quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Efeméride de 10 de Fevereiro de 1918 - Submarinos em Portugal

Submarinos em Portugal – A 10 de Fevereiro de 1918 chegam ao Tejo os restantes três Submersíveis da classe “Espadarte” constituindo desse modo a 1ª Esquadrilha de Submarinos (1913 – 1934)

Nos fins do século XIX inícios do Século XX começaram a surgir um pouco por toda a parte, leia-se, por todos os países ocidentais, os primeiros projectos de submarinos com utilização militar. Em Portugal não se ficou para trás e, nos finais do século XIX o Primeiro-tenente João Fontes Pereira de Melo desenvolve os primeiros planos de um submarino com características e potencial para uso militar. Projecto esse que apresentou aos poderes de então.

Após vários avanços e recuos, o Primeiro-tenente Fontes viu, finalmente, aprovada a possibilidade da construção de um modelo à escala que permitisse avaliar as capacidades do seu projecto principalmente no que dizia respeito às condições de estabilidade e do sistema de visão com que seria equipado e que seria o mesmo a utilizar nos submarinos a construir. 

O modelo foi então construído no Arsenal da Marinha, antigas instalações de manutenção e reparação naval da Marinha Portuguesa localizadas em Lisboa. Estavam implantadas a Poente do Terreiro do Paço, sensivelmente no mesmo local da antiga Ribeira das Naus e da Ópera do Tejo, destruída pelo Terramoto de 1755. Até à implantação da República eram designados por Arsenal Real da Marinha, constituído em ferro tinha um comprimento total de aproximadamente 12 metros.

As várias experiências de avaliação decorreram durante o mês de Outubro de 1893, junto ao dique do Arsenal da Marinha, tendo embarcado o Primeiro-tenente Fontes mais dois operários.

Apesar das experiências terem decorrido como planeado o mesmo não conseguiu convencer as autoridades do interesse para a aquisição e construção do seu submarino.

Só em Junho de 1910, o então o Ministro da Marinha, João de Azevedo Coutinho, encomendou aos estaleiros Italianos da Fiat San Giorgio, o primeiro submersível português, o "ESPADARTE".

Comandado por Joaquim de Almeida Henriques[i], partiu a 22 de Maio de 1913 de Spezia e chegou a Lisboa a 5 de Agosto do mesmo ano.

Assim, em 1913, Portugal recebeu o seu primeiro submersível, passando a ser um dos poucos países do mundo a potenciar as vantagens desta arma. Esta aposta do então Ministro da Marinha, é de realçar numa época onde os submersíveis eram vistos como uma arma pouco nobre e onde o seu estágio de desenvolvimento era rudimentar.



Com o decorrer da primeira Grande Guerra ressaltou o valor militar desta nova arma e em 1915 o Governo Português encomendava ao mesmo estaleiro mais três submersíveis: os "FOCA", "GOLFINHO" e "HIDRA", que tal como o "ESPADARTE" seriam concebidos pelo famoso engenheiro Laurenti.


Estes quatro submersíveis viriam a constituir a primeira Esquadrilha que teve prolongada vida operacional da qual se destacam as patrulhas de proteção das barras do porto de Lisboa durante o primeiro conflito Mundial, garantindo uma componente dissuasora.



Em princípios de 1927, o envelhecimento do "ESPADARTE" começou a causar preocupações que viriam a culminar com o seu desarmamento em 31 de Maio de 1928, seguindo-se os restantes submersíveis, tendo o Hidra sido abatido ao efetivo da Armada em 1935.


Características dos Navios da 1ª Esquadrilha (1913 a 1934) 

Produzidos nos estaleiro da Fiat – Em San Giorgio, Spezia, Itália, derivaram directamente do Modelo Laurenti, sendo conhecidos como Classe F.  Foi o modelo base de submersível utilizado pela marinha italiana na I Grande Guerra, tendo ganho prestígio e reconhecimento de fiabilidade, tendo sido vendido não só para Portugal, mas também para o Brasil, Espanha, Suécia e Rússia.

Face aos excelentes resultados obtidos com o NRP Espadarte, no final de 1915 o Governo Português encomendou em Itália mais três submersíveis da Classe F: o “Foca”, o “Golfinho” e o “Hidra”, os quais largaram do porto de La Spezia em Dezembro 1917 em direcção a Lisboa.

Com estes quatro Submersíveis dá-se início à arma submarina em Portugal e forma-se a 1ª Esquadrilha (1913 a 1934) 

 Em pleno conflito mundial os três submersíveis cruzaram o Mediterrâneo, em formação com o NRP Patrão Lopes e outras unidades aliadas (primeiro italiana e posteriormente francesas). Num percurso onde encontraram fortes intempéries  e zonas assoladas por submarinos inimigos, chegaram a presenciar o torpedeamento de navios mercantes nas suas proximidades. Após a longa viagem de oito etapas chegaram a Lisboa a 10 de Fevereiro de 1918.

A Base operacional da Esquadrilha ficou instalada na Doca de Belém até ao final da guerra. 

A principal missão táctica dos submersíveis da 1ª Esquadrilha foi a de vigilância costeira e guerra anti-submarina, o que levou à definição de uma zona de operações compreendida entre as Berlengas e Sines.  

A presença dos submersíveis nacionais à entrada do Tejo e o conhecimento deste facto por parte do inimigo, reforçava o poder dissuasor destas unidades navais, obrigando o inimigo a restrições tácticas, como a necessidade de navegarem nas zonas patrulhadas preferencialmente em imersão, diminuindo-lhes o campo de visão e por conseguinte a capacidade de detecção de alvos.

Na época a identificação de um submarino à superfície não era fácil e era impossível em imersão, o que implicava a necessidade de os atacar de imediato após a localização para que estes não tivessem tempo de imergir e fugir. Por isso a regra era ”antes destruir um submarino aliado do que poupar um submarino inimigo”. Aos submarinos cabia-lhes imergir rapidamente em todas as situações, se bem que existiam alguns procedimentos de identificação, como o lançamento de foguetes de cores convencionadas ou a pintura do casco com desenhos pré-convencionados, neste caso para identificação aérea.

A Vida a Bordo

O momento da imersão em muito era parecido com um naufrágio controlado. A capacidade de controlar de forma rigorosa a reserva de flutuabilidade, anular a gravidade e vencer a força de impulsão era parte da arte de navegar. Pela falta de instrumentos e precisão dos existentes havia que acautelar a profundidade, por causa da resistência máxima do casco ou para não chocar com o fundo. Outro factor era a alteração da propulsão que variava da superfície para a imersão, de combustão interna para eléctrica. Por último, e de grande relevância, era a variação da densidade da água podia apresentar grandes variações, principalmente junto à barra do rio com o sentido das marés, por causa da água doce.

Os submersíveis da 1ª Esquadrilha eram máquinas de 45m e totalmente manuais. A navegabilidade em imersão, com toda a necessária gestão de peso entre os tanques de compensação e os tanques externos, tinha ainda por vezes de aproveitar a deslocação da guarnição no sentido longitudinal do navio para aproveitamento do peso humano.

Em imersão era garantido à guarnição uma respiração do ar à pressão atmosférica normal, através de acumuladores de ar comprimido. No entanto o inquinamento do ar tornava-se o maior problema, sendo que uma imersão prolongada poderia provocar uma percentagem anormal de oxigénio, anidrido carbónico, humidade, etc. , no ar respirado e não renovado. Para além do inquinamento do ar, existia o problema da humidade e consequentemente o de temperatura. Depois de algumas horas de imersão a humidade tendia a aproximar-se do estado de saturação e a inevitável subida de temperatura no interior do navio em imersão, provocava a existência de abundante condensação nas paredes frias do casco. A respiração tornava-se difícil o que se reflectia na capacidade física dos homens. A condensação provocava ainda a deterioração do material e interferia com os sistemas eléctricos do submersível. Outro problema grave que poderia surgir, resultaria de uma eventual falta de estanquicidade, que ao juntar água salgada às baterias do submersível provocava a libertação de gases de cloro altamente tóxicos.

Em Missão de Vigilância

Em tempo de guerra os submersíveis eram escoltados por uma unidade de superfície até à zona de patrulha. No regresso eram igualmente escoltados para entrarem na barra. Durante o tempo de patrulha, quando detectados eram tratados como submarinos inimigos e nesse sentido eram lançados alertas por TSF sobre a sua presença a toda a navegação.

Relata-nos uma destas situações o comandante Joaquim de Almeida Henriques, quando foi detectado numa dessas situações de alerta lançado por TSF, em 6 de Setembro de 1918, frente ao Cabo da Roca. O NRP Golfinho encontrava-se em imersão parcial à tona de água, para poupar energia eléctrica e para  ter um campo de observação mais amplo sobre o horizonte, quando foi avistado pelo posto de observação colocado no Farol do Cabo da Roca. A partir deste avistamento foi transmitido um alerta de presença de submarino inimigo, tendo os navios que faziam rocega de minas e os patrulhas que se encontravam de prevenção se dirigido para a zona suspeita.

Um dos navios ao aproximar-se abriu fogo sobre o NRP Golfinho, mas este manobrou de imediato e submergiu, aflorando à tona de água momentaneamente para observar através dos seus dois periscópios a posição dos navios que o perseguiam. O NRP Golfinho controlou bem a situação porque tinha a vantagem tecnológica do seu lado, uma vez que os navios não possuíam equipamento de escuta submarina.

Estes seguiram na direcção de pressuposta progressão do submersível, mas este submerso dirigiu-se na direcção oposta.  Durante as manobras evasivas o NRP Golfinho passou a uma curta distância de um paquete e da sua escolta que regressavam de França sem o detectar. O submersível  regressou mais tarde à base normalmente, escoltado e sem mais imprevistos.



[i] Contra-Almirante Joaquim de Almeida Henriques, Nascido a 28 de maio de 1875, em Leiria, ingressou na Escola Naval em novembro de 1893, como aspirante de marinheiro de 2ª classe, e foi promovido a guarda-marinha em Outubro de 1895. Ficou conhecido como o "Pai dos submarinos da Marinha Portuguesa".


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Efeméride de 3 de Fevereiro 1488 – Bartolomeu Dias dobra o Cabo das Tormentas

Corria o ano de 1488 quando, a 3 de Fevereiro, Bartolomeu Dias desembarca na África do Sul, em Mossel Bay, consumando o feito histórico de dobrar o Cabo da Boa Esperança. O navegador português tornou-se no primeiro europeu a fazê-lo.

Bartolomeu Dias nasceu em Portugal, por volta de 1450. Descendente de uma família de navegadores adquiriu conhecimentos de matemática e astronomia. Viveu em uma época em que Portugal constituía a vanguarda da expansão da Europa que teve início em 1415 com a tomada de Ceuta no Norte da África.



Na Europa do século XV, todo o comércio estava ligado ao Mediterrâneo que era uma via de comunicação com o Oriente de onde os europeus traziam as famosas especiarias. Elas chegavam ao Mediterrâneo seguindo três caminhos: o caminho do Mar Vermelho, o do Golfo Pérsico e o da Mesopotâmia, ou ainda seguiam pela Ásia Central. Os grandes portos do comércio eram Constantinopla e Alexandria.



Com o aperfeiçoamento da arte da navegação durante o reinado de Dom João I, seu filho, o infante Dom Henrique estabelecendo-se na ponta de Sagres, no Algarve, onde reunia cartógrafos, matemáticos e peritos na arte da navegação, e recebia o apoio da burguesia mercantil interessada no descobrimento de novos caminhos marítimos, possibilitando a partir de 1415 um grande número de viagens e descobertas na costa atlântica da África.

Em 1453, com a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, o comércio ibérico com o oriente foi interrompido e com as dificuldades ao comércio cristão em Alexandria, as viagens de exploração de novas terras tomaram um grande impulso.



Em 1487, no reinado de Dom João II, Bartolomeu Dias assumiu o comando de uma expedição composta de três caravelas que partiram de Lisboa em busca de um novo caminho marítimo para a Índia. A expedição levava vários nativos recolhidos na costa da África que serviriam de intérpretes em suas paradas.



A expedição de Bartolomeu Dias, navegando pela costa da África chegou a uma região onde enfrentando a força dos ventos e do mar, ficou treze dias sem controlo e sem perceber tinha atravessado o ponto extremo da África e entrado no Oceano Índico. Passado o temporal, a expedição navegou para o Leste em busca da costa, mas sem sinal de terra, rumou então para o Norte. Chegando a uma baía, que foi batizada de Baía dos Vaqueiros, pois foram avistados pastores cuidando do gado, a expedição ancorou em uma enseada protegida que foi chamada de Aguada de São Brás. Decorria o dia 3 de Fevereiro de 1488.



Hostilizados pelos nativos, Bartolomeu Dias deu ordens para levantar âncora, tendo entretanto a sua tripulação se negado a seguir adiante.



No caminho de volta, Bartolomeu Dias avistou o cabo no extremo Sul da África, que chamou de “Cabo das Tormentas”, posteriormente denominado por Dom João II de “Cabo da Boa Esperança”, preparando assim a futura viagem de Vasco da Gama em direção à Índia.



De volta a Lisboa, Bartolomeu Dias continuou ligado às explorações navais. Em 1494, se encarregou de preparar a frota que levaria Vasco da Gama a chegar à Índia. Estabeleceu um porto avançado de comércio em Cabo Verde, na costa da África. Em 1500, uniu-se à expedição de Pedro Álvares Cabral, como capitão de uma das caravelas, com destino à Índia. Os ventos fortes desviaram a frota que acabou por chegar a uma costa que foi denominada Ilha de Vera Cruz e posteriormente Brasil. Um mês depois, a frota partiu rumo ao cabo da Boa Esperança.

Efeméride de 2 de Janeiro 1387 – Casamento Dom João I com Dona Filipa de Lencastre

Foi a 26 de Dezembro de 1386 que Dom João I viu pela primeira vez Dona Filipa de Lencastre[i]. O encontro deu-se na cidade do Porto, nos Paços do Bispo, em frente a uma comitiva da nobres e representantes da Igreja. Se foi amor à primeira vista, não há como saber: as crónicas da época, sem romantismo nenhum, dão apenas conta de uma breve troca de palavras antes da hora de jantar. Mas de uma coisa podemos ter certeza: foi da união entre o filho “natural” de Dom Pedro I e a filha de um príncipe inglês que nasceram os “altos Infantes” que marcaram, como nenhuns outros, a História de Portugal. Aqueles a que Camões chamou de “ínclita geração”.

Apesar da fama que os filhos de Dom João e Dona Filipa acabaram por conquistar, não podemos esquecer o papel fundamental dos pais. Dom João, fundador de uma nova dinastia, dinastia de Avis, lutou pela independência portuguesa e Dona Filipa de Lencastre desempenhou um papel importante na salvaguarda das alianças luso-inglesas. Foi, aliás, durante o reinado do Mestre de Avis que se firmou o mais antigo tratado em vigor: o Tratado de Windsor[ii], a 9 de Maio de 1386. Por essa razão, falar da história de Dom João e Dona Filipa significa também contar a história das relações entre Portugal e Inglaterra que, se tudo correr bem, sobreviverão a tudo — até ao Brexit.



[i] Mulher de Dom João I e rainha de Portugal entre 1387 e 1415, nasceu em Inglaterra em 1360, filha do duque de Lencastre.
Nada se sabe da sua vida até à altura do casamento com Dom João I, que se efetuou no Porto, em 2 de Fevereiro de 1387, e que é considerado ilegítimo até 1391, altura em que uma bula papal autoriza o casamento do Mestre de Avis, que era eclesiástico. Dessa união nasceram oito filhos - a "Ínclita Geração", como lhe chamou Camões -, de entre os quais se destacam Dom Duarte, futuro rei, o infante Dom Pedro, o das "Sete Partidas", o infante Dom Henrique, "o Navegador", e Dom Fernando, o "Infante Santo". Ignora-se qual o papel que teve na educação dos filhos. Apenas sabemos que manteve sempre grande ligação com a Inglaterra, vivendo rodeada, na corte, de súbditos ingleses.
Além do papel que terá desempenhado no estreitar de relações entre Portugal e a Inglaterra, parece ter exercido alguma influência sobre Dom João I, com realce para o apoio à conquista de Ceuta. Era muito religiosa, por vezes fanática. Morreu de peste em 18 de Julho de 1415, na véspera da partida da expedição a Ceuta, estando sepultada no Mosteiro da Batalha.

[ii] O Tratado de Windsor estabelecido entre Portugal e a Inglaterra, sendo a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor. Foi assinado em Maio de 1386 após os ingleses lutarem ao lado da Casa de Avis na batalha de Aljubarrota e com o sentido de renovar a Aliança Anglo-Portuguesa estabelecida pelos dois países em 1373.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Efeméride de 1 de Fevereiro de 1908 – Morte do Rei Dom Carlos


Faz hoje 112 anos que no Terreiro do Paço em Lisboa foram cruelmente assassinados El-Rei Dom Carlos e seu filho Dom Luís Filipe, o Príncipe herdeiro, a quando do regresso de Vila Viçosa, onde se encontravam com a restante Família Real.
O Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, ocorrido na Praça do Comércio em Lisboa, marcou profundamente a História de Portugal, uma vez que dele resultou a morte do rei Dom Carlos e do seu filho e herdeiro, o Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, marcando o fim da última tentativa de reforma da Monarquia Constitucional e, consequentemente, uma nova escalada de violência no País.
O atentado foi uma directa consequência do clima de crescente tensão que perturbava a vida política portuguesa. Entre outros, dois factores foram primordiais: em primeiro lugar o caminho desde cedo traçado pelo Partido Republicano Português como solução para o desgaste e queda do sistema partidário vigente e, em segundo lugar, a tentativa por parte do rei Dom Carlos, como árbitro do sistema político, de solucionar os problemas desse mesmo sistema, apoiando o Partido Regenerador Liberal de João Franco que, viria a instaurar uma ditadura. Desde a sua fundação que o objectivo primário do Partido Republicano Português era o da substituição do regime. Esta atitude teve a sua quota-parte de responsabilidade no desenrolar deste acontecimento mas, os ânimos foram definitivamente acirrados pelo estabelecimento de uma ditadura por parte de João Franco, com o total apoio do rei e, respetiva suspensão da Carta Constitucional, em 1907.
O progressivo desgaste do sistema político português leva Dom Carlos a decidir, finalmente, a ter uma intervenção activa no jogo político, escolhendo a personalidade de João Franco para a concretização do sempre falhado programa de vida nova. Este, dissidente do Partido Regenerador, solicitou ao Rei o encerramento do Parlamento para poder implementar uma série de medidas com vista à moralização da vida política.
É evidente que o novo governo não podia ser bem recebido pelos que dele não beneficiariam, pelo que se incitou toda a oposição, desde os partidos monárquicos aos republicanos.
Já marcadas novas eleições, e prevendo-se um resultado favorável ao partido no poder, como era costume, decidiram-se os republicanos e os dissidentes pela força, estes apoiaram indirecta ou directamente organizações secretas como a Carbonária ou a Maçonaria. Esta tentativa de golpe de estado fracassa, devido à inconfidência de um conspirador.
A 28 de Janeiro de 1908 são presos vários líderes republicanos, naquele que ficou conhecido como o Golpe do Elevador da Biblioteca. Afonso Costa e Francisco Correia de Herédia, o Visconde de Ribeira Brava, são apanhados de armas na mão no dito elevador, conjuntamente com outros conspiradores, quando tentavam chegar à Câmara Municipal. António José de Almeida, o dirigente Carbonário Luz Almeida, o jornalista João Chagas, João Pinto dos Santos, e Álvaro Poppe contavam-se entre os noventa e três conspiradores presos. José Maria de Alpoim consegue fugir para Espanha. Alguns grupos de civis armados, desconhecedores do falhanço, ainda fizeram tumultos pela cidade.
Em resposta a este golpe, e como reflexo de um endurecer de postura por parte do regime, até aí dominado por um fair play que permitia aos republicanos intervenções livres, o governo apresenta ao rei o Decreto de 30 de Janeiro de 1908. Este previa o exílio para o estrangeiro ou a expulsão para as colónias, sem julgamento, de indivíduos que fossem pronunciados em tribunal por atentado á ordem pública, e tem sido durante muito tempo considerado como a principal causa para o regicídio. Conta-se que, ao assiná-lo, o rei declarou: ”Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram.” É de notar, no entanto, que o decreto, assinado a 30 de Janeiro, só foi publicado a 1 de Fevereiro, e os preparativos para o atentado datam com certeza de antes dessa data: atente-se ao testamento feito pelo regicida Buíça, datado de 28 de Janeiro.
O Rei, a Rainha e o Príncipe Real encontravam-se então em Vila Viçosa, no Alentejo. O infante Dom Manuel havia regressado dias antes, por causa dos seus estudos como aspirante na marinha. Os acontecimentos acima descritos levaram Dom Carlos a antecipar o regresso a Lisboa, tomando o comboio, na estação de Vila Viçosa, na manhã do dia 1 de Fevereiro.
Durante o caminho o comboio sofre um ligeiro descarrilamento junto ao nó ferroviário de Casa Branca. Isto provocou um atraso de quase uma hora. A comitiva régia chegou ao Barreiro ao final da tarde, onde tomou o vapor "D. Luís", com destino ao Terreiro do Paço, em Lisboa, onde desembarcaram, na Estação Fluvial Sul e Sueste, por volta das 5 horas da tarde, onde eram esperados por vários membros do governo, incluindo João Franco, além dos infantes Dom Manuel e Dom Afonso, o irmão do rei.
Apesar do clima de grande tensão, o monarca optou por seguir em carruagem aberta, envergando o uniforme de Generalíssimo, para demonstrar normalidade.
Quando a carruagem circulava junto ao lado ocidental da praça ouve-se um tiro e desencadeia-se o tiroteio. Um homem de barbas, passada a carruagem, dirige-se para o meio da rua, leva à cara a carabina que tinha escondida sob a sua capa, põe o joelho no chão e faz pontaria. O tiro atravessou o pescoço do Rei, matando-o imediatamente. Começa a fuzilaria: outros atiradores, em diversos pontos da praça, atiram sobre a carruagem, que fica crivada de balas.
Os populares desatam a correr em pânico. O condutor, Bento Caparica, é atingido numa mão. Com uma precisão e um sangue frio mortais, o primeiro atirador, mais tarde identificado como Manuel Buíça, professor primário.
Aproveitando isto, surge a correr de debaixo das arcadas um segundo atirador, Alfredo Costa, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, que pondo o pé sobre o estribo da carruagem, se ergue à altura dos passageiros e dispara sobre o rei já tombado.
Dom Luís Filipe fica na linha de tiro sendo também atingido mortalmente.
O tiroteio continua. Dona Amélia permanece de pé, gritando por ajuda.
Na breve luta que se segue o soldado é atingido numa perna, mas a sua intervenção é providencial. Tendo voltado o seu cavalo, o oficial Francisco Figueira carrega primeiro sobre o Costa, que ferido pelo príncipe é atingido por um golpe de sabre e preso pela polícia, e de seguida dirige-se a Buíça. Este ainda o consegue atingir numa perna com a sua última bala e tenta fugir, mas Figueira alcança-o e imobiliza-o com uma estocada acabando estes por serem abatidos no local.
A carruagem entra no Arsenal da Marinha, onde se verifica o óbito do Rei e o do Herdeiro do Trono. Quando o Infante Dom Afonso, que havia começado a correr desde o seu carro no fim do cortejo, chegou ao Arsenal, teve como primeiro instinto acusar João Franco como responsável pela tragédia.
Julgando que se tratava de um novo golpe de estado, a população de Lisboa refugia-se nas suas casas e a cidade fica deserta. Mas as tropas permanecem nos quartéis e a situação permanece calma: o atentado não foi um sinal para o golpe, que já havia sido frustrado, antes o acto de quem ainda tinha armas na mão, porventura influenciados pela repressão que se previa da parte do governo.
À noite as rainhas e o novo rei foram escoltados para o palácio das Necessidades.