alistou-se no exército, e comandou um batalhão do regimento «Royal Scots Fusiliers» na frente ocidental. Regressou ao Parlamento em 1916, regressando a funções governamentais no último ano de guerra, como ministro das munições.

Após o fim da Primeira Guerra Mundial, Churchill foi-se tornando cada vez mais conservador, continuando a participar activamente na política, como Ministro da Guerra (1919-1921) e Ministro das Colónias (1921-1922) em governos liberais. Em 1924 regressou ao Partido Conservador, sendo nomeado Ministro das Finanças (1924-1929) no governo conservador de Stanley Baldwin. Não participou em nenhum governo, de 1929 a 1939, mas continuou a ser eleito para o Parlamento, onde advertiu incessantemente do perigo que Hitler representava para a Paz.

Em 1939 foi nomeado novamente Primeiro Lorde do Almirantado, e em 1940, no dia em que a Alemanha começou a ofensiva a Ocidente, invadindo a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo e a França, foi nomeado Primeiro-ministro, No seu discurso de posse derá afirmado: “Não tenho nada a oferecer, para além de sangue, sofrimento, lágrimas e suor.”

Fez com que o seu país resistisse às derrotas dessa Primavera de 1940, e ao desaparecimento de todos os seus aliados ocidentais, da Noruega à França, e dirigiu-o durante a Batalha de Inglaterra. Finalmente, aliado à União Soviética, desde o primeiro momento da invasão alemã, em Junho de 1941, e com o apoio e depois a participação activa dos Estados Unidos na guerra, acabou por vencer Hitler.

Mesmo antes do fim da guerra, sofreu uma derrota espectacular nas eleições de 1945, sendo o seu governo substituído pelos trabalhistas de Atlee. Voltou ao poder em 1951, sendo primeiro-ministro até 1955, ano em que pediu a demissão, devido a problemas de saúde.

Foi nomeado Prémio Nobel da Literatura em 1953, pelas suas obras mas sobretudo devido aos 6 volumes da sua obra mais famosa: The Second World War

Churchill é considerado um dos pais fundadores da União Européia, sugerindo na época conceitos bases para essa união de países que vemos hoje estabelecida.

Casou-se com Clementine, e juntos tiveram 5 filhos, morreu aos 90 anos em 1965.


[i] As guerras dos bôeres (ou guerras dos bôers) foram dois confrontos armados na atual África do Sul que opuseram os colonos de origem holandesa e francesa, os chamados Bôeres, ao exército britânico, que pretendia apoderar-se das minas de diamante e ouro recentemente encontradas naquele território. Em consequência das guerras, os bôeres ficaram sob o domínio britânico, com a promessa de autogoverno.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Chegada da Família Real ao Brasil


22 de Janeiro de 1808 — Chegada da Família Real ao Brasil, após fuga ocasionada pela ocupação de Portugal pelas tropas de Napoleão.

Chegada do Príncipe D. João, da família real e da Corte à Igreja de Nossa Senhora do Rosário para missa comemorativa da chegada ao Rio de Janeiro. Óleo sobre tela. Armando Martins Viana. Século XX. Museu da Cidade, Rio de Janeiro
Após uma viagem de 55 dias por mar, a família real aporta em São Salvador da Baía.
A transferência da corte portuguesa para o Brasil foi o episódio da história de Portugal e da história do Brasil em que a família real portuguesa, a sua corte de nobres, servos e demais empregados domésticos, num total de aproximadamente 15 000 pessoas e inclusive uma biblioteca com mais de 60.000 livros, se radicaram no Brasil, entre 1808 e 1821.

A capital do Reino de Portugal foi estabelecida na capital do Estado do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro, registrando-se o que alguns historiadores denominam de "inversão metropolitana", ou seja, da colônia passou a ser exercida a soberania e a governação do império ultramarino português. Pela primeira e única vez na história uma colônia passava a sediar uma corte europeia.
Assim sendo, em finais de Novembro de 1807 a família real portuguesa realiza uma apressada saída de Lisboa para escapar aos invasores franceses e chega ao Brasil a 22 Janeiro do ano seguinte.

Viagem atribulada, rodeada de alguns perigos. Parece que a corte teve de se alimentar da comida de bordo infestada por insetos, foram atacados por uma praga de piolhos e também sofreram os efeitos de uma tempestade.
Apesar de todas as dificuldades conseguiram chegar ao seu destino.

A partida tinha tido lugar em pleno inverno e a chegada ao Brasil aconteceu em pleno verão do hemisfério sul…
A família real vai manter-se no Brasil até muito depois da última invasão francesa, e o regresso vai ficar marcado pela independência da colónia e por uma guerra civil que vai opor dois príncipes, D. Pedro e D. Miguel, numa sanguinária guerra civil.

Estando iminente a invasão francesa, preparou-se com a maior urgência a retirada da Família Real portuguesa para a sua maior colónia de então, o Brasil. A 22 de Outubro de 1807 era assinada uma convenção secreta entre o nosso Príncipe Regente D. João e o rei inglês Jorge III. Esta convenção estabelecia a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil. Estava ainda prevista a ocupação da ilha da Madeira pelas tropas inglesas, assim como o compromisso de fazermos um tratado de comércio com a Inglaterra, logo após o Governo português se instalar no Brasil.
A 27 de Outubro de 1807, diversos representantes franceses e espanhóis assinaram o tratado de Fontainebleau[i], onde ficou estabelecido que o território português seria dividido entre a França e a Espanha. 

Sem terem conhecimento deste tratado franco-espanhol, os nossos representantes em Paris e Madrid foram expulsos, pois Napoleão já havia decidido invadir Portugal em virtude de D. João não cumprir as cláusulas do ultimatum. Enquanto Junot marchava com as suas tropas em direcção a Lisboa, chegava ao rio Tejo uma armada inglesa sob o comando do almirante Sydney Smith com a missão de escoltar a Família Real portuguesa para o Brasil. O embarque deu-se a 27 de Novembro de 1807, mas os navios só zarparam no dia 29, em virtude de uma tempestade no mar.
 No dia 30 de Novembro de 1807, Junot chegou a Lisboa com parte do seu exército, limitando-se a ver ao longe, no horizonte, os últimos navios da Armada portuguesa e inglesa que levavam para outras terras “a nossa soberania”. Tinha começado a I Invasão Francesa, das três que Napoleão havia de arquitectar para tentar ocupar o território português.

Após ter assinado a Convenção secreta de 1807 com Jorge III de Inglaterra, o Príncipe Regente Dom João decide-se pela transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil. Naquela Convenção, assinada a 22 de Outubro em Londres, ratificada em Portugal a 8 de Novembro e pela Grã-Bretanha a 19 de Dezembro de 1807, também se decidia a condição das tropas de Sua Majestade na Ilha da Madeira.
Acredita-se que Dom João não tivesse conhecimento da existência do Tratado de Fontainebleau e do seu conteúdo, pelo qual a Família Real portuguesa deixava de reinar em Portugal e previa o desmembramento do reino.

Dom João acabaria por saber, in extremis, as intenções de Napoleão. O imperador, contando com o rápido avanço de Junot e ignorando que este se visse forçado a atrasar a sua chegada a Lisboa, ordenou que se publicasse no jornal francês Moniteur, de 11 de Novembro, o famoso decreto de 27 de Outubro pelo qual a Casa Real Portuguesa deixaria de reinar, imaginando que apenas seria conhecido em Portugal, depois da entrada do seu exército em Lisboa.
 “Aquele decreto, porém, chegou rapidamente ao conhecimento do governo britânico. O ministro de Portugal em Londres, D. Domingos de Sousa Coutinho, receando que as suas comunicações atingissem o seu destino tardiamente, já depois da entrada em Lisboa das tropas francesas, expediu um correio extraordinário com um exemplar do Le Moniteur para o Príncipe Regente.

Ao ter conhecimento deste facto o governo inglês deu instruções a Sir Sidney Smith, que se encontrava com a sua esquadra na entrada do Tejo, para escoltar a Família Real, no caso de esta pretender abandonar Lisboa. Por um feliz acaso o correio demorou na sua viagem apenas quatro dias o que permitiu salvar o Príncipe e a sua Família da sorte que os esperava.”
Esta sucessão dos acontecimentos, permitiu a Dom João encetar vários esforços determinando que “partiriam todos os membros da família real, os ministros de Estado e os empregados do Paço, sem excepção; decidiu também que a sede do governo do Paço, se estabeleceria provisoriamente no Rio de Janeiro, ficando o território português sujeito a uma regência de cinco fidalgos, que nomeou, a qual governaria em seu nome com os poderes que costumavam conceder ás regências os antigos reis de Portugal quando iam pelejar na Africa.” 

Esta decisão foi, contudo, bem-sucedida na sua execução, uma vez que o grande objectivo de evitar o encontro da Família Real com Junot foi conseguido. No entanto, este foi recebido amistosamente por ordem do Príncipe Regente. “Apenas foi conhecida em Lisboa a entrada das tropas francesas em território nacional, o Conselheiro de Estado, D. José de Noronha, Marquês de Angeja, sugeriu ao Príncipe a necessidade de mandar alguém ao encontro de Junot, a fim de se saber da boca do general as suas intenções.
 O conselho foi aceite, não demorando o Príncipe a dar-lhe execução recaindo a escolha em José de Oliveira Barreto, negociante na praça de Lisboa, com estabelecimento na Calçada da Estrela, possivelmente da intimidade do General, durante a sua embaixada junto do Príncipe Regente.

 Simultaneamente, foi encarregado pelo Governo o coronel Carlos Frederico Lecor, um dos oficiais mais distintos do exército português, de observar as posições e movimentos das divisões de Junot.”
Segundo José Acúrsio das Neves, a esquadra portuguesa era composta de oito naus, três fragatas, três brigues, uma escuna e o seu comandante-em-chefe era o Vice-Almirante. Este número de navios não é unânime para todos os autores onde o assunto é debatido, conforme iremos ver na tabela30 que se segue:

A Família Real dividia-se pelas diversas naus que constituíam a esquadra, o Príncipe Regente seguiu na Príncipe Real, D. Carlota Joaquina, juntamente com as suas filhas e D. Miguel, com apenas 5 anos, embarcaram na Rainha de Portugal, as irmãs da Rainha seguiram na nau Príncipe do Brasil.
 Como é defendido por vários autores, embarcaram nos navios disponíveis cerca de 15 000 pessoas, representando todas as classes, “Os fidalgos, os ministros, os conselheiros, e tantos outros [...]: alguns regimentos de linha acompanharam.”  Rumavam agora para a maior e mais rica colónia portuguesa - O Brasil. Por ironia do destino, as riquezas, nomeadamente o ouro, que tinham vindo do Brasil para financiar as grandes construções nacionais, como o Monumento de Mafra, Aqueduto das Águas Livres, etc..., eram como que devolvidos à colónia, pois as classes mais abastadas faziam-se acompanhar dos seus bens, ouro, prata, pedras preciosas, obras de arte, livros, tudo embarcava. “[...] em mais de 80 milhões de cruzados orçam alguns o dinheiro que partiu para o Brasil, ficando no régio erário apenas 10.000 cruzados, sem que se houvessem pago os empregados e credores do Estado.” 

 Se o embarque de tanta gente e a partida da esquadra não foram pacíficas, a viagem também não se pode dizer que foi calma, pois no dia 7 de Dezembro, uma tempestade dispersou a frota na rota do Rio de Janeiro. Alguns dos navios foram “parar” à Baía a 22 de Janeiro de 1808.
Os relatos que nos chegam da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro transparecem o júbilo do povo e o empenhamento das entidades locais, nomeadamente o empenho do último Vice-Rei do Brasil, Dom Marcos de Noronha e Brito, oitavo conde dos Arcos, que se preparava para entregar o poder “a governança” ao Seu Senhor. Antes de desembarcar no Rio, D. João passou pela Baía.




[i] Acordo assinado em 1807, entre a França e a Espanha, e aprovado por Napoleão Bonaparte, onde se estabelecia a divisão de Portugal no reino da Lusitânia (Entre-Douro-e-Minho), destinado à rainha da Etrúria, e no reino dos Algarves (Alentejo e Algarve), concedido a um ministro de Carlos IV. Uma convenção militar da mesma data estabelecia a entrada em Espanha de 28 000 soldados franceses com o objectido de seguirem até Lisboa. Este tratado não chegou a ser executado nem divulgado. O objetivo de Napoleão era o de ocupar Espanha e exercer represálias contra Portugal por este não ter aderido ao bloqueio continental que pretendia fechar os portos europeus à Inglaterra. A recusa de Portugal, tradicional aliado inglês, terá motivado a primeira invasão francesa.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Cristóvão Colombo apresenta-se aos Reis Católicos em Córdova, Espanha,


A 20 de Janeiro de 1486 — Cristóvão Colombo apresenta-se aos Reis Católicos em Córdova, Espanha, oferecendo seus serviços científicos e pesquisadores, como a nova rota às Índias.
Segundo a documentação aceite até aqui, Colombo era um tecelão natural de Génova, tendo provavelmente nascido no bairro de Quinto, onde o seu pai residia já em 1429.

A data do nascimento de Colombo, incerta, pode ser determinada com alguma precisão, uma vez que num documento datado de 31 de Outubro de 1470 afirma-se que Cristóvão Colombo, filho de Domenico é já maior de dezanove anos. Esta informação, juntamente com o documento Assereto, onde ele próprio afirma ter "cerca de 27 anos", permite precisar o ano do seu nascimento como sendo o de 1451, entre 25 de Agosto e 31 de Outubro.
Colombo começou por seguir o ofício de tecelão, mas muito cedo interessa-se pela navegação. Os estudos que teve devem ter sido muito elementares, provavelmente terá aprendido matemática e caligrafia nalguma modesta escola da região.

Segundo o seu filho Fernando, aos catorze anos começou a navegar. Em 1492 Colombo afirmou que havia vinte e três anos que navegava, o que leva a 1469 e aos dezanove anos. De qualquer modo, num documento datado de 1472 ainda se intitula lanerio, e a partir do ano seguinte não surge mais como vivendo na região. É possível que alternasse entre os dois ofícios, começando a navegar como grumete e dedicando-se depois ao comércio, trabalhando à comissão, segundo se pode constatar em documentação da época.
Nestas primeiras viagens esteve na ilha de Quios, no mar Egeu, à época uma colónia genovesa, cuja produção de mástique[i] recordou várias vezes. Recordou também um feito militar que teria feito ao serviço de Renato de Anjou, aliado de Génova e proclamado rei de Aragão pelos catalães revoltados (1466), uma tentativa de captura em Tunes de uma galeaça de João II de Aragão, ou do sobrinho deste, o rei de Nápoles, com os quais aquele estava em guerra; este feito, que poderia ter acontecido por volta de 1472, apresenta no entanto aspectos duvidosos.

Não se conhece qualquer documento dos arquivos portugueses que mencione o navegador. O único documento em português que o refere é um suposto salvo-conduto de D. João II datado de 1488 e guardado no Arquivo Geral das Índias, cuja autenticidade é, no entanto, duvidosa. O registo da presença de Colombo em Portugal é estabelecido a partir das biografias escritas pelo seu filho Fernando e por Las Casas, assim como do Documento Assereto, que assinala a sua presença em Lisboa e na Madeira no Verão de 1478, e indica a sua intenção de se deslocar para Lisboa em Agosto de 1479.
Segundo o seu filho Fernando, Colombo chega a Portugal num episódio relacionado com o pirata Colombo. Conta Fernando que indo Colombo nuns navios mercantes genoveses em direcção a Inglaterra, estes foram atacados pelo pirata Colombo o Novo por alturas do Cabo de São Vicente, havendo feroz combate, pois os navios iam armados, tendo ardido vários. Conta Fernando que Colombo salvou-se agarrado a um remo, chegando a terra muito extenuado. Recolhido pela população e recomposto, Colombo foi para Lisboa, onde sabia se encontrarem muitos seus compatriotas da colónia genovesa daquela cidade. Há neste relato manifesto erro, pois este combate com Colombo o Novo ocorreu somente em 1486, quando Colombo já se encontrava em Espanha. O episódio parece corresponder a um outro combate com o pirata Coulon o Velho em 1476. Logicamente que, caso Colombo realmente tenha chegado desta forma a Portugal, teria estado a bordo das naus genovesas, e não acompanhando o pirata, como já se supôs.

Em todo o caso, supõe-se que Colombo tenha vivido cerca de nove anos em terras de Portugal, entre 1476 e 1485, para onde terá vindo aos vinte e cinco anos, ao atingir a maioridade.
Este período da sua vida resume-se às suas viagens, ao casamento, e ao grande projecto que começou a acalentar.

Nesta época, terá realizado algumas viagens de grande alcance. De Lisboa, terá seguido com o resto da frota genovesa que se salvara do confronto com o pirata, após esta se reagrupar e reforçar, até Inglaterra.
Afirmou também ter chegado a Tule em 1477, comprovando que o seu extremo sul estava a 73ºN e não a 63ºN (sendo que este último é que é realmente o valor correcto) e que, apesar de ser Fevereiro, o mar não estava gelado, permitindo que navegasse cem léguas para lá da ilha. Tem sido discutido se de facto chegou à Islândia, e parece ainda mais improvável tal prolongamento da viagem, cuja finalidade não se percebe.

Por esta data, Julho de 1478, Colombo desloca-se de Lisboa à Ilha da Madeira, encarregado de comprar 2400 arrobas de açúcar, que deveriam ser carregadas no navio do capitão português Fernando de Palência. Para o efeito, Di Negro havia-lhe fornecido parte do dinheiro, sendo que o restante deveria chegar ao Funchal a tempo da transacção ser concretizada e da chegada do navio que deveria carregar o açúcar, o que não aconteceu, tendo os vendedores recusando-se a concretizar a transacção.
O facto de o tribunal de Génova o considerar ainda como cidadão daquela cidade em Agosto de 1479 permite supor que nesta data não estava ainda permanentemente estabelecido em Lisboa e seria ainda solteiro, de acordo com a informação de Las Casas, que diz que o seu casamento e estabelecimento em Portugal levou a que fosse considerado como cidadão português.

Assim, terá sido apenas após esta data que casou com Filipa Moniz, à época residente com sua mãe no mosteiro feminino de Santos-o-Velho da Ordem de Santiago desde a morte do pai, Bartolomeu Perestrelo, cavaleiro da casa do Infante D. Henrique, de ascendência presumivelmente italiana, de Placência, e um dos povoadores e primeiro capitão do donatário da ilha do Porto Santo.
O recolhimento de Isabel Moniz, viúva de Bartolomeu Perestrelo, após a morte deste em 1457 no Porto Santo, junto com a filha neste mosteiro, deve-se certamente ao facto do Mestre de Santiago ter sido amo de Bartolomeu Perestrelo. Desta união nasceu o único filho legítimo de Colombo que se conhece, Diogo, depois nomeado pela Coroa Espanhola como 2º Almirante e Vice-rei das Índias.

Mais tarde, Colombo terá navegado em navios portugueses, fez uma viagem a Mina, cuja fortaleza apenas se construiu em 1482, e algumas vezes menciona recordações da Guiné. Deve também ter conhecido as Ilhas Canárias. Por esta época juntou-se-lhe o seu irmão Bartolomeu, bom cartógrafo e construtor de esferas, ofício do qual ali vivia. Bartolomeu era muito entendido em cosmografia e bom marinheiro, embora não se saiba onde foi buscar esses conhecimentos, sendo sempre um colaborador leal e eficaz do navegador.
Foi em Portugal que Colombo começou a conceber o seu projecto de viagem para o Ocidente, inspirado pelo ambiente febril de navegações, descobrimentos, comércio e desenvolvimento científico, que converteram a Lisboa da segunda metade do século XV num rico e activíssimo porto marítimo e mercantil, de dimensão internacional, e Portugal no país dos melhores, mais audazes e experientes marinheiros, com os maiores conhecimentos náuticos da época.

O projecto terá surgido não de forma repentina, mas gradual, provavelmente em colaboração com o seu irmão Bartolomeu. Após o processo de formação e maturação, o projecto de Colombo consistia em atravessar o oceano Atlântico - o único conhecido à época - em direcção à Ásia.
O seu filho Fernando conta que o pai começou por pensar que se os portugueses navegavam já tão grandes distâncias para o sul, poderia fazer o mesmo para o oeste, enumerando os factores que o fizeram pensar na existência de terras a ocidente: A esfericidade da terra; e as leituras de autores clássicos, como Aristóteles, Estrabão e Plínio, que afirmavam a curta distância entre a Espanha e África, e a Índia.

O mais provável, no entanto, é que não se tenha inspirado nesses autores, mas sim que os tenha lido depois por forma a fundamentar o seu projecto. Os supostos papéis do sogro que lhe teriam sido entregues por Isabel Moniz teriam juntado indícios materiais, como troncos de árvores e cadáveres de espécies desconhecidas arrastados pelo mar. Finalmente, as notícias que obtivera de marinheiros que afirmavam ter encontrado terras a oeste, e as várias tentativas para descobrir supostas ilhas do Atlântico, comuns por aqueles anos. Colombo observou nas suas viagens e permanências nas ilhas atlânticas estes indícios, assim como as condições dos ventos e correntes marítimas, a reconhecer a proximidade de terra firme e as rotas mais favoráveis, o que tudo aprendeu com a experiência portuguesa.
Colombo conseguiu finalmente fazer aprovar o projecto da sua viagem junto dos Reis Católicos, após a conquista de Granada, com a ajuda do confessor da rainha Isabel de Castela. Os termos da sua contratação tornavam-no almirante dos mares da Índia a descobrir e governador e vice-rei das terras do Oriente a que se propunha chegar, em competição com os portugueses que exploravam a Rota do Cabo.

Alguns historiadores têm procurado demonstrar que o navegador mentia propositadamente a Castela para ajudar Portugal e que tinha a ajuda de Américo Vespúcio nessa missão. De facto, já em 1494 um português, traidor de D. João II, escrevera à Rainha Isabel de que eram falsas aquelas Índias de Colombo e que a viagem de 1492 era uma manobra de D. João II para distrair os espanhóis do monopólio que Portugal tinha na Guiné. No sentido de apoiar Colombo como agente secreto existe uma carta de D. João II a "Cristóvão Colon, Nosso especial amigo em Sevilha" onde o rei de Portugal agradece o futuro Almirante de estar ao "seu serviço" e que será "pago de forma que ficarás bem contente." Manuel Rosa aponta uma dezena de agentes do Rei de Portugal a trabalhar com Colombo em Sevilha, incluindo o Juanoto Berardi, que era o factor de D. João II em Sevilha e Pero Vasques Saavedra, descobridor da Ilha das Flores, o qual ajudou a convencer os irmãos Pinzón a fazerem viagem. Outro dado interessantíssimo para este ponto de vista, é que um português que fazia parte da tripulação levava canela escondida para depois entregar ao Martim Pinzón, capitão da Pinta dizendo que "vido a un indio que traia manojos della". Sendo um agente da coroa de Portugal, explica-se como Colombo estaria com D. João II e José Vizinho em 1485 revistando as secretas Tabelas da Altura do Sol na Guiné e de novo com D. João II e Bartolomeu Dias fazendo um mapa da descoberta do Cabo da Boa Esperança em 1488. Também a carta de Toscanelli é assim enquadrada neste esquema facilmente, pois Colombo jamais teria acesso a uma carta nos arquivos de D. João II, a não ser que o próprio rei lhe desse acesso par a poder copiar. Outra peça central desta conspiração seria o globo de Martin Behaim, um cavaleiro da Ordem de Cristo que fazia parte da Junta dos Matemáticos de D. João II, cujo globo construído na Alemanha durante a viagem de Colombo mostra os mesmos conceitos da India através do Atlântico como Colombo e Toscanelli pretendiam.
Na noite de 3 de agosto de 1492, Colombo partiu de Palos de la Frontera, com três navios: uma nau maior, Santa María, apelidada Gallega, e duas caravelas menores, Pinta e Santa Clara, apelidada de Niña em homenagem a seu proprietário Juan Niño de Moguer. Eram propriedade de Juan de la Cosa e dos irmãos Pinzón (Martín Alonso e Vicente Yáñez), mas os monarcas forçaram os habitantes de Palos a contribuir para a expedição. Colombo navegou inicialmente para as ilhas Canárias, que eram propriedade da Castela, onde reabasteceu as provisões e fez reparos. Em 6 de Setembro, partiu de San Sebastián de la Gomera para o que acabou por ser uma viagem de cinco semanas através do oceano.

Colombo também explorou a costa nordeste de Cuba, onde desembarcaram em 28 de Outubro
A sua segunda viagem iniciou-se em 1493, com três naus e catorze caravelas. Nela avistou as Antilhas e abordou a Martinica. Rumou depois para o norte e alcançou Porto Rico. Foi a Hispaniola onde a pequena colônia tinha sido arrasada pelos indígenas. Tendo ali deixado outro contingente de homens, navegou para o ocidente e chegou à Jamaica. Nessa viagem fundou Isabela, atual Santo Domingo, na República Dominicana, a primeira povoação europeia no continente americano.

Para a terceira viagem, partiu em 1498, com seis naus, tendo chegado à ilha da Trinidad depois de uma atribulada viagem. Rumando ao sul chegou a uma grande terra que pensou ser uma ilha, a que chamou de Terra de Gracia nel Golfo de Paria, localizado na foz do delta do rio Orinoco, (Venezuela). Rumando ao norte chegou a Santo Domingo, onde entrou em conflito com o governador, vindo ele e o irmão a ser presos e enviados para Castela.
Na quarta viagem, saiu de Cádiz com quatro naus em 1502, propondo-se uma vez mais a chegar ao Oriente. Avistou a Jamaica e, depois de grande tempestade, chegou à Ilha de Pinos nas Honduras. Avistou depois as costas da Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Devido ao péssimo estado das naus teve de regressar a Hispaniola, de onde voltou para Castela.





[i] O mástique, mastique ou mastic é uma resina obtida do lentisco (Pistacia lentiscus). A resina é vendida no mercado na forma de gotas ou lágrimas arredondadas, com cerca de 5 mm de diâmetro