Após a morte
de Dom Henrique (Dijon, França 1066-Astoga, Espanha 1112) em 1112, fica Dona
Teresa a governar o condado, pois achava que este lhe pertencia por direito,
mais do que a outrem, já que lhe tinha sido dado por seu pai (Teresa de Leão
nasceu em 1080 filha de uma relação entre Afonso VI, Rei de Leão e Castela, e
Ximena Moniz, uma nobre castelhana que frequentava a corte e os aposentos do
monarca na altura do casamento). Associou ao governo o conde galego Bermudo
Peres de Trava e o seu irmão Fernão Peres de Trava. Terá até talvez casado
em segundas núpcias com Bermudo, do qual terá tido uma filha.
Hoje é dia de São
João Baptista. Comemora-se ainda o aniversário do nascimento de Nuno Álvares
Pereira, agora São Nuno de Santa Maria. Mas há uma outra efeméride deste dia,
até mais esquecida que as anteriormente referidas, contudo absolutamente
decisiva para toda a História de Portugal.
Corria o ano
de 1128. A 24 de Junho daquele ano, faz hoje justamente 891 anos, travava-se a
Batalha de São Mamede entre Dom Afonso Henriques e a sua mãe Dona Teresa. Nesta
defrontam-se realmente os exércitos do conde Fernão Peres de Trava e o dos
barões portucalenses. Estes últimos quando venceram Fernão Peres pretendiam
apenas obriga-lo a ceder o governo do condado portucalense ao príncipe herdeiro.
Tendo o primeiro rei de Portugal vencido esta contenda, era dado início ao
processo que viria a garantir a independência do Condado Portucalense face ao
Reino de Leão. Era – tão-somente – o início de Portugal.
Foi, portanto,
em Junho, precisamente no dia 24, que, perto do castelo de Guimarães, ocorreu a
primeira grande peleja liderada por Afonso Henriques, a batalha de S. Mamede.
Porque foi travada contra a sua mãe e seus aliados e porque, como acabámos de
referir, alicerçou todo o processo de independência do Condado Portucalense
relativamente ao Reino de Leão, acabou por se tornar num dos mais conhecidos e
comentados confrontos da nossa história.
Desde 1112,
ano da morte do seu esposo, Dona Teresa detinha o governo do condado
Portucalense tendo a seu lado fidalgos castelhanos e galegos, nomeadamente
Fernão Peres de Trava, com quem, pensa-se, terá mantido, inclusive, uma relação
marital.
Já desde 1127,
o infante Afonso Henriques mantinha discórdias importantes com sua mãe. Não
foi, pois, por acaso que tenha tentado a todo o custo apoderar-se do governo do
Condado.
As tropas do
infante e dos barões portucalenses enfrentaram as de Fernão Peres de Trava e
dos seus partidários portugueses e fidalgos galegos no dia de São João Baptista
do já referido ano de 1128.
Como a vitória
foi para Dom Afonso Henriques, o cronista do mosteiro de Santa Cruz aproveitou
a coincidência da data da batalha com a festa religiosa para exaltar o
acontecimento, conseguindo colocá-lo ao nível das intervenções divinas. São
João tinha sido o anunciador de Jesus Cristo. Como a batalha se deu na data em
que se venera esse santo e a vitória ter sorrido a Dom Afonso Henriques, tal
facto constitui, segundo aquele cronista, a verdadeira prova de que o infante
era, também ele, o anunciador do aparecimento de um novo reinado.
A Batalha de
São Mamede foi absolutamente decisiva para a história da nossa nação. Basta
lembrar que com ela mudaram os detentores do poder no condado, com expulsão de
Dona Teresa.
Para alguns
teria sido enclausurada pelo filho Dom Afonso Henriques no Castelo de Lanhoso,
onde viria a falecer em 1130. No entanto, há quem defenda que após a derrota de
São Mamede, Dona Teresa, acompanhada pelo conde galego Fernão Peres, terá
fugido para a Galiza, onde se exilou e onde acabaria por falecer em 1130.
Este grande
acontecimento vai mudar ainda as relações das forças sociais para com o próprio
poder. Os barões portucalenses, ao escolherem Dom Afonso Henriques para seu
chefe, recusavam-se a aceitar a política da alta nobreza galega e do arcebispo
de Compostela. Desta forma, estavam basicamente a inviabilizar um reino que
englobasse Portugal e a Galiza. Desencadearam então uma forte corrente
independentista capaz de subsistir por si só e capaz de resistir a todas as
tentativas posteriores de reabsorção.
Afonso VII de
Leão, primo do infante, ocupado com as vicissitudes da política leonesa, não
atribui importância a esta mudança de poder no condado, e limita-se a aceitar o
preito de fidelidade de Dom Afonso Henriques em 1137, (e no tratado de Zamora a
5 de Outubro de 1143). Porque isso contribuía para engrandecer o prestígio do
imperador Afonso VII, a chancelaria leonesa não hesita em atribuir o título de
rei ao príncipe português. Podia assim Afonso VII afirmar a sua condição de
imperador, o qual tem reis por vassalos.
Entre os
principais barões portucalenses que participaram na batalha de São Mamede ao
lado de D. Afonso Henriques, estão Soeiro Mendes de Sousa «O Grosso»
(1121-1137), Gonçalo Mendes de Sousa «Sousão» (1154-1167), Egas Moniz de
Ribadouro «O Aio» (1108-1146), Gonçalo Mendes da Maia «O Lidador» e outros.
A localização
exacta do campo de batalha é ainda nos dias de hoje pouco precisa. Sabe-se, no
entanto, e isso é ponto assente, que a refrega se deu perto de Guimarães, o que
releva para a evocação daquela cidade como o berço de Portugal.
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