domingo, 4 de dezembro de 2016

Expulsão dos judeus e muçulmanos residentes em Portugal.

No dia 04 de Dezembro de 1496, é anunciada, em Muge, a expulsão dos judeus e muçulmanos residentes em Portugal.

Em 1492, os judeus foram expulsos de Espanha pelos Reis Católicos (Fernando e Isabel), por não crerem converter-se ao catolicismo, a grande bandeira destes reis, que tinham conseguido conquistar Granada neste ano, e expulsado os muçulmanos do seu último reduto na Península Ibérica.

Assim, cerca de 60 mil judeus emigraram para Portugal, onde D. João II (1481-1495), O Príncipe Perfeito, abriu-lhes as portas, obrigando-os a pagar 8 cruzados por pessoa e concedendo-lhes, em troca, licença de trânsito por oito meses.
Os que não possuíam tal quantia em dinheiro viram os seus bens confiscados para a Coroa e retirados os filhos menores. Estes foram posteriormente batizados e entregues à guarda de Álvaro de Caminha, que partiu com eles para o povoamento da ilha de São Tomé, onde a maioria não resistiu às condições do clima. D. João II queria, assim, forçar a fixação de operários especializados em Portugal.

Com a morte de D. João II, sucedeu-lhe no trono o seu primo e cunhado D. Manuel I, que, embora fosse bastante tolerante com os Judeus, publicou o édito, em Muge[i], próximo de Lisboa, para a expulsão da comunidade judaica de Portugal, a pretexto de se crer casar com a Infanta D. Isabel de Espanha, filha dos Reis Católicos e estes terem imposto essa condição para haver boda.
D. Manuel I apercebeu-se que a saída dos judeus do País levaria, também, à fuga de capitais do Reino, já que a comunidade judaica era, maioritariamente, formada por mercadores, banqueiros, médicos, economistas, ourives, entre outras atividades. Era portanto gente abastada.

Para D. Manuel I, a saída de tamanha riqueza não podia acontecer, sobretudo num momento em que a aposta nos Descobrimentos era cada vez maior, e o capital judaico era muito necessário. Assim sendo, D. Manuel I decretou a conversão forçada de judeus, e até de muçulmanos, ao Cristianismo no prazo de dez meses. Nasceu, assim, o conceito de cristão-novo (vs os cristãos anteriores, chamados a partir de então de cristãos-velhos).
Em 1499, os cristãos-novos foram proibidos de sair de Portugal, mas tinham acesso a cargos políticos, administrativos e eclesiásticos. Além disso, D. Manuel I deixou-os praticar a sua religião de forma secreta, tendo uma política de grande benevolência para com os antigos judeus. Contudo, a diferenciação entre cristãos-novos e velhos era muito grande e estes últimos, impuseram várias perseguições e até massacres, obrigando muitos dos cristãos-novos a sair do país já que estes sentiam-se portugueses de segunda.

Em 22 de Maio de 1501, aportou à Terceira uma caravela que transportava grande número de cristãos-novos que fugiam à perseguição no Continente e que tinha como destina a África.
O mar bravio destruiu-lhes o barco e obrigou-os a pedir ajuda na Terceira, provavelmente através do atual Porto Judeu. Vasco Anes Corte-Real, o Capitão Donatário de Angra, avisou D. Manuel I do sucedido e o Rei ofereceu-lhe os judeus como escravos. Assim nasceu a primeira colónica judaica na Terceira e nos Açores.

Vasco Anes Corte-Real rapidamente compreendeu as capacidades judaicas e o benefício que a Ilha podia receber com tal presença, assim os judeus foram bem acolhidos e tratados como iguais, longe do fanatismo que se notava na capital do Reino. A população cedo começou a entrar em contato com os rituais judaicos, que lhes eram permitidos praticar. Em 1558, a comunidade cristã-nova nos Açores já era grande e estes pagaram 150 000 cruzeiros à regente D. Catarina, avó de D. Sebastião, para prover as armadas da Índia. Em troca, D. Catarina prorrogou o adiamento da pena de confisco de bens aos cristãos-novos por dez anos, deixando-os envolver-se na vida do arquipélago.
Num momento de crise, é bom olharmos para estes exemplos marcantes da nossa história e perceber a importância da tolerância e do apoio às minorias. É necessário respeitar e viver com as diferenças não utilizar as desculpas dos problemas e da crise para desrespeitar a Liberdade e a individualidade de cada ser. Não devemos ser falsos hipócritas, fingindo ser o que não somos, devemos assumir a nossa lugar no mundo com defeitos e virtudes e respeitar as diferenças.

A Liberdade de cada um termina quando interfere na do outro…seja ele quem for.



[i] Decreto-lei que atribui a nacionalidade portuguesa aos descendentes de judeus sefarditas.

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