A 19 de
Janeiro de 1899 chegam a Sevilha os supostos restos mortais de Cristóvão
Colombo, transportados pelo trem Giralda.
O túmulo de
Colombo faz parte de uma história intrigante.
Morto em 1506,
foi sepultado em Valladolid, na Espanha. Em 1537, os espanhóis
transferiram os restos mortais para a ilha Hispaniola, hoje dividida entre
o Haiti e a República Dominicana. Quase duzentos anos depois, quando a
Espanha perdeu parte desse território para a França, o corpo foi levado para
Cuba. Sendo então, em 1899, transferido para Sevilha.
Percurso complexo,
não? Para piorar, há um pequeno problema no enredo. A República Dominicana
afirma que o corpo nunca deixou o país. No entanto, um teste de DNA determinou que
os restos mortais em Sevilha pertencem realmente a Colombo. A República
Dominicana reagiu, mostrando outros restos mortais. Mas esses nunca foram
testados, o que nos leva a crer que a verdade repousa em Sevilha.
Mas afinal
quem foi Cristóvão de Colombo?
Nascido provavelmente
em Génova, entre 22 de Agosto e 31 de Outubro de 1451 vem a morrer em Valladolid,
20 de Maio de 1506. Navegador e explorador, responsável por liderar a frota que
alcançou o continente americano em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis
Católicos de Espanha, no chamado descobrimento da América. Empreendeu a sua
viagem através do Oceano Atlântico com o objectivo de atingir a Índia, tendo na
realidade descoberto as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, a costa do
Golfo do México na América Central.
O seu nome em
italiano é Cristoforo Colombo, em latim Christophorus Columbus e em espanhol,
Cristóbal Colón. Este antropónimo inspirou o nome de, pelo menos, um país, Colômbia
e duas regiões da América do Norte: a Colúmbia Britânica no Canadá e o Distrito
de Colúmbia nos Estados Unidos. Entretanto o Papa Alexandre VI escrevendo em
latim sempre chamou ao navegador pelo nome de Christophorum Colon com
significado de Membro e nunca pelo latim Columbus com significado de Pombo.
Embora Colombo
tenha sempre apresentado a conversão dos não-cristãos como um dos motivos das
suas expedições, a sua religiosidade aumentou nos últimos anos de vida.
Provavelmente com o apoio do seu filho Diogo e do seu amigo, o monge cartuxo
Gaspar Gorricio. Colombo produziu dois livros nos seus últimos anos: o Livro de
Privilégios (1502), detalhando e documentando as mercês que havia recebido da Coroa
Espanhola, às quais acreditava ele e seus herdeiros terem direito, e um Livro
de Profecias (1505), no qual usou passagens da Bíblia para colocar os seus
feitos como explorador no contexto da escatologia cristã.
No final da
vida, Colombo exigiu que a Coroa Espanhola lhe desse 10% de todos os proveitos
obtidos nos territórios descobertos, tal como estipulado nas capitulações de
Santa Fé. No entanto, uma vez que Colombo havia sido dispensado das suas
obrigações como governador, a Coroa não se sentiu obrigada por esse contrato, e
as suas exigências foram rejeitadas. Após a sua morte, os herdeiros de Colombo
processaram a Coroa com vista a obter uma parte dos proveitos do comércio com
as Américas, assim como outros benefícios. Isto levou a uma longa série de disputas
legais conhecidas como pleitos colombinos.
Colombo morreu
em Valhadolid a 20 de Maio de 1506, com cerca de 55 anos, com uma considerável
riqueza proveniente do ouro que os seus homens haviam acumulado em Hispaniola.
À data da sua morte, Colombo estava ainda convencido que as suas expedições
tinham sido realizadas ao longo da costa oriental da Ásia. De acordo com um
estudo publicado em Fevereiro de 2007, realizado por António Rodriguez
Cuartero, do Departamento de Medicina Interna da Universidade de Granada,
Colombo morreu de paragem cardíaca causada por artrite reactiva. Segundo os
seus diários pessoais e anotações deixadas pelos seus contemporâneos, os
sintomas desta doença (ardor doloroso quando se urina, dor e inchamento das
pernas, e conjuntivite) eram claramente evidentes nos três últimos anos da sua
vida.
Os restos
mortais de Colombo foram inicialmente sepultados em Valladolid, sendo depois
transladados para o Mosteiro da Cartuxa em Sevilha. Em 1542, por desejo
expresso pelo seu filho Diogo, que fora governador de Hispaniola, os restos
mortais foram transferidos para Santo Domingo, na actual República Dominicana,
onde foram depositados na catedral da cidade. Em 1795, quando a França obteve o
controlo de toda a ilha de Hispaniola, os restos mortais de Colombo foram
transladados para Havana, Cuba, e após a independência cubana, na sequência da Guerra
Hispano-Americana de 1898, novamente transferidos para Espanha, para a Catedral
de Sevilha,
onde se encontram sobre um sumptuoso catafalco.
No entanto, em
1877, uma caixa de chumbo com a inscrição "Ilustre y esclarecido varón Don
Cristóbal Colón" e contendo fragmentos de osso e uma bala, foi descoberta
na Catedral de Santo Domingo. De modo a pôr fim às alegações de as relíquias
erradas haviam sido transferidas para Havana e que os restos mortais de Colombo
haviam sido deixados enterrados na Catedral de Santo Domingo, em Junho de 2003
foram recolhidas amostras de ADN dos restos mortais que se encontram em
Sevilha, assim como outras amostras de ADN dos restos mortais dos seus filhos
Diogo e Fernando. As observações iniciais sugeriram que os ossos não
aparentavam pertencer a alguém com o físico e idade associados a Colombo. A
extracção de ADN revelou-se difícil; apenas pequenos fragmentos de ADN
mitocondrial (ADNmt) puderam ser isolados. Estes fragmentos encontraram uma
correspondência exacta com o ADNmt do seu irmão Diogo, sustentando a tese de
que ambos terão partilhado a mesma mãe. Tal evidência, juntamente com a análise
histórica e antropológica, levou os investigadores a concluir que os restos
mortais que se encontram em Sevilha pertencem a Cristóvão Colombo. As
autoridades de Santo Domingo nunca permitiram que os restos mortais que aí se
encontram fossem exumados, de modo que desconhece-se se algum deles pertence
também ao corpo de Colombo. Estas relíquias encontram-se actualmente no "Farol
de Colombo" (Farol a Colón), em Santo Domingo.
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