Efeméride
de 6 de junho - Tratado
de Latrão
Em 1929, O Tratado de Latrão, assinado entre
Itália (Mussolini) e a Santa Sé (Pio XI), tornou há 96 anos o Vaticano um
Estado soberano.
O
Tratado de Latrão (Tratado e Concordata) foi um acordo histórico assinado
em 1929 entre a Santa Sé (Igreja Católica) e o Reino da Itália, então liderado
por Benito Mussolini. Este tratado pôs fim à "Questão Romana", um longo período de
conflito, (1870 e 1929) entre a Igreja Católica e o Estado italiano, que havia
culminado com a perda dos Estados Papais em 1870.
"O
Tratado de Latrão foi o acordo assinado entre o Reino da Itália e a Santa Sé
(Igreja Católica) em 1929. Nesse acordo, foi solucionada a Questão Romana,
assim, as disputas territoriais existentes entre as duas partes desde o século
XIX tiveram fim. Com o Tratado de Latrão, foi criado oficialmente o Estado da
Cidade do Vaticano, um pedaço de terra soberano sob domínio da Igreja
Católica."
Para melhor entender o problema temos
de referir a Questão Romana:
A
importância do Tratado de Latrão na Itália só pode ser percebida se houver uma
real compreensão do que foi a Questão Romana. Esse assunto foi uma consequência
da Unificação Italiana, que aconteceu na segunda metade do século XIX e
resultou no surgimento da Itália como nação.
O
processo de unificação territorial da Itália iniciou-se na década de 1850 e foi
encabeçado pelo Reino de Piemonte-Sardenha e por seu rei, Vitor Emanuel II. A
unificação territorial aconteceu por meio da conquista e anexação de outros
reinos da Península Itálica ao território de Piemonte-Sardenha.
Desse
processo surgiu o Reino da Itália em 1861, todavia, nesse momento, a região
central da Península Itálica não fazia parte do Reino da Itália, pois estava
sob o domínio da Igreja Católica e era conhecida como Estados Papais, um Estado
em decadência e que era ameaçado pelas ambições do Reino da Itália de
conquistá-lo.
Até
1870, a conquista dos Estados Papais por parte do Reino da Itália não foi
possível porque tropas francesas estavam estacionadas para garantir a segurança
da região. Essas tropas foram enviadas pelo imperador francês Napoleão III. No
entanto, em 1870, a continuidade das tropas francesas nos Estados Papais não
foi mais possível por causa do início da Guerra Franco-Prussiana.
Com
a saída das tropas francesas, os Estados Papais foram invadidos pelas tropas
italianas, e a região foi anexada à Itália. Roma passou a ser então a capital
italiana. O desentendimento entre o Reino da Itália e a Igreja Católica nasceu
nesse momento, uma vez que a Igreja Católica não reconhecia o governo italiano
e orientava os seus fiéis a não fazê-lo.
A
Igreja Católica excomungou o rei Vitor Emanuel II, proibiu seus fiéis de
obterem cargos públicos no governo italiano e procurou durante as décadas
seguintes manter o seu domínio sobre a cidade de Roma. Esse desentendimento só
começou a ter fim na década de 1920, quando Mussolini e Pio XI realizaram
negociações.
Criação do Vaticano
Na
década de 1920, a Itália estava sob o regime fascista. Seu líder, Benito
Mussolini, tornou-se primeiro-ministro do país em 1922 durante a Marcha sobre
Roma e, em 1925, autoproclamou-se ditador da Itália. As relações com a Igreja
Católica ainda eram más, mas Mussolini sabia que negociar com a Igreja Católica
poderia ser algo positivo para a reputação do regime.
As
negociações foram iniciadas em agosto de 1926, tempos depois do papa Pio XI
mostrar-se aberto a negociar com o governo italiano. Nas negociações, Benito
Mussolini nomeou Domenico Barone, advogado do governo, para representá-lo. Já o
papa Pio XI nomeou Francesco Pacelli, membro de uma família que servia os papas
havia décadas, para ser o seu representante.
As
negociações entre o governo italiano e a Igreja Católica estenderam-se por mais
de dois anos e, em alguns momentos, pareceram que estavam fadadas ao fracasso.
Em um momento, o papa mostrou-se insatisfeito com a perseguição dos fascistas a
um grupo da Igreja Católica chamado Ação Católica. Em outro momento, o rei
italiano mostrou-se inclinado a não aceitar o acordo que estava sendo feito.
Esses
entraves foram superados pelos dois lados, e um acordo foi fechado em 1929. A
assinatura e a formalização do Tratado de Latrão aconteceram em 11 de fevereiro
de 1929, quando Benito Mussolini e Pietro Gasparri, secretário da Santa Sé,
reuniram-se no Palácio de Latrão.
O
documento do Tratado de Latrão, segundo o cientista social David I. Kertzer,
pode ser dividido em três partes distintas|1|. Na primeira parte do acordo,
oficializou-se a criação do Estado da Cidade do Vaticano, um território
independente sob o governo do papa. Na segunda parte, ficaram acordados os
termos das relações entre Itália e Vaticano, nos quais o governo italiano
assegurava que não interviria nos assuntos internos do Vaticano.
O
último ponto do acordo falava sobre uma indenização que seria paga ao Vaticano
por todas as terras das quais eles abriram mão e que eram reconhecidas como
posses do governo italiano. David I. Kertzer fala que, em valores atualizados,
a indenização totalizou cerca de um bilhão de dólares|2|. A assinatura do
Tratado de Latrão foi comemorada em todo o território italiano e melhorou
consideravelmente a imagem do regime fascista.
|1| KERTZER, David I. O Papa e Mussolini: a conexão secreta entre Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017, pp. 132-133.SILVA, Daniel Neves. "Tratado de Latrão"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/tratado-latrao.htm. Acesso em 07 de junho de 2025.
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