A Implantação da República Portuguesa foi o
resultado de um golpe de estado organizado pelo Partido Republicano Português
que, no dia 5 de Outubro de 1910, destituiu a monarquia constitucional e
implantou um regime republicano em Portugal.
A subjugação do país aos interesses coloniais
britânicos, os gastos da família real, o poder da igreja, a instabilidade
política e social, o sistema de alternância de dois partidos no poder (os progressistas
e os regeneradores), a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos
tempos e se adaptar à modernidade tudo contribuiu para o processo de erosão da
monarquia portuguesa do qual os defensores da república souberam tirar o melhor
proveito.
A República foi proclamada às 9 horas da manhã do
dia 5 de Outubro de 1910 da varanda dos Paços do Concelho em Lisboa. Um governo
provisório chefiado por Teófilo Braga dirigiu os destinos do país até à
aprovação da Constituição de 1911 que deu início à Primeira República. Entre
outras mudanças, com a implantação da república, foram substituídos os símbolos
nacionais: o hino nacional e a bandeira.
Em 1890 o governo britânico enviou ao governo
português um ultimato, exigindo a retirada das forças militares portuguesas do
território compreendido entre de Angola e Moçambique (nos actuais Zimbabwe e
Zâmbia). A pronta cedência portuguesa às exigências britânicas foi vista como
uma humilhação nacional iniciando-se um profundo movimento de descontentamento
em relação ao novo rei, D. Carlos, à família real e à instituição da monarquia,
vistos como responsáveis pelo alegado processo de decadência nacional. A
situação agravou-se com a severa crise financeira ocorrida entre 1890-1891 e a
proclamação da Republica no Brasil (15 de Novembro de 1889), os republicanos
souberam capitalizar este descontentamento que acabaria por culminar no derrube
do regime.
Em 1890, o velho explorador Silva Porto imolou-se
envolto numa bandeira portuguesa no Kuito, em Angola, a morte do que fora um
dos rostos da exploração africana gerou uma onda de comoção nacional e o seu
funeral foi seguido por uma enorme multidão. Na cidade do Porto, no dia 31 de Janeiro
de 1891, registou-se um levantamento militar contra a monarquia constituído
principalmente por Sargentos e Praças. Os revoltosos, que tinham como hino uma
canção de cariz patriótico composta em reação ao ultimato britânico, "A
Portuguesa", tomaram os Paços do Concelho, de cuja varanda, o jornalista e
político republicano Augusto Manuel Alves da Veiga proclamou a implantação da
república em Portugal e hasteou uma bandeira vermelha e verde, pertencente ao
Centro Democrático Federal.
O movimento foi, pouco depois, sufocado por um
destacamento da guarda municipal que se manteve fiel ao governo, resultando 12
mortos e 40 feridos. Os revoltosos capturados foram julgados, tendo 250 sido
condenados a penas entre os 18 meses e os 15 anos de degredo em África. "A
Portuguesa" foi proibida.
Embora tendo fracassado, a revolta de 31 de janeiro
de 1891 foi a primeira grande ameaça sentida pelo regime monárquico e um
prenúncio do que viria a suceder quase duas décadas mais tarde
A propaganda republicana foi sabendo tirar partido
de alguns factos históricos de repercussão popular. As comemorações do terceiro
centenário da morte de Luís de Camões, em 1880, e o Ultimatum britânico, em
1890, por exemplo, foram amplamente aproveitadas, apresentando-se os
republicanos como os verdadeiros representantes dos mais puros sentimentos
nacionais e das aspirações populares. O terceiro centenário de Camões foi
comemorado com grandes cerimónias: um cortejo cívico que percorreu as ruas de
Lisboa, no meio de grande entusiasmo popular e, também, a trasladação dos
restos mortais de Camões e de Vasco da Gama para o Mosteiro dos Jerónimos
Em 1908, quando regressavam a Lisboa vindos de Vila
Viçosa, no Alentejo, onde haviam passado a temporada de caça, o rei D. Carlos e
o príncipe herdeiro Luís Filipe foram assassinados em plena Praça do Comércio.
O atentado ficou a dever-se ao progressivo desgaste do sistema político
português. A família real encontrava-se então no Paço Ducal de Vila Viçosa, mas
vários acontecimentos levaram o rei D. Carlos a antecipar o regresso a Lisboa,
tomando o comboio na estação de Vila Viçosa. A comitiva régia chegou ao
Barreiro onde para atravessar o Tejo apanharam o vapor desembarcando no
Terreiro do Paço, em Lisboa. Apesar do clima de grande tensão existente o rei
optou por seguir em carruagem aberta, com uma reduzida escolta, para demonstrar
normalidade. Enquanto saudavam a multidão presente na praça, a carruagem foi
atingida por vários disparos. Um tiro de carabina atravessou o pescoço do rei,
matando-o imediatamente. Seguiram-se vários disparos, sendo que o príncipe real
conseguiu ainda alvejar um dos atacantes, sendo em seguida atingido na face por
um outro disparo. A rainha, de pé, defendia-se com o ramo de flores que lhe
fora oferecido, fustigando um dos atacantes, que subira o estribo da carruagem,
gritando "Infames! Infames!". O infante D. Manuel foi também atingido
num braço. Dois dos regicidas foram mortos no local outros fugiram. A carruagem
entrou no Arsenal da Marinha, onde se verificou o óbito do rei e do herdeiro ao
trono.
Após o atentado, o governo foi demitido e foi
lançado um rigoroso inquérito que, ao longo dos dois anos seguintes.
A Europa ficou chocada com este atentado, uma vez
que D. Carlos era estimado pelos restantes chefes de estado europeus.
O regicídio de 1908 acabou por abreviar o fim da
monarquia ao colocar no trono o jovem D. Manuel II e lançando os partidos
monárquicos uns contra os outros. Devido à sua jovem idade (18 anos) e à forma
trágica e sangrenta como alcançou o trono, D. Manuel II auferiu inicialmente de
uma simpatia generalizada.
A situação política continuava a degradar-se,
tendo-se sucedido sete governos em dois anos. Os partidos monárquicos
estavam divididos e fragmentados, enquanto o Partido Republicano
continuava a ganhar terreno, mas o sector mais revolucionário do partido
advogava a luta armada como melhor meio de tomar o poder a curto prazo. Num
congresso do partido realizado em Setúbal em 1909 o diretório, composto por
Teófilo Braga, Basílio Teles, Eusébio Leão, José Cupertino Ribeiro e José
Relvas, recebeu do congresso o mandato imperativo de fazer a revolução.
As funções logísticas de preparação da intentona
foram confiadas a elementos mais radicais, o comité civil era formado por
Afonso Costa, João Chagas e António José de Almeida, enquanto o almirante
Cândido dos Reis liderava o comité militar. António José de Almeida ficou
encarregue da organização das sociedades secretas, como a Carbonária em cuja
chefia se integrava o comissário naval António Machado Santos, a Maçonaria e a
"Junta Liberal", dirigida por Miguel Bombarda. A este eminente médico
ficou a dever-se uma importante ação de propaganda republicana junto do meio
burguês e que trouxe muitos simpatizantes à causa republicana.
A 3 de outubro de 1910 estalou a revolta republicana
que já se avizinhava no contexto da instabilidade política. Embora muitos envolvidos
se tenham esquivado à participação chegando mesmo a parecer que a revolta tinha
falhado esta acabou por suceder graças à incapacidade de resposta do governo,
que não conseguiu reunir tropas que dominassem os cerca de duzentos
revolucionários que na Rotunda resistiam de armas na mão.
No verão de 1910 Lisboa fervilhava de boatos e
várias vezes foi o presidente do Conselho de Ministros avisado de golpes
iminentes, o golpe era esperado pelo governo que deu ordem para que todas as
tropas da guarnição da cidade ficassem de prevenção.
Após o assassinato de Miguel Bombarda, baleado por
um dos seus pacientes, os chefes republicanos reuniram-se de urgência na noite
de dia 3. Alguns oficiais foram contra, dada a prevenção das forças militares,
mas o almirante Cândido dos Reis insistiu para que se continuasse. Passaram
então á ação.
Machado Santos dirigiu-se ao aquartelamento do
Regimento de Infantaria 16, onde um cabo revolucionário provocara o
levantamento da maior parte da guarnição: um comandante e um capitão que se
tentaram opor foram mortos a tiro. Entrando no quartel com umas dezenas de
carbonários, o comissário naval seguiu depois com cerca de 100 praças para o
Regimento de Artilharia 1, onde o capitão Afonso Palla e alguns sargentos,
introduzindo alguns civis no quartel, já tinham tomado a secretaria, prendendo
os oficiais que se recusaram a aderir. Formaram-se duas colunas, a primeira
marchou ao encontro aos regimentos Infantaria 2 e Caçadores 2, para
seguir para Alcântara onde deveriam apoiar o quartel de marinheiros.
Depois de alguns confrontos com a polícia e civis,
avançaram para a Rotunda, onde se entrincheiraram, compunha-se a força aí
estacionada de 200 a 400 praças e cerca de 200 populares. Mas para que tudo
resulta-se era necessário o apoio, em armas e homens, dos 3 navios de guerra
ancorados no Tejo. Nestes o tenente Mendes Cabeçadas havia tomado o comando do
"Adamastor", enquanto a tripulação revoltada do "São
Rafael" era comandada por Tito de Morais.
No navio "D. Carlos I" a tripulação
encontrava-se sublevada mas os oficiais estavam entrincheirados, após algum
tiroteio o comandante do navio e os oficiais renderam-se ficando o
"D. Carlos I" também na mão dos republicanos.
Assim, os republicanos, somavam cerca de 400 homens
na Rotunda, mais cerca de 1000 a 1500 em Alcântara, contando com as tripulações
dos navios, além de se terem conseguido apoderar da artilharia da cidade, com a
maioria das munições, ao que juntava a artilharia dos navios. Mesmo assim, a
princípio os acontecimentos não decorreram a favor dos revoltosos. O sinal de
três tiros de canhão que deveria ser o aviso para civis e militares avançarem
não resultou. Apenas um tiro foi ouvido e o almirante Cândido dos Reis, que
esperava o sinal foi informado por oficiais que tudo falhara e retirou-se para
casa da irmã. Ao amanhecer seria encontrado morto numa azinhaga em Arroios.
Desesperado, suicidara-se com um tiro na cabeça.
Desalentados alguns oficiais retiraram-se para as
suas casas, mas Machado Santos ficou e assumiu o comando. Esta decisão seria
fundamental para o sucesso da revolução. Assim que houve notícia do começo da
revolta, as forças leais ao regime seguiram para o Paço das Necessidades para
proteger a pessoa do rei, enquanto outros marcharam para o Rossio, com a missão
de proteger o quartel-general. Quanto às forças policiais uns dirigiram-se para
a Estação do Rossio outros para a Fábrica de Gás, Casa da Moeda, quartel do
Carmo, depósito de munições de Beirolas e a casa do presidente do Conselho de
Ministros
O facto de terem alinhado, do lado monárquico,
algumas unidades cujas simpatias estavam com os republicanos conjugado com o
abandono, do lado dos revoltosos, do plano de acção original, optando-se pelo
entrincheiramento na Rotunda e em Alcântara, levou a que durante todo o dia 4 a
situação se mantivesse num impasse, correndo pela cidade os mais variados
boatos acerca de vitórias e derrotas. Desde o início da revolução que os
carbonários tinham desligado os fios telegráficos impedindo assim que alguma
mensagem chegasse às unidades de fora de Lisboa. Além disso os revolucionários
tinham cortado as linhas férreas pelo que, obrigadas a marchar, estas nunca
chegariam a tempo. Da Margem Sul, mais próxima, também era improvável a chegada
de reforços, visto que os navios revoltosos dominavam o rio. Ao final do dia a
situação era difícil para as forças monárquicas: os navios sublevados tinham
estacionado junto ao Terreiro do Paço e o cruzador "São Rafael" fez
fogo sobre os edifícios dos ministérios.
D. Manuel II
regressara ao Paço das Necessidades, e estava na companhia de alguns oficiais,
jogavam bridge quando os revolucionários começaram a bombardear o local. O rei
tentou telefonar, mas encontrou a linha cortada, conseguindo apenas informar a
rainha-mãe, no Palácio da Pena, acerca da situação.
Cerca das nove
horas o rei recebeu um telefonema do presidente do Conselho, aconselhando-o a
procurar refúgio em Mafra ou Sintra, dado que os revoltosos ameaçavam
bombardear o Paço das Necessidades. D. Manuel II recusou-se a partir.
Os cruzadores "Adamastor" e "São
Rafael", começaram a bombardear o Paço das Necessidades, o que
desmoralizou as forças monárquicas aí presentes. O rei refugiou-se numa pequena
casa no parque do palácio mas como a situação se complicavapartiu junto com os
seus assessores em direção a Mafra, onde a Escola Prática de Infantaria
disporia de forças suficientes para proteger o soberano. Logo ao início da
Estrada de Benfica o rei libertou o esquadrão da guarda municipal que o
escoltava para que viessem ajudar os seus companheiros a lutar contra os
revolucionários. A comitiva chegou sem problemas a Mafra mas aí depararam com
um problema: devido às férias, não se encontravam na Escola Prática mais do que
100 praças, ao invés das 800 que seria de esperar não dispunham pois de meios
suficientes para proteger o rei. Entretanto era necessário trazer para Mafra as
rainhas D. Amélia e D. Maria Pia (respectivamente a mãe e a avó do rei) que
estavam nos Palácios da Pena e da Vila, em Sintra.
Os confrontos continuavam em Lisboa, mas surgiria
uma ordem de cessar-fogo para as forças monárquicas, pois iria haver um
armistício de uma hora, mas outros acontecimentos seriam fundamentais para a
vitória final. Um diplomata alemão, chegado na antevéspera, instalara-se no
Hotel Avenida Palace, lugar de residência de muitos outros estrangeiros. A
proximidade do edifício da zona dos combates não o poupou a estragos. Perante
este perigo, o diplomata tomou a resolução de intervir, dirigiu-se ao
quartel-general e pediu um cessar-fogo que lhe permitisse evacuar os cidadãos
estrangeiros. Sem comunicar ao governo, e talvez na esperança de ganhar tempo
para a chegada dos reforços da província, o general acede.
O diplomata alemão, acompanhado de um ordenança com
a bandeira branca, dirige-se aos revoltosos para acertar o armistício. Mas eis
que estes, vendo a bandeira branca, julgaram que a força opositora se rendia,
pelo que saem entusiasticamente das fileiras e juntam-se ao povo que entretanto
já saíra á rua e que sai das ruas laterais e se juntava numa grande aglomeração
gritando vivas à república. Os revoltosos a princípio não aceitam o armistício,
mas perante os protestos do diplomata cedem.
A situação com a saída dos populares à rua era muito
confusa, mas já favorável aos republicanos, dado o evidente apoio popular. A 5
de Outubro de 1910 pelas 9 horas da manhã, era proclamada a república por José
Relvas, na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa, após o que foi
nomeado um Governo Provisório, presidido por membros do Partido Republicano
Português, com o fito de governar a nação até que fosse aprovada uma nova Lei
Fundamental.
A revolução saldou-se em algumas dezenas de baixas. O
número rigoroso não é conhecido, mas sabe-se que, até ao dia 6 de outubro,
tinham dado entrada na morgue 37 vítimas mortais da revolução. Vários feridos
recorreram a hospitais e postos de socorros da cidade, alguns deles vindo, mais
tarde, a falecer. Por exemplo, dos 78 feridos que deram entrada no Hospital de
São José, 14 faleceram nos dias seguintes.
Em Mafra, na manhã do dia 5 de outubro, o rei
procurava um modo de chegar ao Porto, ação muito difícil de levar a cabo por
terra dada a quase inexistência de uma escolta e os inúmeros núcleos de
revolucionários espalhados pelo país. Cerca do meio-dia era entregue ao
presidente da câmara municipal de Mafra a comunicação do novo governador civil,
ordenando que se arvorasse a bandeira republicana. A posição da família real
tornava-se precária. A solução aparece quando chega a notícia de que o iate
real "Amélia" fundeara ali perto, na Ericeira. Tendo a confirmação da
proclamação da república e o perigo próximo da sua prisão, D. Manuel II decide
embarcar com vista a dirigir-se ao Porto. A família real e alguns acompanhantes
dirigiram-se à Ericeira de onde, por meio de dois barcos de pesca e perante os
olhares curiosos dos populares embarcaram no iate real. Uma vez a bordo, o rei
escreveu ao primeiro-ministro:
"Meu caro Teixeira de Sousa, Forçado
pelas circunstâncias vejo-me obrigado a embarcar no yacht real
"Amélia". Sou português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter
sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu
coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que ele, convicto dos
meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer! Viva Portugal! Dê a
esta carta a publicidade que puder. D. Manuel II".
O destino primeiro do rei seria o Porto, mas os
conselheiros opuseram-se à opinião do soberano, alegando que se o Porto não os
recebesse o navio dificilmente teria combustível para chegar a outro
ancoradouro. Perante a insistência de D. Manuel II, o imediato argumentou que
levavam a bordo toda a família real, pelo que era o seu primeiro dever salvar
essas vidas. O porto de destino escolhido foi Gibraltar. Aí tomou conhecimento
que também o Porto tinha aderido à causa republicana. D. Manuel ordenou que o
navio, por ser propriedade do Estado português, voltasse a Lisboa. O rei
deposto, no entanto, viveria o resto dos seus dias no exílio.
Dia 6 de
Outubro era formado o Governo Provisório da república, durante o tempo que
esteve em funções, o Governo Provisório tomou uma série de medidas importantes
e que tiveram um efeito duradouro.
A Igreja Católica ressentiu-se bastante das
medidas tomadas pelo Governo Provisório.
Entre estas destacam-se a expulsão da Companhia de Jesus e das ordens do clero regular, o encerramento dos conventos, a proibição do ensino religioso nas escolas, a abolição do juramento religioso nas cerimónias civis e a laicização do Estado pela separação entre a Igreja e o Estado.
Entre estas destacam-se a expulsão da Companhia de Jesus e das ordens do clero regular, o encerramento dos conventos, a proibição do ensino religioso nas escolas, a abolição do juramento religioso nas cerimónias civis e a laicização do Estado pela separação entre a Igreja e o Estado.
Foi institucionalizado o divórcio e a legalidade
dos casamentos civis, a igualdade de direitos no casamento entre homem e mulher,
a regularização jurídica dos filhos naturais; a protecção à infância e aos
idosos, a reformulação das leis da imprensa, a extinção dos títulos
nobiliárquicos e o reconhecimento do direito à greve.
O Governo Provisório optou, ainda, pela extinção
das então guardas municipais substituídas por um novo corpo público de defesa
da ordem, a Guarda Nacional Republicana.
Para as colónias, criou-se legislação com vista a conceder autonomia às províncias ultramarinas, condição necessária ao seu desenvolvimento. Entretanto, foram alterados também os símbolos nacionais, a bandeira e o hino, foi adotada uma nova unidade monetária, o escudo, a equivaler a mil réis e até a ortografia da língua portuguesa foi simplificada e devidamente regulamentada, através da Reforma Ortográfica de 1911.
Para as colónias, criou-se legislação com vista a conceder autonomia às províncias ultramarinas, condição necessária ao seu desenvolvimento. Entretanto, foram alterados também os símbolos nacionais, a bandeira e o hino, foi adotada uma nova unidade monetária, o escudo, a equivaler a mil réis e até a ortografia da língua portuguesa foi simplificada e devidamente regulamentada, através da Reforma Ortográfica de 1911.
Começava a Primeira República.
Com a implantação da República, os símbolos
nacionais foram modificados. Por decreto foi nomeada uma comissão encarregada
de os criar. A modificação dos símbolos nacionais, surgiu da dificuldade que os
Republicanos enfrentaram para representar a República: Na monarquia o rei tem
um corpo físico e portanto é uma pessoa reconhecível e reconhecida pelos
cidadãos. Mas a república é uma ideia abstracta.
Em relação à bandeira, existiam duas tendências: uma
de manter as cores azul e branca, tradicional das bandeiras portuguesas, e
outra de usar cores "mais republicanas": verde e vermelho.
O projeto da bandeira foi aprovado pelo Governo
Provisório a 29 de novembro de 1910. No dia 1 de Dezembro foi celebrada a Festa
da Bandeira. A Assembleia Nacional Constituinte promulgou a escolha da bandeira
a 19 de junho de 1911.
A 19 de Junho de 1911 a Assembleia Nacional
Constituinte proclamou "A Portuguesa" como hino nacional em
substituição do Hino da Carta, anterior hino nacional desde Maio de 1834,
inscrevendo-a como símbolo nacional na Constituição portuguesa de 1911. A
Portuguesa fora composta em 1890, com música de Alfredo Keil e letra de
Henrique Lopes de Mendonça, em reação ao Ultimatum inglês. Nasceu como uma
canção de cariz patriótico e foi utilizada, com uma letra ligeiramente
diferente, como a marcha dos revoltosos de 31 de Janeiro de 1891 na tentativa
falhada de golpe de Estado que pretendia implantar a república em Portugal,
razão pela qual o regime monárquico a proibiu. Embora proclamada hino nacional
em 1911, só a 4 de Setembro de 1957 foi aprovada a versão oficial que é hoje
tocada em cerimónias nacionais civis ou militares e aquando da visita de chefes
de estado estrangeiros, após ser ouvido o hino da nação representada.
O busto oficial da República foi escolhido num
concurso nacional em 1911. É da autoria de Francisco dos Santos, existem no
entanto dois bustos o outro busto que foi adotado como o rosto da República, é
da autoria de José Simões de Almeida e foi criado em 1908. A modelo para este
busto foi Ilda Pulga, uma jovem trabalhadora do comércio do Chiado.
O busto mostra a República com um barrete frígio,
influência da Revolução Francesa. O busto de Simões foi logo adotado pela
Maçonaria, foi usado nos funerais de Miguel Bombarda e de Cândido dos Reis.
Uma das primeiras grandes preocupações do novo
regime republicano foi ser reconhecido pelas restantes nações.
Em 1910, a grande maioria dos Estados europeus eram
monarquias. Apenas a França, a Suíça e San Marino eram repúblicas. Por isso, o
Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório, chefiado por
Bernardino Machado, orientou a sua pasta segundo critérios de extrema
prudência, levando-o, logo no dia 9 de outubro de 1910, a comunicar aos
representantes diplomáticos em Portugal que o Governo Provisório honraria todos
os compromissos internacionais assumidos pelo anterior regime.
O marechal Hermes da Fonseca presenciou pessoalmente
todo o processo de transição de regime, tendo chegado a Portugal em visita
oficial quando o país ainda era uma monarquia e saído já na república, não foi
de estranhar que tenha sido o Brasil o primeiro país a reconhecer o novo regime
político português, depois seguiu-se a Argentina, Nicarágua, Uruguai a
Guatemala e a Costa Rica, o Peru e o Chile depois a Venezuela o Panamá e por
fim os Estados Unidos.
Pouco mais de um mês tinha passado da revolução,
quando o governo britânico reconheceu de facto a República portuguesa,
manifestando "o mais vivo desejo de S.M. Britânica de conservar-se em
relações amigáveis" com Portugal.
Idêntica posição foi, também, manifestada pelos
governos espanhol, francês e italiano. No entanto, o reconhecimento oficial só
surgiria após a aprovação da Constituição e da eleição do presidente da
República. A República Francesa foi a primeira a fazê-lo a 24 de Agosto de
1911, dia da eleição do primeiro presidente da República Portuguesa. Só a 11 de
Setembro o Reino Unido fez o seu reconhecimento, acompanhado da Alemanha, do
Império Austro-Húngaro, da Dinamarca, da Espanha, da Itália e da Suécia.
Seguiram-se a 12, a Bélgica, a Holanda e a Noruega; a 13 a China e o Japão; a
15 a Grécia; a 30 a Rússia; a 23 de outubro a Roménia; a 23 de Novembro a
Turquia; a 21 de Dezembro o Mónaco; e a 28 de Fevereiro de 1912 o Reino do
Sião. Em virtude da tensão criada entre a jovem República e a Igreja Católica,
as relações com a Santa Sé ficaram suspensas, não procedendo a cúria romana ao
reconhecimento da República Portuguesa até 29 de Junho de 1919.
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