António
Vieira, conhecido como Padre António Vieira nasceu em Lisboa, na Rua do Cônego,
próximo da Sé, no dia 6 de Fevereiro de 1608. Filho de Cristóvão Vieira,
funcionário da coroa, e de Maria de Azevedo tinha sete anos quando seu pai foi
nomeado para o cargo de escrivão em Salvador. Estudou no colégio dos jesuítas e
com 15 anos ingressou na Companhia de Jesus, iniciando seu noviciado.
Em 1626,
António Vieira, ainda noviço, ensinou retórica e foi encarregado de redigir o
trabalho da Companhia de Jesus, em carta anual, remetida para os superiores em
Lisboa. Em 1633 estreia no púlpito com o sermão “Maria, Rosa Mística”. No ano
seguinte ordena-se padre.
Como
pregador, o Padre António Vieira, defendia a colónia, clamava pela expulsão dos
holandeses da Bahia e de Pernambuco, e empenhava-se na revitalização do
catolicismo. Defendeu incansavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua
exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado
"Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).
António Vieira defendeu os judeus,
a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à
época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a
abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época
e a própria Inquisição.
Em 1641,
com 33 anos, Padre António Vieira retornou a Lisboa, em um momento crucial da
história portuguesa: depois de seis décadas de subordinação ao trono espanhol,
restaurava-se o reinado de Portugal com Dom João IV[i]
(1604-1656), o primeiro monarca da casa de Bragança. As pregações do Padre António
Vieira, cheias de patriotismo conquistaram o rei e a rainha Dona Luísa.
O Padre António Vieira torna-se o maior pregador da
corte, conselheiro de Dom João IV, mediador e representante de Portugal em
relações económicas e políticas em Paris, Amsterdão e Roma. Enfrentou
complicadas intrigas palacianas. Tornou-se um contemporizador ao se envolver na
diplomacia do rei – chegou até a propor que se entregasse Pernambuco de vez aos
holandeses.
Como já
se disse, António Vieira defendia os direitos de judeus e cristãos novos e
pregava a volta deles para Portugal, país católico que os expulsara, uma vez
que a maioria era comerciante o que estimularia o comércio naquele país. Assim
se criou a Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649).
De volta
ao Brasil, Padre António Vieira dedicou-se às missões de catequese no Pará e no
Maranhão (1653-1661), uma vez que dominava sete idiomas indígenas. Lutou contra
os colonos portugueses que desejavam escravizar os índios no Maranhão. Em 1661
foi expulso do Maranhão, pelos senhores de escravos que não aceitavam suas
ideias.
Voltou para Lisboa, onde defendeu a liberdade religiosa, na época em que as pessoas suspeitas de heresia eram condenadas pela inquisição. Os inquisidores desconfiavam da aproximação de Vieira com os judeus. Foi preso pela inquisição, entre 1666 e 1667, que o acusou de praticar heresias. Amnistiado, seguiu para Roma, tendo sido absolvido pelo Papa em 1675.
Aliando a
sua formação como jesuíta e a estética barroca em voga, o Padre António Vieira
tornou-se um orador incomparável. Pronunciava sermões que se tornaram a
expressão máxima do Barroco em prosa e uma das principais expressões
ideológicas e literárias da Contra Reforma. Pregou no Brasil, em Portugal e na
Itália. Entre sua vasta produção de sermões, destacam-se:
·
Sermão
da Sexagenária: proferido na Capela Real de Lisboa em 1653, onde desenvolve
a arte de pregar.
Sermão
Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda:
proferido na Bahia em 1640, onde se coloca contrário à invasão holandesa.
·
Sermão
de Santo António (aos peixes): proferido no Maranhão em 1654,
ataca a escravização de índios. Sermão
do Mandato: pronunciado na Capela Real de Lisboa em 1645,
desenvolve o tema do amor místico.
Padre António
Vieira abandonou definitivamente a Corte, voltou para Salvador, em 1681, onde se
dedicou a ordenar os seus sermões para os transformar em livro, deixando mais
de 200 sermões e 700 cartas. Doente e quase cego, fez suas últimas pregações.
Padre António Vieira morreu em Salvador, Bahia, no dia 17 de Junho de 1697.
[i]
João IV, apelidado de João, o Restaurador, foi o Rei
de Portugal e Algarves de 1640 até à sua morte, e Duque de Bragança entre 1630
e 1645. Dom João IV foi o líder da Guerra da Restauração pela conquista e
reconhecimento da independência de Portugal do controlo da Espanha.
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