A 9 de Fevereiro de 1917, Durante
a Primeira Guerra Mundial, A Alemanha dá início à guerra submarina total.
Ao longo deste
conflito, o submarino (submersível)[i]
não se apresentou argumentos para enfrentar com êxito unidades navais
militares, ao contrário do que sucedeu contra os navios mercantes; simplesmente
porque à superfície não dispunha em geral mais do que uma peça de artilharia de
calibre reduzido e em imersão tanto a sua velocidade como o raio de acção eram
diminutos.
Mesmo assim, um pouco por acaso, o submarino alemão U-9 de
493/611 toneladas de deslocamento, comandado por Weddingen, torpedeou três
cruzadores-couraçados da classe Aboukir, quando estes patrulhavam o canal da
Mancha na estreita zona entre a costa holandesa e os campos de minas. Pelas
6.30 do dia 22 de Setembro de 1914, o Aboukir foi atingido por um torpedo,
julgando o comandante que o navio embatera numa mina.
No Cressy e no
Hogue ninguém viu o submarino, pelo que ambos foram ajudar o Aboukir, não
tomando precauções, permitiram assim que o U-9 pudesse disparar um torpedo
contra cada um dos navios que se afundaram imediatamente com perda de 1.500
vidas. Tanto o Aboukir como o Cressy e o Hawk eram navios fortemente armados de
11.700 toneladas construídos no início do Século. Possuíam duas peças de 233,7
mm e 12 de 152,4 mm.
Foi o maior desastre sofrido pela Royal Navy em trezentos anos
de existência, escreveu o historiador norte-americano Robert O. Connell na sua
brilhante História da Guerra. Os britânicos recusaram-se a aceitar que tão
portentoso desastre tinha sido provocado pelo pequeníssimo submarino U-9 de
493t de deslocamento à superfície e 611t imerso, equipado com 4 tubos lança
torpedos e accionados por dois motores Körting a querosene e dois motores
eléctricos. Fazia 14 nós à superfície e 8 nós mergulhado, sendo tripulado por
29 homens. Contudo, e ao contrário do que pareceu na altura, não foi a vitória
do submarino contra o navio de guerra de superfície. Mesmo antes de existir
qualquer defesa contra o submarino, este revelou-se sempre pouco eficaz contra
navios rápidos em formação ou mesmo individualmente.
No início do
conflito, o submarino era visto com desprezo pelos britânicos, mais como uma
mina móvel para a defesa de portos e zonas limitadas da costa, não necessitava
de possuir uma grande raio de acção.
Mesmo assim,
quando a guerra começa, a marinha inglesa contava com 80 unidades, enquanto os
submarinos alemães não passavam de 38. Ao longo do conflito, os britânicos construíram
mais 250 unidades e os alemães mais 300 e foram estes que fizeram efectivamente
a guerra submarina.
Uma das
primeiras ações registadas envolveu o U-15 e o cruzador ligeiro Birmingham que ao
avistar este submarino avançou rapidamente contra ele cortando-o em duas
metades, a falta de velocidade do U-15 não permitiu qualquer evasiva.
O almirantado
britânico não queria acreditar no sucesso, mas foram muitas as testemunhas e as
marcas na quilha do Birmingham mostraram em doca seca que o U-15 foi cortado e
afundado sem que qualquer dos seus 29 tripulantes fosse salvo. Foram as
primeiras vítimas de uma longa lista de 13 mil mortos registados pela arma
submarina alemã durante a I Guerra Mundial.
Novos ataques
foram sendo efectuados. Num dado dia com o tempo enevoado como de costume
naquelas águas também agitadas do Mar do Norte, quando de repente Hersing,
comandante do U-21, vislumbra quase na frente dos seus tubos lança-torpedos o
cruzador Pathfinder. O U-21 mergulhou e lançou um torpedo que acertou em cheio,
fazendo explodir o paiol de munições. Em segundos, o Pathfinder de 2.940t
desfez-se arrastando para o fundo os seus 259 infelizes tripulantes.
Foram as primeiras vítimas da
guerra submarina. Mas, os britânicos aprenderam rapidamente a lição e dez dias
depois, o E-9 da armada inglesa sob o comando de Max Horn consegue entrar na
baía alemã e afunda o cruzador ligeiro Hela de 2.049t a seis milhas da ilha
fortificada de Helgoland. Depois veio o sucesso do U-9 de Otto Wedinger contra
os três cruzadores couraçados britânicos, totalizando 36 mil toneladas de
deslocamento afundados em poucos minutos.
O submarino
tinha conquistado um lugar importante na estratégia naval; talvez bem mais do
que valia efectivamente, já que a arma foi capaz de travar uma guerra
importante contra a navegação mercante, mas nunca conseguiu complementar com
êxito a acção das grandes esquadras de superfície. Os submarinos alemães nem
conseguiram infligir perdas apreciáveis aos muitos cruzadores ligeiros e
auxiliares que bloqueavam o acesso da navegação mercante alemã aos seus portos
de origem.
Se o couraçado
foi a arma dissuasora por excelência, o submarino significou a capacidade
ofensiva a qualquer momento, mas apesar disso limitado, dada a sua inoperância
contra forças protegidas por numerosas unidades ligeiras e rápidas do tipo
torpedeiros ou contra-torpedeiros. Só depois de os alemães verificarem a
natureza da verdadeira inoperância do submarino como força de atrito contra as
grandes esquadras é que lançaram os seus submarinos contra os navios mercantes.
Em Novembro de
1914, a Grã-Bretanha declara oficialmente o Mar do Norte como zona de guerra,
não permitindo a passagem de qualquer navio para países neutros como a Noruega
e outros sem vistoria prévia e só através do Canal da Mancha se transportassem
uma variedade e quantidade limitada de abastecimentos tidos como destinados
exclusivamente a esses países.
Nessa altura,
a Home Fleet deixou de ter portos de abrigo, excepto enseadas escondidas ao
longo das costas escocesas e irlandesas do norte. Quase 500 navios estavam como
que derrotados por uns minúsculos submarinos que, afinal, não tinha tanto poder
assim. Para grande azar dos britânicos, no dia 29 de Outubro, o U-27 comandado
por Wegener depara a poucas milhas da costa alemã com o submarino britânico E-3
de 655t. Wegener ordena a imersão imediata e guiado pelo periscópio consegue
colocar-se em posição de torpedear o E-3, mostrando que os submarinos até
podiam afundar os seus congéneres. Dois dias depois, enquanto o alto-comando
alemão discutia se devia ou não atacar navios mercantes em retaliação pela
destruição sistemática da marinha civil germânica em todos os mares do Mundo e
do bloqueio a que a Alemanha estava submetida, o U-17 resolve afundar o navio
mercante britânico Glitra segundo as regras da Lei Internacional em vigor,
ordenando a saída de toda a tripulação para as embarcações salva-vidas e depois
de examinar a carga, tida como destinada a fins militares, já que era
constituída por chapas de aço, carvão e óleos. O afundamento foi feito por
abertura das válvulas de fundo do navio. O comandante do U-17, Feldenkircher,
ainda rebocou os escaleres do Glitra até às proximidades da costa norueguesa.
A legalidade
desse ataque baseou-se na declaração unilateral por parte da Inglaterra de
considerar o Mar do Norte como zona de guerra. Mas, pouco depois, os submarinos
alemães passaram a atacar a navegação no Canal da Mancha sem aviso prévio, dado
não terem tempo para em espaço tão limitado e tão cheio de torpedeiros
e destrutores actuarem no âmbito dos pruridos da lei, além de que a
totalidade dos navios ingleses que atravessavam a Mancha transportavam tropas,
armas e munições. Foi até bastante tarde que se decidiram a fazer guerra aos
transportes militares porque julgaram primeiro que podiam afundar grandes
unidades de combate britânicas.
Mesmo
assim, a preferência continuava a ir para navios de guerra propriamente ditos,
como o transporte de aviões Hermes afundado a 31 de Outubro, a canhoneira Niger
torpedeada a 11 de Novembro.
Apesar dos
perigos a que se expunham, os submarinos alemães na Mancha, ainda tentaram
atacar a navegação mercante dentro do espírito da lei. Sucedeu isso com U-21 de
Otto Hersing que ordenou a paragem do cargueiro francês Malachite, sem que
fosse obedecido; o navio francês fugiu ziguezagueando de modo a não ser
atingido pelo canhão de 37 mm do submarino alemão.
A partir desse
falhanço, na Mancha, a arma submarina alemão preferiu o ataque imediato de
preferência a torpedo, sem ter, contudo, conseguido evitar a navegação aliada
na zona, dados os muitos campos de minas aí espalhados. Mas, nestes primeiros
meses do grande conflito mundial, a guerra no mar foi mais intensa nos mares longínquos
em que as poucas forças alemãs foram obrigada a bater-se até à sua destruição
final e completa.
A 9 de
Fevereiro de 1917, o governo alemão anunciou que iria iniciar uma campanha
submarina “sem restrições”; ou seja, os seus submarinos torpedeariam quaisquer
navios que tentassem alcançar portos franceses ou britânicos. Essa decisão
complicou a situação dos Aliados, pois a Grã-Bretanha dependia de fornecimentos
marítimos para sua própria sobrevivência.
[i]
Submersível é um veículo projetado para operar debaixo d'água.
O termo submersível é frequentemente usado para se diferenciar de outros
veículos conhecidos como submarinos, isso porque o submarino é um
navio totalmente autónomo da superfície.
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