terça-feira, 7 de abril de 2020

Efeméride de 6 de Abril de 1384 - Batalha dos Atoleiros

A Batalha dos Atoleiros foi travada a 6 de Abril de 1384, no atual município português de Fronteira, distrito de Portalegre e a cerca de 60 km da fronteira com Castela. Entre as forças portuguesas, comandadas por Nuno Álvares Pereira[i], e uma expedição punitiva castelhana, enviada por Dom João I de Castela, junto da povoação do mesmo nome, no Alentejo.

Foi a primeira batalha durante a crise de 1383-1385 e a primeira victória obtida pelos portugueses.

A Crise de 1383–1385 foi um período de guerra civil na História de Portugal, também conhecido como Interregno, uma vez que não existia rei no poder. A crise começou com a morte do rei Dom Fernando de Portugal, que não gerou herdeiros masculinos.

Em Dezembro de 1383, uma revolução em Lisboa, levou o então mestre de Avis, Dom João ao poder, sendo aclamado Regedor e Defensor do Reino obrigando a rainha Dona Leonor Teles a fugir e a pedir ajuda ao seu genro: Dom João I de Castela. Este começou por organizar um exército para esmagar a revolta, pois considerava-se como o legítimo rei de Portugal por casamento com Dona Beatriz de Portugal

Dom João I de Castela foi Rei de Castela e Leão entre 1379 e 1390, sendo o segundo rei da dinastia de Trastâmara. Filho de Henrique II e de Dona Joana Manuel, nasceu em Épila durante o desterro do pai, que ainda não era rei. Casa em 1383 com Dona Beatriz de Portugal, que veio a ser rainha consorte de Castela, filha do Rei Dom Fernando I de Portugal e de sua mulher, a rainha Dona Leonor Teles.

O novo regente nomeou Dom Nuno Álvares Pereira, fronteiro do Alentejo e entregou-lhe uma força militar, temendo Dom João a entrada em Portugal do exército castelhano por aquela zona.

Dom Nuno Álvares Pereira partindo de Lisboa, foi aumentando o número dos seus homens pelo caminho. Quando se aproximou do exército inimigo, que tentava cercar Fronteira já tinha sob o seu comando uma força de 1 400 homens, dos quais 100 besteiros e 300 lanceiros ingleses (cavalaria ligeira e pesada). As forças castelhanas invasoras contavam com um efetivo de cerca de 5 000 homens.

Mais numerosos e conscientes que Dom Nuno os iria intercetar, os castelhanos enviaram um emissário ao chefe do exército português, tentando dissuadi-lo. Perante a recusa dos portugueses, o exército castelhano foi ao seu encontro, sendo um dos comandantes, o irmão de Nuno Álvares: Pedro Álvares Pereira[ii], prior da ordem do Hospital.

O exército português tinha escolhido previamente o terreno, formando um retângulo com a maioria dos veteranos lanceiros ingleses na vanguarda; nas alas e retaguarda estavam os peões, misturados com mais lanceiros ingleses. Os castelhanos atacaram com a cavalaria, que foi contida pelos lanceiros ingleses e por virotões, o que gerou grande desordem. A batalha durou pouco, tendo sofrido o exército castelhano pesadas baixas.

As tropas castelhanas começaram a recuar, sendo perseguidas por todo o resto do dia pelas forças reunidas por Nuno Álvares Pereira, que lhes deu caça até à distância de cerca de sete quilómetros do local da batalha.

A batalha dos Atoleiros constituiu na Península Ibérica a primeira e efectiva utilização das novas técnicas de defesa de forças de infantaria em inferioridade numérica, aprendida dos ingleses, perante uma cavalaria pesada muito superior. A mais conhecida destas será a técnica de «pé terra»» ou «pé em terra», pela primeira vez usada em Portugal: consistia em peões armados com lanças a esperar a carga da cavalaria inimiga, adotando uma tática defensiva.

Uma das mais curiosas notas da batalha é que, embora as forças de Castela tenham sofrido perdas muito elevadas, principalmente com muitos mortos entre a cavalaria pesada (que era a força castelhana mais importante), do lado português não ocorreu uma única morte, julgam alguns, nem se registaram feridos, algo pouco provável, pois o ataque castelhano consistiu primeiro em atacar a cavalo e como tal não surtiu efeito, nova investida foi feita a pé, havendo então combate corpo a corpo.

Esta batalha provou ser possível resistir a um exército fortemente armado e formado na maioria por cavaleiros da nobreza, com recurso a forças populares. Foi uma importante victória para resistir ao domínio de Castela e deu força à causa do mestre de Avis.

No fim de março, o exército de Castela pôs cerco a Lisboa, terminando em setembro por culpa da peste que atacou o acampamento.



[i] Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Santo Condestável, formalmente São Nuno de Santa Maria ou simplesmente Nun'Álvares, foi um nobre e general português do século XIV. Desempenhou um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal defendeu a sua independência de Castela.

[ii] Combatendo pelos castelhanos, esteve na Batalha dos Atoleiros, na qual enfrentou o seu próprio meio-irmão Nun'Álvares e de que foi um dos poucos sobreviventes, talvez por ter evitado carga directa contra as lanças portuguesas, que chacinaram os mais bravos. Na Batalha de Aljubarrota liderou uma carga castelhana à retaguarda portuguesa, para distrair o seu meio-irmão Condestável da frente de batalha, mas morreria na desgraça numa queda de cavalo, enquanto atravessava o riacho de Aljubarrota em fuga ao seu meio-irmão

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