domingo, 10 de fevereiro de 2019

Efeméride de 9 de Fevereiro - A 9 de Fevereiro de 1917, Durante a Primeira Guerra Mundial, A Alemanha dá início à guerra submarina total.


A 9 de Fevereiro de 1917, Durante a Primeira Guerra Mundial, A Alemanha dá início à guerra submarina total.

Ao longo deste conflito, o submarino (submersível)[i] não se apresentou argumentos para enfrentar com êxito unidades navais militares, ao contrário do que sucedeu contra os navios mercantes; simplesmente porque à superfície não dispunha em geral mais do que uma peça de artilharia de calibre reduzido e em imersão tanto a sua velocidade como o raio de acção eram diminutos.

 Mesmo assim, um pouco por acaso, o submarino alemão U-9 de 493/611 toneladas de deslocamento, comandado por Weddingen, torpedeou três cruzadores-couraçados da classe Aboukir, quando estes patrulhavam o canal da Mancha na estreita zona entre a costa holandesa e os campos de minas. Pelas 6.30 do dia 22 de Setembro de 1914, o Aboukir foi atingido por um torpedo, julgando o comandante que o navio embatera numa mina.

No Cressy e no Hogue ninguém viu o submarino, pelo que ambos foram ajudar o Aboukir, não tomando precauções, permitiram assim que o U-9 pudesse disparar um torpedo contra cada um dos navios que se afundaram imediatamente com perda de 1.500 vidas. Tanto o Aboukir como o Cressy e o Hawk eram navios fortemente armados de 11.700 toneladas construídos no início do Século. Possuíam duas peças de 233,7 mm e 12 de 152,4 mm.

 Foi o maior desastre sofrido pela Royal Navy em trezentos anos de existência, escreveu o historiador norte-americano Robert O. Connell na sua brilhante História da Guerra. Os britânicos recusaram-se a aceitar que tão portentoso desastre tinha sido provocado pelo pequeníssimo submarino U-9 de 493t de deslocamento à superfície e 611t imerso, equipado com 4 tubos lança torpedos e accionados por dois motores Körting a querosene e dois motores eléctricos. Fazia 14 nós à superfície e 8 nós mergulhado, sendo tripulado por 29 homens. Contudo, e ao contrário do que pareceu na altura, não foi a vitória do submarino contra o navio de guerra de superfície. Mesmo antes de existir qualquer defesa contra o submarino, este revelou-se sempre pouco eficaz contra navios rápidos em formação ou mesmo individualmente.

No início do conflito, o submarino era visto com desprezo pelos britânicos, mais como uma mina móvel para a defesa de portos e zonas limitadas da costa, não necessitava de possuir uma grande raio de acção.

Mesmo assim, quando a guerra começa, a marinha inglesa contava com 80 unidades, enquanto os submarinos alemães não passavam de 38. Ao longo do conflito, os britânicos construíram mais 250 unidades e os alemães mais 300 e foram estes que fizeram efectivamente a guerra submarina.

Uma das primeiras ações registadas envolveu o U-15 e o cruzador ligeiro Birmingham que ao avistar este submarino avançou rapidamente contra ele cortando-o em duas metades, a falta de velocidade do U-15 não permitiu qualquer evasiva.

O almirantado britânico não queria acreditar no sucesso, mas foram muitas as testemunhas e as marcas na quilha do Birmingham mostraram em doca seca que o U-15 foi cortado e afundado sem que qualquer dos seus 29 tripulantes fosse salvo. Foram as primeiras vítimas de uma longa lista de 13 mil mortos registados pela arma submarina alemã durante a I Guerra Mundial.

Novos ataques foram sendo efectuados. Num dado dia com o tempo enevoado como de costume naquelas águas também agitadas do Mar do Norte, quando de repente Hersing, comandante do U-21, vislumbra quase na frente dos seus tubos lança-torpedos o cruzador Pathfinder. O U-21 mergulhou e lançou um torpedo que acertou em cheio, fazendo explodir o paiol de munições. Em segundos, o Pathfinder de 2.940t desfez-se arrastando para o fundo os seus 259 infelizes tripulantes.

 Foram as primeiras vítimas da guerra submarina. Mas, os britânicos aprenderam rapidamente a lição e dez dias depois, o E-9 da armada inglesa sob o comando de Max Horn consegue entrar na baía alemã e afunda o cruzador ligeiro Hela de 2.049t a seis milhas da ilha fortificada de Helgoland. Depois veio o sucesso do U-9 de Otto Wedinger contra os três cruzadores couraçados britânicos, totalizando 36 mil toneladas de deslocamento afundados em poucos minutos.

O submarino tinha conquistado um lugar importante na estratégia naval; talvez bem mais do que valia efectivamente, já que a arma foi capaz de travar uma guerra importante contra a navegação mercante, mas nunca conseguiu complementar com êxito a acção das grandes esquadras de superfície. Os submarinos alemães nem conseguiram infligir perdas apreciáveis aos muitos cruzadores ligeiros e auxiliares que bloqueavam o acesso da navegação mercante alemã aos seus portos de origem.

Se o couraçado foi a arma dissuasora por excelência, o submarino significou a capacidade ofensiva a qualquer momento, mas apesar disso limitado, dada a sua inoperância contra forças protegidas por numerosas unidades ligeiras e rápidas do tipo torpedeiros ou contra-torpedeiros. Só depois de os alemães verificarem a natureza da verdadeira inoperância do submarino como força de atrito contra as grandes esquadras é que lançaram os seus submarinos contra os navios mercantes.

Em Novembro de 1914, a Grã-Bretanha declara oficialmente o Mar do Norte como zona de guerra, não permitindo a passagem de qualquer navio para países neutros como a Noruega e outros sem vistoria prévia e só através do Canal da Mancha se transportassem uma variedade e quantidade limitada de abastecimentos tidos como destinados exclusivamente a esses países.

Nessa altura, a Home Fleet deixou de ter portos de abrigo, excepto enseadas escondidas ao longo das costas escocesas e irlandesas do norte. Quase 500 navios estavam como que derrotados por uns minúsculos submarinos que, afinal, não tinha tanto poder assim. Para grande azar dos britânicos, no dia 29 de Outubro, o U-27 comandado por Wegener depara a poucas milhas da costa alemã com o submarino britânico E-3 de 655t. Wegener ordena a imersão imediata e guiado pelo periscópio consegue colocar-se em posição de torpedear o E-3, mostrando que os submarinos até podiam afundar os seus congéneres. Dois dias depois, enquanto o alto-comando alemão discutia se devia ou não atacar navios mercantes em retaliação pela destruição sistemática da marinha civil germânica em todos os mares do Mundo e do bloqueio a que a Alemanha estava submetida, o U-17 resolve afundar o navio mercante britânico Glitra segundo as regras da Lei Internacional em vigor, ordenando a saída de toda a tripulação para as embarcações salva-vidas e depois de examinar a carga, tida como destinada a fins militares, já que era constituída por chapas de aço, carvão e óleos. O afundamento foi feito por abertura das válvulas de fundo do navio. O comandante do U-17, Feldenkircher, ainda rebocou os escaleres do Glitra até às proximidades da costa norueguesa.

A legalidade desse ataque baseou-se na declaração unilateral por parte da Inglaterra de considerar o Mar do Norte como zona de guerra. Mas, pouco depois, os submarinos alemães passaram a atacar a navegação no Canal da Mancha sem aviso prévio, dado não terem tempo para em espaço tão limitado e tão cheio de torpedeiros e destrutores actuarem no âmbito dos pruridos da lei, além de que a totalidade dos navios ingleses que atravessavam a Mancha transportavam tropas, armas e munições. Foi até bastante tarde que se decidiram a fazer guerra aos transportes militares porque julgaram primeiro que podiam afundar grandes unidades de combate britânicas.

 Mesmo assim, a preferência continuava a ir para navios de guerra propriamente ditos, como o transporte de aviões Hermes afundado a 31 de Outubro, a canhoneira Niger torpedeada a 11 de Novembro.

Apesar dos perigos a que se expunham, os submarinos alemães na Mancha, ainda tentaram atacar a navegação mercante dentro do espírito da lei. Sucedeu isso com U-21 de Otto Hersing que ordenou a paragem do cargueiro francês Malachite, sem que fosse obedecido; o navio francês fugiu ziguezagueando de modo a não ser atingido pelo canhão de 37 mm do submarino alemão.

A partir desse falhanço, na Mancha, a arma submarina alemão preferiu o ataque imediato de preferência a torpedo, sem ter, contudo, conseguido evitar a navegação aliada na zona, dados os muitos campos de minas aí espalhados. Mas, nestes primeiros meses do grande conflito mundial, a guerra no mar foi mais intensa nos mares longínquos em que as poucas forças alemãs foram obrigada a bater-se até à sua destruição final e completa.

A 9 de Fevereiro de 1917, o governo alemão anunciou que iria iniciar uma campanha submarina “sem restrições”; ou seja, os seus submarinos torpedeariam quaisquer navios que tentassem alcançar portos franceses ou britânicos. Essa decisão complicou a situação dos Aliados, pois a Grã-Bretanha dependia de fornecimentos marítimos para sua própria sobrevivência.



[i] Submersível é um veículo projetado para operar debaixo d'água. O termo submersível é frequentemente usado para se diferenciar de outros veículos conhecidos como submarinos, isso porque o submarino é um navio totalmente autónomo da superfície.

Efeméride de 10 de Fevereiro - Chegam ao Tejo os restantes três Submersíveis da classe “Espadarte”


Submarinos em Portugal – A 10 de Fevereiro de 1918 chegam ao Tejo os restantes três Submersíveis da classe “Espadarte” constituindo desse modo a 1ª Esquadrilha de Submarinos (1913 – 1934)

Nos fins do século XIX inícios do Século XX começaram a surgir um pouco por toda a parte, leia-se, por todos os países ocidentais, os primeiros projectos de submarinos com utilização militar. Em Portugal não se ficou para trás e, nos finais do século XIX o Primeiro-tenente João Fontes Pereira de Melo desenvolve os primeiros planos de um submarino com características e potencial para uso militar. Projecto esse que apresentou aos poderes de então.

Após vários avanços e recuos, o Primeiro-tenente Fontes viu, finalmente, aprovada a possibilidade da construção de um modelo à escala que permitisse avaliar as capacidades do seu projecto principalmente no que dizia respeito às condições de estabilidade e do sistema de visão com que seria equipado e que seria o mesmo a utilizar nos submarinos a construir. 

O modelo foi então construído no Arsenal da Marinha, antigas instalações de manutenção e reparação naval da Marinha Portuguesa localizadas em Lisboa. Estavam implantadas a Poente do Terreiro do Paço, sensivelmente no mesmo local da antiga Ribeira das Naus e da Ópera do Tejo, destruída pelo Terramoto de 1755. Até à implantação da República eram designados por Arsenal Real da Marinha, constituído em ferro tinha um comprimento total de aproximadamente 12 metros.

As várias experiências de avaliação decorreram durante o mês de Outubro de 1893, junto ao dique do Arsenal da Marinha, tendo embarcado o Primeiro-tenente Fontes mais dois operários.

Apesar das experiências terem decorrido como planeado o mesmo não conseguiu convencer as autoridades do interesse para a aquisição e construção do seu submarino.

Só em Junho de 1910, então o Ministro da Marinha, João de Azevedo Coutinho, encomendou aos estaleiros Italianos da Fiat San Giorgio, o primeiro submersível português, o "ESPADARTE". Comandado por Joaquim de Almeida Henriques[i], partiu a 22 de Maio de 1913 de Spezia e chegou a Lisboa a 5 de Agosto do mesmo ano.

Assim, em 1913, Portugal recebeu o seu primeiro submersível, passando a ser um dos poucos países do mundo a potenciar as vantagens desta arma. Esta aposta do então Ministro da Marinha, é de realçar numa época onde os submersíveis eram vistos como uma arma pouco nobre e onde o seu estágio de desenvolvimento era rudimentar.



Com o decorrer da primeira Grande Guerra ressaltou o valor militar desta nova arma e em 1915 o Governo Português encomendava ao mesmo estaleiro mais três submersíveis: os "FOCA", "GOLFINHO" e "HIDRA", que tal como o "ESPADARTE" seriam concebidos pelo famoso engenheiro Laurenti.


Estes quatro submersíveis viriam a constituir a primeira Esquadrilha que teve prolongada vida operacional da qual se destacam as patrulhas de proteção das barras do porto de Lisboa durante o primeiro conflito Mundial, garantindo uma componente dissuasora.



Em princípios de 1927, o envelhecimento do "ESPADARTE" começou a causar preocupações que viriam a culminar com o seu desarmamento em 31 de Maio de 1928, seguindo-se os restantes submersíveis, tendo o Hidra sido abatido ao efetivo da Armada em 1935.


Características dos Navios da 1ª Esquadrilha (1913 a 1934) 

Produzidos nos estaleiro da Fiat – Em San Giorgio, Spezia, Itália, derivaram directamente do Modelo Laurenti, sendo conhecidos como Classe F.  Foi o modelo base de submersível utilizado pela marinha italiana na I Grande Guerra, tendo ganho prestígio e reconhecimento de fiabilidade, tendo sido vendido não só para Portugal, mas também para o Brasil, Espanha, Suécia e Rússia.

Face aos excelentes resultados obtidos com o NRP Espadarte, no final de 1915 o Governo Português encomendou em Itália mais três submersíveis da Classe F: o “Foca”, o “Golfinho” e o “Hidra”, os quais largaram do porto de La Spezia em Dezembro 1917 em direcção a Lisboa.

Com estes quatro Submersíveis dá-se início à arma submarina em Portugal e forma-se a 1ª Esquadrilha (1913 a 1934) 

 Em pleno conflito mundial os três submersíveis cruzaram o Mediterrâneo, em formação com o NRP Patrão Lopes e outras unidades aliadas (primeiro italiana e posteriormente francesas). Num percurso onde encontraram fortes intempéries  e zonas assoladas por submarinos inimigos, chegaram a presenciar o torpedeamento de navios mercantes nas suas proximidades. Após a longa viagem de oito etapas chegaram a Lisboa a 10 de Fevereiro de 1918.

A Base operacional da Esquadrilha ficou instalada na Doca de Belém até ao final da guerra. 

A principal missão táctica dos submersíveis da 1ª Esquadrilha foi a de vigilância costeira e guerra anti-submarina, o que levou à definição de uma zona de operações compreendida entre as Berlengas e Sines.  

A presença dos submersíveis nacionais à entrada do Tejo e o conhecimento deste facto por parte do inimigo, reforçava o poder dissuasor destas unidades navais, obrigando o inimigo a restrições tácticas, como a necessidade de navegarem nas zonas patrulhadas preferencialmente em imersão, diminuindo-lhes o campo de visão e por conseguinte a capacidade de detecção de alvos.

Na época a identificação de um submarino à superfície não era fácil e era impossível em imersão, o que implicava a necessidade de os atacar de imediato após a localização para que estes não tivessem tempo de imergir e fugir. Por isso a regra era ”antes destruir um submarino aliado do que poupar um submarino inimigo”. Aos submarinos cabia-lhes imergir rapidamente em todas as situações, se bem que existiam alguns procedimentos de identificação, como o lançamento de foguetes de cores convencionadas ou a pintura do casco com desenhos pré-convencionados, neste caso para identificação aérea.

A Vida a Bordo

O momento da imersão em muito era parecido com um naufrágio controlado. A capacidade de controlar de forma rigorosa a reserva de flutuabilidade, anular a gravidade e vencer a força de impulsão era parte da arte de navegar. Pela falta de instrumentos e precisão dos existentes havia que acautelar a profundidade, por causa da resistência máxima do casco ou para não chocar com o fundo. Outro factor era a alteração da propulsão que variava da superfície para a imersão, de combustão interna para eléctrica. Por último, e de grande relevância, era a variação da densidade da água podia apresentar grandes variações, principalmente junto à barra do rio com o sentido das marés, por causa da água doce.

Os submersíveis da 1ª Esquadrilha eram máquinas de 45m e totalmente manuais. A navegabilidade em imersão, com toda a necessária gestão de peso entre os tanques de compensação e os tanques externos, tinha ainda por vezes de aproveitar a deslocação da guarnição no sentido longitudinal do navio para aproveitamento do peso humano.

Em imersão era garantido à guarnição uma respiração do ar à pressão atmosférica normal, através de acumuladores de ar comprimido. No entanto o inquinamento do ar tornava-se o maior problema, sendo que uma imersão prolongada poderia provocar uma percentagem anormal de oxigénio, anidrido carbónico, humidade, etc. , no ar respirado e não renovado. Para além do inquinamento do ar, existia o problema da humidade e consequentemente o de temperatura. Depois de algumas horas de imersão a humidade tendia a aproximar-se do estado de saturação e a inevitável subida de temperatura no interior do navio em imersão, provocava a existência de abundante condensação nas paredes frias do casco. A respiração tornava-se difícil o que se reflectia na capacidade física dos homens. A condensação provocava ainda a deterioração do material e interferia com os sistemas eléctricos do submersível. Outro problema grave que poderia surgir, resultaria de uma eventual falta de estanquicidade, que ao juntar água salgada às baterias do submersível provocava a libertação de gases de cloro altamente tóxicos.

Em Missão de Vigilância

Em tempo de guerra os submersíveis eram escoltados por uma unidade de superfície até à zona de patrulha. No regresso eram igualmente escoltados para entrarem na barra. Durante o tempo de patrulha, quando detectados eram tratados como submarinos inimigos e nesse sentido eram lançados alertas por TSF sobre a sua presença a toda a navegação.

Relata-nos uma destas situações o comandante Joaquim de Almeida Henriques, quando foi detectado numa dessas situações de alerta lançado por TSF, em 6 de Setembro de 1918, frente ao Cabo da Roca. O NRP Golfinho encontrava-se em imersão parcial à tona de água, para poupar energia eléctrica e para  ter um campo de observação mais amplo sobre o horizonte, quando foi avistado pelo posto de observação colocado no Farol do Cabo da Roca. A partir deste foi transmitido um alerta de presença de submarino inimigo, tendo os navios que faziam rocega de minas e os patrulhas que se encontravam de prevenção se dirigido para a zona suspeita.

Um dos navios ao aproximar-se abriu fogo sobre o NRP Golfinho, mas este manobrou de imediato e submergiu, aflorando à tona de água momentaneamente para observar através dos seus dois periscópios a posição dos navios que o perseguiam. O NRP Golfinho controlou bem a situação porque tinha a vantagem tecnológica do seu lado, uma vez que os navios não possuíam equipamento de escuta submarina.

Estes seguiram para na direcção de pressuposta progressão do submersível, mas este submerso dirigiu-se na direcção oposta.  Durante as manobras evasivas o NRP Golfinho passou a uma curta distância de um paquete e da sua escolta que regressavam de França sem o detectar. O submersível  regressou mais tarde à base normalmente, escoltado e sem mais imprevistos.





[i] Contra-Almirante Joaquim de Almeida Henriques, Nascido a 28 de maio de 1875, em Leiria, ingressou na Escola Naval em novembro de 1893, como aspirante de marinheiro de 2ª classe, e foi promovido a guarda-marinha em Outubro de 1895. Ficou conhecido como o "Pai dos submarinos da Marinha Portuguesa".


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Efeméride de 7 de Fevereiro - Tratado de Maastricht

A 7 de Fevereiro de 1992 era assinado entre os então 12 Estados-membros da Comunidade Europeia, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Espanha e Reino Unido, o Tratado de Maastricht dando origem ao que hoje é a União Europeia.

Com a queda do Muro de Berlim, a 9 de Novembro de 1989, e o fim da Guerra Fria o embate de décadas entre o comunismo e o capitalismo praticamente chegou ao fim, resultando na vitória do capitalismo. O fim do período de confronto ideológico que sucedeu á Segunda Guerra Mundial permitiu uma maior aproximação dos países integrantes do continente europeu como um todo, uma vez que durante a Guerra Fria o leste europeu agregava os países que faziam parte do bloco comunista e por isso encontravam grandes dificuldades de afirmação e aceitação no ocidente

Desde a década de 1950 que os países da europa ocidental iniciaram uma política de união visando o crescimento e a defesa integrados. Os primeiros blocos então criados uniam poucos países, ligando-se em torno de interesses muito específicos e resultou de factores externos e internos. No plano externo, o colapso do comunismo na Europa de Leste e a perspectiva da reunificação alemã conduziram a um compromisso no sentido de reforçar a posição internacional da Comunidade. No plano interno, os Estados-Membros desejavam aprofundar, através de outras reformas, os progressos alcançados com o Acto Único Europeu[i].

O enfraquecimento do bloco comunista proporcionou a adesão de novos países ao capitalismo e fez diversificar a riqueza económica europeia, uma vez que os recursos naturais e as produções tecnológicas se encontram espalhadas pelo continente, houve a abertura necessária para dar início á integração da Europa num único bloco possibilitando dessa forma o crescimento económico de todos.

Em 7 de Fevereiro de 1992, foi então assinado, na cidade holandesa de Maastricht, um tratado que recebeu o mesmo nome da cidade, o Tratado de Maastricht, com entrada em vigor em 1 de Novembro de 1993.

Este tratado representou um marco na união da Europa fixando a integração económica e consequente unificação política. O novo bloco que se formou no continente substituiu a anterior Comunidade Europeia por um grupo chamado União Europeia.

O tratado estabeleceu metas para facilitar a circulação das pessoas, dos produtos, dos serviços e do capital pelos países aderentes com a finalidade de garantir a estabilidade política na Europa após tantos períodos de conturbação.

Para alcançar tais objetivos, o tratado foi elaborado com vistas a englobar três pontos fundamentais. O primeiro deles seria a abordagem de assuntos sociais e económicos que permitissem o crescimento e desenvolvimento da Europa, tratando da agricultura, do ambiente, da saúde, da educação, da energia, da investigação e de desenvolvimento.

O segundo tópico encarregar-se-ia da resolução dos problemas relacionados com o bem comum, como política externa e segurança. E, por fim, a cooperação policial e judiciária em matéria penal.

Já no século XXI a União Europeia conseguiu alcançar uma das metas previstas no tratado, a união monetária com a introdução do Euro, 1 de Janeiro de 2002, como moeda única, abrangendo 19 dos 28 países da União, Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos e Portugal, permitindo a adoção de critérios económicos homogéneos para o crescimento integrado.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Maastricht
http://www.historiasiglo20.org/europortug/maastricht.htm





[i] O Ato Único Europeu foi assinado a 17 de Fevereiro de 1986 e estabeleceu entre os Estados-Membros as fases e o calendário das medidas necessárias para a realização do Mercado Interno em 1992

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Efeméride de 6 de Fevereiro – Nascimento do Padre António Vieira

António Vieira (1608-1697) foi um religioso, escritor e orador português, a principal expressão do Barroco Literário da língua portuguesa. Escreveu cerca de 200 sermões, nos quais revela conhecimento político, social e religioso.

António Vieira, conhecido como Padre António Vieira nasceu em Lisboa, na Rua do Cônego, próximo da Sé, no dia 6 de Fevereiro de 1608. Filho de Cristóvão Vieira, funcionário da coroa, e de Maria de Azevedo tinha sete anos quando seu pai foi nomeado para o cargo de escrivão em Salvador. Estudou no colégio dos jesuítas e com 15 anos ingressou na Companhia de Jesus, iniciando seu noviciado.

Em 1626, António Vieira, ainda noviço, ensinou retórica e foi encarregado de redigir o trabalho da Companhia de Jesus, em carta anual, remetida para os superiores em Lisboa. Em 1633 estreia no púlpito com o sermão “Maria, Rosa Mística”. No ano seguinte ordena-se padre.

Como pregador, o Padre António Vieira, defendia a colónia, clamava pela expulsão dos holandeses da Bahia e de Pernambuco, e empenhava-se na revitalização do catolicismo. Defendeu incansavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).

António Vieira defendeu os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
Em 1641, com 33 anos, Padre António Vieira retornou a Lisboa, em um momento crucial da história portuguesa: depois de seis décadas de subordinação ao trono espanhol, restaurava-se o reinado de Portugal com Dom João IV[i] (1604-1656), o primeiro monarca da casa de Bragança. As pregações do Padre António Vieira, cheias de patriotismo conquistaram o rei e a rainha Dona Luísa.

O Padre António Vieira torna-se o maior pregador da corte, conselheiro de Dom João IV, mediador e representante de Portugal em relações económicas e políticas em Paris, Amsterdão e Roma. Enfrentou complicadas intrigas palacianas. Tornou-se um contemporizador ao se envolver na diplomacia do rei – chegou até a propor que se entregasse Pernambuco de vez aos holandeses.

Como já se disse, António Vieira defendia os direitos de judeus e cristãos novos e pregava a volta deles para Portugal, país católico que os expulsara, uma vez que a maioria era comerciante o que estimularia o comércio naquele país. Assim se criou a Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649).

De volta ao Brasil, Padre António Vieira dedicou-se às missões de catequese no Pará e no Maranhão (1653-1661), uma vez que dominava sete idiomas indígenas. Lutou contra os colonos portugueses que desejavam escravizar os índios no Maranhão. Em 1661 foi expulso do Maranhão, pelos senhores de escravos que não aceitavam suas ideias.

Voltou para Lisboa, onde defendeu a liberdade religiosa, na época em que as pessoas suspeitas de heresia eram condenadas pela inquisição. Os inquisidores desconfiavam da aproximação de Vieira com os judeus. Foi preso pela inquisição, entre 1666 e 1667, que o acusou de praticar heresias. Amnistiado, seguiu para Roma, tendo sido absolvido pelo Papa em 1675.

Aliando a sua formação como jesuíta e a estética barroca em voga, o Padre António Vieira tornou-se um orador incomparável. Pronunciava sermões que se tornaram a expressão máxima do Barroco em prosa e uma das principais expressões ideológicas e literárias da Contra Reforma. Pregou no Brasil, em Portugal e na Itália. Entre sua vasta produção de sermões, destacam-se:

·       Sermão da Sexagenária: proferido na Capela Real de Lisboa em 1653, onde desenvolve a arte de pregar.
Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda:  proferido na Bahia em 1640, onde se coloca contrário à invasão holandesa.

·       Sermão de Santo António (aos peixes):  proferido no Maranhão em 1654, ataca a escravização de índios. Sermão do Mandato: pronunciado na Capela Real de Lisboa em 1645, desenvolve o tema do amor místico.
Padre António Vieira abandonou definitivamente a Corte, voltou para Salvador, em 1681, onde se dedicou a ordenar os seus sermões para os transformar em livro, deixando mais de 200 sermões e 700 cartas. Doente e quase cego, fez suas últimas pregações.

Padre António Vieira morreu em Salvador, Bahia, no dia 17 de Junho de 1697.


[i] João IV, apelidado de João, o Restaurador, foi o Rei de Portugal e Algarves de 1640 até à sua morte, e Duque de Bragança entre 1630 e 1645. Dom João IV foi o líder da Guerra da Restauração pela conquista e reconhecimento da independência de Portugal do controlo da Espanha.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Efeméride de 4 de Fevereiro – Inicio da Luta Armada em Angola

A 4 de Fevereiro de 1961, a comunicação social portuguesa recebe, através do Secretariado Nacional de Informação, um comunicado oficial do Governo-Geral de Angola, informando que, na noite anterior, «três grupos de indivíduos armados pretenderam assaltar a Casa de Reclusão Militar da Polícia de Segurança Pública e as Cadeias Civis de Luanda». O Diário de Lisboa, assim como outros jornais, publica esta notícia na primeira página. Ao lê-la, os portugueses estariam muito longe de imaginar que essa revolta, levada a cabo por elementos do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), marcaria, historicamente, o início da luta armada contra a administração colonial portuguesa ao longo de 13 anos, envolvendo movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné.

Na Madrugada do dia 4 de Fevereiro de 1961, grupos de guerrilheiros angolanos, comandados por Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, num total de cerca de duzentos homens, armados com catanas, desencadearam uma série de acções na cidade de Luanda.

Um desses grupos montou uma emboscada a uma patrulha da Polícia Militar, neutralizando os quatro soldados, apoderando-se das suas armas e das munições. Com o objectivo de libertar os presos políticos, assaltaram a Casa da Reclusão Militar, não conseguindo os seus objectivos.

Outros alvos foram a cadeia da PIDE, no Bairro de São Paulo e a cadeia da 7ª Esquadra da PSP, onde havia também presos políticos. Tentaram igualmente ocupar a «Emissora Oficial de Angola», estação de rádio ao serviço da propaganda do Estado.

Nestas acções, morreram quarenta guerrilheiros, seis agentes da polícia e um cabo do Exército Português, junto da Casa da Reclusão.

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), considera o 4 de Fevereiro como data do início da luta armada em Angola. No entanto, na origem desta rebelião esteve o cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves (1896-1966), mestiço, natural da vila do Golungo-Alto, missionário secular da arquidiocese de Luanda, o qual não estava ligado ao MPLA.



(Fontes; BRANDÃO, José, «Cronologia da Guerra Colonial», Prefácio Editora).

Diário de Lisboa nº 13702, de 04-02-1961, p. 1

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Efeméride de 3 de Fevereiro – Bartolomeu Dias dobra o Cabo das Tormentas

Corria o ano de 1488 quando, a 3 de Fevereiro, Bartolomeu Dias desembarca na África do Sul, em Mossel Bay, consumando o feito histórico de dobrar o Cabo da Boa Esperança. O navegador português tornou-se no primeiro europeu a fazê-lo.

Bartolomeu Dias nasceu em Portugal, por volta de 1450. Descendente de uma família de navegadores adquiriu conhecimentos de matemática e astronomia. Viveu em uma época em que Portugal constituía a vanguarda da expansão da Europa que teve início em 1415 com a tomada de Ceuta no Norte da África.



Na Europa do século XV, todo o comércio estava ligado ao Mediterrâneo que era uma via de comunicação com o Oriente de onde os europeus traziam as famosas especiarias. Elas chegavam ao Mediterrâneo seguindo três caminhos: o caminho do Mar Vermelho, o do Golfo Pérsico e o da Mesopotâmia, ou ainda seguiam pela Ásia Central. Os grandes portos do comércio eram Constantinopla e Alexandria.



Com o aperfeiçoamento da arte da navegação durante o reinado de Dom João I, seu filho, o infante Dom Henrique estabelecendo-se na ponta de Sagres, no Algarve, onde reunia cartógrafos, matemáticos e peritos na arte da navegação, e recebia o apoio da burguesia mercantil interessada no descobrimento de novos caminhos marítimos, possibilitando a partir de 1415 um grande número de viagens e descobertas na costa atlântica da África.

Em 1453, com a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, o comércio ibérico com o oriente foi interrompido e com as dificuldades ao comércio cristão em Alexandria, as viagens de exploração de novas terras tomaram um grande impulso.



Em 1487, no reinado de Dom João II, Bartolomeu Dias assumiu o comando de uma expedição composta de três caravelas que partiram de Lisboa em busca de um novo caminho marítimo para a Índia. A expedição levava vários nativos recolhidos na costa da África que serviriam de intérpretes em suas paradas.



A expedição de Bartolomeu Dias, navegando pela costa da África chegou a uma região onde enfrentando a força dos ventos e do mar, ficou treze dias sem controlo e sem perceber tinha atravessado o ponto extremo da África e entrado no Oceano Índico. Passado o temporal, a expedição navegou para o Leste em busca da costa, mas sem sinal de terra, rumou então para o Norte. Chegando a uma baía, que foi batizada de Baía dos Vaqueiros, pois foram avistados pastores cuidando do gado, a expedição ancorou em uma enseada protegida que foi chamada de Aguada de São Brás. Decorria o dia 3 de Fevereiro de 1488.



Hostilizados pelos nativos, Bartolomeu Dias deu ordens para levantar âncora, tendo entretanto a sua tripulação se negado a seguir adiante.



No caminho de volta, Bartolomeu Dias avistou o cabo no extremo Sul da África, que chamou de “Cabo das Tormentas”, posteriormente denominado por Dom João II de “Cabo da Boa Esperança”, preparando assim a futura viagem de Vasco da Gama em direção à Índia.



De volta a Lisboa, Bartolomeu Dias continuou ligado às explorações navais. Em 1494, se encarregou de preparar a frota que levaria Vasco da Gama a chegar à Índia. Estabeleceu um porto avançado de comércio em Cabo Verde, na costa da África. Em 1500, uniu-se à expedição de Pedro Álvares Cabral, como capitão de uma das caravelas, com destino à Índia. Os ventos fortes desviaram a frota que acabou por chegar a uma costa que foi denominada Ilha de Vera Cruz e posteriormente Brasil. Um mês depois, a frota partiu rumo ao cabo da Boa Esperança.

Efeméride de 2 de Janeiro – Casamento Dom João I

Foi a 26 de Dezembro de 1386 que Dom João I viu pela primeira vez Dona Filipa de Lencastre[i]. O encontro deu-se na cidade do Porto, nos Paços do Bispo, em frente a uma comitiva da nobres e representantes da Igreja. Se foi amor à primeira vista, não há como saber: as crónicas da época, sem romantismo nenhum, dão apenas conta de uma breve troca de palavras antes da hora de jantar. Mas de uma coisa podemos ter certeza: foi da união entre o filho “natural” de Dom Pedro I e a filha de um príncipe inglês que nasceram os “altos Infantes” que marcaram, como nenhuns outros, a História de Portugal. Aqueles a que Camões chamou de “ínclita geração”.

Apesar da fama que os filhos de Dom João e Dona Filipa acabaram por conquistar, não podemos esquecer o papel fundamental dos pais. Dom João, fundador de uma nova dinastia, dinastia de Avis, lutou pela independência portuguesa e Dona Filipa de Lencastre desempenhou um papel importante na salvaguarda das alianças luso-inglesas. Foi, aliás, durante o reinado do Mestre de Avis que se firmou o mais antigo tratado em vigor: o Tratado de Windsor[ii], a 9 de Maio de 1386. Por essa razão, falar da história de Dom João e Dona Filipa significa também contar a história das relações entre Portugal e Inglaterra que, se tudo correr bem, sobreviverão a tudo — até ao Brexit.



[i] Mulher de Dom João I e rainha de Portugal entre 1387 e 1415, nasceu em Inglaterra em 1360, filha do duque de Lencastre.
Nada se sabe da sua vida até à altura do casamento com Dom João I, que se efetuou no Porto, em 2 de Fevereiro de 1387, e que é considerado ilegítimo até 1391, altura em que uma bula papal autoriza o casamento do Mestre de Avis, que era eclesiástico. Dessa união nasceram oito filhos - a "Ínclita Geração", como lhe chamou Camões -, de entre os quais se destacam Dom Duarte, futuro rei, o infante Dom Pedro, o das "Sete Partida
s", o infante Dom Henrique, "o Navegador", e Dom Fernando, o "Infante Santo". Ignora-se qual o papel que teve na educação dos filhos. Apenas sabemos que manteve sempre grande ligação com a Inglaterra, vivendo rodeada, na corte, de súbditos ingleses.
Além do papel que terá desempenhado no estreitar de relações entre Portugal e a Inglaterra, parece ter exercido alguma influência sobre Dom João I, com realce para o apoio à conquista de Ceuta. Era muito religiosa, por vezes fanática. Morreu de peste em 18 de Julho de 1415, na véspera da partida da expedição a Ceuta, estando sepultada no Mosteiro da Batalha.

[ii] O Tratado de Windsor estabelecido entre Portugal e a Inglaterra, sendo a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor. Foi assinado em Maio de 1386 após os ingleses lutarem ao lado da Casa de Avis na batalha de Aljubarrota e com o sentido de renovar a Aliança Anglo-Portuguesa estabelecida pelos dois países em 1373.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Efeméride de 1 de Fevereiro – Regicídio de Dom Carlos

O Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, ocorrido na Praça do Comércio em Lisboa, marcou profundamente a História de Portugal, uma vez que dele resultou a morte do rei Dom Carlos e do seu filho e herdeiro, o Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, marcando o fim da última tentativa de reforma da Monarquia Constitucional e, consequentemente, uma nova escalada de violência no País.

O atentado foi uma directa consequência do clima de crescente tensão que perturbava a vida política portuguesa. Entre outros, dois factores foram primordiais: em primeiro lugar o caminho desde cedo traçado pelo Partido Republicano Português como solução para o desgaste e queda do sistema partidário vigente e, em segundo lugar, a tentativa por parte do rei Dom Carlos, como árbitro do sistema político, de solucionar os problemas desse mesmo sistema, apoiando o Partido Regenerador Liberal de João Franco que, viria a instaurar uma ditadura. Desde a sua fundação que o objectivo primário do Partido Republicano Português era o da substituição do regime. Esta atitude teve a sua quota-parte de responsabilidade no desenrolar deste acontecimento mas, os ânimos foram definitivamente acirrados pelo estabelecimento de uma ditadura por parte de João Franco, com o total apoio do rei e, respetiva suspensão da Carta Constitucional, em 1907.

O progressivo desgaste do sistema político português leva Dom Carlos a decidir, finalmente, a ter uma intervenção activa no jogo político, escolhendo a personalidade de João Franco para a concretização do sempre falhado programa de vida nova. Este, dissidente do Partido Regenerador, solicitou ao Rei o encerramento do Parlamento para poder implementar uma série de medidas com vista à moralização da vida política.

É evidente que o novo governo não podia ser bem recebido pelos que dele não beneficiariam, pelo que se incitou toda a oposição, desde os partidos monárquicos aos republicanos.

Já marcadas novas eleições, e prevendo-se um resultado favorável ao partido no poder, como era costume, decidiram-se os republicanos e os dissidentes pela força, estes apoiaram indirecta ou directamente organizações secretas como a Carbonária ou a Maçonaria. Esta tentativa de golpe de estado fracassa, devido à inconfidência de um conspirador.

A 28 de Janeiro de 1908 são presos vários líderes republicanos, naquele que ficou conhecido como o Golpe do Elevador da Biblioteca. Afonso Costa e Francisco Correia de Herédia, o Visconde de Ribeira Brava, são apanhados de armas na mão no dito elevador, conjuntamente com outros conspiradores, quando tentavam chegar à Câmara Municipal. António José de Almeida, o dirigente Carbonário Luz Almeida, o jornalista João Chagas, João Pinto dos Santos, e Álvaro Poppe contavam-se entre os noventa e três conspiradores presos. José Maria de Alpoim consegue fugir para Espanha. Alguns grupos de civis armados, desconhecedores do falhanço, ainda fizeram tumultos pela cidade.

Em resposta a este golpe, e como reflexo de um endurecer de postura por parte do regime, até aí dominado por um fair play que permitia aos republicanos intervenções livres, o governo apresenta ao rei o Decreto de 30 de Janeiro de 1908. Este previa o exílio para o estrangeiro ou a expulsão para as colónias, sem julgamento, de indivíduos que fossem pronunciados em tribunal por atentado á ordem pública, e tem sido durante muito tempo considerado como a principal causa para o regicídio. Conta-se que, ao assiná-lo, o rei declarou: ”Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram.” É de notar, no entanto, que o decreto, assinado a 30 de Janeiro, só foi publicado a 1 de Fevereiro, e os preparativos para o atentado datam com certeza de antes dessa data: atente-se ao testamento feito pelo regicida Buíça, datado de 28 de Janeiro.

O Rei, a Rainha e o Príncipe Real encontravam-se então em Vila Viçosa, no Alentejo. O infante Dom Manuel havia regressado dias antes, por causa dos seus estudos como aspirante na marinha. Os acontecimentos acima descritos levaram Dom Carlos a antecipar o regresso a Lisboa, tomando o comboio, na estação de Vila Viçosa, na manhã do dia 1 de Fevereiro.

Durante o caminho o comboio sofre um ligeiro descarrilamento junto ao nó ferroviário de Casa Branca. Isto provocou um atraso de quase uma hora. A comitiva régia chegou ao Barreiro ao final da tarde, onde tomou o vapor "D. Luís", com destino ao Terreiro do Paço, em Lisboa, onde desembarcaram, na Estação Fluvial Sul e Sueste, por volta das 5 horas da tarde, onde eram esperados por vários membros do governo, incluindo João Franco, além dos infantes Dom Manuel e Dom Afonso, o irmão do rei.

Apesar do clima de grande tensão, o monarca optou por seguir em carruagem aberta, envergando o uniforme de Generalíssimo, para demonstrar normalidade.

Quando a carruagem circulava junto ao lado ocidental da praça ouve-se um tiro e desencadeia-se o tiroteio. Um homem de barbas, passada a carruagem, dirige-se para o meio da rua, leva à cara a carabina que tinha escondida sob a sua capa, põe o joelho no chão e faz pontaria. O tiro atravessou o pescoço do Rei, matando-o imediatamente. Começa a fuzilaria: outros atiradores, em diversos pontos da praça, atiram sobre a carruagem, que fica crivada de balas.

Os populares desatam a correr em pânico. O condutor, Bento Caparica, é atingido numa mão. Com uma precisão e um sangue frio mortais, o primeiro atirador, mais tarde identificado como Manuel Buíça, professor primário.

Aproveitando isto, surge a correr de debaixo das arcadas um segundo atirador, Alfredo Costa, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, que pondo o pé sobre o estribo da carruagem, se ergue à altura dos passageiros e dispara sobre o rei já tombado.

Dom Luís Filipe fica na linha de tiro sendo também atingido mortalmente.

O tiroteio continua. Dona Amélia permanece de pé, gritando por ajuda.

Na breve luta que se segue o soldado é atingido numa perna, mas a sua intervenção é providencial. Tendo voltado o seu cavalo, o oficial Francisco Figueira carrega primeiro sobre o Costa, que ferido pelo príncipe é atingido por um golpe de sabre e preso pela polícia, e de seguida dirige-se a Buíça. Este ainda o consegue atingir numa perna com a sua última bala e tenta fugir, mas Figueira alcança-o e imobiliza-o com uma estocada acabando estes por serem abatidos no local.

A carruagem entra no Arsenal da Marinha, onde se verifica o óbito do Rei e o do Herdeiro do Trono. Quando o Infante Dom Afonso, que havia começado a correr desde o seu carro no fim do cortejo, chegou ao Arsenal, teve como primeiro instinto acusar João Franco como responsável pela tragédia.

Julgando que se tratava de um novo golpe de estado, a população de Lisboa refugia-se nas suas casas e a cidade fica deserta. Mas as tropas permanecem nos quartéis e a situação permanece calma: o atentado não foi um sinal para o golpe, que já havia sido frustrado, antes o acto de quem ainda tinha armas na mão, porventura influenciados pela repressão que se previa da parte do governo.

À noite as Rainhas e o novo Rei D. Manuel II foram escoltados para o Palácio das Necessidades pois temia-se novo atentado.