Revolta dos Marinheiros - 8 de
Setembro de 1936. Levantamento da Organização Revolucionária da Armada,
organização militar clandestina afecta ao PCP, contra a ditadura de Oliveira
Salazar.
O surgimento da revolta dos
marinheiros da Organização Revolucionária da Armada, no dia 8 de Setembro de
1936, acontece num contexto de afirmação da ditadura fascista encabeçada por
Salazar em Portugal que se vinha concretizando no primeiro semestre desse ano,
correspondendo aos ecos internacionais do momento.
Se, por um lado, eram cada vez
mais sombrias as perspectivas mundiais de evolução do fascismo designadamente
nas suas faces mais visíveis da Alemanha e da Itália que antecipavam já a II
Guerra Mundial, por outro lado as vitórias eleitorais das Frentes Populares em
França e em Espanha em 1936 vinham concretizar o caminho no objectivo central
do movimento comunista e das forças democráticas no mundo de luta contra o
fascismo e suas ameaças, conforme se concluíra no VII Congresso da
Internacional Comunista em 1935.
Assim, sendo a ORA uma
organização com uma ideologia e constituição associadas ao PCP, foi tomada a
decisão de avançar com um movimento de protesto que culminava já um amplo
processo reivindicativo contra as arbitrariedades de diversa ordem cometidas no
seio da Armada portuguesa. Na verdade, coube justamente à classe dos praças da Marinha (grumetes, 1.ºs marinheiros e cabos)
essa iniciativa, consubstanciada pelo controlo dos navios NRP Dão, NRP
Afonso de Albuquerque e NRP Bartolomeu Dias que correspondiam aos de
maior adesão nas tripulações à ORA e de mais ampla difusão do seu órgão O
Marinheiro Vermelho.
Como objectivos, os marinheiros revoltosos pretendiam
dirigir um ultimato a Salazar no sentido de os seus direitos serem satisfeitos
e de serem terminadas as perseguições e libertados os presos políticos,
projectando-se colocar os navios a salvo fora da barra e usando o seu poder de
fogo. No entanto, após algumas horas, a revolta foi debelada pelo regime
fascista que antecipadamente teve acesso aos planos dos revoltosos, conseguindo
desactivar o potencial bélico das embarcações e ordenando o bombardeamento a
partir dos Fortes de Almada e do Alto do Duque que atingiu violentamente e
sobretudo o NRP Dão e o NRP Afonso de Albuquerque.
A revolta saldou-se por doze
marinheiros mortos, 208 marinheiros presos e demitidos a que se juntam a prisão
de 30 marinheiros ainda antes da sua eclosão. Foram condenados 82 revoltosos:
44 foram enviados para Angra do Heroísmo, 4 para Peniche e 34 enviados no
conjunto dos primeiros 150 detidos no ignóbil Campo de Concentração do Tarrafal
em Cabo Verde, onde muitos cumpriram penas entre os 16 e os 20 anos de prisão
política.
Como se veio a verificar e os
próprios marinheiros concluíram posteriormente, a revolta não podia ter
triunfado, mas granjeou a admiração e o exemplo para a luta contra o fascismo
em Portugal e no Mundo. Assim, constituindo-se como um exemplo de coragem, abnegação
e dedicação com a própria vida à luta contra o fascismo em Portugal, os
marinheiros deram o seu contributo para a restituição da liberdade no País,
justamente num período em que o fascismo português patenteava força e apoios a
nível internacional. Por isso, o seu exemplo de luta deve ser relembrado e
enaltecido como um contributo que criou amplas perspectivas de desenvolvimento
e fortalecimento do combate pela Liberdade.
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