segunda-feira, 24 de junho de 2019

Efeméride de 24 de Junho - Batalha São Mamede – 1128

Após a morte de Dom Henrique (Dijon, França 1066-Astoga, Espanha 1112) em 1112, fica Dona Teresa a governar o condado, pois achava que este lhe pertencia por direito, mais do que a outrem, já que lhe tinha sido dado por seu pai (Teresa de Leão nasceu em 1080 filha de uma relação entre Afonso VI, Rei de Leão e Castela, e Ximena Moniz, uma nobre castelhana que frequentava a corte e os aposentos do monarca na altura do casamento). Associou ao governo o conde galego Bermudo Peres de Trava e o seu irmão Fernão Peres de Trava. Terá até talvez casado em segundas núpcias com Bermudo, do qual terá tido uma filha.

Hoje é dia de São João Baptista. Comemora-se ainda o aniversário do nascimento de Nuno Álvares Pereira, agora São Nuno de Santa Maria. Mas há uma outra efeméride deste dia, até mais esquecida que as anteriormente referidas, contudo absolutamente decisiva para toda a História de Portugal.

Corria o ano de 1128. A 24 de Junho daquele ano, faz hoje justamente 891 anos, travava-se a Batalha de São Mamede entre Dom Afonso Henriques e a sua mãe Dona Teresa. Nesta defrontam-se realmente os exércitos do conde Fernão Peres de Trava e o dos barões portucalenses. Estes últimos quando venceram Fernão Peres pretendiam apenas obriga-lo a ceder o governo do condado portucalense ao príncipe herdeiro. Tendo o primeiro rei de Portugal vencido esta contenda, era dado início ao processo que viria a garantir a independência do Condado Portucalense face ao Reino de Leão. Era – tão-somente – o início de Portugal.

Foi, portanto, em Junho, precisamente no dia 24, que, perto do castelo de Guimarães, ocorreu a primeira grande peleja liderada por Afonso Henriques, a batalha de S. Mamede. Porque foi travada contra a sua mãe e seus aliados e porque, como acabámos de referir, alicerçou todo o processo de independência do Condado Portucalense relativamente ao Reino de Leão, acabou por se tornar num dos mais conhecidos e comentados confrontos da nossa história.

Desde 1112, ano da morte do seu esposo, Dona Teresa detinha o governo do condado Portucalense tendo a seu lado fidalgos castelhanos e galegos, nomeadamente Fernão Peres de Trava, com quem, pensa-se, terá mantido, inclusive, uma relação marital.

Já desde 1127, o infante Afonso Henriques mantinha discórdias importantes com sua mãe. Não foi, pois, por acaso que tenha tentado a todo o custo apoderar-se do governo do Condado.

As tropas do infante e dos barões portucalenses enfrentaram as de Fernão Peres de Trava e dos seus partidários portugueses e fidalgos galegos no dia de São João Baptista do já referido ano de 1128.

Como a vitória foi para Dom Afonso Henriques, o cronista do mosteiro de Santa Cruz aproveitou a coincidência da data da batalha com a festa religiosa para exaltar o acontecimento, conseguindo colocá-lo ao nível das intervenções divinas. São João tinha sido o anunciador de Jesus Cristo. Como a batalha se deu na data em que se venera esse santo e a vitória ter sorrido a Dom Afonso Henriques, tal facto constitui, segundo aquele cronista, a verdadeira prova de que o infante era, também ele, o anunciador do aparecimento de um novo reinado.

A Batalha de São Mamede foi absolutamente decisiva para a história da nossa nação. Basta lembrar que com ela mudaram os detentores do poder no condado, com expulsão de Dona Teresa.

Para alguns teria sido enclausurada pelo filho Dom Afonso Henriques no Castelo de Lanhoso, onde viria a falecer em 1130. No entanto, há quem defenda que após a derrota de São Mamede, Dona Teresa, acompanhada pelo conde galego Fernão Peres, terá fugido para a Galiza, onde se exilou e onde acabaria por falecer em 1130.

Este grande acontecimento vai mudar ainda as relações das forças sociais para com o próprio poder. Os barões portucalenses, ao escolherem Dom Afonso Henriques para seu chefe, recusavam-se a aceitar a política da alta nobreza galega e do arcebispo de Compostela. Desta forma, estavam basicamente a inviabilizar um reino que englobasse Portugal e a Galiza. Desencadearam então uma forte corrente independentista capaz de subsistir por si só e capaz de resistir a todas as tentativas posteriores de reabsorção.

Afonso VII de Leão, primo do infante, ocupado com as vicissitudes da política leonesa, não atribui importância a esta mudança de poder no condado, e limita-se a aceitar o preito de fidelidade de Dom Afonso Henriques em 1137, (e no tratado de Zamora a 5 de Outubro de 1143). Porque isso contribuía para engrandecer o prestígio do imperador Afonso VII, a chancelaria leonesa não hesita em atribuir o título de rei ao príncipe português. Podia assim Afonso VII afirmar a sua condição de imperador, o qual tem reis por vassalos.

Entre os principais barões portucalenses que participaram na batalha de São Mamede ao lado de D. Afonso Henriques, estão Soeiro Mendes de Sousa «O Grosso» (1121-1137), Gonçalo Mendes de Sousa «Sousão» (1154-1167), Egas Moniz de Ribadouro «O Aio» (1108-1146), Gonçalo Mendes da Maia «O Lidador» e outros.

A localização exacta do campo de batalha é ainda nos dias de hoje pouco precisa. Sabe-se, no entanto, e isso é ponto assente, que a refrega se deu perto de Guimarães, o que releva para a evocação daquela cidade como o berço de Portugal.


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