Efeméride de 4
de Dezembro 1496 - expulsão dos judeus e muçulmanos residentes em Portugal
No dia 04 de
Dezembro de 1496, é anunciada, em Muge, a expulsão dos judeus e muçulmanos
residentes em Portugal.
Em 1492, os
judeus foram expulsos de Espanha pelos Reis Católicos (Fernando e Isabel), por
não crerem converter-se ao catolicismo, a grande bandeira destes reis, que
tinham conseguido conquistar Granada neste ano, e expulsado os muçulmanos do
seu último reduto na Península Ibérica.
Assim, cerca
de 60 mil judeus emigraram para Portugal, onde Dom João II (1481-1495), O
Príncipe Perfeito, abriu-lhes as portas, obrigando-os a pagar 8 cruzados por
pessoa e concedendo-lhes, em troca, licença de trânsito por oito meses.
Os que não
possuíam tal quantia em dinheiro viram os seus bens confiscados para a Coroa e
retirados os filhos menores. Estes foram posteriormente batizados e entregues à
guarda de Álvaro de Caminha, que partiu com eles para o povoamento da ilha de São
Tomé, onde a maioria não resistiu às condições do clima. Dom João II queria,
assim, forçar a fixação de operários especializados em Portugal.
Com a morte de
Dom João II, sucedeu-lhe no trono o seu primo e cunhado Dom Manuel I, que,
embora fosse bastante tolerante com os Judeus, publicou o édito, em Muge,
próximo de Lisboa, para a expulsão da comunidade judaica de Portugal, a
pretexto de se crer casar com a Infanta Dona Isabel de Espanha, filha dos Reis
Católicos e estes terem imposto essa condição para haver boda.
Dom Manuel I
apercebeu-se que a saída dos judeus do País levaria, também, à fuga de capitais
do Reino, já que a comunidade judaica era, maioritariamente, formada por
mercadores, banqueiros, médicos, economistas, ourives, entre outras atividades.
Era portanto gente abastada.
Para Dom
Manuel I, a saída de tamanha riqueza não podia acontecer, sobretudo num momento
em que a aposta nos Descobrimentos era cada vez maior, e o capital judaico era
muito necessário. Assim sendo, Dom Manuel I decretou a conversão forçada de
judeus, e até de muçulmanos, ao Cristianismo no prazo de dez meses. Nasceu,
assim, o conceito de cristão-novo (vs os cristãos anteriores, chamados a partir
de então de cristãos-velhos).
Em 1499, os
cristãos-novos foram proibidos de sair de Portugal, mas tinham acesso a cargos
políticos, administrativos e eclesiásticos. Além disso, Dom Manuel I deixou-os
praticar a sua religião de forma secreta, tendo uma política de grande
benevolência para com os antigos judeus. Contudo, a diferenciação entre cristãos-novos
e velhos era muito grande e estes últimos, impuseram várias perseguições e até
massacres[i],
obrigando muitos dos cristãos-novos a sair do país já que estes sentiam-se
portugueses de segunda.
Em 22 de Maio de 1501, aportou à
Terceira uma caravela que transportava grande número de cristãos-novos que fugiam
à perseguição no Continente e que tinha como destina a África.
O mar bravio
destruiu-lhes o barco e obrigou-os a pedir ajuda na Terceira, provavelmente
através do atual Porto Judeu. Vasco Anes Corte-Real, o Capitão Donatário de
Angra, avisou Dom Manuel I do sucedido e o Rei ofereceu-lhe os judeus como
escravos. Assim nasceu a primeira colónica judaica na Terceira e nos Açores.
Vasco Anes Corte-Real rapidamente
compreendeu as capacidades judaicas e o benefício que a Ilha podia receber com
tal presença, assim os judeus foram bem acolhidos e tratados como iguais, longe
do fanatismo que se notava na capital do Reino. A população cedo começou a
entrar em contato com os rituais judaicos, que lhes eram permitidos praticar.
Em 1558, a comunidade cristã-nova nos Açores já era grande e estes pagaram 150
000 cruzeiros à regente Dona Catarina, avó de Dom Sebastião, para prover as
armadas da Índia. Em troca, Dona Catarina prorrogou o adiamento da pena de
confisco de bens aos cristãos-novos por dez anos, deixando-os envolver-se na
vida do arquipélago.
Num momento de
crise, é bom olharmos para estes exemplos marcantes da nossa história e
perceber a importância da tolerância e do apoio às minorias. É necessário
respeitar e viver com as diferenças não utilizar as desculpas dos problemas e
da crise para desrespeitar a Liberdade e a individualidade de cada ser. Não
devemos ser falsos hipócritas, fingindo ser o que não somos, devemos assumir a
nossa lugar no mundo com defeitos e virtudes e respeitar as diferenças.
A Liberdade de
cada um termina quando interfere na do outro…seja ele quem for.
[i]
No Massacre de Lisboa de 1506,
também conhecido como Pogrom de Lisboa ou Matança da Páscoa de 1506, uma
multidão perseguiu, torturou e matou centenas de judeus, acusados de serem a
causa de uma seca, fome e peste que assolavam o país.
Sem comentários:
Enviar um comentário