Depois de durante mais e meio
século de viagens de reconhecimento ao longo da costa de África, os Portugueses
chegam por fim ao Oriente, numa significativa viagem de 13000 milhas de
Lisboa à costa do Malabar. O êxito desta arrojada missão de dois anos põe termo
ao monopólio árabe do lucrativo comércio de especiarias e instaura o poder
europeu, através de Portugal, no Extremo Oriente, que se manteria por quatro
séculos.
Por estranho que pareça pouco se
sabe acerca dos primeiros anos de vida de Vasco da Gama, após o seu nascimento,
provavelmente em Sines, em 1460, acaba por morrer a 24 de Dezembro de 1524 em
Cochim, Estado Português da Índia. O seu pai fora escolhido pelo rei D. João II
para comandar uma expedição à Índia, passando pelo Cabo da Boa Esperança, mas
ambos morreriam antes que pudessem concretizar os seus planos. O novo rei, D.
Manuel I, encarregou Vasco da Gama de empresa semelhante, pelo que uma frota
composta por quatro navios largou de Portugal a 8 de Julho de 1497. A 20 de
Maio de 1498, Vasco da Gama chegava a Calecute (hoje Kozhikode), na costa do
Malabar, na Índia. Aí contactou com o soberano local, adquiriu uma quantidade
razoável de especiarias e regressou a Lisboa como um herói. Vasco da Gama
voltou à Índia duas vezes, a última das quais, em 1524, como vice-rei. Morreu
nesse mesmo ano em Cochim. Ainda hoje, em Portugal, é considerado um herói
nacional.
A missiva que o rei D. Manuel I recebeu
em Julho de 1499 dizia sem mais preâmbulos “Vasco da Gama, fidalgo da vossa
casa, veio à minha terra, com o que eu folguei. Em minha terra há muita canela,
e muito cravo, e gengibre, e pimenta e muitas pedras preciosas. E o que eu
quero da tua é ouro, e prata, e coral e escarlata.”
Esta breve mensagem, escrita numa
folha de palmeira, fora ditada pelo samorim de Calecute, cidade da Costa
Ocidental da Índia, distando de Lisboa mais de 13000 milhas por mar. Oferecia a
primeira oportunidade de estabelecer o comércio directo entre o Oriente e o
Ocidente.
Esta notícia entusiasmou D. Manuel. Desde 1493 que a Espanha se vangloriava das cartas de Cristóvão Colombo. Mas este, depois de três viagens ao que pensava serem as Índias, não encontrava especiarias, mas apenas quantidades mínimas de ouro. Agora os navios portugueses tinham descoberto um caminho marítimo directo para a verdadeira Índia, e como prova haviam regressado com amostras de especiarias e de pedras preciosas de toda a espécie.
D. Manuel, muito contente,
apressou-se a comunicar estas boas novas a Fernando e Isabel de Espanha: “Mui
altos e excelentes Príncipes, e muito poderosos Senhores!Esta notícia entusiasmou D. Manuel. Desde 1493 que a Espanha se vangloriava das cartas de Cristóvão Colombo. Mas este, depois de três viagens ao que pensava serem as Índias, não encontrava especiarias, mas apenas quantidades mínimas de ouro. Agora os navios portugueses tinham descoberto um caminho marítimo directo para a verdadeira Índia, e como prova haviam regressado com amostras de especiarias e de pedras preciosas de toda a espécie.
Sabem Vossas Altezas como
tínhamos mandado a descobrir Vasco da Gama, fidalgo da nossa casa, e com ele
Paulo da Gama, seu irmão, com quatro navios pelo oceano; os quais agora já
passava de dous anos que eram partidos…Por um dos capitães que a nós a esta
cidade ora é chegado, ouvemos: que acharam e descobriram a Índia e outros
reinos…acharam grandes cidades…nas quais se faz todo o trato de especiaria e de
pedraria…”
Tal como D. Manuel esperava, a
notícia espalhou-se pela Europa com a velocidade de um relâmpago. Como dizia um
comerciante florentino que vivia em Lisboa, numa carta a um amigo em Itália:
“…parece ter sido agora descoberta toda a riqueza do Mundo”.
No decurso dos 150 anos
anteriores, todas as mercadorias provenientes do Oriente e destinadas a ser
vendidas na Europa eram transportadas através do mar da Arábia por indianos,
árabes ou persas. Trazidas por mar desde a Índia, até ao Golfo Pérsico e até ao
Mar Vermelho, seguiam depois em caravanas até Alexandria e outros portos do
Mediterrâneo Oriental. Aí, eram compradas por mercadores venezianos e genoveses
para serem vendidas por toda a Europa. Agora, Portugal descobrira uma rota que
lhe permitia dispensar todos os intermediários e adquirir as pedras preciosas e
as especiarias directamente na sua origem.
Portugal não o conseguira, porém,
com uma viagem apenas. Havia quase um século que os seus navios avançavam cada
vez mais para sul, ao longo da desconhecida costa ocidental de África, em busca
do extremo sul deste continente. Em 1488, Bartolomeu Dias encontra-o finalmente
mas, depois de dobrar o cabo da Boa Esperança, acedera às exigências da sua
tripulação assustada e regressara.
Este sinal de fraqueza poderá ter
levado o rei a ignorar o experiente Bartolomeu Dias e a escolher Vasco da Gama
para comandar a nova expedição que iria contornar África, subir a sua costa
oriental e aventurar-se em seguida no desconhecido Oceano Índico ao rumar ao
portos buliçosos do Oriente. Embora pouco se conheça acerca dos primeiros anos
da carreira de Vasco da Gama, era por certo um chefe resoluto e um marinheiro
experiente. Todas as narrativas da época o descrevem como um homem duro,
autoritário e “terrivelmente violento quando encolerizado”.
A frota que Vasco da Gama chefiou era a maior e mais bem organizada das expedições portuguesas de exploração marítima. Duas das quatro naus haviam sido construídas especialmente para esta missão, sob as ordens do experiente Bartolomeu Dias. Estavam armadas com canhões e aparelhadas com as mais modernas cartas náuticas e instrumentos de navegação existentes à data. A S. Gabriel, sob o comando de Gonçalo Álvares, era a nau capitania de Vasco da Gama. Paulo da Gama, seu irmão, comandava a S. Rafael, e Nicolau Coelho, a Bérrio. O quarto navio, destinado ao transporte dos mantimentos, seguia sob o comando de Gonçalo Nunes, que, uma vez esgotadas as provisões, teria a triste missão de afundá-lo.
A frota que Vasco da Gama chefiou era a maior e mais bem organizada das expedições portuguesas de exploração marítima. Duas das quatro naus haviam sido construídas especialmente para esta missão, sob as ordens do experiente Bartolomeu Dias. Estavam armadas com canhões e aparelhadas com as mais modernas cartas náuticas e instrumentos de navegação existentes à data. A S. Gabriel, sob o comando de Gonçalo Álvares, era a nau capitania de Vasco da Gama. Paulo da Gama, seu irmão, comandava a S. Rafael, e Nicolau Coelho, a Bérrio. O quarto navio, destinado ao transporte dos mantimentos, seguia sob o comando de Gonçalo Nunes, que, uma vez esgotadas as provisões, teria a triste missão de afundá-lo.
Contudo, vendo carregar esta nau,
ninguém acreditaria que alguma vez chegasse o momento de a afundar. Pela
prancha de embarque entraram barrica após barrica de vinho e de água, tonelada
após tonelada de alimentos, como bolachas, peixe seco e carnes salgadas, de
porco e de vaca; e até mesmo algumas iguarias, como mel, açúcar, alho, ameixas
e amêndoas.
Enquanto se carregava o navio das provisões, Vasco da Gama ocupava-se em recrutar marinheiros. Calcula-se que as tripulações somariam um total de 118 a 170 homens, incluindo alguns veteranos da viagem de Bartolomeu Dias. Além dos marinheiros, soldados, carpinteiros e cordoeiros habituais, levavam ainda sacerdotes, intérpretes e até mesmo corneteiros. Iam também alguns degredados e condenados à morte, que seriam incumbidos de missões particularmente arriscadas em terra. Se fossem bem-sucedidos, ser-lhes-ia concedido o perdão no seu regresso a Portugal.
Enquanto se carregava o navio das provisões, Vasco da Gama ocupava-se em recrutar marinheiros. Calcula-se que as tripulações somariam um total de 118 a 170 homens, incluindo alguns veteranos da viagem de Bartolomeu Dias. Além dos marinheiros, soldados, carpinteiros e cordoeiros habituais, levavam ainda sacerdotes, intérpretes e até mesmo corneteiros. Iam também alguns degredados e condenados à morte, que seriam incumbidos de missões particularmente arriscadas em terra. Se fossem bem-sucedidos, ser-lhes-ia concedido o perdão no seu regresso a Portugal.
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