A 7 de Agosto de 1794 - Tem lugar em Lisboa o
último Auto-de-fé ou auto-da-fé refere-se a eventos de penitência realizados
publicamente (ou em espaços reservados para isso) com humilhação de heréticos e
apóstatas bem como punição aos cristãos-novos pelo não cumprimento ou
vigilância da nova fé lhes outorgada, postos em prática pela Inquisição,
principalmente em Portugal e Espanha.
As punições
para os condenados pela Inquisição iam da obrigação de envergar um sambenito
(espécie de capa ou tabardo penitencial), passando por ordens de prisão e,
finalmente, em jeito de eufemismo, o condenado era relaxado à justiça secular,
isto é, entregue aos carrascos da Coroa (poder secular, em oposição ao poder
sagrado do clero). O estado secular procedia às execuções como punição a uma
ofensa herética repetida, em consequência da condenação pelo tribunal
religioso. Se os prisioneiros desta categoria continuassem a defender a heresia
e repudiar a Igreja Católica, eram queimados vivos. Contudo, se mostrassem
arrependimento e se decidissem reconciliar com o catolicismo, os carrascos
procederiam ao "piedoso" acto de os estrangular antes de acenderem a
pira de lenha.
Os autos de fé
decorriam em praças públicas e outros locais muito frequentados, tendo como
assistência regular representantes da autoridade eclesiástica e civil.
O último
auto-de-fé, após uma condenação pela Inquisição espanhola, envolveu o professor
Cayetano Ripoll e decorreu a 26 de Julho de 1826. Seu julgamento, sob a
acusação de deísmo, durou cerca de dois anos. Morreu pelo garrote no
pelourinho, após dizer as palavras: "Morro reconciliado com Deus e com o
Homem".
A Inquisição, ou Santa Inquisição foi
uma espécie de tribunal religioso criado na Idade Média para condenar todos
aqueles que eram contra os dogmas pregados pela Igreja Católica.
Fundado pelo Papa Gregório IX, em 1231, o Tribunal do
Santo Ofício da Inquisição mandou para a fogueira milhares de pessoas que eram
consideradas hereges (praticante de heresias; doutrinas ou práticas contrárias
ao que é definido pela Igreja Católica) por praticarem actos considerados
bruxaria, heresia ou simplesmente por serem praticantes de outra religião que
não o catolicismo.
A verdade é que embora o apogeu da Inquisição tenha se
dado no século XVIII, as perseguições aos hereges pelos católicos, têm
registros bem mais antigos. No século XII os “albigenses” foram massacrados a
mando do Papa Inocêncio III que liderou uma cruzada contra aqueles que eram
considerados os “hereges do sul da França” por pregarem a volta da Igreja às
suas origens e a rejeição a opulência da Igreja da época.
Em 1252, a situação que já era ruim, piora. O Papa
Inocêncio IV publica um documento, o “Ad Exstirpanda”, onde autoriza o uso da
tortura como forma de conseguir a conversão. O documento é renovado pelos papas
seguintes reforçando o poder da Igreja e a perseguição.
A Inquisição tomou tamanha força que mesmo os
soberanos e os nobres temiam a perseguição pelo Tribunal e, por isso, eram
obrigados a ser condizentes. Até porque, naquela época, o poder da Igreja
estava intimamente ligado ao do estado.
Mais terrível que qualquer episódio da história humana
até então, a Inquisição enterrou a Europa sob um milênio de trevas deixando um
saldo de incontáveis vítimas de torturas e perseguições que eram condenadas
pelos chamados “autos de fé” – ocasião em que é lida a sentença em praça
pública.
Galileu Galilei foi um exemplo bastante famoso da
insanidade cristã na Idade Média: perseguido por afirmar através de suas
teorias que a terra girava em torno do sol e não o contrário. Mas, para ele o
episódio não teve mais implicações. Já outros como Giordano Bruno, o pai da
filosofia moderna, e Joana D’Arc, que afirmava ser uma enviada de Deus para
libertar a França e utilizava roupas masculinas, foram mortos pelo Tribunal do
Santo Ofício.
Uma lista de livros proibidos foi publicada, o ”Index
Librorum Prohibitorum” através da qual diversos livros foram queimados ou
proibidos pela Igreja.
O Tribunal era bastante rigoroso quanto à condenação.
O réu não tinha direito à saber o porquê e nem por quem havia sido condenado,
não tinha direito a defesa e bastavam apenas duas testemunhas como prova.
O pior período da Inquisição foi durante a chamada
Inquisição Espanhola (Século XV ao Século XIX). De caráter político, alguns
historiadores afirmam que a Inquisição Espanhola foi uma forma que Fernando de
Aragão encontrou de perseguir seus opositores, conseguir o poder total sobre os
reinos de Castela e Aragão (Espanha) e ainda expulsar os judeus e muçulmanos.
O primeiro Auto-de-Fé ocorreu em
Sevilha, durante o ano de 1481, com a execução de seis homens e mulheres. A
Inquisição teve um pouco menos de poder em Portugal, tendo sido estabelecida em
23 de Maio 1536, pelo Papa Paulo III. Tendo a sua primeira sede em Évora, onde
se achava a corte. Tal como nos demais reinos ibéricos, tornou-se um tribunal
ao serviço da Coroa durando oficialmente até 1821, se bem que tenha sido muito
debilitada com o regime do Marquês de Pombal na segunda metade do século XVIII.
O
último Auto-de-Fé em Portugal ocorreu no dia 7 de Agosto de 1794, contrariando
as tradicionais sentenças de centenas de inocentes, sendo apenas condenado a
prisão um homem que teria insultado a Igreja.
A Inquisição foi extinta
gradualmente ao longo do século XVIII, embora só em 1821 se dê a extinção
formal em Portugal numa sessão das Cortes Gerais. Porém, para alguns
estudiosos, a essência da Inquisição original, permaneceu na Igreja Católica
através de uma nova congregação: A Congregação para a Doutrina da Fé.
Actualmente, o Vaticano já
condenou estes actos, pedindo desculpas por os ter executado.
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