A dois de Janeiro
de 1492 — Queda de Granada: A conquista de Granada marcou o fim da Reconquista,
em que os Reis Católicos recuperaram todas as terras que os mouros ocupavam na Península
Ibérica desde o ano de 711.
A chamada reconquista
cristã, que teve no nosso primeiro Rei o seu mais conhecido protagonista, foi
um processo que teve lugar pouco depois da invasão islâmica de 711, que num
espaço de meses ocupa a quase totalidade do território da península (à excepção
de uma pequena parcela montanhosa nas Astúrias) e que apenas teve o seu epílogo
em 1492 com a queda de Granada.
O ponto de
partida deste processo moroso costuma situar-se na Batalha de Covadonga, onde
Pelágio I, designado líder da facção de Visigodos que se refugia nas Astúrias,
à frente de um pequeno contingente consegue vencer os islâmicos numa batalha.
Não deixa de
ser curioso que a invasão islâmica se tenha processado em meses, e que a
reconquista tenha demorado quase 800 anos. Para termos uma ordem de grandeza,
800 anos é praticamente a idade de Portugal, que é o país mais antigo da
Europa! A que se deve esta lentidão?
A resposta não
é directa, mas os factores estão bem identificados. A própria invasão foi
motivada por uma discordància entre o Rei Agila e o chamado “usurpador” Rei
Rodrigo, último Rei visigótico da península. O Rei Agila, sendo destronado,
pediu auxílio às tribos berberes do Norte de África, que por uma questão de
simplificação costumamos designar por árabes, mas que seriam na sua maioria
constituída por berberes. O líder da invasão foi Tariq Ziad, que efectuou a
invasão por Gibraltar (nome em sua homenagem Gebal Tarik, i.e. Porto de Tarik,
que deu Gibraltar) e que depois de derrotar o Rei Rodrigo na batalha de Guadalete,
progrediu rapidamente para Norte. A existência de um foco de resistência nas
Astúrias nunca foi motivo de grande preocupação, pelo que foi tolerado.
A rápida
progressão islâmica para norte, aparentemente sem resistência, deve-se à
complacência das povoações autóctones. Por um lado, estes nativos, descendentes
das civilizações castrejas, não estavam autorizados pelos senhores Visigodos a
possuir armas. Estes receavam uma revolta, pelo que apenas eles possuíam armas.
Como eram em pequeno número, foram facilmente batidos em retirada pela chusma
islâmica proveniente do norte de África.
Por outro
lado, apesar de hoje estar envolto de algum romantismo o processo de
reconquista-glorificando os feitos dos descendentes dos visigodos que foram
conquistando palmos de terra para a cristandade - o que se verificou foi
precisamente o contrário. A conquista islâmica foi antes uma libertação, muito
mais do que propriamente uma submissão. Os conquistadores eram muito mais
tolerantes do que os Visigodos. Tanto cristãos como judeus sefarditas puderam
manter a sua religião e os seus costumes, tendo apenas que pagar um imposto.
Evidentemente, ao longo destes oito séculos houve momentos em que essa
tolerância foi maior e noutros em que foi muito menor, não esquecendo que também
existiram perseguições, principalmente aos judeus.
A reconquista
cristã beneficiou muito da divisão, a partir do século XI, do antigo califado
em pequenos reinos, vulgarmente designados por taifas. Estas divisões nem
sempre foram marcadas pela animosidade. Era comum estabelecerem-se alianças
entre os cristãos e as taifas mouras, que se traduziam no pagamento de um
tributo pelos príncipes berberes em troca de tréguas. Este regime de alianças
vigorou até tarde. Quando o nosso rei D. Afonso III (1248-1279) conquistou as
últimas praças algarvias teve que negociar com Afonso X, o Sábio, que era
aliado do príncipe berbere. A situação resolveu-se com o casamento do Rei de
Portugal com uma filha sua, mãe do Rei D. Dinis, tendo esta aliança a
particularidade de configurar um caso de bigamia, porque o Rei era casado com a
Condessa de Bolonha, que ainda era viva.
Este regime de
tréguas apenas foi com a divisão do Império de Fernando Magno na figura dos
seus 3 filhos, Garcia, Sancho e Afonso, que viria a culminar com a hegemonia
deste último, pai da Condessa Dona Teresa, coroado imperador das Hispânia como
Afonso VI (1047-1109).
Foi com o
Imperador que a reconquista assumiu um caracter mais vigoroso, não sendo alheio
ao contributo que obteve de nobres estrangeiros, que o auxiliaram nas batalhas
com as taifas islâmicas. Foi o caso de Dom Raimundo, que casou com a sua filha
(legítima) Dona Urraca, e a quem deu o condado da Galiza, e Dom Henrique, que
casou com Dona Teresa, outra filha sua (esta nascida fora do matrimónio), mãe
de Dom Afonso Henriques, a quem doou o Condado Portucalense.
Esta política
acabou por não surtir o efeito desejado, não fossem as suas pretensões
hegemónicas esbarrar com os desejos autonomistas de famílias poderosas que não
se queriam pôr debaixo do manto imperial. Este fenómeno foi particularmente
intenso na região entre Douro e Minho, autêntico berço da independência
portuguesa, que viria a escolher como seu líder um príncipe, neto do imperador,
mas já nascido num ambiente fortemente marcado pelo desejo de independência.
Esse percurso
foi difícil. Ao problema militar (conquista de território) somou-se a questão
do reconhecimento da autonomia face a Leão e Castela, naquilo que foi uma
tarefa ciclópica mas concretizada ao longo do reinado do fundador da
nacionalidade.
A reconquista
na península apenas termina com a queda de Granada em 1492, testa-de-ponte da
fé islâmica na península, que se aguentou durante tantos séculos pela
facilidade de abastecimento que dispunha através de Gibraltar, á vista do
continente africano.
A reconquista
cristã não foi, nem nunca será, completa. Ficou a herança cultural, muito mais
forte do que por vezes supomos.
Assim a 2 de
Janeiro de 1492 caí o ultimo reduto muçulmano na Península Ibérica, o reino de
Granada.
A cidade
espanhola de Granada, pertencente à Região Autónoma da Andaluzia, formou-se em
torno de uma fortaleza construída pelos Árabes. No centro da cidade encontra-se
a Catedral de Santa Maria da Encarnação (1523-1703), onde estão sepultados os
Reis Católicos.
Explorada por
Fenícios, Cartagineses e Gregos, dominada por Romanos e Visigodos, assolada por
Vândalos e Alanos, a região de Granada, como quase toda a Península Ibérica,
foi ocupada em 711 pelos muçulmanos comandados por Tariq, acontecimento este de
real importância para a sua definição histórica e territorial. Dominada por
Córdova, emirado e depois califado, Garnatha Alyejud (designação árabe da
cidade perto da actual Granada, a Iliberis dos Romanos ou a Elvira
dos Visigodos) conheceu um grande desenvolvimento no século VIII, sendo uma das
mais importantes cidades do Al Andalus. Com a desagregação do califado de
Córdova em 1031 em vários reinos taifa (designação jurídica árabe), devido à fitna
(guerra civil), num deles se transformou Granada, governada entre 1010 e 1090
pela dinastia berbere dos Ziríadas (povo do Norte de África, que obriga os
habitantes de Garnatha a fugir para Elvira), suprimida no último ano pela dos
Almorávidas, substituídos em 1156 pelos Almóadas. Em 1231, chegaram os nazerís,
de Ibn Nasr, cujo título real era Muhammad I, que se mantiveram em Granada até
ao século XV. A partir desta dinastia, o reino passou a designar-se por
Granada.
Em 1247,
aquele rei árabe apoiou os castelhanos na tomada de Sevilha, o que gerou
descontentamentos generalizados no reino, principalmente depois de os cristãos
transformarem a mesquita em catedral. Os ataques de Castela, apesar da ajuda
granadina em Sevilha, sucederam-se contra o reino nazerí, que apoiava revoltas
mouriscas em Castela. Entre múltiplas tréguas, alianças e cedências de praças
de parte a parte, Granada, para sobreviver como reduto muçulmano peninsular,
teve que procurar até ao século XV um equilíbrio de forças com Castela e mesmo
com os muçulmanos do Norte de África, ambos com políticas expansionistas sobre
este território. Para além desta diplomacia, ora política ora guerreira, o
reino de Granada teve que enfrentar revoltas internas ocasionais, e serviu de
acolhimento aos muçulmanos que fugiam de todas as regiões peninsulares face ao
avanço da Reconquista, principalmente da Andaluzia ocidental e do Levante
(Valência, Múrcia), onde se sucediam pressões militares de Aragão, com quem se
firmaram pactos também. Neste clima de instabilidade quase permanente e de
esforço de guerra, a riqueza e a grandeza da civilização nazerí de Granada não
perderam brilho, esmaltando o reino, nomeadamente a capital, de belas joias arquitectónicas ainda
existentes, com o apoio e interesse constantes da corte. É o caso do conjunto
monumental da Alhambra (do árabe, Al Hamra, a vermelha), começado a edificar no
século XIII, bem como do Generalife, do século XIV, casa de campo e descanso
dos reis de Granada. Deste século são também os poetas e eruditos Ibn Alcatib e
Ibn Zamrak, cujos versos estão gravados nas paredes dos palácios da Alhambra.
Por aquela altura brilharam ainda outras figuras da filosofia, das artes e da
medicina, entre outras ciências, e até uma célebre universidade medieval - La
Madraza. O desenvolvimento de técnicas agrícolas, com introdução de novas
culturas e com os regadios, cimenta a exponência civilizacional a que chegou
este reino, o que despertou cobiças e apressou a Reconquista.
Em 1309,
Castela tomou Gibraltar, mantendo-se árabe, porém, Algeciras. Estes dois pontos
eram estratégicos (passagem para África) para o reino de Granada, que daí se
estendia até Almería, a leste, onde se continuavam a dar frequentes ataques
aragoneses, ainda que sem resultados. No primeiro quartel do século XIV, os
castelhanos chegaram às portas de Granada, sendo porém rechaçados para fora do reino,
entretanto reorganizado em termos de defesa. Em 1333, Granada reconquistou
Gibraltar, apoiada por genoveses e dinastias norte-africanas, conhecendo porém
em 1340 a derrota na Batalha do Salado perante forças combinadas
luso-castelhanas, o que deitou por terra o desejo de reconquista muçulmana da
Península. Ao longo do século XIV, a Alhambra continuou a construir-se; a
Reconquista deteve-se por vezes; mas o século XV, com a pressão demográfica e a
expansão económica de Castela, seria a centúria da derrocada do reino de
Granada. Para além de lutas internas (conspirações, rebeliões, guerra civil em
1427) e de falta de apoios do mundo árabe, Granada, apesar de conseguir suster
alguns avanços de Castela e obter algumas tréguas, não conseguiu reestruturar-se
internamente e começou a ceder aos ataques cristãos. Ainda desencadeou um
contra-ataque entre 1433 e 1440, recuperando praças de Castela, mas a partir
daqui, a história de Granada foi de defesa contra Castela, bloqueios
económicos, tréguas e devolução de cativos, até ao golpe final dos Reis
Católicos, em 2 de Janeiro de 1492, quando a conquistaram ao rei
Boabdil. Este, diz a lenda, terá chorado e morrido de desgosto e nostalgia por
abandonar a joia da civilização árabe da Península Ibérica. No século
XVI, apesar do embelezamento e da valorização cultural da cidade e da região
pelos espanhóis, ainda havia, na minoria mourisca, sentimentos saudosistas do
antigo reino nazerí, como nos levantamentos nas Alpujarras, último foco de
resistência árabe.
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