segunda-feira, 10 de abril de 2017

Igreja Ortodoxa Copta

“O grupo extremista Estado Islâmico (EL) reivindicou hoje os dois atentados no Egito em igrejas coptas, uma minoria cristã no país, e que fizeram pelo menos 33 mortos”.

“Uma bomba explodiu, este domingo, numa igreja copta em Alexandria, Egito, deixando pelo menos onze mortos e 33 feridos, incidente que ocorreu horas depois de uma primeira explosão também numa igreja copta na cidade de Tanta”.
“A visita está prevista para o final deste mês e vai mesmo acontecer. “O que aconteceu provoca confusão e um grande sofrimento, mas não pode impedir o desenvolvimento da missão de paz do Papa”, considera o Vaticano”.

“O Papa tinha previsto, e mantém, a sua viagem ao Egito, a efectuar no final deste mês, apesar dos atentados, no domingo, contra duas igrejas coptas, que mataram 44 pessoas, disse o número três do Vaticano, numa entrevista publicada esta segunda-feira”.
Assim tem sido noticiado nos últimos dias em toda a impressa nacional e internacional.

Mas afinal quem são os Coptas Egípcios?
Para os menos versados nestes assuntos do “Cristianismo” aqui deixo uma breve síntese relacionada com Igreja Ortodoxa Copta que no Egipto representa cerca de 10% da população.

Bíblia escrita na língua Copta
A Igreja Ortodoxa Copta, de acordo com a tradição, foi estabelecida pelo evangelista São Marcos[i] no Egipto por volta do ano de 42 d.C. É uma igreja ortodoxa oriental, isto é, uma igreja cristã que, por não aceitar o Concílio de Calcedónia[ii], não está em comunhão com a Igreja Ortodoxa nem com a Igreja Católica. Pratica o rito alexandrino, a única grande igreja a executá-lo ao lado da Igreja Católica Copta.
É a igreja cristã nacional do Egito (copta significa egípcio) e uma das igrejas da Ortodoxia Oriental mais antigas do mundo. A maior igreja cristã do Norte da África, é governada pelo seu primaz, o Papa Teodoro II[iii] juntamente com o seu Sínodo.

Os primeiros cristãos no Egito eram principalmente judeus de Alexandria, tais como Teófilo, a quem Lucas dirige o capítulo introdutório do seu evangelho. Quando a Igreja foi fundada por São Marcos, durante a época do imperador romano Cláudio[iv], um grande número de egípcios, contrariamente a gregos e judeus, abraçou a fé cristã. Esta espalhou-se pelo Egito em poucas décadas, tal como se pode verificar nos escritos do Novo Testamento encontrados em Bahnasa, no Egito Médio, e que datam de cerca do ano 200, e de um fragmento do Evangelho segundo São João, escrito em língua copta, encontrado no Egito Superior e datado da primeira metade do século II.
No século IV um presbítero vindo do que é hoje a Líbia, Ário, iniciou uma discussão teológica sobre a natureza de Jesus Cristo que se espalhou por toda a Cristandade. O Concílio de Niceia (325), convocado pelo imperador Constantino (306-337 dc) para resolver a questão levou à formulação do Credo de Niceia, ainda hoje recitado por todos os cristãos, e cujo autor é Santo Atanásio.

Um ponto de rotura definitivo da Igreja Copta deu-se no Concílio de Calcedônia, no ano de 451. O Papa Dióscoro de Alexandria, protestando contra o que percebia como uma influência nestoriana na fórmula calcedoniana e contra a influência do Imperador Marciano, glorificado como santo pelos calcedonianos, convocou o Segundo Concílio de Éfeso, protegendo Eutiques como ortodoxo e separando-se do resto da Igreja. Como resultado, a maior parte da Igreja de Alexandria separou-se das restantes igrejas cristãs por causa das suas características miafisistas, com o remanescente diofisista subsistindo hoje na Igreja Ortodoxa Grega de Alexandria. Este cisma, subsistindo na chamada Ortodoxia Oriental, perdura até hoje.
A Igreja Ortodoxa Copta teve hegemonia regional por algum tempo, hegemonia esta que foi mantida mesmo algum tempo após a conquista muçulmana do Egipto no ano de 639.

Gradualmente, no entanto, as conversões ao Islão, largamente influenciadas pelos abusos contra cristãos e pela jizya, transformaram o Egipto num país maioritariamente muçulmano por volta do século XII.
Em 1741, o bispo copta Atanásio de Jerusalém converteu-se ao catolicismo romano, sendo subsequentemente apontado pelo Papa Bento XIV como vigário apostólico de menos de dois mil coptas. Este bispo acabaria por regressar para a Igreja Ortodoxa, mas em 1824 foi estabelecido um Patriarca de Alexandria em união com Roma, que progressivamente construiria igrejas praticando o rito alexandrino até que o Papa Leão XIII fatalmente restabeleceu a Igreja Católica Copta em 1895, hoje com sede no Cairo.

Actualmente o número de cristãos fiéis à Igreja Copta é de cerca de 16 milhões, estando a sua maioria, mais de metade, no Egito.
Os coptas celebram o Natal em 7 de Janeiro, conforme o calendário juliano. Um costume curioso da Igreja Copta é que, em liturgias ordinárias, ainda se usa a copta, um descendente da língua egípcia, original do Antigo Egito. A Igreja funciona como uma das últimas comunidades preservando esta língua, sendo que, com os vários atentados contra a Biblioteca de Alexandria e a influência de outras línguas (principalmente a árabe) na antiguidade, a língua foi sendo esquecida aos poucos e, logo, tornou-se incompreensível, estando definitivamente extinta no máximo pelo século XVII. Porém, a Igreja Copta mantém viva a língua copta graças a seus ritos litúrgicos.

Há também um pequeno número de convertidos por esforços missionários, principalmente ao longo da África. No Brasil, os coptas são representados desde 2001 por uma catedral em Jabaquara, São Paulo, presidida pelo bispo Dom Aghason Anba Paul.
Em Portugal esta comunidade é perfeitamente residual.

Espero que este pequeno relato, pelo menos, vos tenha aguçado a curiosidade de saber mais e mais acerca do mundo que nos rodeia.


[i] Marcos Evangelista (10 a.C. — Alexandria, 25 de abril de 68) foi discípulo do apóstolo Paulo de Tarso e posteriormente de Pedro. É tradicionalmente considerado como o autor de um dos Evangelhos. Ele é também um dos Setenta Discípulos e venerado como santo por várias igrejas cristãs, dentre as quais a católica, a ortodoxa e a copta, a qual o considera propriamente o patriarca, fundador da Igreja de Alexandria, uma das principais sedes do cristianismo primitivo

[ii] O Concílio de Calcedónia foi um concílio ecuménico que se realizou de 8 de Outubro a 1 de Novembro de 451 em Calcedónia, uma cidade da Bitínia, na Ásia Menor, frente a Constantinopla. Foi o quarto dos primeiros sete concílios ecumênicos da história do cristianismo, onde foi repudiada a doutrina de Eutiques relativa ao monofisismo e declarada a dualidade humana e divina de Jesus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

[iii] Sua Beatitude Teodoro II, com nome de nascimento Wageeh Sobhy Baky Suleiman é o atual Papa da Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, o 118.º Patriarca de Alexandria e o Patriarca da África sobre a Santa Sé apostólica. Nasceu a 4 de Novembro de 1952 (64 anos), Almançora, Egito

[iv] Tibério Cláudio César Augusto Germânico foi o quarto imperador romano da dinastia júlio-claudiana, e governou de 24 de Janeiro de 41 d.C. até a sua morte em 54.

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