A 20 de
Janeiro de 1486 — Cristóvão Colombo apresenta-se aos Reis Católicos em Córdova,
Espanha, oferecendo seus serviços científicos e pesquisadores, como a nova rota
às Índias.
Segundo a
documentação aceite até aqui, Colombo seria um tecelão natural de Génova, tendo
provavelmente nascido no bairro de Quinto, onde o seu pai residia já em 1429.
A data do
nascimento de Colombo, incerta, pode ser determinada com alguma precisão, uma
vez que num documento datado de 31 de Outubro de 1470 afirma-se que Cristóvão
Colombo, filho de Domenico é já maior de dezanove anos. Esta informação,
juntamente com o documento Assereto, onde ele próprio afirma ter "cerca de
27 anos", permite precisar o ano do seu nascimento como sendo o de 1451,
entre 25 de Agosto e 31 de Outubro.
Colombo teria começado
por seguir o ofício de tecelão, mas muito cedo interessa-se pela navegação. Os
estudos que teve devem ter sido muito elementares, provavelmente terá aprendido
matemática e caligrafia nalguma modesta escola da região.
Segundo o seu
filho Fernando, aos catorze anos começou a navegar. Em 1492 Colombo afirmou que
havia vinte e três anos que navegava, o que leva a 1469 e aos dezanove anos. De
qualquer modo, num documento datado de 1472 ainda se intitula lanerio, e a
partir do ano seguinte não surge mais como vivendo na região. É possível que
alternasse entre os dois ofícios, começando a navegar como grumete e
dedicando-se depois ao comércio, trabalhando à comissão, segundo se pode
constatar em documentação da época.
Nestas
primeiras viagens esteve na ilha de Quios, no mar Egeu, à época uma colónia
genovesa, cuja produção de mástique[i]
recordou várias vezes. Recordou também um feito militar que teria feito ao
serviço de Renato de Anjou, aliado de Génova e proclamado rei de Aragão pelos
catalães revoltados (1466), uma tentativa de captura em Tunes de uma galeaça de
João II de Aragão, ou do sobrinho deste, o rei de Nápoles, com os quais aquele
estava em guerra; este feito, que poderia ter acontecido por volta de 1472,
apresenta no entanto aspectos duvidosos.
Não se conhece
qualquer documento dos arquivos portugueses que mencione o navegador. O único
documento em português que o refere é um suposto salvo-conduto de D. João II
datado de 1488 e guardado no Arquivo Geral das Índias, cuja autenticidade é, no
entanto, duvidosa. O registo da presença de Colombo em Portugal é estabelecido
a partir das biografias escritas pelo seu filho Fernando e por Las Casas, assim
como do Documento Assereto, que assinala a sua presença em Lisboa e na Madeira
no Verão de 1478, e indica a sua intenção de se deslocar para Lisboa em Agosto
de 1479.
Segundo
o seu filho Fernando, Colombo chega a Portugal num episódio relacionado com o
pirata Colombo. Conta Fernando que indo
Colombo nuns navios mercantes genoveses em direcção a Inglaterra, estes foram
atacados pelo pirata Colombo o Novo por alturas do Cabo de São Vicente, havendo
feroz combate, pois os navios iam armados, tendo ardido vários. Conta Fernando
que Colombo salvou-se agarrado a um remo, chegando a terra muito extenuado.
Recolhido pela população e recomposto, Colombo foi para Lisboa, onde sabia se encontrarem muitos seus
compatriotas da colónia genovesa daquela cidade. Há neste relato manifesto
erro, pois este combate com Colombo o Novo ocorreu somente em 1486, quando Colombo
já se encontrava em Espanha. O episódio parece corresponder a um outro combate
com o pirata Coulon o Velho em 1476. Logicamente que, caso Colombo realmente
tenha chegado desta forma a Portugal, teria estado a bordo das naus genovesas,
e não acompanhando o pirata, como já se supôs.
Em todo o
caso, supõe-se que Colombo tenha vivido cerca de nove anos em terras de
Portugal, entre 1476 e 1485, para onde terá vindo aos vinte e cinco anos, ao
atingir a maioridade.
Este período
da sua vida resume-se às suas viagens, ao casamento, e ao grande projecto que
começou a acalentar.
Nesta época,
terá realizado algumas viagens de grande alcance. De Lisboa, terá seguido com o
resto da frota genovesa que se salvara do confronto com o pirata, após esta se
reagrupar e reforçar, até Inglaterra.
Afirmou também
ter chegado a Tule em 1477, comprovando que o seu extremo sul estava a 73ºN e
não a 63ºN (sendo que este último é que é realmente o valor correcto) e que,
apesar de ser Fevereiro, o mar não estava gelado, permitindo que navegasse cem
léguas para lá da ilha. Tem sido discutido se de facto chegou à Islândia, e
parece ainda mais improvável tal prolongamento da viagem, cuja finalidade não
se percebe.
Por esta data,
Julho de 1478, Colombo desloca-se de Lisboa à Ilha da Madeira, encarregado de
comprar 2400 arrobas de açúcar, que deveriam ser carregadas no navio do capitão
português Fernando de Palência. Para o efeito, Di Negro havia-lhe fornecido
parte do dinheiro, sendo que o restante deveria chegar ao Funchal a tempo da transacção
ser concretizada e da chegada do navio que deveria carregar o açúcar, o que não
aconteceu, tendo os vendedores recusando-se a concretizar a transacção.
O facto de o
tribunal de Génova o considerar ainda como cidadão daquela cidade em Agosto de
1479 permite supor que nesta data não estava ainda permanentemente estabelecido
em Lisboa e seria ainda solteiro, de acordo com a informação de Las Casas, que
diz que o seu casamento e estabelecimento em Portugal levou a que fosse
considerado como cidadão português.
Assim, terá
sido apenas após esta data que casou com Filipa Moniz, à época residente com
sua mãe no mosteiro feminino de Santos-o-Velho da Ordem de Santiago desde a
morte do pai, Bartolomeu Perestrelo, cavaleiro da casa do Infante D. Henrique,
de ascendência presumivelmente italiana, de Placência, e um dos povoadores e
primeiro capitão do donatário da ilha do Porto Santo.
O recolhimento
de Isabel Moniz, viúva de Bartolomeu Perestrelo, após a morte deste em 1457 no
Porto Santo, junto com a filha neste mosteiro, deve-se certamente ao facto do
Mestre de Santiago ter sido amo de Bartolomeu Perestrelo. Desta união nasceu o
único filho legítimo de Colombo que se conhece, Diogo, depois nomeado pela
Coroa Espanhola como 2º Almirante e Vice-rei das Índias.
Mais tarde,
Colombo terá navegado em navios portugueses, fez uma viagem a Mina, cuja
fortaleza apenas se construiu em 1482, e algumas vezes menciona recordações da
Guiné. Deve também ter conhecido as Ilhas Canárias. Por esta época
juntou-se-lhe o seu irmão Bartolomeu, bom cartógrafo e construtor de esferas,
ofício do qual ali vivia. Bartolomeu era muito entendido em cosmografia e bom
marinheiro, embora não se saiba onde foi buscar esses conhecimentos, sendo
sempre um colaborador leal e eficaz do navegador.
Foi em
Portugal que Colombo começou a conceber o seu projecto de viagem para o
Ocidente, inspirado pelo ambiente febril de navegações, descobrimentos,
comércio e desenvolvimento científico, que converteram a Lisboa da segunda
metade do século XV num rico e activíssimo porto marítimo e mercantil, de
dimensão internacional, e Portugal no país dos melhores, mais audazes e
experientes marinheiros, com os maiores conhecimentos náuticos da época.
O projecto
terá surgido não de forma repentina, mas gradual, provavelmente em colaboração
com o seu irmão Bartolomeu. Após o processo de formação e maturação, o projecto
de Colombo consistia em atravessar o oceano Atlântico - o único conhecido à
época - em direcção à Ásia.
O seu filho
Fernando conta que o pai começou por pensar que se os portugueses navegavam já
tão grandes distâncias para o sul, poderia fazer o mesmo para o oeste,
enumerando os factores que o fizeram pensar na existência de terras a ocidente:
A esfericidade da terra; e as leituras de autores clássicos, como Aristóteles,
Estrabão e Plínio, que afirmavam a curta distância entre a Espanha e África, e
a Índia.
O mais
provável, no entanto, é que não se tenha inspirado nesses autores, mas sim que
os tenha lido depois por forma a fundamentar o seu projecto. Os supostos papéis
do sogro que lhe teriam sido entregues por Isabel Moniz teriam juntado indícios
materiais, como troncos de árvores e cadáveres de espécies desconhecidas
arrastados pelo mar. Finalmente, as notícias que obtivera de marinheiros que
afirmavam ter encontrado terras a oeste, e as várias tentativas para descobrir
supostas ilhas do Atlântico, comuns por aqueles anos. Colombo observou nas suas
viagens e permanências nas ilhas atlânticas estes indícios, assim como as
condições dos ventos e correntes marítimas, a reconhecer a proximidade de terra
firme e as rotas mais favoráveis, o que tudo aprendeu com a experiência
portuguesa.
Colombo
conseguiu finalmente fazer aprovar o projecto da sua viagem junto dos Reis
Católicos, após a conquista de Granada, com a ajuda do confessor da rainha
Isabel de Castela. Os termos da sua contratação tornavam-no almirante dos mares
da Índia a descobrir e governador e vice-rei das terras do Oriente a que se
propunha chegar, em competição com os portugueses que exploravam a Rota do
Cabo.
Alguns
historiadores têm procurado demonstrar que o navegador mentia propositadamente
a Castela para ajudar Portugal e que tinha a ajuda de Américo Vespúcio nessa
missão. De facto, já em 1494 um português, traidor de D. João II, escrevera à
Rainha Isabel de que eram falsas aquelas Índias de Colombo e que a viagem de
1492 era uma manobra de D. João II para distrair os espanhóis do monopólio que
Portugal tinha na Guiné. No sentido de apoiar Colombo como agente secreto
existe uma carta de D. João II a "Cristóvão Colon, Nosso especial amigo em
Sevilha" onde o rei de Portugal agradece o futuro Almirante de estar ao "seu
serviço" e que será "pago de forma que ficarás bem contente."
Manuel Rosa aponta uma dezena de agentes do Rei de Portugal a trabalhar com
Colombo em Sevilha, incluindo o Juanoto Berardi, que era o factor de D. João II
em Sevilha e Pero Vasques Saavedra, descobridor da Ilha das Flores, o qual
ajudou a convencer os irmãos Pinzón a fazerem viagem. Outro dado
interessantíssimo para este ponto de vista, é que um português que fazia parte
da tripulação levava canela escondida para depois entregar ao Martim Pinzón,
capitão da Pinta dizendo que "vido a un indio que traia manojos
della". Sendo um agente da coroa de Portugal, explica-se como Colombo
estaria com D. João II e José Vizinho em 1485 revistando as secretas Tabelas da
Altura do Sol na Guiné e de novo com D. João II e Bartolomeu Dias fazendo um
mapa da descoberta do Cabo da Boa Esperança em 1488. Também a carta de
Toscanelli é assim enquadrada neste esquema facilmente, pois Colombo jamais
teria acesso a uma carta nos arquivos de D. João II, a não ser que o próprio
rei lhe desse acesso par a poder copiar. Outra peça central desta conspiração
seria o globo de Martin Behaim, um cavaleiro da Ordem de Cristo que fazia parte
da Junta dos Matemáticos de D. João II, cujo globo construído na Alemanha
durante a viagem de Colombo mostra os mesmos conceitos da India através do
Atlântico como Colombo e Toscanelli pretendiam.
Na noite de 3
de agosto de 1492, Colombo partiu de Palos de la Frontera, com três navios: uma
nau maior, Santa María, apelidada Gallega, e duas caravelas menores, Pinta e
Santa Clara, apelidada de Niña em homenagem a seu proprietário Juan Niño de
Moguer. Eram propriedade de Juan de la Cosa e dos irmãos Pinzón (Martín Alonso
e Vicente Yáñez), mas os monarcas forçaram os habitantes de Palos a contribuir
para a expedição. Colombo navegou inicialmente para as ilhas Canárias, que eram
propriedade de Castela, onde reabasteceu as provisões e fez reparos. Em 6 de
Setembro, partiu de San Sebastián de la Gomera para o que acabou por ser uma
viagem de cinco semanas através do oceano.
Colombo também
explorou a costa nordeste de Cuba, onde desembarcaram em 28 de Outubro
A sua segunda
viagem iniciou-se em 1493, com três naus e catorze caravelas. Nela avistou as
Antilhas e abordou a Martinica. Rumou depois para o norte e alcançou Porto
Rico. Foi a Hispaniola onde a pequena colônia tinha sido arrasada pelos
indígenas. Tendo ali deixado outro contingente de homens, navegou para o
ocidente e chegou à Jamaica. Nessa viagem fundou Isabela, atual Santo Domingo,
na República Dominicana, a primeira povoação europeia no continente americano.
Para a
terceira viagem, partiu em 1498, com seis naus, tendo chegado à ilha da
Trinidad depois de uma atribulada viagem. Rumando ao sul chegou a uma grande
terra que pensou ser uma ilha, a que chamou de Terra de Gracia nel Golfo de
Paria, localizado na foz do delta do rio Orinoco, (Venezuela). Rumando ao norte
chegou a Santo Domingo, onde entrou em conflito com o governador, vindo ele e o
irmão a ser presos e enviados para Castela.
Na quarta
viagem, saiu de Cádiz com quatro naus em 1502, propondo-se uma vez mais a
chegar ao Oriente. Avistou a Jamaica e, depois de grande tempestade, chegou à
Ilha de Pinos nas Honduras. Avistou depois as costas da Nicarágua, Costa Rica e
Panamá. Devido ao péssimo estado das naus teve de regressar a Hispaniola, de
onde voltou para Castela.
[i] O mástique,
mastique ou mastic é uma resina obtida do lentisco (Pistacia
lentiscus). A resina é vendida no mercado na forma de gotas ou lágrimas
arredondadas, com cerca de 5 mm de diâmetro
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