segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Efeméride 14 Janeiro – Batalha das Linhas de Elvas

Durante cerca de um mês as forças castelhanas cercaram Elvas na esperança de a tomar, mas um exército de socorro surpreendeu-os e, depois de diversos recontros, foram obrigadas a retirar.

Nos sessenta anos que decorreram de 1580 a 1640, o governo dos Filipes foi progressivamente sendo considerado como um período de reis estranhos. Este sentimento acentuou-se a partir de 1621, com o reinado de Filipe III, face ao aumento dos impostos e ao recrutamento de militares portugueses para servirem com o exército espanhol, nomeadamente na guerra da Catalunha. A população portuguesa tinha também, e com fundamento, a percepção de que o referido aumento de impostos não se destinava a melhorar as condições de vida em Portugal, mas sim a financiar projectos espanhóis, nomeadamente as campanhas militares na Europa e a sua expansão ultramarina. 
A Batalha das Linhas de Elvas, que teve lugar a 14 de Janeiro de 1659, teve um papel muito importante no desfecho da Guerra da Restauração, com a pesada derrota do exército filipino, que dos cerca de dezoito mil homens que o compunham, apenas pouco mais de cinco mil regressaram a Espanha.

Olivença tombara em mãos castelhanas em 1657. Como resposta à tomada dessa importante praça, D. Luísa de Gusmão decidira investir sobre Badajoz em 1658. Mas a praça castelhana era uma das mais sólidas e fundamentais fortalezas da monarquia austríaca e resistiu a um cerco efectuado por cerca de 17 000 portugueses, que em Setembro, quando o exército de socorro castelhano se aproximava sob o comando de D. Luís de Haro, mais não continha que 8 000 homens. Nessas circunstâncias, nada mais restava que retirar para Portugal, o que sucedeu. D. Luís de Haro, forte de 20 000 homens, decidiu contudo perseguir os portugueses, entrando em Portugal e pondo cerco a Elvas, em Outubro de 1658.

A Ameaça da queda da fortaleza alarmou a Corte, desde logo se tomando providências para obstar a acontecimento tão funesto para a defesa do país. Elvas era a principal praça do Alentejo, ferrolho da defesa da região e do caminho mais curto para alcançar Lisboa a partir da raia. Duas preocupações assomavam a “cabeça de Portugal”. Que a fortaleza tombasse por falta de abastecimentos ou que fosse impossível socorrê-la.
Por sorte, mas também derivado da importância militar da praça, Elvas estava bastante bem equipada. Duas cisternas recentes asseguravam o abastecimento de água, havia já alojamentos para assegurar o aquartelamento de parte da guarnição militar. Além disso, a região era suficientemente rica para abastecer por algum tempo a população recolhida e as forças militares. Acresce igualmente o facto de parte do Exército do Alentejo permanecer em Elvas, o que significava que havia uma sólida muralha humana protegendo a urbe. De facto, a guarnição de Elvas rondaria os 8 000 homens, entre forças de primeira linha, milícias e ordenanças.

Imediatamente começou a ser preparado um exército de socorro em Estremoz, que se colocou em marcha no princípio do ano seguinte. A 14 de Janeiro aconteceu a batalha que opôs cerca de catorze mil e quinhentos espanhóis a 11 mil portugueses vindos de Estremoz.
Dentro da cidade muralhada resistiam ainda cerca de 6 mil portugueses. Outros cinco mil tinham perecido durante o cerco, especialmente devido à peste que se instalara na praça.

Os portugueses conseguiram desalojar os infantes espanhóis de vários pontos fortificados que estes tinham construído ou ocupado em redor da cidade.

Entre as nove da manhã e a noite os invasores perderam milhares de homens e muito equipamento, em se incluíam cerca de duas dezenas de canhões.

Na batalha os portugueses viram morrer cerca de 200 homens e 600 ficaram feridos. Entre estes destaca-se o general André de Albuquerque Ribafria, um militar que tinha começado como soldado, experimentado e adorado pelas tropas.
Os castelhanos tiveram perdas muito superiores, registando cerca de 2500 mortos e quatro mil feridos.

A Batalha das Linhas de Elvas foi assim o segundo grande sucesso militar da Restauração portuguesa, cujo processo político havia começado 18 anos antes. Foi a implementação e a concretização, no terreno, de um estado de espírito e de um desejo de independência que estava já generalizado na maioria esmagadora da população portuguesa. Em face da perda de Olivença em 1657, a Batalha das Linhas de Elvas teve o mérito de afirmar novamente o poderio militar português, tanto interna como externamente, e de ter retomado um percurso de sucessos militares, que terminariam em 1668 com a assinatura do tratado de paz com a Espanha[i].



[i] O tratado tem como título “Tratado de paz entre el-rei o senhor D. Afonso VI e Carlos II rei de Espanha, por mediação de Carlos II rei da Grã-Bretanha, feito e concluído no convento de Santo Elói da cidade de Lisboa, a 13 de fevereiro de 1668; ratificado por parte de Portugal em 3 de março e pela de Espanha em 23 de fevereiro do dito ano”.
Foi, portanto, assinado no Convento de Santo Elói, ou dos Loios, em Lisboa. O edifício localiza-se no atual Largo dos Loios, não longe de castelo de S. Jorge, pertencente à antiga freguesia de Santiago, hoje Santa Maria Maior.

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