"A revolta do 18 de Janeiro de 1934 surgiu como movimento nacional de contestação à ofensiva corporativa contra os sindicatos livres, por força do recém-publicado “Estatuto do Trabalho Nacional e Organização dos Sindicatos Nacionais”, Decreto nº 23 050, de Setembro de 1933, pelo Estado Novo.
O movimento, composto por sindicatos comunistas (CIS), anarquistas (CGT),
socialistas (FAO), autónomos e trabalhadores do Estado, saiu para a rua e
desenrolou-se, embora desarticulado. Contudo, a falta de apoio militar e a
fraca adesão e repercussão nacional condenou-o ao fracasso.
Registaram-se greves gerais de caráter pacífico em Almada, Barreiro, Sines,
Silves, e manifestações operárias, mais ou menos violentas na Marinha Grande,
Seixal, Alfeite, Cacilhas e Setúbal.
Foram sabotadas estruturas de transportes, comunicações e de energia entre
Coimbra e o Algarve, com destaque para Leiria, Martingança e Póvoa de Santa
Iria. Registaram-se confrontos armados com forças policiais em Lisboa e Marinha
Grande, onde o movimento atingiu grandes repercussões.
Quando, em finais de 1933, se iniciaram os preparativos da insurreição e
Greve Geral nacional do dia 18 de Janeiro de 1934, o centro industrial vidreiro
da Marinha Grande não ficou de fora.
Em articulação com as organizações sindicais nacionais, o movimento foi
liderado por José Gregório, Teotónio Martins, Manuel Baridó, António Guerra,
Pedro Amarante Mendes, Miguel Henrique e Manuel Esteves de Carvalho.
Entre a meia-noite e as duas da manhã do dia 18 de Janeiro de 1934, vários
trabalhadores da Marinha Grande, na sua maioria vidreiros, reuniram-se em Casal
Galego.
Estavam munidos de ferramentas para corte de árvores e vias de comunicação,
de espingardas, revólveres, pistolas e bombas. Organizaram-se em brigadas e
receberam instruções por parte dos dirigentes do movimento. Cortaram as
estradas de acesso à Marinha Grande e a via-férrea.
Ocuparam a Estação dos Correios e Telégrafos e o Posto da GNR, com a
consequente rendição e desarmamento dos soldados da Guarda Republicana e
distribuição de armas pelos revoltosos.
Foram assim criadas condições para que se pudesse realizar a paralisação
geral do trabalho na manhã do dia 18 de Janeiro. Porém, o movimento foi contido
logo ao início da manhã. Os insurrectos foram surpreendidos com a chegada à
Marinha Grande das forças policiais vindas de Leiria. Seguiram-se o Regimento
de Artilharia Ligeira 4 e do Regimento de Infantaria 7.
Os revoltosos ainda resistiram, mas, pela manhã, as autoridades tomaram a
cidade, onde declararam o estado de sítio.
Mandaram encerrar as fábricas, iniciando as buscas e detenções daqueles que
participaram no movimento, gorando o objectivo da paralisação geral do
trabalho.
O número de detidos terá ascendido, a 131 pessoas. 45 Revoltosos foram
processados e condenados ao desterro pelo Tribunal Militar Especial, com penas
entre 3 e 14 anos de prisão e ao pagamento de pesadas multas.
Nesta conjuntura iniciou-se um longo processo de luta contra o Estado Novo,
contra a ditadura, a censura e o estado corporativo.
Reclamou-se o direito elementar à liberdade, do qual resultaram milhares de
presos políticos, considerados de “especial perigosidade”. Alguns foram
deportados para a ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, nomeadamente
para a Colónia Penal do Tarrafal, conhecida como o “campo da morte lenta”.
Os revolucionários do 18 de Janeiro foram derrotados num combate em que a
heroicidade não bastava para vencer a enorme desigualdade de forças".
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