Fernão de
Magalhães, nasceu em 1480, provavelmente em Trás-os-Montes, ou terá sido no Porto?
Filho de Rui (por vezes Rodrigo) de Magalhães, nascido cerca de 1442, Cavaleiro
que exerceu cargos da governança do Porto, e de sua primeira mulher Alda
de Mesquita, nascida cerca de 1445, e casado segundo vez com Inês Vaz Moutinho,
filha de Pedro Vaz Moutinho, cidadão do Porto, cidade onde foi Vereador,
e de sua mulher Inês Gonçalves de Mesquita.
Morreu bem
longe dali, a mais de 15 000 quilómetros, na ilha de Mactan, no arquipélago das
Filipinas, a 27 de Abril de 1521. Sem honra nem glória, durante muito tempo com
a sua memória esquecida. O seu diário de bordo e as suas anotações
desapareceram depois da sua infeliz ingerência nas guerras tribais na ilha de
Mactan, incidente que lhe tirou a vida, às mãos do régulo nativo Lapu-Lapu.
Acabava assim
um périplo que cobrira já dois longos oceanos e um sem número de infortúnios,
problemas, mortes e revoltas entre os seus subordinados. Chegar às Filipinas
foi complicado, quase dois anos depois de ter zarpado de Sanlúcar de Barrameda
(Espanha), a 20 de Setembro de 1519. Tinha largado do ancoradouro de Sevilha,
descendo o rio Guadalquivir a 10 de Agosto.
Capitaneava
uma armada de cinco navios Trinidad, San Antonio, Concepción, Victoria e
Santiago), à frente de cerca de 250 homens. Uma armada que se resumiria, no fim
da viagem de circum-navegação completa ao mundo, a uma embarcação (Victoria),
outro comandante, Sebastian Elcano, e a apenas dezoito homens (incluindo Elcano).
Mas esquecidos de Magalhães, com exceção de um italiano que seguiu na armada de
1519, António Pigafetta, que nos deixou relatórios impressionantes mas
autênticos das jornadas intercontinentais do navegador português e dos seus
últimos dias.
Tudo começou
em 1517, quando aquele nobre português, depois de uma carreira de
subalternidade, sem brilho nem grandes feitos pessoais, ao serviço de D.
Manuel, na Ásia como na África, ofereceu as suas armas e préstimos ao rei de
Espanha, Carlos V. Apesar de no anonimato de um subordinado, Magalhães ganhou
vasta experiência militar e náutica nas suas andanças pelo Oriente. Em 1505,
depois de ter sido educado na corte portuguesa, partiu para a Índia na poderosa
armada de D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei da Índia (1505-1509), a qual
tinha como missão afastar as frotas turcas dos mares da região – o que se
conseguiu, até 1538. Depois da partida do vice-rei, em 1509, sempre animado
pelo forte desejo de conhecer as terras a Oriente (percorreu vastos territórios
do subcontinente indiano e da África oriental) e principalmente as terras das
Especiarias (Molucas, Sunda, Celebes), acompanhou D. Diogo Lopes Sequeira na
malograda expedição (naufrágio) a Malaca, ainda naquele ano de 1509.
Permaneceu no
Oriente até 1513, tendo-se tornado amigo do feitor das Molucas, Francisco
Serrão, junto do qual apurou os seus conhecimentos acerca dessas ilhas, das
suas famosas especiarias e das rotas adjacentes. Na sua estada no Extremo
Oriente, participou ainda na tomada de Malaca por D. Afonso de Albuquerque, em
1511, um ano depois de ter sido promovido a capitão. Em 1513 regressou a
Portugal, tendo sido destacado para Marrocos, onde participou em várias
expedições, numa das quais, a Azamor, em 1514, foi ferido num joelho,
regressando a Lisboa. Atrás de si vinha uma fama menos consentânea com a sua
posição, acusado de ganância e poucos escrúpulos. Não se sabe se por tal motivo
ou se por outro que desconhecemos, o certo é que D. Manuel I lhe recusou um
aumento de 100 reais na tença anual que lhe pagava.
Com uma imagem
não muito boa junto do monarca português, afigurava-se difícil a sua anuência
para outro projeto que há muito acalentava: o de atingir as Molucas por
Ocidente, solução que considerava mais rentável e segura que a rota do oriente
via Índia-Malaca, repleta de muçulmanos e piratas hostis aos Portugueses e seus
interesses.
Depois de
várias recusas de D. Manuel I (também de uma nau para a Índia), Magalhães
dirigiu-se a Sevilha para "vender" o seu projeto ao rei de Espanha,
Carlos V. Foi acompanhado de Rui Faleiro, português. A Carlos V propôs
Magalhães não apenas atingir as Molucas por Ocidente mas acima de tudo provar
que aquelas ilhas não estavam dentro da área de jurisdição portuguesa defendida
no Tratado de Tordesilhas (1494) mas sim em mares "espanhóis". Além
disso, a viagem decorreria sempre em águas espanholas. Apesar de algumas
reticências, Carlos V aceitou o projeto, confiando a Magalhães uma frota de
cinco navios, mais ou menos 250 homens e 480 toneladas em navegação. Com muitas
peripécias e uma rutura de relações com Faleiro, a armada de Magalhães saiu de
Sanlúcar de Barrameda a 20 Setembro de 1519, depois de lhe nascer o primeiro
filho e de sua mulher esperar outro, que o altivo navegador nunca conheceu.
Sua mulher era
D. Beatriz Barbosa, filha de um amigo português de Sevilha, Diogo Barbosa,
antigo companheiro no Oriente, muito influente naquela cidade espanhola, pai de
Duarte Barbosa, que rumou com Fernão na fatídica viagem, que o seria também
para ele (Duarte foi morto em Cebu, Filipinas, uns dias antes de Magalhães).
Realizada sob
a égide do Imperador Carlos V, ao serviço da Espanha, é bom salientar que foi
com a ciência náutica portuguesa e os seus documentos, roteiros, tabelas e
instrumentos que esta façanha, viagem de circum-navegação foi possível.
A viagem de
circum-navegação começou bem, atingiu rapidamente a América do Sul (Novembro),
depois de escala nas Canárias. Em fevereiro de 1520 passaram no Rio da Prata,
chegando a S. Julián, na Patagónia, mais a sul, em Março. Começariam aqui os
maiores problemas da viagem, ou melhor, acabaria a bonança da mesma. Seis meses
ficaram ali retidos, para passar o inverno. Mas estalaram revoltas e motins,
perdendo-se ainda Santiago. Depois vem a procura do estreito, que receberia o
nome de Magalhães, no extremo sul da América, região de "mau
navegar". Passado este (38 dias) e o desaparecimento de mais uma nau
(provando-se que uma rota pelo estreito seria péssima), após motins e
tempestades, atingiu-se o Pacífico, assim batizado por Magalhães, pelas suas
calmarias. Demorou quatro longos meses a atravessar, com muitas mortes
(escorbuto), fome e as célebres "nebulosas de Magalhães",
diminuindo-se cada vez mais a tripulação. Depois, chegou-se às ilhas Marianas
(ou dos "Ladrões"), depois veio a emboscada de Lapu-Lapu, em Mactan,
nas Filipinas. Aí, sobreveio a morte, de um navegador português ao serviço de
Espanha.
A viagem foi
terminada pelo espanhol Juan
Sebastián Elcano, que regressou a Sevilha em 1522, apenas com
um navio e dezoito homens, depois de ter dado a primeira volta ao mundo.
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