Tratado de paz firmado em 1137 entre os primos Dom Afonso VII de
Castela e Leão e Dom Afonso Henriques de Portugal, pelo qual se encerraram
(temporariamente) os conflitos entre os dois jovens soberanos e seus reinos,
que vinham já da batalha de Cerneja[i], numa
aliança do príncipe português com os senhores da Galiza contra seu primo, que
foi mesmo derrotado.
De acordo com a tradição, Dom Afonso Henriques terá invadido a
Galiza e conquistado a praça de Tui, junto ao rio Minho, aproveitando as
pretensões de Afonso VII em relação ao reino de Navarra, com o qual estava em
hostilidade aberta. Afonso Henriques terá tomado Tui com o apoio do rei de
Navarra, numa iniciativa militar "à traição" em que terá conquistado
alguns castelos na região tudense. Afonso VII, todavia, rapidamente recuperou
Tui.
Dom Afonso Henriques, que nunca reconheceu o título, e respetivos
direitos, de imperador a seu primo, terá também com esta iniciativa marcado
posição relativamente a essa sua recusa de vassalagem, que se estenderia ao seu
projeto político de formação de um reino independente a partir do condado
Portucalense.
Pelo tratado de Tui, que apenas interrompeu hostilidades, quase
como um "cessar-fogo", Dom Afonso Henriques cedeu ainda algumas
terras no Norte em troca de Tomar e Leiria. Alguns autores veem na assinatura
da paz de Tui uma jura de vassalagem de Dom Afonso Henriques a seu primo, Dom
Afonso VII, mas cremos que não terão chegado a tanto as intenções pacíficas do
príncipe portucalense, já que mesmo depois do tratado de Zamora, pelo qual
Castela reconheceu a independência de Portugal, o soberano de Castela-Leão
ainda se queixava ao papa (como em 1148, em pleno concílio de Reims, Papa
Eugénio III) de que o seu primo e rei de Portugal nunca lhe reconhecera nem
supremacia nem titulatura imperial.
Alguns autores defendem ainda que a partir do tratado de Tui Dom
Afonso Henriques deixou de usar o título de "príncipe" e passou a
auto-intitular-se "rei" (rex), ao mesmo tempo que
"desiste", tanto quanto parece, das suas pretensões a Norte, sobre a
Galiza, e se decide pelo Sul, como se verá no mítico episódio de Ourique, em
1139, a partir do qual uma batalha de Reconquista passou a ser o marco do
desígnio independentista de Portugal e da afirmação de um jovem "rei"
desenhada dois anos nas suas surtidas galegas e nos desafios lançados a Afonso
VII e a Castela. Tudo seria depois definido em Zamora, em 1143, aquando do
reconhecimento da independência de Portugal.
[i]
Com a vitória
na batalha de São Mamede (1128), o infante Afonso Henriques e a nobreza local
assumiram o poder no Condado Portucalense, expulsando do governo a condessa-mãe
D. Teresa apoiada pela nobreza Galega.
O novo Conde transferiu a sua capital
para Coimbra e pretendeu assegurar a sua autonomia face ao Reino de Leão, onde
reina o seu primo, o rei Afonso VII.
Como represália pelo cerco a
Guimarães, e com o desejo crescente de independência, os barões portucalenses,
sob o comando de Afonso Henriques, invadiram a Galiza, travando-se a Batalha de
Cerneja (1137), onde as tropas galego-leonesas do conde Fernão Peres de Trava e
de Rodrigo Velada, foram definitivamente vencidas.
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