quarta-feira, 19 de julho de 2017

Batalha de Guadalete e o domínio mouro


A ocupação da Península Ibérica pelos povos que professavam a religião islâmica deu-se inicialmente com a Batalha de Guadalete, ocorrida em 711. Esta batalha opôs as tropas islâmicas comandadas por Tarik às tropas visigodas comandadas pelo rei Rodrigo (ou Roderick). A batalha, ganha pelos primeiros, marcou o fim do Reino Visigótico e o início do domínio muçulmano na Península Ibérica. A ocupação iniciada com a esta batalha duraria sete séculos, tendo fim apenas em 1492, com a conquista de Granada pelos reis católicos Fernando e Isabel.

O reino Visigodo da Hispânia iniciou a sua formação no século V, em decorrência dos deslocamentos bárbaros em direção ao oeste, nos séculos finais de existência do Império Romano. O rei Rodrigo[i] foi provavelmente o último rei do reino. O período de seu reinado foi caracterizado por um período de divisão entre a nobreza, o que levou a uma polarização entre Rodrigo e o rei Wytisa. Provavelmente os islâmicos aproveitaram-se dessa divisão para a conquista da região.

Alguns historiadores afirmam, porém, que os muçulmanos terão vindo em auxílio do rei Vitiza, e que o conde Julião, de origem bizantina, os auxiliou por simpatia pelo antigo rei. De qualquer modo, foi encarregado de comandar a invasão o já citado general TariK, que foi de facto o primeiro invasor muçulmano da Hispânia tendo desembarcado sem oposição no Calpe - antiga denominação de Gibraltar, de onde avançou através da Península, defrontando as hostes visigóticas nas margens do rio Guadalete. O exército de Rodrigo, muito inferior em número às hostes árabes, não tinha a menor possibilidade de resistir ao tremendo choque.

A Batalha de Guadalete travou-se provavelmente entre os dias 19 e 26 de Julho de 711, nas margens do rio Guadalete, num local próximo à lagoa de Janda na atual província de Cádiz, na Andaluzia, no sul da actual Espanha,

Estima-se que Rodrigo tenha conseguido reunir quase 100 mil homens contra as tropas islâmicas de Tarik, mas não há certeza sobre estes números e poucas fontes existem sobre o desenrolar da batalha. O que se sabe é que após a travessia do estreito de Gibraltar pelos islâmicos, a Batalha de Guadalete foi a última tentativa de conter o avanço islâmico.

Aa batalha, invulgarmente violenta, inicia a perda definitiva do império. Tarik, o muçulmano, vencedor do primeiro grande combate travado na Península entre mouros e cristãos, prosseguiu o seu vitorioso avanço, tomando a cidade de Toledo. Outro chefe mouro, de nome Muça ibne Noçáir, desembarcou, por seu turno, na costa espanhola e conquistou Sevilha. Não tardou muito que Mértola, Mérida, Niebla e Ossuna (onde Viriato e os seus lusitanos haviam derrotado as imensas legiões romanas de Fábio Emiliano) caíssem em poder dos mouros.

A vitória sobre as tropas de Rodrigo foi esmagadora. A divisão interna do Reino Visigodo favoreceu os islâmicos, que em cinco anos conseguiram conquistar quase toda a Península Ibérica. Não há certeza se Rodrigo foi morto na Batalha ou conseguiu fugir, refugiando-se na região da Lusitânia, provavelmente próxima a Viseu. Os grupos que não aceitaram a subjugação aos islâmicos conseguiram refugiar-se no norte da península, na região das Astúrias, onde iria dar-se início a um lento processo de reconquista dos territórios administrados pelos islâmicos.

Segundo muitos historiadores, a razão da fácil entrada das forças muçulmanas na Península, deveu-se à rejeição dos povos peninsulares ao domínio dos seus senhores visigodos, um povo germânico que controlava a Península com mão-de-ferro.

Nenhum dos vários povos peninsulares tinha o direito de ter homens armados, e, quando foram necessários homens para lutar, eles não tinham armas para o fazer. Mas, mesmo que as tivessem, não era certo que eles lutassem contra os muçulmanos invasores, pois os visigodos eram provavelmente vistos como tão ou mais opressores que os árabes muçulmanos.

A vitória dos dois chefes muçulmanos, porém, envaideceram-nos e excitaram de tal modo as suas ambições pessoais que chegaram ao ponto de entre si se combaterem, até que o califa lhes ordenou que abandonassem a Península, enviando-os para outros lugares, e nomeou, para os substituir, Adbul-el-Aziz, que foi o segundo vice-rei mouro na Península Ibérica.

Pensa-se que Pelágio das Astúrias conseguiu escapar da batalha, indo formar o Reino das Astúrias e constituindo a única resistência à ocupação árabe da Península Ibérica.

Os islâmicos conseguiram após a vitória manter um convívio, em muitos momentos pacíficos, com os habitantes da Península, cobrando impostos e desenvolvendo um reino culturalmente rico, o de Al Andaluz.



[i] Rodrigo (ou Roderick, que derivou para Roderico), descendente dos reis visigodos da dinastia dos Baltos, subiu ao trono depois de ter vencido o rei Vitiza, ao qual mandou arrancar os olhos.

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