O Corpo
Expedicionário Português (CEP) foi a principal força militar que Portugal
enviou para França, durante a 1ª Guerra Mundial, com a finalidade de, através
da sua participação activa no esforço de guerra contra a Alemanha que também
ameaçava os seus territórios ultramarinos, conseguir apoios dos seus aliados e
evitar a perda daqueles territórios.
De notar que
Portugal também enviou para França uma outra força, mais reduzida e menos
famosa: o Corpo de Artilharia Pesada Independente (CAPI). O CAPI destinou-se a
responder a um pedido de ajuda francesa, ficando sob comando do Exército
Francês, sendo aí conhecido por Corps de Artillerie Lourde Portugaise (CALP) e
tendo operado artilharia super-pesada de caminho-de-ferro, com obuses de
320 mm, 240 mm e 190 mm. A partida de milhares de homens para a
Flandres gerou, no entanto, descontentamentos nacionais, avolumados pelos
enormes gastos a suportar pelo governo.
Após hesitações e polémicas, os
portugueses resolveram entrar na Primeira Guerra Mundial, justificando tal
atitude com a defesa das colónias, cobiçadas pelos alemães, e a afirmação do
prestígio internacional de Portugal, para além da afirmação da jovem República,
legitimando assim a pretensão de entrar em conversações de paz donde pudesse
retirar dividendos para a nação.
O apelo da Inglaterra, velha aliada de séculos, acelerou a entrada no conflito: a pedido dos ingleses, Portugal aprisionou, em 1916, cerca de setenta navios alemães fundeados nos portos nacionais e ultramarinos, o que precipitou a declaração de guerra da Alemanha a Portugal a 9 de Março. Já adversários em África havia alguns anos (ataques germânicos no Sul de Angola e Norte de Moçambique), as hostilidades luso-alemãs passaram assim também para a Europa, ainda que aqui os portugueses estivessem inseridos em contingentes aliados. O governo da República decidiu criar, por isso, o Corpo Expedicionário Português.
O apelo da Inglaterra, velha aliada de séculos, acelerou a entrada no conflito: a pedido dos ingleses, Portugal aprisionou, em 1916, cerca de setenta navios alemães fundeados nos portos nacionais e ultramarinos, o que precipitou a declaração de guerra da Alemanha a Portugal a 9 de Março. Já adversários em África havia alguns anos (ataques germânicos no Sul de Angola e Norte de Moçambique), as hostilidades luso-alemãs passaram assim também para a Europa, ainda que aqui os portugueses estivessem inseridos em contingentes aliados. O governo da República decidiu criar, por isso, o Corpo Expedicionário Português.
Designado tradicionalmente por CEP, os seus
dois primeiros contingentes rumaram a França a 26 de Janeiro de 1917, depois de terem sido preparados
sob a direção do general e ministro de Guerra Norton de Matos de forma
rapidíssima (durante nove meses) nos quartéis de Tancos, facto que na altura se
apelidou de milagre de Tancos, tão depressa e bem (de acordo com relatórios
oficiais) se transformaram em soldados aptos e capazes para um conflito duro
homens que, até pouco tempo antes, tinham uma vida civil, pacata e tranquila.
Este Corpo era comandado pelos generais Tamagnini e Garcia Rosado.
O primeiro grupo de militares instalou-se em
Thérouane, na Flandres, constituindo aí, com os que viriam posteriormente, uma
divisão com quartel-general na mesma localidade. Posteriormente, com os
reforços e outros contingentes enviados, a divisão é transformada em duas,
ficando a segunda com quartel-general em Fanquenbergues.
A 3 de Janeiro
de 1917 acordou-se com a Grã-Bretanha que o CEP ficaria dependente da British
Expedicionary Force, embora tenha colocado um pequeno contingente de artilharia
numa área militar francesa. A partir de Maio, o CEP dispôs-se de forma definitiva
no terreno, reforçando posições defensivas basicamente com unidades de
infantaria. A 1.a Brigada instalou-se no setor de Neuve-Chapelle; a 2.a ocupou
posição, já em Junho, em Ferme-du-Bois, instalando-se mais tarde, em Julho, uma
3.a, em Fauquissart. Estas três brigadas - a 1.a Divisão do CEP - estavam
taticamente adstritas ao XI Corpo de
Exército Britânico.
No fim do
verão, chegaria uma nova brigada, chamada brigada "do Minho", que se
colocou na frente de batalha. Com este reforço, o CEP tornou-se, do ponto de
vista de estratégia militar e operacional, um corpo de exército, centrado em
St. Venant, seu quartel-general.
Integrados nos
setores britânicos, os soldados portugueses tinham como função guarnecer as
posições da frente designadas para as suas brigadas, o que fizeram durante dois
anos consecutivos em condições de combate extremamente duras, participando por
vezes em raides contra posições alemãs. Ao fim daqueles dois anos
permanentemente em trincheiras, foram substituídos por unidades britânicas. O
cansaço e o stress de guerra acumulados durante aquele tempo eram enormes e a
operacionalidade e o moral baixos, apesar da bravura e entrega no combate.
Durante aquela
rendição, deu-se a ofensiva de Abril dos alemães, um esforço para abrir brechas
na frente aliada e "empurrar" os exércitos britânicos - onde
pontificava o CEP - para o mar, tentando assim abrir caminho para França. Esta
ofensiva foi antecedida, a 9 daquele mês de 1918, de uma feroz e mortífera
barragem da artilharia alemã sobre as posições do CEP, ponto nevrálgico para
onde confluiria a coluna principal da ofensiva, aproveitando o estado de
exaustão e falta de reservas humanas e materiais dos portugueses, desapoiados
que estavam depois da derrota dos flancos britânicos - surpreendidos com o
ataque - da frente em que se incorporavam. A resistência foi tenaz e adiou a
passagem alemã, ficando célebre a Batalha de La Lys (a que os ingleses chamam
Batalha de Armentières).
O CEP sofreu pesadas baixas e divisão em
pequenos grupos sem ligação, ficando o que dele restava, depois da batalha,
integrado no exército britânico. Esta batalha celebrizou um soldado, Aníbal
Augusto Milhais (o chamado soldado Milhões)[i],
pelo desempenho heroico ao proteger a retirada dos camaradas a tiros de metralhadora.
A quase
extinção da 2.ª Divisão deste Corpo foi um golpe de azar, uma vez que estava a na
altura de ser substituída por forças inglesas após ter cumprido um período de
seis meses na frente. Mas a dita substituição apenas foi pensada porque o general
Tamagnini comunicou a 4 de Abril a notícia dos motins causados pela falta de
mantimentos e substitutos. Esta situação de enfraquecimento traduz o estado de
abandono a que tinham sido votados os soldados portugueses pelo governo
nacional saído da ditadura militar imposta em Dezembro de 1917 (até Dezembro de
1918).
Em Julho de
1918, o CEP viu o seu comandante ser substituído pelo general Tomás António
Garcia Rosado. A 4 desse mês, a 1.ª divisão do Corpo subordinou-se ao 5.º
Exército Britânico. A 9 de Dezembro rumaram a Cherburg as primeiras tropas do
CEP para daí embarcarem para Portugal. O último comandante do Corpo
Expedicionário Português antes da assinatura do Tratado de Versalhes, que
terminou com a I Grande Guerra, foi o general Alves Roçadas.
Neste esforço
de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens. As perdas terão
atingido cerca de 10 mil mortos e milhares de feridos, além de custos
económicos e sociais gravemente superiores à capacidade nacional. Os objectivos
que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram
gorados na sua totalidade. A unidade nacional não seria conseguida por este
meio e a instabilidade política acentuar-se-ia até à queda do regime
democrático em 1926.
[i] Aníbal
Augusto Milhais (Murça, Valongo, 9 de Julho de 1895 — 3 de Junho de 1970),
mais conhecido por Soldado Milhões, foi o soldado mais condecorado
Português da I Guerra Mundial e o único soldado português premiado com a mais
alta honraria nacional, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito.
Sem comentários:
Enviar um comentário