quarta-feira, 31 de julho de 2019

Efeméride de 30 de Julho 1848 - Inauguração da iluminação a gás, na Baixa de Lisboa.


A 30 de Julho de 1848, no reinado de Dom Fernando II, é inaugurado o novo sistema de iluminação a gás na Baixa de Lisboa. A Companhia Lisbonense de iluminação a Gás inicia o se serviço de iluminação pública a gás. Os seus candeeiros iluminavam a zona central da cidade e a pouco e pouco foram-se estendendo a toda a cidade. Os candeeiros adoptados tinham armações de base rectangular em que o sistema (de espalhador) era aceso manualmente pelo chamado vaga-lumes.

Nesse dia a população da cidade de Lisboa saiu em massa à rua, para assistir à inauguração da iluminação a gás.

Nas noites seguintes continuava o “alvoroço”, a nova luz "abria a noite", para muitos tinha chegado a Portugal a inovação, para outros era uma nova desgraça que ia arruinar as indústrias do azeite, estragar e esburacar as ruas da cidade. 

A iluminação a gás era feita através de uma rede de canalizações subterrâneas. Entretanto, as freguesias mais periféricas do centro de Lisboa eram iluminadas por candeeiros a petróleo, que acabaram por ser o substituto dos óleos naturais nestas áreas.


Efeméride de 31 de Julho 1501 - Retorno da Índia de Pedro Álvares Cabral


A 31 de Julho de 1501 chega a Portugal de retorno da Índia, Pedro Álvares Cabral.


Após chegar á India Cabral forjou uma aliança com o governante de Cochim, e com líderes de outras cidades-estados, sendo capaz de estabelecer uma feitoria. Por fim, carregada de especiarias preciosas, a frota foi para Cananor, a fim de comerciar uma vez mais antes de partir em sua viagem de retorno a Portugal em 16 de Janeiro de 1501 onde chegaria a 31 de Julho.

A expedição dirigiu-se para a costa leste da África. Um dos navios encalhou em um banco de areia e começou a afundar. Como não havia espaço nos demais navios, a carga foi abandonada e Cabral ordenou que a nau fosse incendiada. Em seguida, a frota prosseguiu em direção à Ilha de Moçambique (a nordeste de Sofala), a fim de se prover de mantimentos para que os navios estivessem prontos para a agitada passagem em torno do Cabo da Boa Esperança. Uma caravela foi enviada para Sofala — outro dos objetivos da expedição. Uma segunda caravela, considerada o navio mais veloz da frota e capitaneada por Nicolau Coelho, foi enviada à frente das demais para dar ao rei o aviso prévio sobre o sucesso da viagem. Um terceiro navio, comandado por Pedro de Ataíde, separou-se da frota após partir de Moçambique.

A 22 de Maio, a frota — agora reduzida a apenas dois navios — passou pelo Cabo da Boa Esperança. Chegaram a Bezeguiche (atual cidade de Dakar, localizada perto de Cabo Verde), em 2 de Junho. Ali, encontraram não só a caravela de Nicolau Coelho como também a nau comandada por Diogo Dias — que se encontrava perdida há mais de um ano após o desastre no Atlântico Sul. A nau havia passado por várias aventuras e estava em péssimas condições, sendo que apenas sete homens doentes e malnutridos estavam a bordo — um dos quais estava tão fraco que morreu de felicidade ao ver seus companheiros novamente. Outra frota portuguesa também foi encontrada ancorada em Bezeguiche. Após D. Manuel I ter sido informado da descoberta do Brasil, enviou uma frota menor para explorá-lo. Um de seus navegadores era Américo Vespúcio (explorador italiano cujo nome designaria a América), que contou a Cabral detalhes de sua exploração, confirmando-lhe que havia de fato desembarcado num continente inteiro e não apenas numa ilha.

A caravela de Nicolau Coelho partiu primeiro de Bezeguiche e chegou a Portugal em 23 de Junho de 1501. O navio de Cabral ficou para trás, à espera do navio desaparecido de Pedro de Ataíde e da caravela que havia sido enviada para Sofala. Ambos os navios acabaram por aparecer e Cabral chegou a Portugal a 31 de Julho de 1501.

Ao todo, dois navios voltaram vazios, cinco estavam completamente carregados e seis foram perdidos. No entanto, as cargas transportadas pela frota geraram lucros de até 800% para a Coroa Portuguesa. Após as especiarias serem vendidas, as receitas cobriram os custos de equipamento da frota e dos navios que foram perdidos, gerando um lucro que por si só excedia a soma total desses custos.


segunda-feira, 29 de julho de 2019

Efeméride de 29 de Julho 1588 – Derrota da Armada Invencível


Decorria o ano de 1588, no dia 29 de Julho, quando na Batalha de Gravelines, a Invencível Armada é derrotada pelos ingleses, próximo à costa de Gravelines, em França.

A Armada Invencível, também referida como "la Armada Invencible" (castelhano) foi uma esquadra reunida pelo rei Filipe II de Espanha em 1588 para invadir a Inglaterra. A Batalha Naval de Gravelines foi o maior combate da não declarada Guerra Anglo-Espanhola e a tentativa de Filipe II (rei de Espanha, de Nápoles, da Sicília e dos Países Baixos. E, também, de Portugal, país que a Espanha dominou no período compreendido entre 1580 e 1640, como consequência do desastre militar lusitano em Alcácer Quibir, Norte de África, em 4 de Agosto de 1578 (morte de Dom Sebastião), de neutralizar a influência inglesa sobre a política dos Países Baixos Espanhóis e reafirmar hegemonia na guerra nos mares.

A armada era composta por 130 navios bem artilhados, tripulados por 8 000 marinheiros, transportando 18 000 soldados e estava destinada a embarcar mais um exército de 30 000 infantes. No comando, o Duque de Medina-Sidônia seguia num galeão português, o São Martinho. No combate no Canal da Mancha, os ingleses impediram o embarque das tropas em terra, frustraram os planos de invasão e obrigaram a Armada a regressar contornando as Ilhas Britânicas. Na viagem de volta, devido às tempestades, cerca de metade dos navios perdeu-se. O episódio da armada foi uma grave derrota política e estratégica para a coroa espanhola e teve grande impacto positivo para a identidade nacional inglesa.

A ordem de partida foi dada para o dia 25 de Abril, mas a armada saiu de Lisboa a 28 de maio de 1588, com 130 navios, 8 mil marinheiros e 18 mil soldados. O plano era destruir a frota inglesa que guardava o Canal da Mancha e ao mesmo tempo desembarcar próximo a Londres o exército do Duque de Parma, de 30 mil soldados, que aguardava nos Países Baixos Espanhóis. (foi a designação dada aos territórios do noroeste europeu que permaneceram sob o domínio do ramo espanhol da casa de Habsburgo).

Só após 15 dias os espanhóis conseguiram avistar a Inglaterra. Durante este tempo, a falta de vento na costa portuguesa e uma tempestade junto ao cabo Finisterra dispersaram os navios. Durante alguns dias, em pleno Canal da Mancha, as frotas estudaram-se uma à outra sem atacar. Apesar de ter tido oportunidade de atacar a frota inglesa, imobilizada em Plymouth pela ação da maré, o comando espanhol parece ter sido expressamente ordenado por Filipe II para dar prioridade à operação de embarque de tropas e não correr riscos de perda de navios antes da hora.

Contrariando conselhos dos seus capitães, que consideravam o ataque viável, Medina Sidonia decidiu seguir ruma à ilha de Wight, com destino à costa continental. Os ingleses, comandados pelo célebre corsário sir Francis Drake, mantinham-se imediatamente atrás deles, a pouca distância. Depois de escaramuças inconclusivas entre as duas frotas, dois navios Espanhóis colidiram e foram abandonados. Tal fato ajudou Drake a conhecer vulnerabilidades dos navios do inimigo que lhe serviriam mais tarde. A operação de embarque de tropas se revelou mal planejada. O porto de Dunquerque, escolhido para reunir e embarcar as tropas sofreu bloqueio por navios holandeses e a armada teve de aportar em Calais.

Por fim, vários navios mercantes adaptados, necessários para o transporte das tropas invasoras, foram gravemente danificados ou capturados. A esquadra via-se reduzida e incapaz de cumprir sua tarefa, ao mesmo tempo impedida de voltar pelo sul devido ao bloqueio inglês, o que levou o Duque de Medina Sidnonia a decidir contornar as Ilhas Britânicas. Nas costas da Escócia e Irlanda, uma atribulada viagem que sofreu as tempestades de Setembro, típicas na região, resultou na maior parte dos naufrágios, sobretudo dos navios mercantes improvisados como navios de guerra. Dos cerca de 130 navios que chegaram a compor a esquadra, cinco foram efetivamente afundados em combate em Gravelinas, diversos sofreram danos graves e perderam condições de batalha e outros cinquenta foram perdidos na viagem de volta em tempestades, sobretudo navios mercantes. Enquanto circundava o arquipélago britânico, a armada não atacou nem foi atacada e manteve os ingleses em permanente tensão, apesar da grande euforia inicial com o desfecho do combate no canal.

Com o retorno à península Ibérica, atracando a maioria dos galeões de primeira classe na costa cantábrica para reparos, ficou evidente a extensão do revés para a coroa espanhola. O prejuízo financeiro e político fora grave. Teria na época Filipe II exclamado: "Não mandei meus navios para combater aos elementos!". Pareceu impossível qualquer novo plano de ataque à Inglaterra e mais ameaçadora a força de sua marinha. Esta humilhante derrota teria também grandes repercussões para Portugal.

Consumado o desastre espanhol e o triunfo inglês, ambas as partes invocaram, à sua maneira, a intervenção divina.

Os católicos espanhóis lamentaram-se: “Não foram os homens que nos venceram, foi Deus!”.

Os protestantes ingleses, por sua vez, vangloriaram-se: A nossa causa é justa, Deus está connosco!

De qualquer modo, a ambição de Filipe II saldou-se num rude golpe para o seu prestígio, ao passo que a Inglaterra viu aumentar a sua importância como potência marítima, abrindo-se-lhe mares antes vedados e podendo atacar de futuro, com diferentes perspectivas de êxito, os domínios ultramarinos espanhóis e portugueses.

Quanto a Portugal, particularmente, faltando ainda 52 anos para recuperar a sua independência, o que aconteceu constituiu um gravíssimo desaire. Muitos dos navios da Invencible eram portugueses, como o eram também centenas de marinheiros e soldados. O País sofreu as consequências de uma catástrofe que não havia provocado.








domingo, 28 de julho de 2019

Efeméride de 27 de Julho 1953 – Fim da Guerra da Coreia

A 27 de Julho de 1953 – A Guerra da Coreia termina com um armistício entre Estados Unidos, China e Coreia do Norte e com a recusa da assinatura pela Coreia do Sul.

Como o próprio nome indica, foi um conflito entre as Correias do Norte e do Sul - mas também foi a primeira batalha militar a opor capitalistas e socialistas, deixando o mundo quase à beira de uma guerra nuclear. A semente de tudo isso foi plantada em 1945, com o fim da Segunda Guerra. Na ocasião, a Coreia (na época, ainda um único país) estava ocupada pelo Japão que iniciou a sua rendição às tropas aliadas. Os dois principais líderes mundiais, os Estados Unidos e a União Soviética, concordaram em dividir a Coreia para que a rendição ocorre-se: os soviéticos receberiam a rendição das tropas nipónicas que estivessem na parte norte da Coreia, acima da latitude de 38 graus, enquanto os americanos cuidariam dos soldados do sul. Esse episódio acabou por fracionar o país dando origem às duas Coreias. A do Norte, ligada à União Soviética, torna-se comunista. A do Sul continuou abraçada ao capitalismo, apadrinhada pelos americanos.

Em 1949, a maior parte das tropas estrangeiras já tinha saído dos dois países, mas, no ano seguinte, a tensão explodiu com a invasão das forças norte-coreanas ao lado sul da Correia. Dois dias depois, o então presidente americano Harry Truman enviou tropas em auxílio da Coreia do Sul – o mesmo fizeram outros 15 países. Enquanto essas tropas avançavam para o norte, a China comunista entrou na Guerra ao lado dos norte-coreanos. Como resposta, o general Douglas McArthur, comandante dos EUA, propôs atacar territórios chineses, mas Truman não concordou - o presidente americano temia que isso provocasse uma reacção da União Soviética, aliada dos chineses. A situação só começou a mudar em 1952, quando Dwight Eisenhower assumiu a presidência dos Estados Unidos e ameaçou usar armas nucleares contra a China e a Coreia do Norte se a guerra continuasse. Em Julho de 1953, finalmente, foi assinado um cessar-fogo. Não era sem tempo: 4 milhões de pessoas já tinham morrido, a maiorias civis.


feméride de 28 de Julho1736 - Secretaria dos Negócios da Marinha e Conquistas.


A 28 de Julho de 1736, foi criada a Secretaria dos Negócios da Marinha e Conquistas.

O Ministério da Marinha (MM) era o antigo departamento do Governo de Portugal que se ocupava dos assuntos marítimos, tanto militares como civis. Até 1911, também era responsável pelos assuntos do Ultramar Português.

Sob sua tutela direta encontrava-se a Marinha de Guerra Portuguesa. Também era da sua responsabilidade a política executiva nas áreas da marinha mercante, das pescas, da autoridade marítima, da investigação marítima e dos assuntos culturais relacionados com o Mar.

Criada em 1736, pelo Rei Dom João V, como Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos (também referida como Secretaria de Estado da Marinha e Conquistas). Era responsável pelos assuntos marítimos e ultramarinos.

Durante os períodos de 1821-1823 e de 1834-1835, os assuntos do Ultramar deixam de ser administrados por um departamento específico, sendo repartidos pelos vários ministérios setoriais. Durante esses dois períodos, o ministério administrou apenas os assuntos marítimos, como Secretaria de Estado da Marinha.

A partir de meados do século XIX passa a ser comum designar-se o departamento por "Ministério da Marinha e Ultramar".

Em 1910, o departamento passa a designar-se "Ministério da Marinha e Colónias".

Em 1911, os assuntos ultramarinos, são separados do ministério, criando-se um departamento específico para os mesmos, denominado "Ministério das Colónias". O ministério passa, então, a denominar-se, apenas "Ministério da Marinha".

Na sequência do golpe militar de 25 de Abril de 1974, o Ministério da Marinha deixou de existir como ministério governamental. No entanto, a sua estrutura continuou a existir transitoriamente sob a designação de "Ex-Ministério da Marinha", passando a ser dirigida pelo Chefe do Estado-maior da Armada, que passou a ter o estatuto de ministro. O Ex-Ministério da Marinha manteve as funções militares e de autoridade marítima do anterior ministério, mas as restantes foram, entretanto, divididas por vários outros departamentos governamentais.

Em 1982, o que restava da estrutura do Ex-Ministério da Marinha foi integrada no Ministério da Defesa Nacional,

Desde então alguns governos criaram ocasionalmente um Ministério do Mar com as anteriores atribuições civis (sobretudo ao nível das pescas e dos transportes marítimos) do antigo Ministério da Marinha.








sexta-feira, 26 de julho de 2019

Efeméride de 26 de Julho 1508 – Tentativa de conquista de Azamor


A 26 de Julho de 1508, Dom João de Menezes zarpa de Lisboa com uma armada de 50 navios destinada à conquista de Azamor.



Azamor é uma cidade situada na margem esquerda do rio Morbeia, a cerca de dez quilómetros da antiga Mazagão, na costa atlântica do norte de Marrocos. Azamor fica na antiga Azama, um porto comercial de fenícios e mais tarde do Império Romano.



Ainda hoje podem ser vistos os restos de um depósito romano de grãos nas chamadas "cisternas portugueses" da vizinha El Jadida. Alguns historiadores acreditam que Azama foi a cidade mais austral de Marrocos ao tempo do domínio romano, na época de Augusto. Embora dependente do rei de Fez, constituía-se numa povoação comercial bastante dinâmica.



Reputada pela excelência de seu porto fluvial, em 1486, devido à instabilidade política regional, os seus habitantes pediram a proteção do rei Dom João II (1481-1495), de quem se tornaram vassalos e tributários. O tributo anual era de dez mil sáveis, peixe abundante naquele rio, permitindo o estabelecimento de uma feitoria. Como primeiro feitor foi escolhido o escudeiro Martim Reinel, que já lá se encontrava em função da negociação do acordo, cujas funções exerceu até 1501.



Dom Manuel I (1495-1521) confirmou os termos do contrato em 1497. Mais tarde, surgindo desavenças em torno do mesmo, Rodrigues Bérrio, um armador de Tavira que costumava ir pescar sáveis a Azamor, em 1508 deu conhecimento a Dom Manuel das grandes divisões entre os seus habitantes e do desejo que alguns manifestavam em se tornar súditos de Portugal. Atendendo a esses motivos, foi enviada uma pequena armada (50 navios e 2.500 homens), sob o comando de Dom João de Menezes, com o apoio de um príncipe oatácida que já estivera em Portugal, Muley Zião para conquistar Azamor. Porém, a expedição fracassou, não só porque o aliado mudara de posição, mas também porque os meios envolvidos se revelaram insuficientes para tomar a praça.



As intenções em tomar Azamor mantiveram-se até que, em 1513, deu-se um levantamento geral em Portugal, num ambiente de vibração patriótica registado por Gil Vicente, no seu Auto da Exortação da Guerra.



De acordo com Damião de Góis, (Chronica do Serenissimo Senhor Rei D. Manoel) os preparativos resultaram na maior armada organizada no reinado do venturoso; mais de 400 navios e cerca de 25000 homens, entre soldados, cavaleiros e infantes, comandados por Dom Jaime, o duque de Bragança. Quando a armada partiu de Lisboa, “foi lançar âncora na baia do Faram, no regno do Algarue”, onde se lhe juntaram mais navios com combatentes algarvios.



Assim a 28 de Agosto de 1513, os portugueses atacaram por terra e pelo rio no primeiro dia de Setembro. Os defensores de Azamor, impressionados com o poderio do exército português, acabaram por abandonar a cidade, procurando refúgio nas regiões vizinhas.



Dom João de Menezes ficou por capitão da praça, com três mil homens para a sua defesa. Entretanto, conforme informou o soberano ainda no mesmo ano, esse quantitativo era insuficiente, uma vez que a cidade era praticamente do tamanho de Évora, e as suas defesas eram muito fracas.



Durante o ano seguinte (1514) ali atuaram os irmãos Diogo e Francisco de Arruda, responsáveis pelo que é considerado como a sua obra mais marcante no Norte d'África: dois baluartes curvilíneos, o de "São Cristóvão", anexo ao Palácio dos Capitães como uma torre de menagem compacta; e o do "Raio", no extremo da fortaleza, decorado por quarenta bandeiras e com espaço para mais de sessenta peças de artilharia fazerem fogo, simultaneamente, em todas as direções.

A Praça-forte de Azamor foi abandonada em 1541, por determinação de Dom João III (1521-1557), após a queda da Fortaleza de Santa Cruz do Cabo de Gué (1541).

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/0c/Braun_Azemmour_UBHD.jpg/440px-Braun_Azemmour_UBHD.jpg 

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Efeméride de 25 de Julho de 1139 – Batalha de Ourique

A Batalha de Ourique teve lugar a 25 de Julho de 1139, num local que as fontes denominam de Ourique, na altura em território controlado pelos muçulmanos.

Nessa Batalha defrontaram-se as forças “portuguesas” lideradas por D. Afonso Henriques, que havia partido de Coimbra, contra cinco “reis” mouros: Sevilha, Badajoz, Évora, Beja e um quinto de nome Ismar, que alguns autores julgam tratar-se do alcaide de Santarém e outros de Elvas, sendo apenas esta uma das muitas dúvidas que envolvem esta importante batalha.

Foram as vitórias militares que asseguraram a D. Afonso Henriques, um território suficientemente vasto para se afirmar como um Reino, e foram estas também que permitiram que o Reino de Portugal fosse reconhecido internacionalmente como tal. Destas vitórias, Ourique é sem dúvida uma das mais importantes, pois foi a partir desta que Afonso Henriques passou a utilizar o título de Rei.

Os títulos de Afonso Henriques

 Após a Batalha de S. Mamede (1128), D. Afonso Henriques assumiu os destinos do Condado Portucalense, mas nunca se faz tratar como Conde. Na realidade, a utilização do título de Conde, indicaria uma clara submissão ao Rei de Leão, Afonso VII, seu primo, na lógica das relações feudo-vassálicas, um Conde tem sempre condição inferior a um Rei. Assim, de forma a marcar cada vez mais a sua autonomia em relação ao Reino de Leão, e arrastando consigo o afirmar da autonomia do território por si governado, Afonso Henriques faz-se conhecer nos documentos oficiais com títulos que confirmam a sua ascendência régia (1), tais como Príncipe ou Infante.

 Com a enorme vitória em Ourique, D. Afonso Henriques passa a ser considerado um importante líder militar, facto que este aproveita para se passar a intitular como Rei. Esta vitória apenas confirmava o que há muito se vinha verificando, Afonso Henriques sempre tinha procedido como um príncipe independente, apesar da sua condição de vassalo. A partir de Ourique, onde assume o título de Rei, o processo de autonomia de Portugal dava um passo de gigante. Portugal tornava-se um Reino Independente, reconhecido pelo Imperador de Leão e Castela, Afonso VII em Zamora, logo a seguir pelos outros reis da Península Ibérica, e dezenas de anos depois, em 1179 pelo Papa Alexandre III.

No entanto, não se pode falar ainda em independência total, pois apesar de ter passado de Condado a Reino, Portugal, continuava a ser um território integrado numa unidade política maior, o Império de Leão. D. Afonso Henriques podia ser Rei de Portugal, mas era ainda vassalo do Imperador de Leão, isto tudo apesar da força política do Imperador, não se fazer sentir no território administrado por Afonso Henriques.

A batalha de Ourique

 Constitui talvez o maior problema da história de Portugal, o valor desta batalha no que respeita à sua localização, às forças militares envolvidas e à projecção que esta alcançou na sociedade daquela época.

Localização

 Os primeiros historiadores como Alexandre Herculano, defenderam sempre que a Batalha teria ocorrido na povoação com o mesmo nome, no Baixo Alentejo. Autores recentes apontam outras alternativas como Vila Chã de Ourique (próximo de Santarém); Campo de Ourique (actualmente em Lisboa); Campo de Ourique (perto da nascente do Rio Lis, no distrito de Leiria).

 A hipótese inicial de Ourique parece estar a ser abandonada, pois não só não corresponde à lógica dos acontecimentos anteriores, como parece ser um empreendimento demasiado arriscado. Parece um pouco ousado, mesmo para D. Afonso Henriques, percorrer mais de 300 km em território inimigo desde Coimbra, e travar um Batalha da qual, seria praticamente impossível de retirar em segurança, caso o resultado não lhe fosse favorável. Tem que se ter ainda em conta, que D. Afonso Henriques, poucos dias depois estava de volta a Coimbra.

 As hipóteses de Vila Chã de Ourique e de Campo de Ourique no Lis estão dentro do contexto das operações militares que se vinham a desenvolver. Após várias ofensivas muçulmanas a Coimbra, como resposta, os “portugueses” forçam a linha de fronteira, fixando-a no eixo Leiria-Ourém-Tomar, onde D. Afonso Henriques fez importantes doações às Ordens Militares, como forma de suster quaisquer tentativas de reconquista por parte do inimigo. É assim lógico que a batalha de Ourique tivesse ocorrido um pouco abaixo dessa linha, já em terreno inimigo.

 Quanto à hipótese Lisboa, ela parece ser um pouco afastada da região onde se costumavam confrontar as forças “portuguesas” e muçulmanas.

Componente Militar

 As crónicas da época falam de uma batalha enorme, com dezenas de milhares de homens envolvidos. No entanto, os historiadores desde Alexandre Herculano, defendem que não se produziu um choque de exércitos, mas um “fossado” (2) ou ataque repentino “português”, que envolveu largas centenas ou talvez poucos milhares de homens.

Milagre de Ourique

 Após a morte de D. Afonso Henriques, iniciam-se duas crónicas sobre a sua vida, a Gesta de Afonso Henriques e os Anais de Santa Cruz de Coimbra. Esta última crónica, fala na aparição de Cristo a D. Afonso Henriques de forma a incitar à vitória sobre os infiéis e dando assim protecção divina ao Reino que se estava a formar. Uma lenda deste género, numa época de grande religiosidade como a Idade Média, era a melhor forma de enaltecer a grande vitória “portuguesa”.

As Cinco Quinas

 Foi Luís de Camões que eternizou a explicação do escudo português, onde o número dos reis vencidos era representado pelos cinco escudetes existentes no brasão de Portugal. No entanto, os selos e moedas posteriores a 1139 não comprovam essa tradição.

Questões que esperam resposta:

1.       Quem eram realmente os 5 Reis Mouros que D. Afonso Henriques combateu?

2.       A que “Ourique” se refere a história?

3.       Quantidade de homens armados envolvidos?

4.       Milagre de Ourique?

5.       As cinco quinas?

 ___________

 Notas:

 1. D. Afonso Henriques era neto do Imperador Afonso VI.

 2. Fossado – Guerra organizada e regular que implicava uma mobilização colectiva dos homens para o exterior das suas comunidades. O objectivo era saquear riquezas (ouro, cerais, gado, armas) e desgastar o inimigo, arrasando regiões inteiras.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

feméride de 24 de Julho 1704 – Ocupação da Cidade de Gibraltar

A 24 de Julho de 1704 – A Cidade de Gibraltar é ocupada pelas forças do almirante inglês George Rooke, durante a Guerra de Sucessão de Espanha.

A cidade de Gibraltar é um pequeno enclave britânico de 6 km quadrados em território reivindicado pelo governo espanhol, no extremo sul da Península Ibérica que ocupa uma posição de grande importância estratégica por estar situada aos pés de uma rocha calcária de mais de 400 metros de altura, numa pequena península separada do restante território Espanhol por um istmo arenoso. Assim, a localidade possui um grande poder de defesa em pleno Estreito de Gibraltar, uma passagem (durante muitos séculos, a única) do Mar Mediterrâneo para o Oceano Atlântico, e passagem natural entre a África e a Europa.

Durante a Guerra de Sucessão Espanhola[[i]1], a Inglaterra viu a oportunidade de se apropriar da cidade de Gibraltar, muito importante para o controle do estreito do ponto de vista estratégico-defensivo, e para isso, abriu mão do respeito às regras da guerra prezadas pela obra de Grotius, já que desrespeitou sua aliança com a Áustria (por quem, segundo a declaração de guerra, lutaria, em favor da causa do pretendente austríaco ao trono espanhol) e ainda deferiu à localidade um irredutível cerco naval, privando a população civil de mantimentos e instrumentos de defesa, além de submetê-la a bombardeios e ataques dos soldados, enquadrando sua ação no conceito de guerra injusta do jurista holandês.





[i] A guerra de Sucessão Espanhola foi um conflito não apenas do âmbito interno espanhol, mas de dimensões internacionais, já que acabou envolvendo países com diversos interesses sobre o destino do trono espanhol a uma dinastia ou a outra. Foi finalizada com o Tratado de Utrecht, o qual lançaria as bases de um comportamento que respeitasse as normas escritas entre as nações européias.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Efeméride de 22 de Julho de 1099 - Godofredo de Bulhão primeiro soberano do Reino Latino de Jerusalém

A 22 de Julho de 1099, Godofredo de Bulhão[i] foi eleito em concílio na Basílica do Santo Sepulcro Advocatus Sancti Sepulchri (Protector do Santo Sepulcro), recusando o título de Rei, pois não aceitaria ser coroado na cidade onde o Salvador fora coroado de espinhos.

A 14 de Julho, de 1099, depois de um cerco começado a 7 de Junho, os Cruzados, que haviam partido da Europa em Agosto de 1096, finalmente conquistam Jerusalém. Os excessos foram muitos e a mortandade entre os habitantes da cidade foi muito grande, a ponto de o Arcebispo Guilherme de Tiro dizer que os próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento.

Uma das suas primeiras iniciativas é a criação de um corpo de clérigos que assegurasse o culto regular na Basílica do Santo Sepulcro: os Cónegos do Santo Sepulcro; e um corpo de cavaleiros que assegurasse a sua segurança. Nasce a Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém.

Godofredo morreu no ano seguinte e seu irmão e sucessor, Balduíno I, foi coroado Rei de Jerusalém em Belém na noite de Natal.

Balduíno expandiu o Reino, capturando as cidades portuárias de Acre, Sídon e Beirute, e exerceu a sua suserania sobre outros estados cruzados ao norte — o Condado de Edessa (que ele havia fundado), o Principado de Antioquia e o Condado de Trípoli. A população de origem europeia ocidental aumentou, com os reforços recebidos da Cruzada de 1101; um Patriarca Latino foi instalado em Jerusalém. As Cidades-Estado de Veneza, Pisa e Génova começaram a envolver-se nos assuntos do Reino, quando as suas frotas passaram a apoiar a captura de portos, onde foram autorizadas a formar distritos comerciais autónomos.

Balduíno morreu em 1118, sem deixar herdeiros, e sucedeu-lhe o seu primo, Balduíno de Bourg, Conde de Edessa. Este também foi um governante capaz e, embora tivesse sido feito prisioneiro pelos turcos várias vezes, as fronteiras do Reino continuaram a expandir-se, com a captura da cidade de Tiro em 1124.

Aos poucos, os habitantes de origem europeia começaram a adoptar modos orientais, aprendendo o grego e o árabe.

O reino baseava-se no sistema feudal, à semelhança da Europa à época, embora com diferenças: o modo de produção agrícola continuou a ter muçulmanos ou cristãos ortodoxos à frente, os quais reportavam nominalmente aos nobres latinos donos das terras; estes, porém, preferiam permanecer nos centros urbanos, em geral, e em Jerusalém, em particular. As comunidades agrícolas eram, portanto, relativamente autónomas e não deviam serviço militar (ao contrário do que ocorria com os vassalos na Europa). Com isso, os exércitos cruzados costumavam ser pequenos e recrutados dentre famílias francesas nas cidades.

O carácter urbano da região e a presença de mercadores italianos fizeram surgir uma economia mais comercial do que agrícola; a Palestina sempre fora um entreposto comercial e, agora, incluía rotas europeias.

Como a nobreza preferia residir em Jerusalém (e não nas suas respectivas terras), exercia uma influência grande sobre o rei e formavam a chamada Haute Cour (Alta Corte), uma forma primitiva de “parlamento”. Dentre as responsabilidades da corte, destacavam-se a confirmação da eleição do Rei, questões financeiras e o recrutamento de exércitos.

O problema da falta de soldados para o exército foi amenizado com a criação das Ordens Militares. Os Cavaleiros Templários e os Cavaleiros Hospitalários formaram-se nos primeiros anos do Reino. Embora os seus quartéis-generais estivessem em Jerusalém, mantinham guarnecidos vastos castelos e adquiriam terras que outros nobres não pudessem mais manter. As Ordens Militares estavam sob controlo directo do Papa, não do Rei: eram basicamente autónomas e não deviam, em tese, nenhum tipo de serviço militar ao Reino, embora na prática participassem de todas as grandes batalhas.

 Em 1131, Balduíno II foi sucedido por sua filha, Melisende, que reinou juntamente com o marido, Fulco. Durante o seu reinado, Jerusalém conheceu o auge da expansão económica e artística.

A queda de Jerusalém comoveu a Europa e resultou na Terceira Cruzada. Graças aos esforços de Ricardo Coração-de-Leão, a maior parte das cidades costeiras da Síria, especialmente Acre, foi recuperada e o Tratado de Ramalá foi assinado com Saladino após a Batalha de Arsuf.

Durante os cem anos seguintes, o Reino de Jerusalém resignou-se a ser um pequeno estado ao longo da costa da Síria. A sua capital passou a ser Acre e o seu território incluía poucas cidades de monta (Beirute, Tiro).

Uma Quarta Cruzada foi organizada após o fracasso da terceira, mas resultou apenas no saque de Constantinopla, em 1204.





[i] Godofredo de Bulhão ou Godofredo de Bolhões (Godefroy de Bouillon em francês; Bolonha-sobre-o-Mar, 1058 - Jerusalém, 18 de Julho de 1100), foi um nobre e militar franco, duque da Baixa Lorena (1087-1100), senhor de Bulhão (1076-1096), um dos líderes da Primeira Cruzada e o primeiro soberano do Reino Latino de Jerusalém, apesar de recusar o título de rei.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Efeméride de 22 de Julho de 1942 – Inicio da deportação dos Judeus para TreblinKa

A 22 de Julho de 1942, iniciaram-se as deportações dos judeus de Varsóvia para Treblinka[i] e, em 5 de Outubro, Himmler ordenou a deportação de todos os judeus dos territórios ocupados para Auschwitz. Com o início do funcionamento das câmaras de gás no campo de extermínio de Auschwitz[ii]-Birkenau, em Junho de 1942, os nazis tinham passado à fase aberta do genocídio planificado e sistemático, cujo ponto culminante e derradeiro viria a ser o massacre de meio milhão de judeus húngaros, executados ao ritmo de 10.000 por dia, no Verão de 1944.



Holocausto, a catástrofe"; do hebraico "destruição"), foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, no maior genocídio do século XX, através de um programa sistemático de extermínio étnico patrocinado pelo Estado nazi, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido Nazi e que ocorreu durante o Terceiro Reich e nos territórios ocupados pelos alemães durante a guerra. Dos nove milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de dois terços foram mortos; mais de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e três milhões de homens judeus morreram durante esse período.

Apesar de ainda haver discussão sobre o uso e abrangência do termo "Holocausto" (ver abaixo), o genocídio nazi contra os judeus foi parte de um conjunto mais amplo de atos de opressão e de assassinatos em massa agregados cometidos pelo governo nazi contra vários grupos étnicos, políticos e sociais na Europa. Entre as principais vítimas não-judias do genocídio estão ciganos, comunistas, homossexuais, prisioneiros de guerra Russos, Testemunhas de Jeová e deficientes físicos e mentais.

Segundo estimativas recentes baseadas em números obtidos desde a queda da União Soviética em 1989, um total de cerca de onze milhões de civis (principalmente eslavos) e prisioneiros de guerra foram intencionalmente mortos pelo regime nazi.

Uma rede de mais de quarenta mil instalações na Alemanha e nos territórios ocupados pelos nazis foi utilizada para concentrar, manter, explorar e matar judeus e outras vítimas. A perseguição e o genocídio foram realizados em etapas. Várias leis para excluir os judeus da sociedade civil — com maior destaque para as Leis de Nuremberg de 1935 — foram decretadas na Alemanha antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial na Europa.

Há 74 anos, em 27 de Janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertou Auschwitz, o maior e mais terrível campo de extermínio dos nazis. Nas suas câmaras de gás e crematórios foram mortas pelo menos um milhão de pessoas.





[i] Treblinka foi o quarto campo de extermínio alemão onde judeus foram exterminados em câmaras de gás alimentadas por motores a explosão localizado nos arredores da cidade de Treblinka, na Polónia ocupada pelos alemães.

[ii] Auschwitz é uma rede de campos de concentração localizados no sul da Polónia operados pelo Terceiro Reich e colaboracionistas nas áreas polonesas anexadas pela Alemanha Nazista, maior símbolo do Holocausto perpetrado pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.

domingo, 21 de julho de 2019

Efeméride de 21 de Julho 1542 - Santa Inquisição Romana e Universal


Em 21 de Julho de 1542 o nome do Tribunal do Santo Ofício foi alterado para Santa Inquisição Romana e Universal, pelo Papa Paulo III, com a Bula "Licet ab initio".

O Tribunal do Santo Ofício era uma instituição eclesiástica de carácter "judicial", que tinha por principal objetivo "inquirir heresias" - daí também ser conhecido como Inquisição. As origens desta instituição podem ser encontradas na Idade Média, embora nesse período da História assumisse contornos bem distintos dos desta instituição na época moderna.

A repressão dos movimentos heréticos desde sempre foi uma preocupação que afligia tanto os senhores laicos como os senhores eclesiásticos. De início, a Igreja era a responsável pela punição espiritual dessas heresias, que em casos extremos eram reprimidas com a excomunhão dos infratores, excluindo, portanto, a repressão violenta.

A partir do século XI, houve uma alteração resultante do aparecimento das heresias, sobretudo a dos Cátaros, ou Albigenses, que levou à intervenção do Papado. Nos Concílios de Reims, em 1163, e de Latrão, em 1179, houve uma efetiva tentativa de aproximação entre o poder temporal e o poder espiritual. Criou-se então uma espécie de "inquisição episcopal", mas esta não resolveu o problema em questão.

Por essa razão, o Papa Gregório IX (1227-1241), no século XIII, criou a Inquisição, um instrumento da Igreja concedido aos religiosos e dependente da Santa Sé. Os frades dominicanos e franciscanos são os principais executores desta nova política, levada a cabo em países como a Alemanha e a Itália, onde estes religiosos se fixaram em grande número e onde eram já postos em prática castigos violentos, que poderiam inclusivamente levar à morte pelo fogo.

Os países onde se estabeleceu a Inquisição eram divididos em regiões supervisionadas por um ou mais inquisidores, escolhidos entre as referidas ordens mendicantes (franciscanos e, principalmente, dominicanos), que exerciam o poder delegado pelo Papa. Tinham ao seu serviço funcionários, mas também podiam ser auxiliados pelas autoridades civis.

Os suspeitos eram interrogados, e durante este interrogatório tentava apurar-se a sua culpabilidade ou não através de métodos que podiam incluir a tortura, relativamente vulgar no sistema penal de então. Em caso de denúncia o nome do acusador era ocultado e as possibilidades de o réu se defender eram quase nulas. As sentenças eram lidas em sessão pública, que mais tarde na Península Ibérica tomou o nome de auto de fé.

Com esta prática, pretendia-se levar o acusado a admitir o seu pecado e mostrar arrependimento; contudo, no caso de este não se redimir, o tribunal demitia-se das suas responsabilidades para com o acusado, que era entregue à autoridade secular, o que significa que este poderia ser condenado à morte sem haver qualquer desrespeito do direito canónico.

Na Península Ibérica, a Inquisição medieval encontrou uma conjuntura muito específica. Aqui decorria ainda a Reconquista Cristã e, simultaneamente, registava-se um forte contacto com muçulmanos e judeus, ainda relativamente pacífico. No entanto, a partir do século XV, assiste-se a uma mudança radical neste relacionamento, pois com os reis católicos, nos reinos de Aragão e Castela, os muçulmanos viram-se obrigados a converter-se ao cristianismo ("mouriscos"), o que conduziu ao aparecimento dos chamados cristãos-novos.

Também os judeus se viram obrigados a abraçar a religião cristã ("marranos"), sob pena de serem obrigados a abandonar estes reinos a partir de 1492. Apesar de os judeus e mouros poderem escolher a cristianização, ficavam logo à partida em posição de desvantagem relativamente aos outros cristãos, devido à sua origem, considerada pecaminosa e, no caso hebraico, deicida.

Esta ambiguidade de critérios resultou numa divisão da sociedade e na incompreensão de outros países pela forma como em Espanha os cristãos-novos podiam ser perseguidos, facto que trouxe alguns problemas aos reis católicos. Isabel e Fernando pediram então a intercessão do Papa Sisto IV para reorganizarem a Inquisição. Em 1478, este concedeu-lhes amplos poderes para nomearem inquisidores em Sevilha, para tratarem em particular dos cristãos-novos.

Logo em 1481, foram queimados alguns conversos (convertidos aos cristianismo); o Papa, chocado com tanta violência, só permitiu algum tempo depois a nomeação de um inquisidor-geral para a totalidade do território. Os alvos da Inquisição eram também os antigos mouros, os protestantes e membros de seitas místicas. Esta Inquisição era uma forma evoluída da instituição medieval, já prenunciada em França no processo contra os Templários e com o caso de Joana d'Arc.

A Inquisição espanhola teve alguma influência em Portugal, mas no caso português houve um pouco mais de moderação na violência. Além do mais, no território nacional, o problema dos muçulmanos e dos judeus era menos expressivo do que em Espanha. Alguns dos judeus espanhóis refugiaram-se em Portugal, o que numa primeira fase trouxe bastantes lucros para Dom João II. Apesar de serem tomadas algumas medidas repressivas, no País não se pensava muito na Inquisição.

Dom Manuel I foi mais além do que os seus antecessores, ao obrigar os judeus a converterem-se ao cristianismo ou a deixar o país. Contudo, o objetivo deste monarca era, sobretudo, economicista, pois as conversões significavam muito dinheiro a médio prazo. Só com Dom João III a situação se vai alterar por completo, com o monarca a solicitar em 1533 a instalação da Inquisição em Portugal, seguindo o modelo espanhol.

Dom Manuel I, seu pai, também pensara em pedir o estabelecimento da Inquisição, mas recuara. Dom João III não recuou, insistiu e lutou até ser emitida a bula de 16 de julho de 1547. Esta cedência da Santa Sé radicou na pressão exercida por Carlos V, na reforma católica e na crescente submissão do papado relativamente a Espanha. Os primeiros regimentos da Inquisição portuguesa não foram impressos (1552 e 1570); tal só aconteceu com os de 1613, 1640 e de 1774.

Várias cidades do país tiveram tribunais da Inquisição, mas só subsistiram os de Coimbra, Évora e Lisboa, para além de Goa, na Índia.

A Inquisição tornou-se um organismo com muitos poderes, que abrangia todos os setores da sociedade, laicos ou religiosos. O seu poder era tanto que a Inquisição, embora instituída como um instrumento do poder régio, podia discutir com o rei e com o próprio Papa. Apenas na época pombalina a Inquisição passará a ser um instrumento da coroa, numa altura em que perdera todo o seu vigor. A sua idade de ouro decorreu nos séculos XVI, XVII e primeira metade do século XVIII.

Com o domínio espanhol de Portugal, a partir de 1580 a Inquisição chegou aos territórios ultramarinos, e durante a Restauração a Inquisição foi acusada de pender para o lado espanhol, nomeadamente graças ao seu inquisidor-geral, Dom Francisco de Castro. Depois, com Dom João IV, o Santo Ofício voltou a ter problemas com a coroa, relativamente aos bens confiscados aos acusados. Por esta altura, os jesuítas também se envolveram em contendas com a Inquisição, que acusava a Companhia de Jesus de favorecer alguns judeus.

Foi no reinado de Dom João IV que a Inquisição atingiu o seu auge, mas foi também neste período que surgiram duras críticas a esta instituição por parte de intelectuais como Dom Luís da Cunha, Ribeiro Sanches e Alexandre de Gusmão.

Com a reforma pombalina, o Tribunal da Inquisição assemelhava-se aos demais. Pombal retirou-lhe a censura literária e em 1775 aboliu a distinção entre cristãos-novos e velhos.

A Inquisição foi extinta gradualmente ao longo do século XVIII, embora só em 1821 se dê a extinção formal em Portugal numa sessão das Cortes Gerais. Porém, para alguns estudiosos, a essência da Inquisição original, permaneceu na Igreja Católica através de uma nova congregação: A Congregação para a Doutrina da Fé.



Actualmente, o Vaticano já condenou estes actos, pedindo desculpas por os ter executado.





sexta-feira, 19 de julho de 2019

Efeméride de 20 de Julho de 1969 - Apollo 11 pousou na Lua

Há 50 anos, no dia 20 de Julho de 1969, pelas 20h 17m 40s, a nave espacial da missão americana Apollo 11 pousou na Lua. O mundo inteiro parou para ver o momento histórico que foi transmitido ao vivo pela TV e assistido por mais de 500 milhões de pessoas ao redor do globo. Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua, tendo afirmado:

Nascido a 5 de Agosto de 1930 em Wapakoneta, Ohio (EUA), Neil Armstrong foi um dos três astronautas da histórica missão Apollo 11, que pousou na Lua a 20 de Julho de 1969. Os outros eram Michael Collins e Edward "Buzz" Aldrin. Collins permaneceu no módulo de comando em órbita, enquanto Armstrong e Aldrin fizeram a alunagem a bordo do módulo Eagle, no chamado Mar da Tranquilidade. "Houston, aqui base da Tranquilidade. A águia pousou", disse Armstrong. Foi ele o primeiro a descer, pisando o solo lunar pela primeira vez na história e pronunciando uma frase que se tornaria célebre: "Um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a Humanidade". Buzz Aldrin juntou-se a Armstrong e ambos passaram duas horas a caminhar sobre a superfície lunar, recolhendo 21 quilos de rochas, tirando fotografias e colocando uma bandeira norte-americana no solo, a mais de 380 mil quilómetros do planeta Terra. 



A Lua foi o ponto de chegada de uma competição que tinha começado há décadas. O início da corrida ao Espaço começou imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial e prolongou-se nos anos seguintes, com a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, virando uma competição entre superpotências.

Quem alcançaria os maiores avanços em armamento nuclear? E na conquista do Espaço?

Agosto de 1955: Estados Unidos anunciam que lançariam um satélite à Lua e a União Soviética responde que faria isso em breve;

4 de Outubro de 1957: os soviéticos partem na frente e lançam o Sputnik 1, o primeiro satélite artificial na órbita terrestre;

12 de Abril de 1961: o astronauta soviético Yuri Gagarin é o primeiro homem a viajar no Espaço. Tendo dado uma volta completa na orbita terreste;

20 de Julho de 1969: a missão Apollo 11 pousa na Lua.

Os americanos correram atrás do prejuízo e com Neil Armstrong, os Estados Unidos venciam a corrida. O astronauta plantou a bandeira do único país que, até hoje, enviou homens à Lua. Até dezembro de 1972, foram 12 astronautas.

Agora, numa nova corrida espacial, outras bandeiras devem ser plantadas com uma diferença importante: não devem chegar só pelas mãos dos governos.

Os chineses estão incentivando a participação de pequenas empresas privadas nos projetos. Em janeiro de 2019, eles foram a terceira nação a pousar uma sonda na Lua, levando o módulo Chang'e 4 ao chamado lado oculto, onde nenhum outro tinha chegado antes.

A Agência Espacial Europeia (ESA) assinou parceria com empresas para desenvolver um projeto de mineração do solo lunar, até 2025.

Nos Estados Unidos, a NASA já anunciou que vai abrir a Estação Espacial Internacional para turistas a partir de 2020, será?

Em março passado, uma cápsula da empresa privada SpaceX, em parceria com a Agência Espacial Americana, cumpriu uma missão de teste, comprovando a possibilidade de enviar passageiros.

Os Estados Unidos querem chegar e colocar a sua bandeira mais longe ainda: em Marte. O caminho está sendo preparado com o projeto de voltar à Lua em 2024; desta vez, desembarcando a primeira mulher.

Até lá, a NASA faz um convite: "Se é uma empresa privada ou até um pequeno país e quer levar um módulo espacial, seja bem-vindo. Nós apoiamos de modo a fazer um sistema compatível e ter acesso à superfície da Lua", afirma o administrador da agência, Jim Bridenstine.

Em julho de 2019, essa nova corrida espacial não para e a meta é Marte 2035.



Em 2018. Na abertura da 75.ª edição do Festival de Cinema de Veneza, um filme com assinatura de Damien Chazelle ("Whiplash - Nos Limites", "La La Land: Melodia de Amor"). Baseia-se na obra homónima em que o escritor James R. Hansen descreve os acontecimentos que deram origem à primeira viagem do ser humano à Lua e a forma como astronauta Neil Armstrong e toda a equipa em seu redor mudaria a percepção da espécie humana sobre si mesma. Com Ryan Gosling como protagonista, conta também com Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler, Corey Stoll e Patrick Fugit. PÚBLICO


quinta-feira, 18 de julho de 2019

Efeméride de 19 de Julho - Batalha de Guadalete e o domínio mouro

A ocupação da Península Ibérica pelos povos que professavam a religião islâmica deu-se inicialmente com a Batalha de Guadalete, ocorrida em 711. Esta batalha opôs as tropas islâmicas comandadas por Tarik às tropas visigodas comandadas pelo rei Rodrigo (ou Roderick). A batalha, ganha pelos primeiros, marcou o fim do Reino Visigótico e o início do domínio muçulmano na Península Ibérica. A ocupação iniciada com a esta batalha duraria sete séculos, tendo fim apenas em 1492, com a conquista de Granada pelos reis católicos Fernando e Isabel.

O reino Visigodo da Hispânia iniciou a sua formação no século V, em decorrência dos deslocamentos bárbaros em direção ao oeste, nos séculos finais de existência do Império Romano. O rei Rodrigo[i] foi provavelmente o último rei do reino. O período de seu reinado foi caracterizado por um período de divisão entre a nobreza, o que levou a uma polarização entre Rodrigo e o rei Wytisa, o penúltimo rei dos Visigodos, entre 702 e 710. Provavelmente os islâmicos aproveitaram-se dessa divisão para a conquista da região.

Alguns historiadores afirmam, porém, que os muçulmanos terão vindo em auxílio do rei Vitiza, e que o conde Julião, de origem bizantina, os auxiliou por simpatia pelo antigo rei. De qualquer modo, foi encarregado de comandar a invasão o já citado general TariK, que foi de facto o primeiro invasor muçulmano da Hispânia tendo desembarcado sem oposição no Calpe - antiga denominação de Gibraltar, de onde avançou através da Península, defrontando as hostes visigóticas nas margens do rio Guadalete. O exército de Rodrigo, muito inferior em número às hostes árabes, não tinha a menor possibilidade de resistir ao tremendo choque.

A Batalha de Guadalete travou-se provavelmente entre os dias 19 e 26 de Julho de 711, nas margens do rio Guadalete, num local próximo à lagoa de Janda na atual província de Cádiz, na Andaluzia, no sul da actual Espanha,

Estima-se que Rodrigo tenha conseguido reunir quase 100 mil homens contra as tropas islâmicas de Tarik, mas não há certeza sobre estes números e poucas fontes existem sobre o desenrolar da batalha. O que se sabe é que após a travessia do estreito de Gibraltar pelos islâmicos, a Batalha de Guadalete foi a última tentativa de conter o avanço islâmico.

Aa batalha, invulgarmente violenta, inicia a perda definitiva do império. Tarik, o muçulmano, vencedor do primeiro grande combate travado na Península entre mouros e cristãos, prosseguiu o seu vitorioso avanço, tomando a cidade de Toledo. Outro chefe mouro, de nome Muça ibne Noçáir, desembarcou, por seu turno, na costa espanhola e conquistou Sevilha. Não tardou muito que Mértola, Mérida, Niebla e Ossuna (onde Viriato e os seus lusitanos haviam derrotado as imensas legiões romanas de Fábio Emiliano) caíssem em poder dos mouros.

A vitória sobre as tropas de Rodrigo foi esmagadora. A divisão interna do Reino Visigodo favoreceu os islâmicos, que em cinco anos conseguiram conquistar quase toda a Península Ibérica. Não há certeza se Rodrigo foi morto na Batalha ou conseguiu fugir, refugiando-se na região da Lusitânia, provavelmente próxima a Viseu. Os grupos que não aceitaram a subjugação aos islâmicos conseguiram refugiar-se no norte da península, na região das Astúrias, onde iria dar-se início a um lento processo de reconquista dos territórios administrados pelos islâmicos.

Segundo muitos historiadores, a razão da fácil entrada das forças muçulmanas na Península, deveu-se à rejeição dos povos peninsulares ao domínio dos seus senhores visigodos, um povo germânico que controlava a Península com mão-de-ferro.

Nenhum dos vários povos peninsulares tinha o direito de ter homens armados, e, quando foram necessários homens para lutar, eles não tinham armas para o fazer. Mas, mesmo que as tivessem, não era certo que eles lutassem contra os muçulmanos invasores, pois os visigodos eram provavelmente vistos como tão ou mais opressores que os árabes muçulmanos.

A vitória dos dois chefes muçulmanos, porém, envaideceram-nos e excitaram de tal modo as suas ambições pessoais que chegaram ao ponto de entre si se combaterem, até que o califa lhes ordenou que abandonassem a Península, enviando-os para outros lugares, e nomeou, para os substituir, Adbul-el-Aziz, que foi o segundo vice-rei mouro na Península Ibérica.

Pensa-se que Pelágio das Astúrias conseguiu escapar da batalha, indo formar o Reino das Astúrias e constituindo a única resistência à ocupação árabe da Península Ibérica.

Os islâmicos conseguiram após a vitória manter um convívio, em muitos momentos pacíficos, com os habitantes da Península, cobrando impostos e desenvolvendo um reino culturalmente rico, o de Al Andaluz.





[i] Rodrigo (ou Roderick, que derivou para Roderico), descendente dos reis visigodos da dinastia dos Baltos, subiu ao trono depois de ter vencido o rei Vitiza, ao qual mandou arrancar os olhos.