terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A 3 de Dezembro de 1769 - O rei Dom José I de Portugal é agredido por um demente, com duas pauladas, em Vila Viçosa.


Sendo o facto, do ponto de vista histórico, irrelevante, permite-nos abordar o reinado de Dom José, 5º rei da 4ª dinastia (Bragança).

Dom José I, terceiro filho do rei Dom João V e sua esposa a rainha Maria Ana da Áustria, nasceu em Lisboa a 6 de Junho de 1714 e morreu em Sintra a 24 de Fevereiro de 1777. Com o cognome de "o Reformador", foi o Rei de Portugal e Algarves de 1750 até à sua morte.

O seu reinado é sobretudo marcado pelas políticas impostas pelo seu secretário de Estado, Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal (1699-1782), que reorganizou as leis, a economia e a sociedade portuguesa, transformando Portugal num país próspero e moderno.

Quando subiu ao trono (1750 – 1777), Dom José I tinha à sua disposição os mesmos meios de acção governativa que os seus antecessores do século XVII, apesar do progresso económico realizado no país, na primeira metade do século XVIII.

Com as estruturas administrativas, jurídicas e políticas do país perfeitamente desajustadas, juntamente com as péssimas condições económicas herdadas dos últimos anos do reinado de Dom João V, vai obrigar o monarca a escolher os seus colaboradores entre aqueles que eram conhecidos pela permanente contestação à política seguida no reinado anterior.

Um conjunto de nomes sonantes e prestigiados na época, tais como Diogo de Mendonça Corte-Real, Pedro da Mota e Silva e Sebastião José de Carvalho e Melo passaram a ser as personalidades em evidência, assistindo-se de 1750 a 1755 à consolidação política do poder central e ao reforço da posição do marquês de Pombal, com a consequente perda de importância dos outros ministros.

A 1 de Novembro de 1755, dia do grande terramoto de Lisboa, Dom José I e a sua família sobrevivem à destruição do Paço Real (velho Palácio da Ribeira) por se encontrarem na altura a passear em Santa Maria de Belém. Depois desta data, Dom José I ganhou uma fobia a edifícios de alvenaria, vivendo o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda, em Lisboa.

Outro dos notáveis acontecimentos do seu reinado foi a tentativa de regicídio que sofreu a 3 de Setembro de 1758. Este trágico acontecimento vai dar origem ao processo dos Távora. Os Marqueses de Távora, o Duque de Aveiro e familiares próximos, acusados da sua organização, foram executados ou colocados na prisão, enquanto a Companhia de Jesus foi declarada ilegal e os jesuítas expulsos de Portugal e das colónias.

Uma segunda fase do seu reinado, de 1756 a 1764, vai caracterizar-se pela guerra com a Espanha e a França, pelo esmagamento da oposição interna - expulsão dos Jesuítas, reforma da Inquisição e execução de alguns nobres acusados de atentarem contra a vida do rei, entre os quais o duque de Aveiro e o marquês de Távora, e pela criação de grandes companhias monopolistas, como a do Grão-Pará.

Uma terceira fase, até 1772 é marcada por uma grande crise económica e, até final do reinado, assiste-se à política de fomento industrial e ultramarino e à queda económica das companhias monopolistas brasileiras.

Todo o reinado é caracterizado pela criação de instituições, especialmente no campo económico e educativo, no sentido de adaptar o País às grandes transformações que se tinham operado. Funda-se a Real Junta do Comércio, o Erário Régio, a Real Mesa Censória; reforma-se o ensino superior, cria-se o ensino secundário (Colégio dos Nobres, Aula do Comércio) e o primário (mestres régios); reorganiza-se o exército. Em matéria de política externa, Dom José conservou a política de neutralidade adoptada por seu pai. De notar ainda, o corte de relações com a Santa Sé, que durou 10 anos[i].

Sucedeu-lhe a filha, a futura rainha Dona Maria I de Portugal (Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança); Lisboa, 17 de Dezembro de 1734 — Rio de Janeiro, 20 de Março de 1816) que, antes de assumir o trono, foi Princesa do Brasil, Princesa da Beira e duquesa de Bragança. A continuidade dinástica da Casa de Bragança ficou assegurada com o seu casamento com o irmão do Rei e tio da princesa, o futuro rei Pedro III de Portugal. O casamento foi realizado no Palácio de Nossa Senhora da Ajuda, em Lisboa, a 6 de Julho de 1760. Dado o casal já ter filhos quando Maria ascendeu ao trono, passou a ser o rei Dom Pedro III, sendo ainda o 19.º duque de Bragança, 16º duque de Guimarães e 14.º duque de Barcelos, 12.º marquês de Vila Viçosa, 20º conde de Barcelos, 16.º conde de Guimarães, de Ourém, de Faria, e de Neiva, 22.º conde de Arraiolos. Tiveram quatro filhos e três filhas.

Dom José I Jaz no Panteão dos Braganças, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.





[i] Por alturas do final do ano de 1759, já as relações entre Portugal e a Santa Sé se encontravam, bastante deterioradas, divididas entre dois palcos em Lisboa, onde as relações entre o núncio apostólico Acciaiuoli, cujo relacionamento com o governo de Dom José foi sempre difícil e em Roma onde o ministro de Portugal na Santa Sé, hoje reconhecido por embaixador, Dom Francisco de Almeida Mendonça, também vivia em clima bastante tenso, dado que circulava por entre os círculos cardinalício e pró-jesuíticos que a Companhia de Jesus era perseguida "com crueldade judaica", típica dos Portugueses, "que eram todos judeus".
O agravamento das relações aconteceu quando em Abril de 1759, Dom José escreveu ao Papa Clemente XIII, solicitando autorização para julgar colectivamente os membros da Companhia de Jesus.
O papa só viria a responder em Agosto desse ano, recusando o julgamento colectivo, mas apenas daqueles que tivesse participado no insulto à coroa ao mesmo tempo que apelava, à clemência e ao sentido de justiça imparcial do rei.
Não era obviamente a resposta que a coroa portuguesa pretendia e um detalhe formal, acabou por impedir que essa resposta fosse oficialmente entregue a Dom José. O facto dessa resposta ter sido entregue ao núncio Acciaiuoli, antes de ter sido dado conhecimento ao embaixador Almada e Mendonça, como era prática corrente a altura.
Assim as relações entre Portugal e a Santa Sé evoluíam para a ruptura prevista. Independentemente dos factos ocorridos com a expulsão entretanto acontecida dos jesuítas de todo o território nacional, o episódio final na concretização dessa ruptura, aconteceu quando em Junho de 1760, no anúncio do casamento da princesa da Beira, Dona Maria, filha de Dom José e herdeira do trono, com seu tio o infante Dom Pedro, o governo português não ter avisar o núncio apostólico, que em resposta não ostentasse as luminárias da praxe, que todo o restante corpo diplomático, não deixou de fazer. Expressando assim o seu desagrado pela omissão verificada.
A falta de júbilo pelo casamento ostensivamente demonstrada pela nunciatura, justificou que a 15 de Julho de 1760, fosse participada ao cardeal Acciauiuoli a ordem régia, para se retirar do reino o mais breve possível, consumando-se o corte de ralações entre Portugal e a Santa Sé e que assim viriam a permanecer por mais 9 anos.

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