Assinatura do Tratado de
Alcanizes, definindo a fronteira entre Portugal e Castela (1297).
Já lá vão 719 anos que foi
assinado, a 12 de Setembro de 1297, o Tratado de Alcanices. Considerado “um dos
suportes da identidade de Portugal”, assumindo um particular significado para a
região raiana de Riba Côa.
A assinatura de tão importante
documento, acto que teve lugar na localidade espanhola de Alcanices, passaram
para o domínio português os castelos do Sabugal, Vilar Maior, Alfaiates,
Castelo Rodrigo, Castelo Bom, Almeida e a localidade de San Felice de los
Galegos – na zona de Riba Côa – além de Olivença, Ouguela e Campo Maior.
O rei D.
Dinis, de acordo com o que foi estabelecido nesse tratado, desistia da posse de
Aiamonte, Esparregal, Valência e Aracena. A conjuntura interna espanhola
(nomeadamente as divergências profundas dos tutores do rei castelhano) não
deixou de se reflectir neste tratado, bem como a visão estratégica do monarca
português.
De forma a garantir tais compromissos,
ficou decidido o casamento do rei espanhol, D. Fernando IV, com a filha de D.
Dinis (a infanta D. Constança), enquanto D. Beatriz, infanta de Castela, foi
prometida ao príncipe D. Afonso (filho de D. Dinis).
As terras de Riba Côa
começaram por estar sob o domínio militar de D. Afonso Henriques e mais tarde
foram ocupadas por Fernando II de Leão, constituindo um território onde as
oscilações dos limites fronteiriços eram constantes.
O Tratado fixou, de forma
clara, a fronteira portuguesa deste território limitado pelos rios Côa e Águeda
e pela ribeira de Tourões.
Se na perspectiva portuguesa este
acordo veio definir, definitivamente o território português, do ponto de vista
castelhano ele foi entendido como aliança com vista à salvaguarda da paz,
fundamental para a resolução dos conflitos internos existentes.
Segundo Miguel Ladero Quesada,
foi o espírito diplomático de D. Sancho IV “nos últimos anos do seu reinado,
sobretudo, a sua morte prematura e a gravíssima crise política castelhana na
menoridade de Fernando IV que permitiram a D. Dinis jogar, alternativamente, as
cartadas da guerra e da aliança para conseguir mais territórios dos que havia
esperado e fixar as fronteiras em limites muitos favoráveis aos seus
interesses”.
Alcanices traduz, como muitos
reconhecem, um protagonismo inteligente da diplomacia portuguesa, evidenciado
mais tarde por vários historiógrafos, cuja interpretação relativamente à
passagem de Riba Côa para a Coroa lusitana assentava não na conquista
territorial mas na justa restituição de terras, onde se erguia – por exemplo –
o Mosteiro de Santa Maria de Aguiar (junto à histórica localidade de Castelo
Rodrigo).
Aquando da passagem dos 700 anos
da assinatura do Tratado de Acanices realizou-se um Congresso Luso-Espanhol nas
vilas de Riba Côa, cujo programa, para além dos diversos estudos apresentados,
incluiu várias exposições que reuniram pela primeira vez um valioso acervo das
peças mais representativas do património histórico e artístico desta região;
uma iniciativa que veio lançar novos olhares e interesses sobre este destacado
momento do processo histórico português.
Como salientou o historiador
Veríssimo Serrão no decorrer desse congresso, “As grandes vantagens do Tratado
de Alcanices resultavam da fixação da fronteira portuguesa que, com excepção de
Olivença, ocupada pela Espanha em 1801, correspondia então ao seu traçado
actual.
A importância deste Tratado para
a formação da nacionalidade portuguesa é inquestionável; ele evidencia
Portugal, decorridos todos estes séculos, como o país europeu com fronteiras
mais antigas.
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