Yasser Arafat,
chefe da Autoridade Palestiniana, foi uma das personalidades políticas mais
importantes no conflito que tem vindo a envolver árabes e israelitas. Figura
carismática, lutou, durante 40 anos, pela formação de um Estado autónomo, na
região da Palestina.
Yasser Arafat (em árabe: ياسر عرفات; nasceu no Cairo a 24 de Agosto de 1929 vindo a morrer em Clamart – França a 11 de Novembro de 2004. Foi o líder da Autoridade Palestiniana, presidente (desde 1969) da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), líder da Fatah, a maior das facções da OLP, e co-detentor do Nobel da Paz juntamente com Shimon Peres e Yitzhak Rabin (1994).
Nascido
Mohammed Abdel Rahman Abdel Raouf Arafat al-Qudwa al-Husseini, também conhecido
como Abu Ammar, Arafat foi um dos sete filhos de um comerciante. O
estabelecimento da data e local de nascimento de Arafat são controversos. O seu
registro de nascimento indica que ele nasceu no Cairo, Egipto, a 24 de Agosto
de 1929. No entanto, alguns ainda tomam por verdadeira a afirmação de Arafat de
que nasceu em Jerusalém a 4 de Agosto de 1929.
Arafat
perpetuou insistentemente a lenda de que nascera em Jerusalém e que era um
parente do importante clã Husseini daquela cidade. Viveu a maior parte da sua
infância no Cairo, com a exceção de quatro anos (após a morte de sua mãe, entre
os seus 5 e 9 anos) em que terá vivido em Jerusalém.
De regresso ao
Cairo, frequentou a Universidade, onde se formou como engenheiro civil. Nos
seus tempos de estudante, aderiu à Irmandade Muçulmana e à associação de
estudantes, da qual foi presidente entre1952 e 1956.
Ainda durante a
sua estadia no Cairo, Arafat desenvolveu uma relação próxima com Haj Amin
Al-Husseini, também conhecido como o Mufti de Jerusalém.
Durante a Crise
do Suez, em 1956, serviu no exército egípcio. No Congresso Nacional
Palestiniano, ocorrido no Cairo, em 3 de Fevereiro de 1969, Arafat foi nomeado
líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Após a Crise
de Suez, em 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, líder do Movimento
de Oficiais Livres, concordou em permitir que a Força de Emergência das Nações
Unidas se estabelecesse na Península do Sinai e na Faixa de Gaza, causando a
expulsão de todas as forças da guerrilha ("fedayeen") incluindo
Arafat. Levando este a pedir asilo político ao Kuwait em 1957.
A partir do
seu exilio no Kuwait Arafat e os outros companheiros fundaram o grupo que ficou
conhecido como o Fatah. A data exata para a sua fundação não é conhecida, no
entanto, em 1959, a existência do grupo foi confirmada através de uma revista
nacionalista palestina, Filastununa Nida al-Hayat (Nossa Palestina, The Call of
Life), que era escrita e editada por Abu Jihad.
A criação da Fatah teve como principal
objectivo a libertação da Palestina através da luta armada realizada pelos
próprios palestinianos.
Após a guerra
dos seis dias (1967)[i], Arafat
e a Fatah passam a actuar a partir da Jordânia, lançando ataques contra Israel
a partir do outro lado da fronteira e regressando à Jordânia antes que os
israelitas pudessem reagir.
Nos finais da
década de 1960 a Fatah passou a dominar a OLP e em 1969 Arafat foi nomeado
presidente da OLP, substituindo Ahmed Shukairy, originalmente nomeado pela Liga
Árabe.
Arafat
tornou-se chefe do Estado Maior das Forças Revolucionárias Palestinianas dois
anos mais tarde e em 1973 o líder político da OLP.
No seguimento
da ambição da OLP em transformar a Jordânia
num estado palestiniano (com o patrocínio da União Soviética), crescem neste tempo as
tensões entre Palestinianos e o Governo da Jordânia, o que culminaria com o
sequestro (e subsequente destruição) de quatro aviões pela OLP e na Guerra
Civil Jordana de 1970-1971 (em particular com os eventos do Setembro Negro)[ii].
Neste conflito,
a monarquia jordana, com a ajuda de Israel, derrotou a OLP e a Síria, que se
preparava para invadir a Jordânia em apoio da OLP.
Depois desta
derrota, Arafat transferiu-se juntamente com a OLP da Jordânia para o Líbano.
Em Setembro de
1972 o grupo Setembro Negro, raptou 11 atletas de Israel durante os Jogos
Olímpicos. O grupo executou dois desses atletas, e na tentativa de raptar os
restantes, um tiroteio com a polícia resultou na morte de todos eles, um agente
policial alemão e cinco membros do grupo Setembro Negro, no que ficou conhecido
como o Massacre de Munique. A condenação internacional do ataque fez com que
Arafat se distanciasse publicamente de actos similares no futuro tendo ordenado
em 1974 que a OLP se abstivesse de actos de violência fora de Israel, da Cisjordânia
e da Faixa de Gaza. No mesmo ano, Arafat tornou-se o primeiro representante de
uma organização não-governamental a discursar numa sessão plenária de uma Assembleia
Geral das Nações Unidas.
Em 1974,
líderes de estados árabes declararam a OLP como o único representante legítimo
de todos os palestinianos. A OLP foi admitida como membro de plenos direitos na
Liga Árabe em 1976.
Esta situação
levou a que Israel se tenha aliado com os cristãos libaneses e conduzido duas
grandes operações militares no Líbano, a primeira sendo a Operação Litani
(1978), na qual uma estreita faixa terrestre (a zona de segurança) foi
capturada e dominada conjuntamente pelas Forças de Defesa de Israel e o
exército sul-libanês. A segunda foi a Operação Paz para a Galileia (1982), na
qual Israel ocupou a maior parte do sul do Líbano, tendo recuado de volta à
zona de segurança em 1985. Foi durante a segunda destas operações que os
guerrilheiros da OLP foram pressionados a abandonar o Líbano. Ao mesmo tempo,
entre 800 e 3500 palestinianos, na sua maioria civis, foram mortos pelas
milícias cristãs libanesas no Massacre de Sabra e Shatila, um campo de
refugiados, uma medida de retaliação pelo assassinato do líder cristão-libanês Bachir
Gemayel.
Em Setembro de
1982, durante a invasão israelita e sob o beneplácito dos EUA, foi negociado um
cessar-fogo onde ficou decidido a permissão de Arafat e a OLP saírem para o
Líbano. Arafat e os seus guerrilheiros partiram de barco desde o Líbano para a Tunísia,
onde ficou estabelecido o seu centro das operações até 1993.
Durante a década de 1980, Arafat
recebeu o apoio de Saddam Hussein. Este apoio veio em bom tempo, e coincidiu
com o início da Primeira Intifada, que teve lugar em Dezembro de 1987.
A 15 de
Novembro de 1988, a OLP proclamou o "Estado da Palestina," um
governo-no-exílio para os Palestinianos, nos termos da Resolução 181 da
Assembleia Geral das Nações Unidas (a "oferta de partição de 1947").
Numa
comunicação efectuada a 13 de Dezembro de 1988, Arafat declarou aceitar a Resolução
242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, prometeu o futuro
reconhecimento de Israel e renunciar ao terrorismo. A 2 de Abril de 1989,
Arafat foi eleito pelo Conselho Central do Conselho Nacional Palestino (o corpo
governante da OLP) como presidente deste hipotético estado palestiniano.
Este
desenvolvimento permitiu o início de um novo desenvolvimento político. Na conferência
de Madrid de 1991, Israel participou em negociações directas com a OLP pela
primeira vez.
O
prolongamento das negociações sob a égide dos EUA vão levar aos Acordos de Paz
de Oslo de 1993, que estipulavam a implementação da auto-administração
Palestiniana na Cisjordânia e na Faixa de Gaza num período de cinco anos. No
ano seguinte, numa decisão controversa, Arafat recebeu o Nobel da Paz,
juntamente com Shimon Peres e Yitzhak Rabin. Em 1994, Arafat deslocou-se para a
Autoridade Palestiniana (AP) - a entidade provisional criada pelos acordos de
Oslo.
A 20 de
Janeiro de 1996, Arafat foi eleito presidente da AP, com uma maioria esmagadora
de 87%. Observadores independentes internacionais reportaram que as eleições
decorreram de forma livre e justa. Novas eleições estavam inicialmente
anunciadas para Janeiro de 2002, mas foram depois adiadas, alegadamente por
falta de segurança e restrição de movimento nos territórios ocupados.
Em meados de
1996, após a eleição de Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro de Israel, as
relações israelo-palestinianas tornaram-se mais tensas. Benjamin Netanyahu
tentou obstruir a transição para o estado palestiniano delineada no acordo
OLP-Israel. Em 1998, o presidente dos Estados Unidos Bill Clinton interveio, conseguindo
um encontro entre os dois líderes. Do encontro resultou o Memorandum de Wye
River de 23 de Outubro de 1998 que detalhava os passos a tomar pelo governo
israelita e pela OLP para completar o processo de paz.
Arafat
continuou as negociações com o sucessor de Netanyahu, Ehud Barak. Em parte
devido à sua própria política (Barak pertence ao partido trabalhista, enquanto
que Netanyahu ao partido conservador Likud) e parcialmente devido à grande
pressão colocada pelo Presidente Americano Bill Clinton, Barak ofereceu a
Arafat um Estado palestiniano na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém
Leste como capital, um regresso de um número limitado de refugiados e uma
compensação para os restantes, mas não estipulando sobre outros assuntos,
vistos como vitais no processo. Numa manobra amplamente criticada, Arafat
rejeitou a oferta de Barak, e não fez qualquer contra-oferta. Seguindo a uma
visita altamente controversa de Ariel Sharon à área delimitada da Mesquita
Al-Aqsa e a violência que se seguiu, a chamada Segunda Intifada Palestiniana
(ou Intifada Al-Aqsa Intifada) (2000 até hoje) começou.
Como sabemos, Arafat
morreu a 11 de Novembro de 2004, aos 75 anos, após treze dias internado no
hospital militar Percy, em Clamart, a sudoeste de Paris.
De acordo com
Christian Estripeau, porta-voz do hospital, Arafat morreu por falência múltipla
dos órgãos. No entanto, seu biógrafo, Amnon Kapeliouk, levantou a possibilidade
de sua morte ter sido decorrente de anos de contínuo envenenamento, realizado
pelos serviços secretos israelitas.
A 3 de Julho
de 2012, foi divulgado pelo Instituto de Radiofísica do Hospital Universitário
da Universidade de Lausanne, na Suíça, o resultado de um trabalho de nove meses
de análises do material biológico encontrado em objetos de uso pessoal de
Arafat (roupas, escova de dentes e keffiyeh). O relatório apontou para a
presença de altos níveis de polônio 210 no material analisado. Segundo a rede
de televisão Al Jazeera, o resultado do estudo reforça a possibilidade de que
Arafat tenha sido envenenado com material radioativo. Em 9 de Julho, o
presidente palestino Mahmoud Abbas aprovou pedido de exumação do corpo de
Arafat, apresentado por Suha Arafat, para teste do nível de polônio. O governo
de Israel negou qualquer envolvimento com as recentes descobertas. A Justiça
francesa, através do tribunal de Nanterre, decidiu iniciar uma investigação
sobre a morte do líder palestino, depois que a viúva apresentou queixa de assassinato
de seu marido, no final de Julho.
Os testes realizados
após a exumação de seu corpo mostraram um nível 20 vezes maior que o permitido
para um ser humano normal da substância polônio 210, reforçando a tese que o
líder foi envenenado. Contudo, uma equipe russa que examinou seu corpo afirmou não
existir nada de anormal com Arafat e que provavelmente não foi envenenado. O
assunto contínua controverso.
Os atentados
de 11 de setembro de 2001 precipitam os Estados Unidos na "guerra ao
terror", a partir de dezembro de 2001, no mesmo momento em que Yasser
Arafat concluía uma trégua com o Hamas e a Jihad islâmica palestina.
Boicotado pelo
governo dos Estados Unidos e considerado pelo governo israelita como
responsável pelo início da Segunda Intifada e por atentados suicidas, Yasser
Arafat passará os últimos anos de sua vida fechado na Muqata’a (complexo de
edifícios de uma antiga prisão, remanescente da época do Mandato Britânico da
Palestina e posteriormente convertido na sede da Autoridade Nacional
Palestina), em Ramallah, cercado por forças israelitas. Proibido de viajar,
tanto dentro da Palestina como para o exterior, ainda assim Arafat conseguirá
manter o controlo da Autoridade Palestina.
Arafat recebeu
finalmente a autorização para deixar o seu complexo em 3 de Maio de 2002, após
intensas negociações que culminaram num acordo. Seis ativistas procurados por
Israel, que se tinham entrincheirado juntamente com Arafat no seu complexo, não
seriam entregues a Israel, mas também não permaneceriam à guarda da Autoridade
Palestiniana. Uma combinação de polícias britânicos e norte americanos
assegurariam que eles permanecessem prisioneiros em Jericó. Com esta medida, e
a promessa de que ele iria emitir um comunicado em árabe aos Palestinianos a
favor de uma pausa nos ataques contra Israel, Arafat foi libertado. Emitiu este
comunicado a 8 de Maio de 2002, mas, como em casos anteriores, o seu pedido foi
ignorado.
[i] A Guerra dos Seis Dias,
também conhecida como Guerra de 1967 ou Guerra de junho de 1967 ou ainda Terceira
Guerra Árabe-Israelense, foi o conflito que envolveu Israel, Síria, Egito,
Jordânia e Iraque. Ocorreu entre 05 e 10 de junho de 1967, e foi a mais
consistente resposta árabe à fundação do Estado de Israel, apesar do estado
sionista ter saído como grande
vencedor.
[ii]
Setembro Negro é o nome dado a um período que se estende de Setembro de
1970 a Julho de 1971, iniciado quando o exército da Jordânia entrou em confronto
com as organizações guerrilheiras da OLP, então baseadas na
Jordânia, visando expulsá-las do país. Em consequência, os refugiados
palestinos tiveram que emigrar em massa.
Estimativas
do número de vítimas dos dez dias do "Setembro Negro" variam de 3000
a mais de 5000 mortos. O número de palestinos mortos em onze dias de luta foi
estimado pela Jordânia em 3.400, enquanto as fontes palestinas calculam que
10 000 pessoas, na sua maioria civis, foram mortas. À época, Arafat disse
que esse número poderia ser bem superior - até 20.000 mortos. No Cairo, o
programa radiofônico A Voz dos Árabes considerou ter havido genocídio.
Sem comentários:
Enviar um comentário