A Batalha dos Atoleiros foi travada a 6 de
Abril de 1384, no atual município português de Fronteira, distrito de
Portalegre e a cerca de 60 km da fronteira com Castela. Entre as forças
portuguesas, comandadas por Nuno Álvares Pereira[i], e uma expedição punitiva
castelhana, enviada por Dom João I de Castela, junto da povoação do mesmo nome,
no Alentejo.
Foi a primeira batalha durante a crise de 1383-1385 e a primeira
victória obtida pelos portugueses.
A Crise de 1383–1385 foi um período
de guerra civil na História de Portugal, também conhecido como Interregno, uma
vez que não existia rei no poder. A crise começou com a morte do rei Dom Fernando
de Portugal, que não gerou herdeiros masculinos.
Em Dezembro de 1383,
uma revolução em Lisboa, levou o então mestre de Avis, Dom João ao poder, sendo aclamado Regedor e
Defensor do Reino obrigando a rainha Dona Leonor Teles a fugir e a pedir
ajuda ao seu genro: Dom João I de Castela. Este começou por organizar um
exército para esmagar a revolta, pois considerava-se como o legítimo rei de Portugal
por casamento com Dona
Beatriz de Portugal
Dom João I de Castela foi Rei de Castela e Leão entre 1379 e
1390, sendo o segundo rei da dinastia de Trastâmara. Filho de Henrique II e de
Dona Joana Manuel, nasceu em Épila durante o desterro do pai, que ainda não era
rei. Casa em 1383 com Dona Beatriz de Portugal, que veio a ser rainha consorte
de Castela, filha do Rei Dom Fernando I de Portugal e de sua mulher, a rainha Dona
Leonor Teles.
O novo regente nomeou Dom
Nuno Álvares Pereira, fronteiro do Alentejo e entregou-lhe uma força militar,
temendo Dom João a entrada em Portugal do exército castelhano por aquela zona.
Dom Nuno Álvares
Pereira partindo de Lisboa, foi aumentando o número dos seus homens pelo
caminho. Quando se aproximou do exército inimigo, que tentava cercar Fronteira
já tinha sob o seu comando uma força de 1 400 homens, dos quais 100 besteiros e
300 lanceiros ingleses (cavalaria ligeira e pesada). As forças castelhanas invasoras
contavam com um efetivo de cerca de 5 000 homens.
Mais numerosos e conscientes que Dom Nuno os iria
intercetar, os castelhanos enviaram um emissário ao chefe do exército
português, tentando dissuadi-lo. Perante a recusa dos portugueses, o exército
castelhano foi ao seu encontro, sendo um dos comandantes, o irmão de Nuno
Álvares: Pedro Álvares Pereira[ii], prior da ordem do
Hospital.
O exército português tinha escolhido previamente o terreno,
formando um retângulo com a maioria dos veteranos lanceiros ingleses na
vanguarda; nas alas e retaguarda estavam os peões, misturados com mais lanceiros
ingleses. Os castelhanos atacaram com a cavalaria, que foi contida pelos
lanceiros ingleses e por virotões, o que gerou grande desordem. A batalha durou
pouco, tendo sofrido o exército castelhano pesadas baixas.
As tropas castelhanas começaram a recuar, sendo perseguidas por
todo o resto do dia pelas forças reunidas por Nuno Álvares Pereira, que lhes
deu caça até à distância de cerca de sete quilómetros do local da batalha.
A batalha dos Atoleiros constituiu na Península Ibérica a
primeira e efectiva utilização das novas técnicas de defesa de forças de infantaria
em inferioridade numérica, aprendida dos ingleses, perante uma cavalaria pesada
muito superior. A mais conhecida destas será a técnica de «pé terra»» ou «pé em
terra», pela primeira vez usada em Portugal: consistia em peões armados com
lanças a esperar a carga da cavalaria inimiga, adotando uma tática defensiva.
Uma das mais curiosas notas da batalha é que, embora
as forças de Castela tenham sofrido perdas muito elevadas, principalmente com
muitos mortos entre a cavalaria pesada (que era a força castelhana mais
importante), do lado português não ocorreu uma única morte, julgam alguns, nem
se registaram feridos, algo pouco provável, pois o ataque castelhano consistiu
primeiro em atacar a cavalo e como tal não surtiu efeito, nova investida foi
feita a pé, havendo então combate corpo a corpo.
Esta batalha provou ser possível resistir a um exército
fortemente armado e formado na maioria por cavaleiros da nobreza, com recurso a
forças populares. Foi uma importante victória para resistir ao domínio de Castela
e deu força à causa do mestre de Avis.
No fim de março, o exército de Castela pôs cerco a Lisboa,
terminando em setembro por culpa da peste que atacou o acampamento.
[i]
Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Santo Condestável,
formalmente São Nuno de Santa Maria ou simplesmente Nun'Álvares, foi um nobre e
general português do século XIV. Desempenhou um papel fundamental na crise de
1383-1385, onde Portugal defendeu a sua independência de Castela.
[ii]
Combatendo pelos castelhanos, esteve na Batalha dos
Atoleiros, na qual enfrentou o seu
próprio meio-irmão Nun'Álvares e de que foi um dos poucos sobreviventes, talvez
por ter evitado carga directa contra as lanças portuguesas, que chacinaram os
mais bravos. Na Batalha de Aljubarrota liderou uma carga castelhana à retaguarda portuguesa, para
distrair o seu meio-irmão Condestável da frente de batalha, mas morreria na
desgraça numa queda de cavalo, enquanto atravessava o riacho de Aljubarrota em
fuga ao seu meio-irmão
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