domingo, 4 de agosto de 2019

Efeméride de 4 de Agosto de 1578 - Batalha de Alcácer Quibir


O dia 4 de Agosto de 1578 ficou na nossa memória colectiva como o maior desastre da história militar portuguesa, não só pela quantidade de combatentes envolvidos mas também pelas consequências trágicas que daí resultou.

A batalha de Alcácer Quibir (ou batalha dos três reis) marca o início do fim da II dinastia portuguesa e do período do império português da Índia e é o prenúncio de um período de 60 anos em que o reino de Portugal foi governado por monarcas estrangeiros.


Após ser tomada a decisão de atacar o norte de África para tentar aliviar a pressão que se fazia sentir sobre as fortalezas portuguesas, deu-se inicio à formação de um grande exército, com um total de 17.000 homens, dos quais 5.000 eram mercenários estrangeiros.

Quando larga de Lisboa, a 25 de Junho de 1578 a armada portuguesa é composta por cerca de 800 embarcações e contaria com um valor ligeiramente superior a 20 000 homens, entre os quais 5000 estrangeiros, 12 000 dos terços portugueses, 1400 do esquadrão dos aventureiros e ainda 500 homens do esquadrão castelhano, faz escala em Cádis e aporta a Tanger, seguindo depois para Arzila.

Aqui toma-se uma decisão, os combatentes são enviados a pé de Arzila para Larache [1], corresponde ao primeiro erro crasso, já que o percurso poderia e deveria ter sido feito por via marítima.

A partir de Larache, a força portuguesa afasta-se da costa em direcção a Alcácer Quibir.

Há que notar que no século XVI, grande parte das vitórias portuguesas dão-se na zona costeira, onde é possível utilizar a enorme vantagem do poder de fogo dos navios de guerra portugueses. Longe dos navios e enfrentando, no calor de uma zona quase desértica, um exército superior em número e combatendo no seu território, as cautelas deveriam ter sido muito maiores do que realmente foram.

O rei recusou-se terminantemente a ouvir os conselhos dos capitães mais experientes, que achavam que o exército devia manter-se na proximidade e ao alcance dos canhões dos navios, alguns dos comandantes perante o absurdo da decisão chegam a falar em prender o rei, para o impedir de cometer tal loucura.


As forças muçulmanas, perceberam perfeitamente que não poderiam enfrentar os portugueses próximo da costa, e não avançaram em direcção a norte, preferindo que fossem os portugueses a tomar a iniciativa.

Por decisão do rei, o exército parte finalmente em direcção a sul afastando-se da costa.

Quando a 4 de Agosto as forças portuguesas encontram o exército mouro, encontram-se desgastados pela marcha de sete dias, pelo calor desértico e perante eles está um enorme exército de forças muçulmanas que segundo algumas referências atinge 60.000 homens ultrapassando os portugueses numa proporção de quatro para um.

Na primeira fase dá-se um ataque de arcabuzeiros seguido de uma carga de cavalaria ligeira moura, forçando logo as primeiras linhas portuguesas a recuar de forma desordenada. O exército cansado e extenuado reagiu mal ao um recuo inesperado gerando-se uma enorme confusão quando a primeira linha recua e se funde com as tropas na retaguarda.

A resposta portuguesa foi rápida mas pouco eficiente. No que parece ter sido uma tentativa para desarticular o ímpeto do ataque muçulmano, uma força portuguesa, aparentemente de cavalaria penetra as linhas das forças muçulmanas, mas são subjugados pelos números, e completamente cercados.
Metade do efectivo das forças portuguesas morre na batalha e a outra metade é feita prisioneira. Muito poucos voltam.


O rei, Dom Sebastião, terá alegadamente morrido na batalha, e a sua morte ficou envolvida num mistério que perdura, mesmo passados todos estes séculos.


A morte do rei, sem herdeiros, levou a uma crise dinástica, em que o trono foi ocupado pelo cardeal Dom Henrique. Durante o período de dois anos até à morte de Dom Henrique, o monarca reinante da Casa de Áustria, o Habsburgo Filipe II, gastou enormes quantias de dinheiro subornando parte da nobreza portuguesa para apoiar as suas pretensões ao trono de Portugal tendo finalmente - em nome dos seus direitos como neto do rei Dom Manuel I - sido declarado rei de Portugal pelo colégio de cinco governadores instituído pelo Cardeal-rei após a sua morte em 1580.

Portugal, embora mantendo a sua independência formal dentro dos vários reinos da Casa de Áustria, entregava a sua política externa nas mãos de um rei estrangeiro. A decadência que já se fazia sentir em meados do século XVI não foi interrompida, e em 1640 o reino voltaria a separar-se da dinastia austríaca.
Com o desaparecimento do Rei logo surge uma lenda: À sua volta nasceu o mito do “Sebastianismo”, a esperança de que regressaria um dia, numa manhã de nevoeiro, para salvar o país de todos os seus problemas.
É muito comum a ideia da incerteza da morte de Dom Sebastião na batalha de Alcácer Quibir. A lenda em como Dom Sebastião teria sobrevivido será resultado do relato de cronistas: "ninguém viu morrer o rei" (Jerónimo de Mendonça) ou afirmações de que testemunhas viram Dom Sebastião afastar-se do local da batalha (Frei Bernardo da Cruz).
Na realidade existem documentos que provam que realmente Dom Sebastião morre durante a batalha.


O seu corpo terá sido reconhecido por Sebastião de Resende, guarda-roupa do rei. Nobres feitos cativos na batalha terão confirmado esse reconhecimento.


O corpo terá sido resgatado do local da batalha e sepultado em Alcácer Quibir, na casa do alcaide da cidade. Um jurista português, doutor Belchior do Amaral, foi autorizado a acompanhar o funeral tendo escrito ao Cardeal Dom Henrique a confirmar a morte.


O corpo do Rei foi depois trasladado para Ceuta, cidade sob domínio português, sendo depositado na igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade.


Existe um documento datado de 10 de Dezembro de 1578 que relata o acontecido. A 8 de Janeiro de 1579, o Cardeal Dom Henrique escreve uma carta a Dom Filipe II de Espanha, futuro Filipe I de Portugal, a agradecer a colaboração deste para a recuperação do corpo.


Filipe II de Espanha, em 1582, quando já rei de Portugal, trasladou o corpo de Dom Sebastião para Portugal, ficando sepultado na igreja do Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa), onde ainda se encontra.

[1] Em Larache será erguida uma fortaleza, cuja construção é iniciada em 1578, utilizando-se o trabalho dos prisioneiros portugueses









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