Para além de
celebrar o dia da chegada de Vasco da Gama a Calecute, 20 de Maio de 1498, a Marinha
celebra também os 700 anos do diploma régio em que D. Dinis outorgou o título
de Almirante-mor ao genovês Manuel Pessanha, a 1 de Fevereiro de 1317. O contrato
fixado pelo diploma régio evocado determinou a organização, de forma
permanente, da Armada portuguesa, sendo o documento decisivo para o almirante
Manuel Pessanha liderar o processo que tornou o país numa potência naval
relevante.
Até à
conquista definitiva do Algarve, todos os reis da 1ª Dinasta combateram os
mouros principalmente em terra. Os nobres ocupavam-se quase exclusivamente em
actividades de guerra e de “fossadas” para sul, sendo esta última actividade
uma das suas maiores fontes de rendimento. Chegados ao algarve, reinado D.
Afonso III (1248-1279), expulsos os mouros, uma nova realidade iria então ter
inicio. As acções de “fossada”, ou seja o corso contra os mouros teria agora de
passar para o mar. Para levar a efeito tal desiderato era necessário a
existência de uma marinha bem preparada, bem apetrechada e comandada por gente experiente.
É pois com
este panorama no horizonte que D. Dinis (1279-1325), apercebendo-se que o
combate no mar tinha características e tácticas especificas, exigindo
profissionais bem preparados e capazes de conduzir uma acção permanente no
contexto internacional em que o país estava inserido que decide nomear o
primeiro Almirante –mor da nossa Armada, Nuno Fernandes Cogominho, (1307?)
dando assim inicio ao que viria a ser o embrião da nossa Marinha de Guerra
capaz de dar caça aos piratas que infestavam a nossa costa, prejudicando
gravemente o comercio internacional, já então, bastante significativo. Com a sua morte (1316), D. Dinis nomeia para o
substituir um homem bastante experiente, o genovês Manuel Pessanha.
Assim, por
contrato assinado em 1 de Fevereiro de 1317 em Atouguia da Baleia, “nasce”
oficialmente a nossa marinha, que passa, daí em diante, a desempenhar um papel
importante na política interna e externa portuguesa.
No entanto não
nos podemos esquecer que muitos anos antes da sua criação “oficial” já existiam
relatos da sua existência.
De facto,
desde os períodos pré-Romanos que “nós”, os povos da península, foram sendo influenciados
pelos povos mediterrâneos, como os Fenícios, os Gregos e os Cartagineses, que
aqui se deslocavam procurando negociar produtos cobiçados ou escaços noutros
locais, dando inicio a muito rendoso e vantajoso comercio marítimo, que se
tornaria fundamental no processo e manutenção da nossa, ainda jovem,
independência.
Este movimento
comercial sul/norte, cresce, com ele crescem as nossas exportações, sal, peixe
salgado, vinho, assim como florescem cidades como Lisboa, onde estas trocas
comerciais são efectuadas rendendo para seus habitantes riqueza relevante.
Sendo a nossa
costa uma zona de passagem obrigatória de muitos navios com mercadorias, também
para aqui se dirigiram e começaram a operar piratas, com o intuito de aqui se
dedicaram ao corso. A norte Vikings e Normandos e a sul, Muçulmanos.
Tornou-se por
isso necessário eliminar das nossa costas estes piratas, de forma a que se
torna-se seguro aqui viver e utilizar o mar em segurança.
Tendo em conta
esta realidade, D. Diogo Gelmirez, (1069-1149), Bispo de Santiago de Compostela,
manda construir duas Galés de Guerra, dando assim início à existência da
marinha de guerra na Península.
Um dos
aspectos mais importantes que viria a demarcar o nosso povo dos povos da nossa
vizinha Espanha, tem a ver com o desenvolvimento do tráfico marítimo na costa
ocidental e com a possibilidade de demandar, em segurança, os portos de Lisboa
e Porto. Isto torna-se evidente a partir do momento que se consegue o domínio
da costa ocidental, da pesca e da exploração do sal, do apoio à navegação
costeira e da função de intermediário entre o norte e o sul da Europa e do
Mediterrâneo marítimo.
Claro que uma
organização desta envergadura não nasce de um dia para o outro, vai-se
construindo ao ritmo da evolução dos povos.
Uma das
primeiras referências à existência de uma qualquer organização naval terá
ocorrido durante a conquista de Lisboa em 1147 (Sem que se conheça qualquer
documento que confirme). Quando num relato da referida batalha se refere que “Morreu de feridas o Comandante das galés
Portuguesas”. Referir-se-á com grande probabilidade a um cavaleiro que
dirigia uma pequena frota de galés ao serviço de Afonso Henriques, sobretudo
nos movimentos de protecção da costa
Batalha do
Cabo Espichel (15 de Julho 1180). O lendário D. Fuas Roupinho, cavaleiro de D.
Afonso Henriques. Habitualmente apontado como sendo o primeiro Almirante
Português, vencedor de diversas batalhas navais e morte em frente a Ceuta numa
batalha contra os mouros. Provavelmente tudo isto não passará de uma lenda, mas
permite demonstrar como já era importante Ceuta no combate do corso.
Conquista de
Alcácer do Sal em 1158. Conquista de Silves 1189, D. Sancho I.
Participação
na tomada do Algarve nos reinados de D. Sancho II e D. Afonso III.
Como podemos
verificar, durante o período que vai de 1147 a 1317, várias são as referências
à existência de uma estrutura naval que colocada ao serviço de Portugal se foi
consolidando ao mesmo tempo que o País crescia para Sul.
Temos de
afirmar que a “Marinha”, após a conquista do Algarve por D. Afonso III, adquiri
uma extrema importância, uma vez que:
a.
O nosso tradicional inimigo mouro, passará a ter
no mar a única base de ataque e corso contra os portugueses e seus interesses
comerciais.
b.
Da mesma forma os cavaleiros que durante mais de
um século tinham vivido da “fossada”, a partir deste momento o único local de
“fossada” será o mar.
Quando hoje se
apresentam os descobrimentos como um projecto planeado e coerente, iniciado a
partir do século XV, não se pode deixar de concluir que todo esse projecto não
é obra de uma só geração, mas resultado de uma intensa actividade marítima que
surge nos primórdios da nacionalidade e que vai crescendo acompanhado o
crescimento do país.
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