A expulsão dos jesuítas[i]
ocorreu no reinado de Dom José I, em 3 de Setembro de 1759, sobre a orientação
do seu primeiro-ministro futuro Marquês de Pombal, tendo sido o primeiro país
europeu a fazê-lo através da seguinte Decreto:
“
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Declaro os sobreditos regulares [os Jesuítas] (…) rebeldes, traidores,
adversários e agressores que estão contra a minha real pessoa e Estados,
contra a paz pública dos meus reinos e domínios, e contra o bem comum dos
meus fiéis vassalos (…) mandando que efetivamente sejam expulsos de todos os
meus reinos e domínios.
|
”
|
O quadro político europeu há
época, era vincadamente marcado por regimes monárquicos
absolutistas, cujas práticas eram contestadas
pelas ideias Iluministas. Nesse contexto tinha lugar o chamado Despotismo esclarecido, representado
em Portugal pelo então primeiro-ministro de Dom José
I, Marquês de Pombal.
Para o Marquês, a Companhia constituía-se num obstáculo à condução da sua
política de reformas. Com a nobreza
completamente subjugada através do processo
que envolveu os condes de Távora e o povo com a repressão ao levantamento do Porto
(Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro), faltava iniciar a
perseguição ao clero.
As reformas realizadas por Marquês de Pombal tiveram como consequência a
expulsão dos Jesuítas tanto de Portugal quanto das colónias portuguesas.
Após o terramoto de 1755 em Lisboa, O Marquês encontra neste acontecimento uma
boa oportunidade para reformar a moral e os bons costumes.
Gabriel Malagrida[ii],
padre jesuíta, escreveu um opúsculo sobre a moral existente oferecendo
exemplares a Dom José I e ao Marquês de Pombal. Este último entendeu a oferta e
as exortações moralistas do Padre Malagrida como insinuações acusatórias, desterrando
o Padre para Setúbal.
Pouco tempo depois, Pombal acusou os jesuítas de instigarem o povo contra
si, nomeadamente contra a sua criação da Companhia Geral da Agricultura das
Vinhas do Alto Douro (1757), o que lhe permitiu entre outras coisas o de
extinguir as missões no Brasil e passar todos os seus bens para o Estado.
Os jesuítas, ao tentarem explicar a situação em que ficavam no Brasil,
foram também expulsos da Corte em 1757. Nesta mesma data, Pombal inicia a sua
campanha anti jesuíta junto do Papa, em Roma, acusando os padres da Companhia
de praticarem comércio ilegal no Brasil e de incitarem as populações contra o
governo. Averiguando a situação relatada pelo Ministro Português, a Santa Sé
recebeu informações – provavelmente manipuladas por aquele – sobre a veracidade
das acusações feitas à Companhia de Jesus. Como resultado, os jesuítas foram
suspensos de confessar e pregar em Lisboa, e o informador, o Cardeal Saldanha,
foi recompensado com a cadeira patriarcal no ano seguinte (1758).
O ano de 1758 é marcado pelo início da perseguição que culmina com o Processo
dos Távora, devido a um misterioso ferimento num braço de Dom José, que Pombal
insinuou ser obra daquela família em conluio com os jesuítas.
Em 3 de setembro de 1759 Pombal faz publicar um Decreto que cita os
jesuítas
"(...) com tantos, tão abomináveis, tão inveterados e tão
incorrigíveis vícios (…) rebeldes, traidores, adversários e agressores, contra
a paz pública dos meus reinos e domínios" e, em consequência,
declara-os "desnaturalizados, proscritos e exterminados"
O sentimento anti jesuítico de Pombal nunca o abandonou, levando-o mesmo a
escrever acerca do que pensava daqueles religiosos. Chegou mesmo a afirmar que
todos os males de Portugal se deviam aos jesuítas, ideia que foi acolhida na
Europa por outros adversários da Companhia. De facto, França, Espanha e Nápoles
imitaram Portugal, iniciando-se uma pressão contra os jesuítas tão grande na
Europa que o Papa Clemente XIV[iii],
no breve "Dominus ac Redemptor", de 21 de Julho de 1773,
suprimiu a Companhia na Europa. Esta só veio a ser restaurada em 1814, a partir
da Rússia, ainda que Portugal não consentisse na sua readmissão.
[i]
A Companhia de Jesus (em latim: Societas Iesu, S. J.), cujos membros são conhecidos como jesuítas,
é uma ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade
de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente
como Inácio de Loyola. A Congregação foi reconhecida por bula papal em 1540. É
hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional
[ii] Gabriel
Malagrida, nascido Gabriele Malagrida, foi um padre jesuíta italiano. Tendo
sido missionário no Brasil e pregador em Lisboa, veio a ser condenado como
herege no âmbito do Processo dos Távora. Foi garrotado e queimado na fogueira
num auto-de-fé realizado no Rossio de Lisboa.
[iii] Depois de suprimida pelo Papa Clemente XIV em Julho de
1773, a Companhia de Jesus manteve-se na Rússia. Nessa altura milhões de
católicos, incluindo numerosos jesuítas, viviam nas províncias polacas da
Rússia. Aí a Companhia manteve intensa actividade religiosa, de ensino e de
missionação.
Durante o
século XIX e XX a Companhia de Jesus voltou a crescer enormemente até os anos
50 do século XX, quando atingiu o pico. Desde aí, seguindo a quebra de vocações
na Igreja Católica, o número de jesuítas também tem vindo a decrescer.
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