segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Tratado de Lisboa - Fim da Guerra da Restauração - 13 de Fevereiro de 1668

Foi a 13 de Fevereiro de 1668, que a Espanha reconheceu definitivamente a independência de Portugal, dando por finda a Guerra da Restauração. Este reconhecimento foi formalizado neste dia através do "Tratado de Lisboa".

Com a crise da sucessão ao trono, devido à morte do rei Dom Sebastião, na Batalha de Alcácer-Quibir, em Agosto de 1578, e da morte do sucessor idoso deste, o cardeal Dom Henrique I, falecido em 31 de Janeiro de 1580 o país passou a ser governado por Filipe II de Espanha, I de Portugal (1580-1598).
Felipe II, de Espanha, era um dos mais poderosos monarcas do fim do século XVI. Neto de Dom Manuel I, rei de Portugal, morto em 1502, era um dos três aristocratas candidatos a assumir o trono – os outros dois eram Catarina, infanta de Portugal e Duquesa de Bragança, e António, Prior do Crato, tambémambos netos de D. Manuel I.

A maior parte dos membros da principal instituição da época, o Conselho de Governadores do Reino de Portugal, não se opôs à aclamação do monarca espanhol.A pouca resistência armada foi protagonizada pelo Prior do Crato. Felipe II mobilizou os seus exércitos ocupando várias cidades do reino sem grande dificuldade. Além da força de seus exércitos, Felipe II ainda contou com o apoio do duque de Alba, Fernando Pimentel, que derrotou a resistência do Prior do Crato e garantiu a sujeição portuguesa ao rei da Espanha.
Assim, a 15 de Abril de 1581, as cortes reunidas em Tomar declararam Filipe II de Espanha rei de Portugal, recebendo o título de Felipe I. Com isso, começava entre nós a dinastia dos Habsburgos, marcada pela União Ibérica.

Depois dele seguiram-se como reis o seu filho Filipe II de Portugal (III de Espanha) (1598-1621) e o seu neto Filipe III de Portugal (IV de Espanha) (1621-1640).
A esta sucessão de reis que governaram simultaneamente Portugal e Espanha, deu-se o nome de Dinastia Filipina, tendo durado sessenta anos (1580-1640).

Em 1637, na cidade de Évora, na região do Alentejo, ocorreu a chamada Revolta do Manuelinho de Évora. A revolta teve início em 21 de Agosto e foi organizada por um grupo de conspiradores encabeçados pelo Procurador e Escrivão da cidade. Para manter o anonimato sobre a autoria das ordens de rebelião endereçadas à população de Évora, os conspiradores assinavam-nas com o nome de Manuelinho, um conhecido doente mental que vagueava pelas ruas daquela cidade. Este movimento foi o pronuncio do que viria a ocorrer três anos mais tarde, com a instauração da casa de Bragança em 1º de Dezembro de 1640, dia da restauração da independência de Portugal.
Esta conspiração, contra o rei Filipe III de Portugal, foi planeada por um grupo de quarenta homens da nobreza que ficou conhecido como “os Conjurados”, dos quais se destacavam D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida e o Dr. João Pinto Ribeiro, que convenceram o então duque de Bragança, Dom João, a aderir ao plano. Dom João era o nobre melhor cotado para assumir o trono, já que era neto da duquesa Catarina de Bragança.

O plano dos conspiradores consistiu em estimular, secretamente, a revolta em vários pontos do reino, tanto em zonas urbanas quanto em zonas rurais, ao longo do ano de 1640. No dia 1º de Dezembro desse ano, este grupo de homens acorreu ao Terreiro do Paço no sábado, 1º de Dezembro de 1640, e matou o secretário de Estado Miguel de Vasconcelos,[i]além de aprisionarem a Duquesa de Mântua,[ii]prima de Filipe III e a quem este tinha confiado o governo de Portugal. Os revoltosos tomaram conta da situação, e o duque de Bragança foi aclamado o novo rei sob o título de Dom João IV de Portugal, dando início à dinastia de Bragança, a mesma de Dom João VI, pai de Dom Pedro I.
Este momento foi o ideal para esta conspiração, pois o Reino de Espanha estava envolvido na Guerra dos Trinta Anos e estava mais preocupado em vencer a revolta da Catalunha do que propriamente com o território português.

Após a restauração da independência, a maior preocupação de Dom João IV, o novo rei de Portugal, e dos seus apoiantes passou a ser a consolidação do poder alcançado. Em primeiro lugar, seria necessário que Dom João IV fosse reconhecido a nível nacional e internacional como o legítimo rei de Portugal. A nível nacional, isso foi conseguido prontamente com o juramento perante as Cortes de Lisboa, em Janeiro de 1641. Depois, Dom João IV enviou vários embaixadores às várias capitais europeias com o objetivo de obter o apoio dos outros monarcas. Esse esforço foi bem-sucedido.
O maior problema que se colocava era de natureza militar pois seria de esperar que Espanha voltasse a atacar a soberania portuguesa. Se os espanhóis tivessem atacado de imediato, Dom João IV não teria tido tempo para organizar o seu exército.

Mas, devido à Guerra dos Trinta Anos,[iii]enquanto esta não terminou, Espanha não tentou atacar Portugal pois tinha todos os seus meios envolvidos nessa guerra. Assim, Dom João IV teve tempo para conseguir preparar a defesa e conseguir os meios necessários para custear os esforços de guerra.
Terminada a Guerra dos Trinta Anos, em 1648, os espanhóis passaram a fazer algumas campanhas, de forma esporádica e inconsequente, que os portugueses enfrentaram sem grandes dificuldades, sendo que, a primeira investida séria por parte de Espanha viria a dar-se apenas em 1663 quando já Dom Afonso VI era o rei de Portugal.

Este período de confronto, chamado de Guerra da Restauração, caracterizou-se por uma sucessão de confrontos entre os exércitos português, espanhol e holandês entre 1640 e 1668. Nessa altura, Portugal perdeu as praças de Évora e Alcácer do Sal. Estes conflitos passaram a realizar-se de forma descontínua e irregular, quase sempre com vantagem para os portugueses. Algumas das batalhas que se realizaram nesse contexto foram a Batalha do Ameixal, em 1663, a Batalha de Castelo Rodrigo, em 1664, e a Batalha de Montes Claros, em 1665.
Se considerarmos que esta guerra entre Portugal e Espanha (Guerra da Restauração) se iniciou em 1 de Dezembro de 1640, podemos dizer que durou quase 28 anos, vindo a paz a ser assinada a 13 de Fevereiro de 1668, quando foi firmado pelos reis Pedro II, regente de Portugal, e Carlos II, da Espanha, o Tratado de Lisboa. Com esse tratado, a Espanha finalmente reconheceu a título definitivo a independência de Portugal. Os prisioneiros foram libertados, e alguns territórios sob posse da Espanha, com exceção da ilha de Ceuta, por decisão da sua população, foram devolvidos ao reino português.




[i]Miguel de Vasconcelos e Brito era filho do Dr. Pedro Barbosa de Luna, famoso jurisconsulto e Lente da Universidade de Coimbra, e de sua mulher D. Antónia de Melo e Vasconcelos ou de Vasconcelos e Brito, Senhora do Morgado de Serzedelo, de Alvarenga e do Morgado da Fonte Boa, e irmão de D.FreiPedro Barbosa de Eça e de Mariana de Luna.
Desempenhou no Reino de Portugal os cargos de Escrivão da Fazenda e de secretário de Estado (primeiro-ministro) da duquesa de Mântua, vice-Rainha de Portugal, em nome do Rei Filipe III (Filipe IV de Espanha) e valido do conde duque de Olivares. Era odiado pelo povo por, sendo português, colaborar com a representante da dominação filipina. Tinha alcançado da corte castelhana de Madrid plenos poderes para aplicar em Portugal pesados impostos, os quais deram origem à revolta das Alterações de Évora (Manuelinho) e a motins em outras terras do Alentejo. Foi a primeira vítima do golpe de estado do 1º de Dezembro de 1640. Depois de morto, foi arremessado da janela do Paço Real de Lisboa para o Terreiro do Paço, pelos conjurados.

[ii]Margarida de Saboia,duquesa consorte de Mântua e de Monferrato. Filha de Carlos Emanuel I de Saboia e da infanta Catarina Micaela da Áustria, o que fazia dela neta materna do rei Filipe II de Espanha, e prima direita de Filipe IV de Espanha (III de Portugal).
Exerceu as funções de vice-rainha de Portugal, estando encarregada do reino aquando da Restauração da Independência, sendo assim a última governante de Portugal em nome da dinastia filipina. Ficou conhecida na história de Portugal pelo nome de duquesa de Mântua, título que lhe adveio por ter casado com o duque Francisco de Gonzaga, da Casa de Gonzaga, que tinha o senhorio da cidade italiana de Mântua, governando-a como duque soberano. Era prima de D. Filipe IV de Espanha e III de Portugal

[iii]A Guerra dos Trinta Anos foi uma sucessão de confrontos entre as dinastias aristocráticas europeias decorrente de motivos diversos, como: divergências religiosas, disputa sucessória e posse de terras. Nesse contexto, houve um acirramento das tensões entre Espanha e Holanda, o que agravou a situação nas colónias portuguesas.
Em 1635, a França, que já disputava regiões do Mediterrâneo com a Espanha, declarou guerra a essa última, dando origem a um dos mais complicados e dispendiosos conflitos da Guerra dos Trinta Anos. Para custear a guerra contra a França, a Espanha reivindicou a ajuda militar e financeira de Portugal. Para tanto, a Coroa espanhola aumentou os tributos cobrados aos portugueses. O aumento dos impostos para financiar a guerra foi o ponto de partida para a primeira revolta lusitana contra a monarquia espanhola.

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