terça-feira, 15 de novembro de 2016

Yasser Arafat proclama o Estado da Palestina.

A 15 de Novembro de 1988 – Yasser Arafat, no exílio, proclama o Estado da Palestina.
Yasser Arafat, chefe da Autoridade Palestiniana, foi uma das personalidades políticas mais importantes no conflito que tem vindo a envolver árabes e israelitas. Figura carismática, lutou, durante 40 anos, pela formação de um Estado autónomo, na região da Palestina.

Yasser Arafat (em árabe: ياسر عرفات; nasceu no Cairo a 24 de Agosto de 1929 vindo a morrer em Clamart – França a 11 de Novembro de 2004. Foi o líder da Autoridade Palestiniana, presidente (desde 1969) da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), líder da Fatah, a maior das facções da OLP, e co-detentor do Nobel da Paz juntamente com Shimon Peres e Yitzhak Rabin (1994).

Nascido Mohammed Abdel Rahman Abdel Raouf Arafat al-Qudwa al-Husseini, também conhecido como Abu Ammar, Arafat foi um dos sete filhos de um comerciante. O estabelecimento da data e local de nascimento de Arafat são controversos. O seu registro de nascimento indica que ele nasceu no Cairo, Egipto, a 24 de Agosto de 1929. No entanto, alguns ainda tomam por verdadeira a afirmação de Arafat de que nasceu em Jerusalém a 4 de Agosto de 1929.
Arafat perpetuou insistentemente a lenda de que nascera em Jerusalém e que era um parente do importante clã Husseini daquela cidade. Viveu a maior parte da sua infância no Cairo, com a exceção de quatro anos (após a morte de sua mãe, entre os seus 5 e 9 anos) em que terá vivido em Jerusalém.

De regresso ao Cairo, frequentou a Universidade, onde se formou como engenheiro civil. Nos seus tempos de estudante, aderiu à Irmandade Muçulmana e à associação de estudantes, da qual foi presidente entre1952 e 1956.
Ainda durante a sua estadia no Cairo, Arafat desenvolveu uma relação próxima com Haj Amin Al-Husseini, também conhecido como o Mufti de Jerusalém.

Durante a Crise do Suez, em 1956, serviu no exército egípcio. No Congresso Nacional Palestiniano, ocorrido no Cairo, em 3 de Fevereiro de 1969, Arafat foi nomeado líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Após a Crise de Suez, em 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, líder do Movimento de Oficiais Livres, concordou em permitir que a Força de Emergência das Nações Unidas se estabelecesse na Península do Sinai e na Faixa de Gaza, causando a expulsão de todas as forças da guerrilha ("fedayeen") incluindo Arafat. Levando este a pedir asilo político ao Kuwait em 1957.
A partir do seu exilio no Kuwait Arafat e os outros companheiros fundaram o grupo que ficou conhecido como o Fatah. A data exata para a sua fundação não é conhecida, no entanto, em 1959, a existência do grupo foi confirmada através de uma revista nacionalista palestina, Filastununa Nida al-Hayat (Nossa Palestina, The Call of Life), que era escrita e editada por Abu Jihad.

A criação da Fatah teve como principal objectivo a libertação da Palestina através da luta armada realizada pelos próprios palestinianos.
Após a guerra dos seis dias (1967)[i], Arafat e a Fatah passam a actuar a partir da Jordânia, lançando ataques contra Israel a partir do outro lado da fronteira e regressando à Jordânia antes que os israelitas pudessem reagir.

Nos finais da década de 1960 a Fatah passou a dominar a OLP e em 1969 Arafat foi nomeado presidente da OLP, substituindo Ahmed Shukairy, originalmente nomeado pela Liga Árabe.
Arafat tornou-se chefe do Estado Maior das Forças Revolucionárias Palestinianas dois anos mais tarde e em 1973 o líder político da OLP.

No seguimento da ambição da OLP em transformar a Jordânia num estado palestiniano (com o patrocínio da União Soviética), crescem neste tempo as tensões entre Palestinianos e o Governo da Jordânia, o que culminaria com o sequestro (e subsequente destruição) de quatro aviões pela OLP e na Guerra Civil Jordana de 1970-1971 (em particular com os eventos do Setembro Negro)[ii].
Neste conflito, a monarquia jordana, com a ajuda de Israel, derrotou a OLP e a Síria, que se preparava para invadir a Jordânia em apoio da OLP.

Depois desta derrota, Arafat transferiu-se juntamente com a OLP da Jordânia para o Líbano.
Em Setembro de 1972 o grupo Setembro Negro, raptou 11 atletas de Israel durante os Jogos Olímpicos. O grupo executou dois desses atletas, e na tentativa de raptar os restantes, um tiroteio com a polícia resultou na morte de todos eles, um agente policial alemão e cinco membros do grupo Setembro Negro, no que ficou conhecido como o Massacre de Munique. A condenação internacional do ataque fez com que Arafat se distanciasse publicamente de actos similares no futuro tendo ordenado em 1974 que a OLP se abstivesse de actos de violência fora de Israel, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. No mesmo ano, Arafat tornou-se o primeiro representante de uma organização não-governamental a discursar numa sessão plenária de uma Assembleia Geral das Nações Unidas.

Em 1974, líderes de estados árabes declararam a OLP como o único representante legítimo de todos os palestinianos. A OLP foi admitida como membro de plenos direitos na Liga Árabe em 1976.
Esta situação levou a que Israel se tenha aliado com os cristãos libaneses e conduzido duas grandes operações militares no Líbano, a primeira sendo a Operação Litani (1978), na qual uma estreita faixa terrestre (a zona de segurança) foi capturada e dominada conjuntamente pelas Forças de Defesa de Israel e o exército sul-libanês. A segunda foi a Operação Paz para a Galileia (1982), na qual Israel ocupou a maior parte do sul do Líbano, tendo recuado de volta à zona de segurança em 1985. Foi durante a segunda destas operações que os guerrilheiros da OLP foram pressionados a abandonar o Líbano. Ao mesmo tempo, entre 800 e 3500 palestinianos, na sua maioria civis, foram mortos pelas milícias cristãs libanesas no Massacre de Sabra e Shatila, um campo de refugiados, uma medida de retaliação pelo assassinato do líder cristão-libanês Bachir Gemayel.

Em Setembro de 1982, durante a invasão israelita e sob o beneplácito dos EUA, foi negociado um cessar-fogo onde ficou decidido a permissão de Arafat e a OLP saírem para o Líbano. Arafat e os seus guerrilheiros partiram de barco desde o Líbano para a Tunísia, onde ficou estabelecido o seu centro das operações até 1993.
Durante a década de 1980, Arafat recebeu o apoio de Saddam Hussein. Este apoio veio em bom tempo, e coincidiu com o início da Primeira Intifada, que teve lugar em Dezembro de 1987.

A 15 de Novembro de 1988, a OLP proclamou o "Estado da Palestina," um governo-no-exílio para os Palestinianos, nos termos da Resolução 181 da Assembleia Geral das Nações Unidas (a "oferta de partição de 1947").
Numa comunicação efectuada a 13 de Dezembro de 1988, Arafat declarou aceitar a Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, prometeu o futuro reconhecimento de Israel e renunciar ao terrorismo. A 2 de Abril de 1989, Arafat foi eleito pelo Conselho Central do Conselho Nacional Palestino (o corpo governante da OLP) como presidente deste hipotético estado palestiniano.

Este desenvolvimento permitiu o início de um novo desenvolvimento político. Na conferência de Madrid de 1991, Israel participou em negociações directas com a OLP pela primeira vez.
O prolongamento das negociações sob a égide dos EUA vão levar aos Acordos de Paz de Oslo de 1993, que estipulavam a implementação da auto-administração Palestiniana na Cisjordânia e na Faixa de Gaza num período de cinco anos. No ano seguinte, numa decisão controversa, Arafat recebeu o Nobel da Paz, juntamente com Shimon Peres e Yitzhak Rabin. Em 1994, Arafat deslocou-se para a Autoridade Palestiniana (AP) - a entidade provisional criada pelos acordos de Oslo.

A 20 de Janeiro de 1996, Arafat foi eleito presidente da AP, com uma maioria esmagadora de 87%. Observadores independentes internacionais reportaram que as eleições decorreram de forma livre e justa. Novas eleições estavam inicialmente anunciadas para Janeiro de 2002, mas foram depois adiadas, alegadamente por falta de segurança e restrição de movimento nos territórios ocupados.
Em meados de 1996, após a eleição de Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro de Israel, as relações israelo-palestinianas tornaram-se mais tensas. Benjamin Netanyahu tentou obstruir a transição para o estado palestiniano delineada no acordo OLP-Israel. Em 1998, o presidente dos Estados Unidos Bill Clinton interveio, conseguindo um encontro entre os dois líderes. Do encontro resultou o Memorandum de Wye River de 23 de Outubro de 1998 que detalhava os passos a tomar pelo governo israelita e pela OLP para completar o processo de paz.

Arafat continuou as negociações com o sucessor de Netanyahu, Ehud Barak. Em parte devido à sua própria política (Barak pertence ao partido trabalhista, enquanto que Netanyahu ao partido conservador Likud) e parcialmente devido à grande pressão colocada pelo Presidente Americano Bill Clinton, Barak ofereceu a Arafat um Estado palestiniano na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Leste como capital, um regresso de um número limitado de refugiados e uma compensação para os restantes, mas não estipulando sobre outros assuntos, vistos como vitais no processo. Numa manobra amplamente criticada, Arafat rejeitou a oferta de Barak, e não fez qualquer contra-oferta. Seguindo a uma visita altamente controversa de Ariel Sharon à área delimitada da Mesquita Al-Aqsa e a violência que se seguiu, a chamada Segunda Intifada Palestiniana (ou Intifada Al-Aqsa Intifada) (2000 até hoje) começou.
Como sabemos, Arafat morreu a 11 de Novembro de 2004, aos 75 anos, após treze dias internado no hospital militar Percy, em Clamart, a sudoeste de Paris.
De acordo com Christian Estripeau, porta-voz do hospital, Arafat morreu por falência múltipla dos órgãos. No entanto, seu biógrafo, Amnon Kapeliouk, levantou a possibilidade de sua morte ter sido decorrente de anos de contínuo envenenamento, realizado pelos serviços secretos israelitas.

A 3 de Julho de 2012, foi divulgado pelo Instituto de Radiofísica do Hospital Universitário da Universidade de Lausanne, na Suíça, o resultado de um trabalho de nove meses de análises do material biológico encontrado em objetos de uso pessoal de Arafat (roupas, escova de dentes e keffiyeh). O relatório apontou para a presença de altos níveis de polônio 210 no material analisado. Segundo a rede de televisão Al Jazeera, o resultado do estudo reforça a possibilidade de que Arafat tenha sido envenenado com material radioativo. Em 9 de Julho, o presidente palestino Mahmoud Abbas aprovou pedido de exumação do corpo de Arafat, apresentado por Suha Arafat, para teste do nível de polônio. O governo de Israel negou qualquer envolvimento com as recentes descobertas. A Justiça francesa, através do tribunal de Nanterre, decidiu iniciar uma investigação sobre a morte do líder palestino, depois que a viúva apresentou queixa de assassinato de seu marido, no final de Julho.
Os testes realizados após a exumação de seu corpo mostraram um nível 20 vezes maior que o permitido para um ser humano normal da substância polônio 210, reforçando a tese que o líder foi envenenado. Contudo, uma equipe russa que examinou seu corpo afirmou não existir nada de anormal com Arafat e que provavelmente não foi envenenado. O assunto contínua controverso.

Os atentados de 11 de setembro de 2001 precipitam os Estados Unidos na "guerra ao terror", a partir de dezembro de 2001, no mesmo momento em que Yasser Arafat concluía uma trégua com o Hamas e a Jihad islâmica palestina.
Boicotado pelo governo dos Estados Unidos e considerado pelo governo israelita como responsável pelo início da Segunda Intifada e por atentados suicidas, Yasser Arafat passará os últimos anos de sua vida fechado na Muqata’a (complexo de edifícios de uma antiga prisão, remanescente da época do Mandato Britânico da Palestina e posteriormente convertido na sede da Autoridade Nacional Palestina), em Ramallah, cercado por forças israelitas. Proibido de viajar, tanto dentro da Palestina como para o exterior, ainda assim Arafat conseguirá manter o controlo da Autoridade Palestina.

Arafat recebeu finalmente a autorização para deixar o seu complexo em 3 de Maio de 2002, após intensas negociações que culminaram num acordo. Seis ativistas procurados por Israel, que se tinham entrincheirado juntamente com Arafat no seu complexo, não seriam entregues a Israel, mas também não permaneceriam à guarda da Autoridade Palestiniana. Uma combinação de polícias britânicos e norte americanos assegurariam que eles permanecessem prisioneiros em Jericó. Com esta medida, e a promessa de que ele iria emitir um comunicado em árabe aos Palestinianos a favor de uma pausa nos ataques contra Israel, Arafat foi libertado. Emitiu este comunicado a 8 de Maio de 2002, mas, como em casos anteriores, o seu pedido foi ignorado.


[i] A Guerra dos Seis Dias, também conhecida como Guerra de 1967 ou Guerra de junho de 1967 ou ainda Terceira Guerra Árabe-Israelense, foi o conflito que envolveu Israel, Síria, Egito, Jordânia e Iraque. Ocorreu entre 05 e 10 de junho de 1967, e foi a mais consistente resposta árabe à fundação do Estado de Israel, apesar do estado sionista ter saído como grande vencedor.
[ii] Setembro Negro é o nome dado a um período que se estende de Setembro de 1970 a Julho de 1971, iniciado quando o exército da Jordânia entrou em confronto com as organizações guerrilheiras da OLP, então baseadas na Jordânia, visando expulsá-las do país. Em consequência, os refugiados palestinos tiveram que emigrar em massa.
Estimativas do número de vítimas dos dez dias do "Setembro Negro" variam de 3000 a mais de 5000 mortos. O número de palestinos mortos em onze dias de luta foi estimado pela Jordânia em 3.400, enquanto as fontes palestinas calculam que 10 000 pessoas, na sua maioria civis, foram mortas. À época, Arafat disse que esse número poderia ser bem superior - até 20.000 mortos. No Cairo, o programa radiofônico A Voz dos Árabes considerou ter havido genocídio.





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