Após uma viagem de 55 dias por mar, a família real aporta em
São Salvador da Baía.
A
transferência da corte portuguesa para o Brasil foi o episódio da história de
Portugal e da história do Brasil em que a família real portuguesa, a sua corte
de nobres, servos e demais empregados domésticos, num total de aproximadamente
15 000 pessoas e inclusive uma biblioteca com mais de 60.000 livros, se
radicaram no Brasil, entre 1808 e 1821.
A capital do
Reino de Portugal foi estabelecida na capital do Estado do Brasil, a cidade do
Rio de Janeiro, registando-se o que alguns historiadores denominam de
"inversão metropolitana", ou seja, da colônia passou a ser exercida a
soberania e a governação do império ultramarino português. Pela primeira e
única vez na história uma colônia passava a sediar
uma corte europeia.
Assim sendo, em
finais de Novembro de 1807 a família real portuguesa realiza uma apressada
saída de Lisboa para escapar aos invasores franceses e chega ao Brasil a 22 de Janeiro
do ano seguinte.
Viagem atribulada,
rodeada de alguns perigos. Parece que a corte teve de se alimentar da comida de
bordo infestada por insetos, foram atacados por uma praga de piolhos e também
sofreram os efeitos de uma tempestade.
Apesar de
todas as dificuldades conseguiram chegar ao seu destino.
A partida[ii]
tinha tido lugar em pleno inverno e a chegada ao Brasil aconteceu em pleno
verão do hemisfério sul…
A família real
vai manter-se no Brasil até muito depois da última invasão francesa, e o
regresso vai ficar marcado pela independência da colónia e por uma guerra civil
que vai opor dois príncipes, Dom Pedro e Dom Miguel, numa sanguinária guerra
civil.
[i]
Dom
João VI, Filho de Dona Maria I e de Dom Pedro
III, casou em 1785 com D. Carlota Joaquina, Infanta de Espanha, filha de Carlos
IV e de Maria Luísa de Parma.
A partir de 1792, assegurou a direcção dos
negócios públicos, devido à doença mental da mãe, primeiro em nome da rainha, a
partir de 1799, em nome próprio com o título de Príncipe Regente, sendo
aclamado rei em 1816. O seu reinado decorre numa época de profundas mutações à
escala mundial e à escala nacional: Revolução Francesa e a consequente guerra
europeia, Bloqueio Continental, campanha do Rossilhão, guerra com a Espanha e a
perda de Olivença, invasões francesas, fuga da corte para o Brasil onde
permaneceu durante 14 anos, revolução liberal e a independência do Brasil. Foi
a derrocada de um mundo e o nascimento de outro, mudança que Dom João VI não
quis ou não soube compreender.
[ii]
Sem saberem do tratado franco-espanhol, os nossos representantes
em Paris e Madrid foram expulsos, pois Napoleão já havia decidido invadir
Portugal em virtude de Dom João não cumprir as cláusulas do ultimatum.
Enquanto Junot marchava com as suas tropas em direcção a Lisboa, chegava ao rio
Tejo uma armada inglesa sob o comando do almirante Sydney Smith com a missão de
escoltar a Família Real portuguesa para o Brasil. O embarque deu-se a 27 de
Novembro de 1807, mas os navios só zarparam no dia 29, em virtude de uma
tempestade no mar.
Sem comentários:
Enviar um comentário