No dia 18 de Julho de 1936, o
General Francisco Franco insurge o Exército contra o governo republicano.
Ocorre que nas principais cidades, como a capital Madrid e Barcelona, a capital
da Catalunha, o povo saiu as ruas e impediu o sucesso do golpe. Milícias
anarquistas e socialistas foram então formadas para resistir o golpe militar.
A Guerra Civil Espanhola,
desencadeada em 1936, foi motivada pelas fortes rivalidades existentes entre as
fações políticas de esquerda e de direita. Em 1931, depois do estabelecimento
da Segunda República em Espanha, a ala socialista moderada e a classe média
liberal republicana uniram-se numa coligação que instituiu um programa de
reformas sociais, religiosas e militares. Contudo, esta coligação foi desfeita
devido a interferências do setor da direita.
Nas eleições de Novembro de 1933,
os socialistas concorreram sozinhos, na esperança de conseguirem organizar um
governo unicamente socialista. As suas expectativas foram goradas, porque o
sistema favorecia as coligações. Deste modo, com alguma surpresa, a vitória
coube à aliança de direita. No ano de 1934, as reformas propostas entre 1931 e
1933 foram totalmente esquecidas.
Neste ano, os socialistas, anarquistas
e comunistas juntaram-se em protesto nas cidades mineiras das Astúrias, temendo
a entrada do CEDA, um partido católico de direita, no governo, pois este
poderia significar o estabelecimento de um estado autoritário.
A repressão deste movimento de
contestação foi muito violenta, conduzindo à reunião da esquerda na Frente
Popular. Esta aliança esquerdista saiu vitoriosa nas eleições de 1936, apesar
de não alcançar uma confortável vantagem sobre os seus diretos opositores. No
entanto, a vitória permitiu-lhe retomar as reformas de 1931. A direita não se
conformou com a derrota, e prontamente se preparou para a guerra, sob a
liderança do "cabecilha" da conspiração, o General Emílio Mola. A
Falange, o partido fascista em formação, espalhava o terror e a violência para
obrigar à utilização da força militar.
A resposta da ala esquerda acabou
por resultar no assassinato do líder monárquico José Calvo Sotelo, a 13 de Julho.
Intensificava-se a instabilidade e começava a violência. Os levantamentos
conservadores de 18 de Julho nas capitais rurais de província, como Leão e
Castela a Velha, tiveram sucesso. Já o mesmo não sucedeu nas grandes cidades
industriais do Norte asturiano onde os trabalhadores fabris e mineiros
impediram qualquer tentativa de golpe de direita. No Sul, o apoio era dado à
esquerda, embora nas grandes cidades, como Cádiz e Sevilha, a resistência das
classes trabalhadoras fosse destruída. Nesta fase, os rebeldes falangistas
controlavam cerca de um terço de Espanha, incluindo a Galiza, Leão, Castela a
Velha, Aragão e parte da Extremadura, em conjunto com Huelva, Sevilha e
Córdoba.
De início, os revoltosos
confrontaram-se com alguns problemas com as suas milícias mal preparadas e
tiveram de recorrer a mercenários. A vantagem dos rebeldes residia no exército
mercenário africano, liderado pelo General Franco, que estava bloqueado em
Marrocos pelos navios de guerra republicanos, cujas tripulações se tinham
amotinado contra os seus dirigentes direitistas. Os falangistas voltaram-se
então para o estrangeiro, pedindo auxílio a Hitler e a Mussolini. Os dirigentes
alemão e italiano viram então a possibilidade de causar problemas à França, e
ambos decidiram providenciar ajuda aerotransportada para tornar possível uma
ponte aérea entre Marrocos e Sevilha.
Cerca de 15 000 homens
atravessaram para Espanha num prazo de 10 dias. Um falhado golpe de estado
tendia assim para uma Guerra Civil. Mais discretamente, Salazar permitia a
utilização do território português como base de apoio de retaguarda ou via de
entrada de armamento, enquanto encaminhava para a frente de combate os
voluntários ("viriatos"), em número indeterminado, talvez de alguns
milhares. Por outro lado, a intervenção da Sociedade das Nações, que pretendeu
instituir mecanismos de conciliação e arbitragem, fracassou totalmente, criando
situações de impasse que desequilibravam ainda mais o balanço de forças, pois
manietavam frequentemente o governo eleito de Madrid, enquanto deixavam as mãos
livres a Franco. Durante a guerra civil de Espanha o mundo assistiu, pela
primeira vez, no nosso século, ao emprego da rádio como meio de propaganda de
grande eficácia (aqui ainda, a propaganda franquista, muitas vezes de extrema
agressividade, revelou maior eficácia que a sua congénere republicana). A
República, ao contrário dos revoltosos, não teve uma grande ajuda quando
procurou apoio junto das potências democráticas. O primeiro ministro francês,
Léon Blum, inicialmente partidário da fação republicana, esmoreceu a sua
posição face à oposição interna e ao receio britânico de provocar uma guerra
geral.
A União Soviética parecia ser a
última hipótese. No entanto, com muito ou pouco apoio, o conflito
internacionalizava-se e despertava paixões por todo o mundo. Os falangistas do
mais que provável líder, Franco, já o vimos, receberam forte auxílio por parte
da Itália e da Alemanha. Era a ocasião ideal para testar as novas máquinas de
guerra - as tropas de Hitler experimentaram os métodos da Blitzkrieg, que lhes
iriam dar grandes vitórias nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial e Hitler
apressou-se a enviar para o terreno a tristemente célebre legião Condor. As
fileiras republicanas apenas engrossaram com o auxílio soviético e com os
heróis românticos de todo o mundo, simbolizados por E. Hemingway,
correspondente de guerra e soldado. Os rebeldes nacionalistas lançaram então
duas bem-sucedidas campanhas. Enquanto Mola atacava a província basca de
Guipúzcoa para isolar a França, o exército mercenário africano de Franco
avançava sobre Madrid, deixando atrás de si um rasto de morte e destruição. A
10 de Agosto, os dois blocos de nacionalistas faziam a junção, consolidando a
sua posição em Agosto e Setembro. As tropas do General José Henrique Varela
ligaram Sevilha, Córdoba, Granada e Cádis, numa altura em que os republicanos
não tinham possibilidade de igualar os sucessos nacionalistas, somando derrotas
sucessivas. A 21 de Setembro, os líderes dos revoltosos escolheram o General
Franco, em Salamanca, para comandante em chefe. Nesse dia, este militar dirigiu
as suas colunas para o sudeste de Madrid, no sentido de libertar a guarnição de
Toledo, o que fez perder uma excelente oportunidade de atacar a capital antes
desta preparar a sua defesa.
Então, abrandou o ritmo da guerra
para purgar o território capturado. Confirmado como Caudilho e chefe de Estado
a 1 de Outubro, Franco controlava a zona central, enquanto os republicanos
enfrentavam divisões internas entre comunistas, socialistas e anarquistas. A 7
de Outubro, o exército africano marchava sobre Madrid, uma cidade cheia de
refugiados e com graves problemas de subalimentação. O atraso de Franco
permitira a reorganização da defesa de Madrid, ajudada pela chegada de armas
soviéticas e das colunas de voluntários conhecidas como Brigadas Internacionais.
No entanto, a 6 de Novembro, o governo debandou para Valência, deixando Madrid
nas mãos do General José Miaja. Apoiado pela Junta de Defesa, dominada pelos
comunistas, reuniu a população deixando a planificação militar ao seu chefe de
pessoal, o bem-sucedido coronel Vicente Rojo. Embora o general Franco tivesse
tido a habilidade para chamar até si as germânicas Legiões Condor, em Novembro
teve de aceitar o insucesso do seu assalto. A cidade aguentou-se durante 28
meses. Franco reagiu tentando circundar a capital. Apesar das derrotas nas
batalhas de Boadilla (Dezembro de 1936), de Jarama (Fevereiro de 1937), e de
Guadalajara (março de 1937), a vantagem era ainda dos nacionalistas, que em Março
deram início a um ciclo de batalhas que lhes permitiram capturar o Norte de
Espanha nas estações quentes de 1937. O começo desta ofensiva partiu do ataque
das tropas de Mola ao país Basco, já de si desmoralizado pelos bombardeamentos
da Legião Condor.
A sua capital, Bilbau, caiu a 19
de Junho, depois da destruição de pequenas cidades como Guernica, localidade
imortalizada num quadro com o mesmo nome da autoria de Pablo Picasso e onde
morreram cerca de 9 000 habitantes massacrados pela aviação alemã.
Em seguida, as forças
nacionalistas, bem apetrechadas com tropas e equipamento italiano, capturam
Santander a 26 de Agosto e as Astúrias em Setembro e Outubro. A superioridade
desta fação do conflito aumentou com a posse da riqueza mineira e da indústria
do Norte. O coronel Vicente Rojo tentou então, através de várias ofensivas,
suster o avanço nacionalista, em cidades como Brunete (outra localidade cuja
população foi massacrada ou deportada), Saragoça e Teruel, mas não cumpriu
totalmente os seus objetivos, pois era imparável a máquina de guerra dos
nacionalistas. Estes tentaram e conseguiram tirar partido da exaustão dos
republicanos desmoralizados com a derrota em Teruel. As tropas de Franco
avançaram para o vale do Ebro e a 15 de Abril atingiram o mar. Em Julho, Franco
em vez do assalto a Barcelona, dirigiu um maior ataque sobre Valência. Os
republicanos tentavam resistir a todo custo às forças do General Franco, que os
pretendia aniquilar totalmente. Em Novembro, a República estava quase
completamente derrotada. A cidade anarco-esquerdista de Barcelona caía às mãos
dos nacionalistas a 26 de Janeiro de 1939 e Madrid a 4 de Março. Entretanto, o
comandante do Exército Republicano do Centro, o coronel Segismundo Casado,
revoltava-se contra o governo republicano numa tentativa de parar com a
violência. A sua tentativa de negociar com os vencedores foi rejeitada por
Franco. A pouco e pouco as tropas republicanas foram-se rendendo. A 27 de Março,
os nacionalistas entraram na cidade de Madrid e os republicanos foram exilados.
Esta vitória de Franco inaugurou, assim, uma ditadura de 38 anos. A Guerra
Civil Espanhola saldou-se numa perda de 400 000 mortos em combate, 1 000 000 de
presos e cerca de 100 000 execuções, conhecidas num espaço de tempo
compreendido entre 1939 e 1943. Não se conhece um número exato para as
execuções de civis e fugitivos. Para além das perdas humanas, há que reter que
o país ficou praticamente destruído e sofreu danos no seu parque industrial e
na rede de comunicações que só começariam a ser reparados durante a década de
60.
Fontes: Variadas
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