Roberto Ivens
nasceu a 12 de Junho de 1850, na freguesia de São Pedro, Ponta Delgada, filho
de Margarida Júlia de Medeiros Castelo Branco, de apenas 18 anos de idade,
oriunda de uma família de modestos recursos, e de Robert Breakspeare Ivens, de
30 anos, filho do abastado comerciante inglês William Ivens, residente em Ponta
Delgada desde 1800. Robert Breakspeare Ivens era bisneto materno do famoso
Thomas Hickling, vice-cônsul americano em Ponta Delgada.
Com apenas
três anos de idade perde a mãe vítima da tuberculose.
Permanecendo
em Ponta Delgada, beneficiando do estatuto social que o reconhecimento por
parte da família Ivens lhe conferiu, frequenta a Escola Primária do Convento da
Graça, onde desde logo foi apelidado de "Roberto do Diabo" dadas as
travessuras em que se envolvia.
O pai, que
entretanto casara, fixou-se em Faro, no Algarve, para onde leva os filhos em
Agosto de 1858.
Em 1861
Roberto Ivens é inscrito na Escola da Marinha, em Lisboa, ali fazendo os
estudos que o conduziram a uma carreira como oficial da marinha. Foi sempre um
estudante inteligente e aplicado, mas igualmente brincalhão. Um dos camaradas
de curso confirmaria mais tarde este aspecto do carácter de Roberto Ivens:
"Onde havia uma guitarra era chamado o Ivens e onde estava o Ivens era procurada
uma guitarra".
Concluiu o
curso de Marinha em 1870, com apenas 20 anos, com as mais elevadas
classificações. Frequentou em 1871 a Escola Prática de Artilharia Naval,
partindo em Setembro desse ano para a Índia, pelo Canal do Suez, integrado na
guarnição da corveta Estefânia, onde é promovido a Guarda-marinha.
A partir de
1872 inicia contactos regulares com Angola. A 10 de Outubro de 1874, completa
os três anos de embarque nas colónias: Regressando a Portugal, em Janeiro de
1875 foi promovido a Segundo-tenente. Em Abril de 1875, segue na corveta Duque
da Terceira para São Tomé e Príncipe e daqui para os portos da América do Sul.
Regressando em Abril de 1876, parte no mesmo mês, no Índia, para Filadélfia,
com produtos portugueses para a Exposição Universal daquela cidade.
Após o
regresso da grande viagem de exploração, Roberto Ivens, por motivos de saúde,
abandona o mar, passando a prestar colaboração cartográfica na Sociedade de
Geografia de Lisboa e na execução de trabalhos relacionados com África, sobretudo
Angola, no Ministério da Marinha e Ultramar.
O topo da sua
carreira na Marinha foi alcançado a 7 de Dezembro de 1895, com a promoção a Capitão-de-fragata.
Ao regressar a
Lisboa, soube do plano governamental de exploração científica no interior africano,
destinado a explorar os territórios entre as províncias de Angola e Moçambique
e, especialmente, a efectuar um reconhecimento geográfico das bacias
hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Foi, de imediato, oferecer-se para nela
tomar parte. Como, porém, a decisão demorasse, pediu para ir servir na estação
naval de Angola. Aproveitou esta estadia para fazer vários reconhecimentos,
principalmente no rio Zaire, levantando uma planta do rio entre Borud e Nóqui.
Finalmente a 11
de Maio de 1877 é nomeado para dirigir a expedição aos territórios
compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique e estudar as relações
entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Na mesma data foi
promovido a Primeiro-tenente.
De 1877 a
1880, ocupou-se com Hermenegildo Capelo e, em parte, com Serpa Pinto, na
exploração científica de Benguela às Terras de Iaca.
No regresso, é
feito Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e é nomeado a 19 de
Agosto de 1880 vogal da Comissão Central de Geografia.
Em 19 de Abril
de 1883, é nomeado vogal da comissão encarregada de elaborar e publicar uma
colecção de cartas das possessões ultramarinas portuguesas. Por portaria de 28
de Novembro do mesmo ano foi encarregado de proceder a reconhecimentos e
explorações necessários para se reunirem os elementos e informações
indispensáveis a fim de se reconstruir a carta geográfica de Angola.
Face às mais
que previsíveis decisões da Conferência de Berlim era preciso demonstrar a
presença portuguesa no interior da África austral, como forma de sustentar as
reivindicações constantes do mapa cor-de-rosa entretanto produzido. Para
realizar tão grande façanha, são nomeados Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens.
Feitos os
preparativos, a grande viagem inicia-se em Porto Pinda, no sul de Angola, em
Março de 1884. Após uma incursão de Roberto Ivens pelo rio Curoca, a comitiva
reúne-se, de novo, desta vez em Moçâmedes para a partida definitiva a 29 de
Abril daquele ano.
Foram 14 meses
de inferno no interior africano, durante os quais, a fome, o frio, a natureza
agreste, os animais selvagens, a mosca tsé-tsé, puseram em permanente risco a
vida dos exploradores e comitiva. As constantes deserções e a doença e morte de
carregadores aumentavam o perigo e a incerteza. Só de uma vez, andaram perdidos
42 dias, por terrenos pantanosos, sob condições meteorológicas difíceis, sem
caminhos e sem gente por perto. Foram dados como mortos ou perdidos, pois
durante quase um ano não houve notícias deles.
Ao longo de
toda a viagem, Roberto Ivens escreve, desenha, faz croquis, levanta cartas;
Hermenegildo Capelo recolhe espécimes de plantas, rochas e animais.
A 21 de Junho
1885, a expedição chega finalmente a Quelimane, em Moçambique, cumpridos todos
os objectivos definidos pelo governo.
Na viagem
foram percorridas 4500 milhas geográficas (mais de 8300 km), 1500 das
quais por regiões completamente desconhecidas, tendo-se feito numerosas
determinações geográficas e observações magnéticas e meteorológicas.
Estas
expedições, para além de terem permitido fazer várias determinações
geográficas, colheitas de fósseis, minerais e de várias colecções de história
natural, tinham como objectivo essencial afirmar a presença portuguesa nos
territórios explorados e reivindicar os respectivos direitos de soberania, já
que os mesmos se incluíam no famoso mapa cor-de-rosa que delimitava as
pretensões portuguesas na África meridional.
Finda a viagem
de exploração, Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo foram recebidos como heróis
em Lisboa, a 16 de Setembro de 1885.
Cansado e doente,
de uma vida dedicada à exploração geográfica e às longas viagens, Roberto Ivens
faleceu, no Dafundo, Oeiras, a 28 de Janeiro de 1898 com apenas 48 anos,
deixando viúva e três filhos.
Por todo
Portugal existem dezenas de ruas com o seu nome. Ponta Delgada prestou-lhe
também a devida homenagem, erguendo um busto inicialmente colocado no Relvão e
transferido, por decisão camarária de 1950, para a "Avenida Roberto
Ivens", que começou a ser aberta com a demolição do muro da cerca do
Convento da Esperança em 7 de Abril de 1886.
Em sua honra a
Marinha atribui o seu nome a 2 navios da sua esquadra, sendo o primeiro o
caça-minas Roberto Ivens do qual se reproduz um pequeno resumo da sua “vida”.
No dia 26 de Julho
de 1917, pelas 15h15, o caça-minas Roberto Ivens (antigo arrastão Lordelo),
requisitado em 1916, embateu contra uma mina e afundou-se a cerca de 12 milhas
a Sul de Cascais, desaparecendo rapidamente. Este acidente causou a morte do
seu comandante, 1º Tenente Raul Alexandre Cascais, de três sargentos e de 11 praças,
ficando ainda ferido o Capitão da marinha mercante Francisco António Biaia.
Mais tarde, em
1968 foi atribuído o seu nome a uma nova fragata, da classe “João Belo”
A classe João
Belo foi um modelo de fragatas ao serviço da Marinha Portuguesa entre 1967 e
2008. O seu nome, retirado do nome da primeira unidade da classe, é uma
homenagem ao oficial de marinha e político colonial português, o comandante
João Belo.
A Escola Naval
também lhe prestou homenagem atribuindo o seu nome como Patrono do Curso 1981
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