Submarinos em
Portugal – A 10 de Fevereiro de 1918 chegam ao Tejo os restantes três Submersíveis
da classe “Espadarte” constituindo desse modo a 1ª Esquadrilha de Submarinos
(1913 – 1934)
Nos fins do
século XIX inícios do Século XX começaram a surgir um pouco por toda a parte,
leia-se, por todos os países ocidentais, os primeiros projectos de submarinos
com utilização militar. Em Portugal não se ficou para trás e, nos finais do
século XIX o Primeiro-tenente João Fontes Pereira de Melo desenvolve os
primeiros planos de um submarino com características e potencial para uso
militar. Projecto esse que apresentou aos poderes de então.
Após vários
avanços e recuos, o Primeiro-tenente Fontes viu, finalmente, aprovada a
possibilidade da construção de um modelo à escala que permitisse avaliar as
capacidades do seu projecto principalmente no que dizia respeito às condições
de estabilidade e do sistema de visão com que seria equipado e que seria o
mesmo a utilizar nos submarinos a construir.
O modelo foi
então construído no Arsenal da Marinha, antigas instalações de manutenção e
reparação naval da Marinha Portuguesa localizadas em Lisboa.
Estavam implantadas a Poente do Terreiro do Paço, sensivelmente no
mesmo local da antiga Ribeira
das Naus e da Ópera
do Tejo, destruída pelo Terramoto
de 1755. Até à implantação da República
eram designados por Arsenal Real da Marinha, constituído em ferro tinha um
comprimento total de aproximadamente 12 metros.
As várias
experiências de avaliação decorreram durante o mês de Outubro de 1893, junto ao
dique do Arsenal da Marinha, tendo embarcado o Primeiro-tenente Fontes mais
dois operários.
Apesar das
experiências terem decorrido como planeado o mesmo não conseguiu convencer as
autoridades do interesse para a aquisição e construção do seu submarino.
Só em Junho de
1910, o então o Ministro da Marinha, João de Azevedo Coutinho, encomendou aos
estaleiros Italianos da Fiat San Giorgio, o primeiro submersível português, o
"ESPADARTE".
Comandado por
Joaquim de Almeida Henriques[i],
partiu a 22 de Maio de 1913 de Spezia e chegou a Lisboa a 5 de Agosto do mesmo
ano.
Assim, em 1913, Portugal recebeu o seu primeiro
submersível, passando a ser um dos poucos países do mundo a potenciar as
vantagens desta arma. Esta aposta do então Ministro da Marinha, é de realçar
numa época onde os submersíveis eram vistos como uma arma pouco nobre e onde o
seu estágio de desenvolvimento era rudimentar.
Com o decorrer da primeira Grande Guerra ressaltou
o valor militar desta nova arma e em 1915 o Governo Português encomendava ao
mesmo estaleiro mais três submersíveis: os "FOCA",
"GOLFINHO" e "HIDRA", que tal como o "ESPADARTE"
seriam concebidos pelo famoso engenheiro Laurenti.
Estes quatro submersíveis viriam a constituir a primeira Esquadrilha que teve prolongada vida operacional da qual se destacam as patrulhas de proteção das barras do porto de Lisboa durante o primeiro conflito Mundial, garantindo uma componente dissuasora.
Em princípios de 1927, o envelhecimento do
"ESPADARTE" começou a causar preocupações que viriam a culminar com o
seu desarmamento em 31 de Maio de 1928, seguindo-se os restantes submersíveis,
tendo o Hidra sido abatido ao efetivo da Armada em 1935.
Características dos Navios da 1ª Esquadrilha (1913 a 1934)
Produzidos nos
estaleiro da Fiat – Em San Giorgio, Spezia, Itália, derivaram directamente do
Modelo Laurenti, sendo conhecidos como Classe F. Foi o modelo base
de submersível utilizado pela marinha italiana na I Grande Guerra, tendo ganho
prestígio e reconhecimento de fiabilidade, tendo sido vendido não só para
Portugal, mas também para o Brasil, Espanha, Suécia e Rússia.
Face aos
excelentes resultados obtidos com o NRP Espadarte, no final de 1915 o Governo
Português encomendou em Itália mais três submersíveis da Classe F: o “Foca”, o
“Golfinho” e o “Hidra”, os quais largaram do porto de La Spezia em Dezembro
1917 em direcção a Lisboa.
Com estes
quatro Submersíveis dá-se início à arma submarina em Portugal e forma-se a 1ª
Esquadrilha (1913 a 1934)
Em pleno
conflito mundial os três submersíveis cruzaram o Mediterrâneo, em formação com
o NRP Patrão Lopes e outras unidades aliadas (primeiro italiana e
posteriormente francesas). Num percurso onde encontraram fortes
intempéries e zonas assoladas por submarinos inimigos, chegaram a
presenciar o torpedeamento de navios mercantes nas suas proximidades. Após a
longa viagem de oito etapas chegaram a Lisboa a 10 de Fevereiro de 1918.
A Base
operacional da Esquadrilha ficou instalada na Doca de Belém até ao final da
guerra.
A principal
missão táctica dos submersíveis da 1ª Esquadrilha foi a de vigilância costeira
e guerra anti-submarina, o que levou à definição de uma zona de operações
compreendida entre as Berlengas e Sines.
A presença dos
submersíveis nacionais à entrada do Tejo e o conhecimento deste facto por parte
do inimigo, reforçava o poder dissuasor destas unidades navais, obrigando o
inimigo a restrições tácticas, como a necessidade de navegarem nas zonas
patrulhadas preferencialmente em imersão, diminuindo-lhes o campo de visão e
por conseguinte a capacidade de detecção de alvos.
Na época a
identificação de um submarino à superfície não era fácil e era impossível em
imersão, o que implicava a necessidade de os atacar de imediato após a
localização para que estes não tivessem tempo de imergir e fugir. Por isso a
regra era ”antes destruir um submarino aliado do que poupar um submarino
inimigo”. Aos submarinos cabia-lhes imergir rapidamente em todas as situações,
se bem que existiam alguns procedimentos de identificação, como o lançamento de
foguetes de cores convencionadas ou a pintura do casco com desenhos
pré-convencionados, neste caso para identificação aérea.
A Vida a Bordo
O momento da
imersão em muito era parecido com um naufrágio controlado. A capacidade de
controlar de forma rigorosa a reserva de flutuabilidade, anular a gravidade e
vencer a força de impulsão era parte da arte de navegar. Pela falta de
instrumentos e precisão dos existentes havia que acautelar a profundidade, por
causa da resistência máxima do casco ou para não chocar com o fundo. Outro
factor era a alteração da propulsão que variava da superfície para a imersão,
de combustão interna para eléctrica. Por último, e de grande relevância, era a
variação da densidade da água podia apresentar grandes variações,
principalmente junto à barra do rio com o sentido das marés, por causa da água
doce.
Os
submersíveis da 1ª Esquadrilha eram máquinas de 45m e totalmente manuais. A
navegabilidade em imersão, com toda a necessária gestão de peso entre os
tanques de compensação e os tanques externos, tinha ainda por vezes de
aproveitar a deslocação da guarnição no sentido longitudinal do navio para
aproveitamento do peso humano.
Em imersão era
garantido à guarnição uma respiração do ar à pressão atmosférica normal,
através de acumuladores de ar comprimido. No entanto o inquinamento do ar
tornava-se o maior problema, sendo que uma imersão prolongada poderia provocar
uma percentagem anormal de oxigénio, anidrido carbónico, humidade, etc. , no ar
respirado e não renovado. Para além do inquinamento do ar, existia o problema
da humidade e consequentemente o de temperatura. Depois de algumas horas de
imersão a humidade tendia a aproximar-se do estado de saturação e a inevitável
subida de temperatura no interior do navio em imersão, provocava a existência
de abundante condensação nas paredes frias do casco. A respiração tornava-se
difícil o que se reflectia na capacidade física dos homens. A condensação
provocava ainda a deterioração do material e interferia com os sistemas
eléctricos do submersível. Outro problema grave que poderia surgir, resultaria
de uma eventual falta de estanquicidade, que ao juntar água salgada às baterias
do submersível provocava a libertação de gases de cloro altamente tóxicos.
Em Missão de
Vigilância
Em tempo de
guerra os submersíveis eram escoltados por uma unidade de superfície até à zona
de patrulha. No regresso eram igualmente escoltados para entrarem na barra.
Durante o tempo de patrulha, quando detectados eram tratados como submarinos
inimigos e nesse sentido eram lançados alertas por TSF sobre a sua presença a
toda a navegação.
Relata-nos uma
destas situações o comandante Joaquim de Almeida Henriques, quando foi
detectado numa dessas situações de alerta lançado por TSF, em 6 de Setembro de
1918, frente ao Cabo da Roca. O NRP Golfinho encontrava-se em imersão parcial à
tona de água, para poupar energia eléctrica e para ter um campo de
observação mais amplo sobre o horizonte, quando foi avistado pelo posto de
observação colocado no Farol do Cabo da Roca. A partir deste avistamento foi
transmitido um alerta de presença de submarino inimigo, tendo os navios que
faziam rocega de minas e os patrulhas que se encontravam de prevenção se
dirigido para a zona suspeita.
Um dos navios
ao aproximar-se abriu fogo sobre o NRP Golfinho, mas este manobrou de imediato
e submergiu, aflorando à tona de água momentaneamente para observar através dos
seus dois periscópios a posição dos navios que o perseguiam. O NRP Golfinho
controlou bem a situação porque tinha a vantagem tecnológica do seu lado, uma
vez que os navios não possuíam equipamento de escuta submarina.
Estes seguiram
na direcção de pressuposta progressão do submersível, mas este submerso
dirigiu-se na direcção oposta. Durante as manobras evasivas o NRP
Golfinho passou a uma curta distância de um paquete e da sua escolta que
regressavam de França sem o detectar. O submersível regressou mais
tarde à base normalmente, escoltado e sem mais imprevistos.
[i]
Contra-Almirante Joaquim de Almeida Henriques,
Nascido a 28 de maio de 1875, em Leiria, ingressou na Escola Naval em novembro
de 1893, como aspirante de marinheiro de 2ª classe, e foi promovido a
guarda-marinha em Outubro de 1895. Ficou conhecido como o "Pai dos submarinos
da Marinha Portuguesa".
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