O fogo alastrou-se rapidamente pelas áreas
mais densamente povoadas da cidade, com as suas ruelas sinuosas. O facto
de a maioria dos romanos viverem em insulas, edifícios altamente
inflamáveis devido à sua estrutura de madeira, de três, quatro ou cinco
andares, ajudou à propagação do incêndio.
Nestas condições, o incêndio prolongou-se por seis
dias seguidos até que pudesse ser controlado. Mas por pouco tempo, já que houve
focos de reacendimento que fizeram o incêndio durar por mais três dias. O
antigo Templo de Júpiter Stator e o lar das Virgens
Vestais foram destruídos, bem como dois terços da antiga cidade.
Existem várias versões sobre a causa do incêndio. A
versão mais contada é a de que os moradores que habitavam as construções de
madeira, usavam o fogo para se aquecer e para cozinhar os alimentos. E por
algum acidente, o fogo alastrou. Para piorar a situação, ventos fortes
arrastavam o fogo pela cidade.
Outra versão famosa, porém desmentida pelos historiadores,
é de que o imperador Nero teria ordenado o incêndio com o propósito
de construir um complexo palaciano, já que o senado romano havia
indeferido o pedido de desapropriação para a obra. Há ainda a versão ,
concebida por romancistas cristãos pósteros que, atribuindo ao
imperador a condição de demente, pretende que ele provocou o incêndio para
inspirar-se, poeticamente, e poder produzir um poema, como Homero ao
descrever o incêndio de Tróia.
Segundo algumas fontes, enquanto o fogo consumia a
cidade, Nero contemplava o cenário, tocando com sua lira. Esta cena é retratada
no romance "Quo Vadis" .
Na verdade, no momento do incêndio, Nero estava em
outra cidade e, ao saber do ocorrido, regressou a Roma, esforçando-se para
socorrer os desabrigados, inclusive mandando abrir os jardins de seu palácio
para os acolher. Todavia, o facto de, posteriormente, ter usado os seus agentes
para adquirir, a baixo preço, terrenos nas imediações de seu palácio, com a
provável intenção de ampliá-lo, tornou-o suspeito, junto ao povo, de ter
responsabilidade no sinistro.
Não se sabe exactamente o momento e as razões que
levaram a que os cristãos fossem acusados de responsáveis pelo incêndio.
Historiadores cristãos e também romanos (como Tácito e Suetônio,
cujas obras denotam acentuada antipatia pelo imperador) sustentam que se tratou
de uma manobra de Nero, para desviar as suspeitas de sua pessoa. Uma vez que a tese
de "incêndio criminoso" se disseminara, era necessário encontrar os
culpados, e os cristãos podem ter-se tornado "bodes expiatórios"
ideais, pelo fato de serem mal vistos em Roma. De fato, Suetônio relata que as
crenças cristãs eram tidas, na época, como "superstição nova e maléfica" enquanto
Tácito, embora acusando Nero de ter injustamente culpado os Cristãos,
declara-se convencido de que eles mereciam as mais severas punições porque
cometiam "infâmias" e eram "inimigos do gênero humano". Segundo
o romancista Pär Lagerkvist,
é até possível que alguns cristãos fanáticos, imbuídos de conceitos apocalípticos,
tenham proclamado, publicamente, que o incêndio era um castigo divino pelos
"pecados" dos romanos, e que prenunciava o novo advento do Cristo,
o que teria tornado todos os cristãos suspeitos de implicação naquela
calamidade.
Hoje a Igreja Católica celebra a memória
desses "Santos Protomártires" todos os anos no dia 30 de Junho.
E entre os mais ilustres estavam São Pedro que foi crucificado no
circo de Nero, actual Basílica de São Pedro, e São Paulo que foi
decapitado junto da estrada de Roma para Óstia.
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