A 8 de Agosto de 1583 - Morre Fernão Mendes Pinto, (Monte mor-o-Velho 1510-, Almada, 8 de Julho de 1583) aventureiro, combatente, viajante, autor de
"Peregrinação".
Sabe-se hoje que não fez realmente parte da primeira expedição
portuguesa que logrou alcançar o Japão,
em 1542, mas sim duma das
primeiras. Acontece que os governantes locais que o receberam não tinham ainda
visto outros ocidentais e por isso reagiram dizendo-lhe que tinha sido o
primeiro a chegar àquelas paragens. A chegada dos portugueses ao Japão foi
muito celebrado, e perdura ainda na memória cultural japonesa, porque foi o
episódio que permitiu a introdução das armas de fogo naquele país. O próprio
Fernão Mendes Pinto insere-se nesse papel, descrevendo o espanto e o interesse
do dito rei local quando viu um dos seus companheiros disparar uma arma
enquanto caçava.
Ainda pequeno, um seu tio levou-o para Lisboa onde o pôs ao serviço na casa de D. Jorge de Lencastre, Duque de Aveiro,
filho do rei D. João II.
Manteve-se aqui durante cerca de cinco anos, dois dos quais como moço de câmara do próprio D. Jorge, facto importante
para a comprovação da sua descendência duma classe social que contradizia a
precária situação económica que a família então detinha.
Em 1537, parte
para a Índia, ao encontro dos
seus dois irmãos. De acordo com os relatos da sua obra Peregrinação, foi durante uma
expedição ao mar Vermelho em 1538,
Mendes Pinto participou num combate naval com os otomanos, onde foi feito
prisioneiro e vendido a um grego e por este a um judeu que o levou para Ormuz, onde foi resgatado por
portugueses.
Acompanhou a Malaca Pedro de Faria, donde fez o ponto de partida para as suas aventuras, tendo percorrido, durante 21 acidentados anos, as costas da Birmânia, Sião, arquipélago de Sunda, Molucas, China e Japão, grande parte desse tempo ao lado do pirata António de Faria. Numa das suas viagens a este país conheceu S. Francisco Xavier e, influenciado pela personalidade, decidiu entrar para a Companhia de Jesus e promover uma missão jesuíta no Japão.
Em 1554, depois de libertar
os seus escravos, vai para o Japão como noviço da Companhia de Jesus e como
embaixador do vice-rei D. Afonso
de Noronha junto do daimyo de Bungo. Esta viagem constituiu um desencanto
para ele, quer no que se refere ao comportamento do seu companheiro, quer no
que respeita ao comportamento da própria Companhia. Desgostoso, abandona o
noviciado e regressa a Portugal.
Com a ajuda do ex-governador da Índia Francisco Barreto, conseguiu arranjar
documentos comprovativos dos sacrifícios realizados pela pátria, que lhe deram
direito a uma tença, que nunca
recebeu. Desiludido, foi para a sua Quinta de Palença, em Almada, onde se manteve até à morte e
onde escreveu, entre 1570 e 1578,
a obra que nos legou, a sua inimitável Peregrinação. Esta só viria a ser
publicada 20 anos após a morte do autor, receando-se que o original tenha
sofrido alterações às quais não seriam alheios os Jesuítas.
Deixou-nos um relato tão fantástico do que viveu (a Peregrinação, publicada
postumamente em 1614), que
durante muito tempo não se acreditou na sua veracidade; de tal modo que até se
fazia um jocoso dito com o seu nome: Fernão
Mendes Minto, ou então ainda:
Fernão, mentes? Minto!
Esta ideia de que o que contava era demasiado fantasioso para
poder ter-lhe realmente acontecido parte do princípio que se pode julgar um
texto do séc. XVI com os critérios de hoje, mas na verdade o texto é uma
inestimável fonte de informação para conhecermos o que sucedia aos navegadores
e aventureiros que iam a caminho do extremo-oriente nas caravelas portuguesas,
mesmo que nem todas essas coisas tenham acontecido realmente a Fernão Mendes
Pinto..
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